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RELATÓRIOS ANUAIS E NAS PÁGINAS W EB DOS BANCOS EM P ORTUGAL

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A importância do capital intelectual é reconhecida por investigadores, profissionais e decisores políticos e a sua influência no desenvolvimento organizacional e no plano macroeconómico é um facto que não se contesta. O que falta é, sem dúvida, que essa importância se concretize da forma que o tema merece, ou seja, que haja transparência, rigor e uniformidade no seu reconhecimento, na mensuração e na divulgação de informação, pois as limitações ao seu reconhecimento e divulgação não se coadunam com a economia do conhecimento em que vivemos.

Neste capítulo pretendemos analisar as práticas de divulgação de informação voluntária sobre o capital intelectual pelos bancos em Portugal. Ao analisarmos a extensão e a incidência da divulgação voluntária do capital intelectual, procuraremos aferir da forma como o setor bancário português encara a transparência e a precisão na divulgação desta informação e, deste modo, contribuir para uma maior consciencialização da importância da emissão de relatórios do capital intelectual. Concluiremos sobre a transparência na divulgação voluntária do capital intelectual através da construção de indicadores de divulgação que reflitam os relacionamentos e as parcerias existentes nas organizações (Hwan-Yann et al., 2011), sendo, por isso, atributos que contribuem para que as mesmas adquiram sustentadas vantagens competitivas. Deste modo, associamos a transparência à maior quantidade de informação voluntária divulgada, assim como, à sua incidência nos vários canais de informação a apresentar ao mercado.

A construção do índice de divulgação baseado nos modelos Intellectus e InCaS (made in

Europe), adaptado ao setor bancário, foi o ponto de partida desta investigação, a qual procura

analisar a extensão da divulgação do capital intelectual, assim como, de cada um dos seus componentes ou categorias, concretamente, o capital humano, o capital estrutural e o capital relacional. A incidência da divulgação é obtida através de um exame particularizado aos indicadores, às variáveis, aos elementos e aos componentes do capital intelectual que constituem o índice contruído, assim como a comparação entre a divulgação realizada nos relatórios anuais e nas páginas Web das entidades bancárias. Por atendermos a esta abrangência de indicadores e de fontes de comunicação na análise à divulgação do capital intelectual, e também porque estas fontes de dados incluem informações não obrigatórias, designamos esta perspetiva de análise como divulgação voluntária.

Procuramos igualmente os fatores que poderão explicar a quantidade de informação voluntária do capital intelectual, divulgada pela população em estudo. A investigação a desenvolver para a concretização deste objetivo é conduzida separadamente para a informação constante nos relatórios anuais e nas páginas Web, assim como para cada um dos componentes do capital intelectual. Com base em teorias económicas e sociais, enquadraremos cinco variáveis independentes que potencialmente justificarão a divulgação de informação voluntária do capital intelectual neste setor em Portugal. A dimensão bancária, uma variável que representa

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caraterísticas de governo da sociedade e as variáveis económico-financeiras mais relevantes deste setor: a eficiência operativa, a rendibilidade e a solvabilidade bancária, são as caraterísticas particulares das entidades que procuramos como potencialmente determinantes da divulgação de informação sobre o capital intelectual.

1 – Enquadramento do estudo

Com base na população dos bancos que em 2010 e 2011 operavam em Portugal, pretendemos, tal como Firer e Williams (2005), Striukova et al. (2008), Sousa (2009), Lee (2010) e Mention (2011), analisar as suas práticas de divulgação voluntária acerca do capital intelectual. Deste modo, nesta parte da investigação que desenvolvemos, procuramos analisar a extensão ou amplitude, a incidência e os fatores que determinam a divulgação do capital intelectual nos relatórios anuais individuais e nas páginas Web das instituições de crédito em Portugal. Esta análise atenderá à extensão da divulgação de informação sobre o capital intelectual como condição da quantidade e do significado que se pode extrair dessa divulgação (Guo et al., 2004) por parte dos bancos em Portugal159.

1.1 – Questões de investigação e objetivos do estudo

As questões de investigação que nos propomos analisar neste capítulo são:

• qual a extensão ou amplitude da divulgação voluntária do capital intelectual que os bancos que operam em Portugal apresentam nos seus relatórios anuais e nas suas páginas Web?

qual dessas fontes (relatórios anuais ou páginas Web) as entidades adotam para a divulgação de informação voluntária sobre o capital intelectual?

• qual a incidência da divulgação de informação sobre o capital intelectual em função dos componentes do capital intelectual a que atendemos (capital humano, capital estrutural e capital relacional)?

• quais os determinantes da divulgação de informação voluntária sobre o capital intelectual nos relatórios anuais e páginas Web, efetuada pelos bancos que desenvolvem a sua atividade em Portugal?

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Uma análise ao nível, ao padrão e aos determinantes de divulgação do capital intelectual foi efetuada por Oliveira

et al. (2010a). Zhang (2005) e Whiting e Miller (2008) analisaram a extensão e o tipo de divulgação do capital

intelectual. Abeysekera (2007) e Guthrie et al. (2009) analisaram o padrão ou incidência da divulgação do capital intelectual e García-Meca e Martínez (2005) realizaram uma análise à extensão e à especificidade da divulgação do capital intelectual. Todas estas abordagens nos parecem atender aos mesmos objetivos, que são os que neste estudo procuramos dar resposta.

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A extensão da divulgação de informação sobre o capital intelectual será, tal como no estudo de Guthrie et al. (2006), analisada de três perspetivas distintas mas, simultaneamente, complementares:

1. a extensão da divulgação em cada atributo (indicador);

2. a extensão da divulgação por componente (capital humano, capital estrutural e capital relacional);

3. o nível geral de divulgação.

A análise à incidência reflete o padrão da divulgação, ou seja, o estudo da especificidade da divulgação de cada um dos componentes, elementos, variáveis e indicadores do capital intelectual160, assim como à divulgação nas fontes de informação que consideramos (relatórios anuais e páginas Web). Esta análise pretende contribuir para o entendimento do modo como estas entidades alcançam reconhecimento público por parte dos agentes interessados e uma legitimidade associada à sua existência na sociedade em geral.

1.2 – Descrição da população e recolha de dados 1.2.1 – Descrição da população

Para levar a cabo o trabalho de investigação, e dada a reduzida dimensão da indústria bancária em Portugal, identificamos o universo das instituições bancárias a operar neste país. A regra da seleção dos dados a analisar foi a apreciação (através da estruturação dos dados constantes da página Web do BdP161) dos bancos que apresentaram CAI de 2010 e, conjuntamente se verifique que possuem página Web ativa e autónoma em 2011. Tendo por base estes critérios de seleção, a nossa população ficou constituída por trinta e seis bancos que publicaram CAI de 2010, no entanto, quatro dos bancos não dispunham de Website ativo ou o mesmo não era autónomo, o que resultou na sua exclusão162. A população compõe-se, assim, de trinta e duas instituições bancárias. Compreende, por isso, todos os bancos que tinham publicado CAI do ano de 2010 e, simultaneamente possuíam Website ativo e autónomo em agosto de 2011.

A opção pela análise aos relatórios anuais individuais dos bancos (e não a consideração de relatórios em base consolidada) deveu-se à pretensão de analisar comparativamente a informação do capital intelectual que é divulgada nos relatórios anuais com a divulgação realizada nas páginas Web. O Website institucional destas entidades é um meio de divulgação dos bancos individualmente e não propriamente páginas Web dos grupos bancários, o que nos

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Os componentes, elementos, variáveis e indicadores são descritos no índice de divulgação detalhado à frente e apresentado no apêndice VIII.

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Selecionando na pesquisa o tipo de instituição: banco e o tipo de publicação a pesquisar: CAI.

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Foram excluídos o Banco de Investimento Imobiliário (BII) por ter página Web conjunta com o BCP; Banco Efisa e Banco Madesant por não possuírem Website ativo; Banco Português de Investimento (unidade que desenvolve o negócio de banca de investimento do grupo banco BPI) sem Website autónomo.

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