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Período temporal iniciado em 1 de janeiro de

ÍNDICE DE TABELAS

B. Período temporal iniciado em 1 de janeiro de

O Regulamento (CE) n.º 1606/2002 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 19 de julho, relativo à aplicação das NIC em Portugal através do Decreto-Lei n.º 35/2005, de 17 de fevereiro, determina, no seu artigo 4º que, “em relação a cada exercício financeiro com início em ou após 1 de janeiro de 2005, as sociedades cujos valores mobiliários estiverem admitidos à negociação num mercado regulamentado de qualquer Estado membro, elaborem as suas contas consolidadas em conformidade com as NIC”. O mesmo regulamento estabelece que os Estados membros podem permitir ou exigir que as contas individuais das sociedades e as contas consolidadas de sociedades cujos valores mobiliários não estiverem admitidos à negociação num mercado regulamentado, sejam também elaboradas em conformidade com as mesmas NIC. Estas normas, emitidas pelo IASB, visam a harmonização contabilística internacional, maior comparabilidade entre entidades, maior transparência e melhor qualidade da informação, podendo, desta forma, os mercados ver aumentada a confiança dos seus intervenientes.

A regulamentação comunitária, confinando-se apenas às contas consolidadas, resultou na emissão do Aviso n.º 1/2005 do BdP, o qual considera vantajosa a aplicação das normas internacionais às entidades que não tenham títulos admitidos à negociação82, assim como, considera desejável aproximar o enquadramento das contas individuais das instituições sujeitas à supervisão do BdP às práticas contabilísticas internacionais. Neste Aviso acrescenta-se que, dada a complexidade que as normas internacionais poderão representar para algumas

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Também no Anexo de alguns grupos bancários é divulgado, no momento da aplicação das IFRS em 2005, que manterão o critério do registo do goodwill resultante de aquisições efetuadas até 1 de janeiro de 2004 em reservas consolidadas, não aplicando retroativamente a IFRS 3, tal como permitido pela IFRS 1- adoção pela primeira vez das NIRF (em 2004).

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Com sucessivas alterações.

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instituições cuja dimensão não se coaduna com a aplicação das mesmas, assim como, a necessidade de estabelecer um regime transitório durante o ano 200583 para uma melhor adaptação ao novo enquadramento contabilístico, determina o BdP a não aplicação do novo padrão contabilístico às instituições não abrangidas pelo referido Regulamento, mantendo, transitoriamente, a aplicação da Instrução n.º 4/96 do BdP nas contas individuais (ou seja, o PCSB). Para as contas consolidadas (de entidades sem títulos admitidos à negociação num mercado regulamentado), são admitidas, unicamente para este ano, a utilização das regras do PCSB, as Normas de Contabilidade Ajustadas (NCA) emitidas pelo BdP ou, alternativamente, a plena adoção das NIC84. Neste âmbito, também a Carta circular n.º 102/2004/DSB, de 23 de dezembro de 2004, define claramente no seu n.º 3 que durante o exercício que se inicia em 1 de janeiro de 2005 se justifica a aplicação do seguinte regime transitório: “a) permitir a elaboração das contas consolidadas das entidades supervisionadas pelo BdP, não abrangidas pelo artigo 4º do Regulamento (CE) n.º 1606/2002, de acordo com as NIC ou de acordo com as NCA; b) permitir que as instituições que se prevaleçam de uma das opções previstas na alínea anterior possam elaborar as suas contas individuais de acordo com as NCA ou, alternativamente, de acordo com a Instrução n.º 4/96 (PCSB); c) as instituições que não se prevaleçam de nenhuma das opções previstas na alínea a) deverão continuar a elaborar as suas contas individuais e consolidadas em conformidade com as Instruções n.º 4/96 (PCSB) e n.º 71/96, respetivamente”. A mesma Carta circular esclarece que para a adoção das novas normas, as instituições abrangidas por este regime transitório poderão optar entre cinco cenários, os quais passamos a transcrever no modelo esquemático adotado na Carta circular85.

Contas consolidadas Contas individuais

Cenário 1 NIC NCA

Cenário 2 NIC Instrução n.º 4/96

Cenário 3 NCA NCA

Cenário 4 NCA Instrução n.º 4/96

Cenário 5 Instrução n.º 71/96 Instrução n.º 4/96

As NCA86 têm por base as IFRS (juntamente com a estrutura concetual para a apresentação e preparação das DF), bem como as interpretações emitidas pelo International Financial

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Sublinhado nosso.

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Aviso n.º 1/2005, n.º 5-1, com redação introduzida pelo Aviso n.º 13/2005 do BdP.

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Dadas as possibilidades existentes, este regime transitório provocou em termos de comparabilidade algumas discrepâncias. Veja-se, a título de exemplo, a apresentação das contas consolidadas de 2005 de três bancos que não sendo obrigados a apresentar as contas com base nas IAS/IFRS nesse ano, apresentaram-nas com base numa das três possibilidades concedidas à elaboração das contas consolidadas: banco Itaú (adotou as NIC); banco BIG (aplicou o PCSB) e Banco BBVA Portugal (adotou as NCA).

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Reporting Interpretations Committee (IFRIC)87 em vigor e adotadas pela UE. As NCA resultam,

assim, das NIC, excetuando-se as matérias definidas nos ns.º 2 e 3 do Aviso n.º 1/2005 e o n.º 2 do Aviso n.º 4/2005 do BdP, nos quais não se aplicam as matérias definidas no âmbito das NIC mas sim o estipulado pelo BdP88. Assim, a partir de 1 de janeiro de 2006 (sendo o ano de 2005 contemplado com um regime de exceção), as NIC são o modelo legal das contas consolidadas das entidades com valores mobiliários negociados em mercado regulamentado, tendo às contas individuais dos bancos sido igualmente aplicadas as referidas normas através das NCA.

Passaremos em revista, ainda que muito sumariamente, as condições de reconhecimento, mensuração e divulgação regulamentares impostas pela IAS 38 do IASB.

A IAS 38 do IASB de 2004 define no seu parágrafo 8, ativo intangível como um recurso não monetário identificável sem substância física que é controlado pela entidade como resultado de acontecimentos passados e do qual se espera que fluam benefícios económicos futuros para a entidade. A questão da identificabilidade está relacionada com a sua separabilidade face aos outros ativos detidos por uma organização e, por isso, ser passível de realização independente da totalidade do negócio (ou goodwill - segundo o §11 da IAS 38). O parágrafo 12 da norma refere que um ativo é identificável se puder ser separado ou divido da entidade e vendido, transferido, licenciado, alugado ou trocado, seja individualmente ou em conjunto com um contrato, ativo ou passivo relacionado. Ou ainda, quando resultar de direitos contratuais ou outros direitos legais, quer esses direitos sejam transferíveis quer sejam separáveis da entidade ou de outros direitos e obrigações. A separabilidade é uma condição indispensável, ainda que não suficiente para a identificabilidade de um ativo intangível.

O controlo do ativo intangível representa o poder de obter benefícios económicos futuros que fluam para a entidade e que, o acesso ao mesmo possa ser restringido a terceiros, ou seja, a sua proteção através de direitos legais. No entanto, o cumprimento legal de um direito não é condição necessária para o controlo (IAS 38, §§13-16). Esse controlo que uma entidade tem é exercido quando se reclama os seus direitos ou serviços, não estando baseado na sua posse jurídica mas antes na posse económica. Os benefícios económicos futuros são um dos núcleos centrais da definição e reconhecimento de um ativo intangível. Esses benefícios podem incluir réditos de venda de produtos ou serviços, poupanças de custos, ou outros benefícios resultantes do uso do ativo pela empresa (IAS 38, §17).

87 Um dos órgãos do IASB que emite interpretações sobre questões contabilísticas muito específicas (IFRIC – a partir

de 2001 e SIC (Standard Interpretation Committee) – antes de 2001).

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Essencialmente em matéria de créditos e contas a receber; na valorização de ativos financeiros; a não aplicação do modelo do justo valor a ativos fixos tangíveis e o reconhecimento de acréscimo de responsabilidades por pensões de reforma e de sobrevivência (detalhadas no Aviso n.º 3/2005 do BdP).

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Um item pode ser reconhecido se a entidade demonstrar que satisfaz a definição de ativo intangível e, simultaneamente, os critérios de reconhecimento (IAS 38, §18). Esse mesmo ativo deve ser reconhecido se, e apenas se, for provável a obtenção pela entidade de benefícios económicos futuros atribuíveis a esse ativo e o custo do mesmo possa ser fiavelmente mensurado (IAS 38, §21).

No que respeita à mensuração, a norma internacional e a norma nacional referem que a mesma se deve fazer inicialmente ao custo (IAS 38, §24). O custo histórico é o princípio valorativo por excelência na contabilidade, e identifica o preço pago na aquisição, não se determinando o preço através do conceito de valor, mas realiza-se a operação inversa, ou seja, o custo histórico é considerado como o reflexo do valor dos ativos para efeitos contabilísticos (Rodrigues, 2006). Na mensuração após reconhecimento, as normas permitem a escolha entre o modelo do custo e o modelo de revalorização como política contabilística (IAS 38, §§72-87). No modelo do custo os ativos intangíveis são escriturados ao custo deduzido das amortizações e imparidades acumuladas. No modelo de revalorização o ativo é reconhecido por uma quantia revalorizada, ou seja, o seu justo valor à data da revalorização, deduzido de amortizações e perdas por imparidade acumuladas. Segundo os normativos, na generalidade dos ativos o modelo de revalorização apenas pode ser aplicado na mensuração subsequente se existir de um mercado ativo89.

O cálculo da amortização do ativo intangível requer que se determine a sua vida útil, avaliando se a mesma é finita ou indefinida e, sendo finita, a duração dessa vida útil ou o número de produção ou de unidades similares constituintes nessa vida útil. A ausência de um limite previsível para o período durante o qual se espera que o ativo gere influxos de caixa líquidos para a entidade significa que a vida útil desse ativo é indefinida (IAS 38, §88). Um ativo com vida útil finita é amortizado e um ativo com vida indefinida não o é, sendo sujeito a testes de imparidade que visam comparar a quantia recuperável com a quantia escriturada (a qual deverá ser efetuada segundo a IAS 36 – Imparidade de ativos).

As aquisições de ativos intangíveis como parte de uma concentração de atividades empresariais são remetidas pela IAS 38 para a IFRS 3 – Concentrações de atividades empresariais. De acordo com esta norma, se um ativo for adquirido numa concentração de atividades empresariais, o custo desse ativo é o seu justo valor à data de aquisição, considerando-se sempre satisfeito o critério de reconhecimento instituído de que benefícios económicos futuros esperados atribuíveis ao ativo fluam para a entidade. Assim, um adquirente reconhece separadamente do

goodwill um ativo intangível da adquirida se o justo valor do ativo puder ser fiavelmente

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Mercado ativo é um mercado onde se verificam, simultaneamente, as condições de homogeneidade dos itens negociados, onde se encontram a qualquer momento compradores e vendedores dispostos a efetuar as transações e os preços estão disponíveis ao público (IAS 38, §8).

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mensurado (IAS 38, §§33-34). A IAS 38 no seu parágrafo 48 refere que o goodwill gerado internamente não deve ser reconhecido como um ativo porque não é um recurso identificável, controlado pela entidade que possa ser fiavelmente mensurado pelo custo. Também não são reconhecidos como ativo os seguintes itens gerados internamente: marcas, cabeçalhos, títulos de publicações, listas de clientes e itens substancialmente semelhantes, pelo facto de os mesmos não poderem ser distinguidos do custo de desenvolver a empresa no seu todo (IAS 38, §§63-64). O normativo contabilístico internacional estipula claramente o reconhecimento de um gasto nos dispêndios com atividades de arranque; com atividades de formação; com atividades de publicidade e promocionais e com a mudança de local ou reorganização de uma entidade (IAS 38, §69), contrariamente ao estipulado pelo PCSB adotado nas contas antes de 2005.

No que respeita a divulgações de ativos intangíveis, as normas destacam as matérias que, segundo os critérios de reconhecimento e mensuração, parecem ser os mais relevantes para um completo entendimento das DF. Assim, os parágrafos 118 a 128 da IAS 38 estipulam a divulgação de ativos intangíveis que foram reconhecidos como ativos nas DF e os que, segundo restrições da própria norma, não foram capitalizados mas reconhecidos como gastos (nomeadamente os dispêndios com I&D)90. Salientamos, neste âmbito, a consideração do Meritum Project (2002) de que os usuários das DF têm uma imagem incompleta dos intangíveis possuídos ou controlados pelas organizações, dada a simples representação dos investimentos incorpóreos que atendem aos critérios contabilísticos para reconhecimento como ativos.

Do anteriormente exposto salientamos como principais diferenças no âmbito do reconhecimento, mensuração e divulgação dos ativos intangíveis nas normas adotadas pelas entidades bancárias antes de 2005 (PCSB) e a partir de 2005 (IAS 38) as sintetizadas no quadro seguinte.

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O índice de divulgação construído para a análise apresentada no capítulo II reflete, quase textualmente, os requisitos normativos de divulgação da IAS 38 (apêndice IV), pelo que, consideramos não se justificar uma exposição mais detalhada das exigências de divulgação neste ponto.

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Quadro 1.1 – Principais diferenças nos normativos contabilísticos antes de 2005 e a partir de 2005

Fonte: elaboração própria.

Do presente capítulo podemos referir como principais conclusões que, embora o conceito de ativo intangível, adotado pela teoria contabilística, e o conceito de capital intelectual mais aplicado no âmbito da gestão, se refiram aos mesmos recursos existentes nas organizações que contribuem para a inovação e crescimento num mundo globalizado e competitivo, a abordagem do normativo contabilístico ao conceito de ativo intangível é restritiva por não permitir a inclusão nas DF dos elementos assumidos como os criadores de valor das organizações deste novo milénio. O tratamento que a norma contempa sujeita estes recursos a um conjunto de critérios de reconhecimento, nomeadamente a sua identificabilidade, o controlo sobre o mesmo e a existência de benefícios económicos futuros. O conceito multidimensional do capital

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intelectual é acolhido numa perspetiva de gestão organizacional e, contrariamente à conceção do normativo contabilístico, torna-se complexo não pelas restrições que essa noção impõe mas pela abrangência que exibe, fruto da multidisciplinaridade que lhe está subjacente.

A inexistência de uma cultura organizacional baseada na gestão dos intangíveis surge como o principal obstáculo a um tratamento contabilístico mais adequado, nomeadamente no desenvolvimento de modelos de mensuração apropriados ao seu reconhecimento, não traduzindo o atual tratamento contabilístico dos ativos intangíveis, preconizados nas principais normas de contabilidade, a verdadeira essência económica desses elementos (Rodrigues, 2011). A divulgação de informação tem, no âmbito dos intangíveis/capital intelectual, intensificada importância pelas caraterísticas que estes recursos incorporam. A sua influência na obtenção de ganhos futuros deveria enfatizar a divulgação dos fatores que potenciam o valor da organização a longo prazo. Isto adquire maior relevância numa economia globalizada onde estes recursos são a principal fonte de inovação e de obtenção de vantagens estratégicas das organizações. A divulgação destes elementos deverá basear-se, simultaneamente, em teorias económicas e em teorias sociais e políticas. A teoria dos stakeholders e da legitimidade apresentam-se como as que, no âmbito da divulgação do capital intelectual por parte das instituições bancárias, mais fundamentos apresentam, estando também os princípios da teoria institucional na base dessa divulgação. Estas teorias ganham relevo essencialmente em períodos e em ambientes de mudança e incerteza, fazendo com que as organizações procurem legitimidade perante a sociedade pela obediência a leis e a regulamentos a que estão subordinadas e pela exposição do seu comportamento perante os stakeholders. Neste âmbito, justifica-se a divulgação de informação para obedecer à subordinação de um conjunto de normas e regulamentos, assim como para responder a um conjunto de influências que a sociedade exerce sobre organizações para uma divulgação mais completa e transparente, além da que é exigida divulgar pelos normativos contabilísticos.

O BdP possui um elevado poder sobre a contabilidade dos bancos, assim como uma função fiscalizadora através da definição de normas de contabilidade aplicáveis às instituições sujeitas à sua supervisão. Até dezembro de 2004 as entidades bancárias regiam-se pelas regras definidas pelo BdP na elaboração e apresentação das suas DFC, sendo, a partir de 2005, aplicadas as IAS às práticas contabilísticas das entidades que elaboravam contas consolidadas. Estas normas, emitidas pelo IASB, visam a harmonização contabilística internacional, uma maior comparabilidade entre entidades, assim como uma maior transparência e melhor qualidade da informação, permitindo aumentar a confiança dos seus intervenientes.

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CAPÍTULO II – DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÃO SOBRE OS ATIVOS INTANGÍVEIS NAS

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