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2. CAMINHOS PERCORRIDOS NA PESQUISA

2.5 PERCALÇOS NO CAMINHO PERCORRIDO

Ao ser delineado o problema da pesquisa e consequentemente o local para a coleta de dados, foram identificados possíveis obstáculos para o início do trabalho de campo. Assim foi posto como prioridade a obtenção de autorização para ter acesso à CASE Feminina, em especial, às adolescentes internas. Então, desde o mês de agosto de 2018 houve a busca de contato telefônico com a FUNDAC para verificar os procedimentos a serem adotados para a realização do trabalho de campo. Nestes primeiros contatos, não obtive sucesso. Em seguida, identifiquei um colega que trabalha na FUNDAC diretamente com o Juiz da 5ª Vara da Infância e Juventude, Nelson Santana do Amaral.

Elaborei um ofício de próprio punho com breve apresentação da pesquisa a fim de obter autorização do Juiz responsável. Este ofício foi levado pelo colega citado diretamente ao

Juiz . Ele autorizou no dia 04/09/2018, mas informou que seria necessário seguir os trâmites da Portaria FUNDAC n.º 351/16, a qual regulamenta os procedimentos de solicitação para a realização de pesquisa nas comunidades de atendimento socioeducativo do Estado da Bahia. A partir desta orientação, localizei a referida Portaria na página da FUNDAC. Preenchi em três vias conforme orientação constante no próprio documento.

A Portaria estaria apta a ser entregue no protocolo da FUNDAC após constar as seguintes assinaturas: da pesquisadora, orientadora e responsável pela Instituição de Ensino, no caso, do Diretor da Faculdade de Direito da UFBA. Assinei o documento e no mesmo dia obtive a assinatura da orientadora. Contudo, fiquei por três dias indo à faculdade para conseguir a assinatura do Diretor. No dia 10/09/2018, cheguei à Faculdade às 7h e apenas às 15h o encontrei para assinar. Neste dia, inclusive, faltei ao trabalho. Após obter as assinaturas necessárias, o Requerimento para a realização da pesquisa foi protocolada em três vias na FUNDAC no dia 11/09/2018.

Logo no dia 12/09/2018, foi solicitado por e-mail que fosse juntada a autorização da 5ª Vara da Infância e Juventude ao requerimento para que fosse dado prosseguimento na análise do pedido. Contudo, só tive conhecimento deste pedido no dia 03/10/2018, pois o referido e- mail da FUNDAC foi para a caixa de spam. Só verifiquei esta caixa de e-mails após o colega que trabalha na FUNDAC ir diversas vezes ao setor responsável para saber em qual setor já estava tramitando o pedido. Ao ser informado que um e-mail foi encaminhado para mim, verifiquei e realmente tinham entrado em contato por meio deste canal. Juntei a autorização solicitada e, no dia 10/10/2018, foi encaminhado e-mail com a autorização da FUNDAC, assinada pela Diretora Adjunta, para início da pesquisa (Apêndice A).

No corpo do e-mail, fui orientada a entrar em contato com a gerente da CASE Feminina para marcar um primeiro encontro e obter orientações de como prosseguir com a pesquisa. Após dois dias consecutivos de tentativas por meio do telefone informado, consegui falar com a Gerente da CASE Feminina no dia 11/10/2018. Contudo, ela solicitou que ligasse no próximo dia útil porque entraria de férias e era interessante agendar com a pessoa que iria substituí-la. Antes deste encaminhamento, questionou se era urgente iniciar o trabalho de campo ou se poderia aguardar o seu retorno. Diante da urgência, optei por agendar com a sua substituta. No dia 15 do mesmo mês, voltei a contatar a CASE Feminina. Fui informada que não tinha ninguém substituindo a referida Gerente. Questionaram quem autorizou a pesquisa, sendo solicitado que enviasse a autorização para um determinado e-mail. Após o envio,

informaram que entrariam em contato comigo para dar informações quanto aos procedimentos a serem seguidos e quem iria me acompanhar.

No dia seguinte, recebi um telefonema da CASE Feminina e fui orientada a ligar para a Assistente Social e agendar um primeiro encontro. Após esse percurso, foi agendado para o dia 18/10/2018.

O caminho para o acesso ao campo foi longo, mas reconheço que caso não tivesse a intermediação de um servidor da FUNDAC, o acesso certamente seria mais dificultado. Durante este período, preocupava-me não conseguir desenvolver o trabalho de campo, o que seria uma frustração, mas também um elemento significativo para a pesquisa.

Após iniciar o trabalho de campo, me deparei com uma série de obstáculos, dentre eles a não disponibilização do PIA, sendo que o ofício expedido pelo Juiz da Vara da Infância e Juventude autorizou a pesquisa e estava explícito que teria acesso ao PIA das adolescentes. Contudo, a gerência da CASE Feminina compreendeu que eu deveria ter acesso apenas ao modelo do referido documento.

Em virtude da dinâmica da instituição, alguns encontros agendados para a realização das entrevistas foram desmarcados, assim como o grupo focal foi remarcado três vezes, sendo destinado menos de uma hora para a sua realização no dia 14/11/2018. Este fato contribuiu com a demora de conclusão do trabalho de campo e consequentemente com o seu processo de escrita. Contudo após a realização do grupo focal, pretendia transcrevê-lo no mesmo dia, pois me recordo que foi um dos momentos mais ricos e significativos da pesquisa empírica desenvolvida. Enxergava no corpo deste texto falas literais das meninas. Contudo perdi o gravador, fato que me abalou emocionalmente, pois as vozes das adolescentes consistia num rico material de trabalho de campo ora realizado. Assim foi necessário recuperar o ânimo e buscar estratégias para dar continuidade ao trabalho e já não havia mais tempo para a realização de outro grupo focal. Assim me tranquilizei e rememorei o vivido no grupo focal através de minha própria narrativa e anotações que foram realizadas no decorrer da sua realização.

Diante da dinâmica estabelecida e do tempo disponível para a realização do trabalho, outros(as) profissionais responsáveis pela garantia da educação formal das adolescentes não foram alcançados(as) pelas entrevistas, assim como alguns responsáveis pela realização de atividades pedagógicas da CASE Feminina Salvador.

3 CASE FEMININA: DE ONDE AS MENINAS QUEREM ALÇAR VOOS LIVRES

Na Case Feminina

[…] Sonho com o dia Em que as pessoas julguem menos E se empenhem em ajudar Pensem um pouco antes de agir E se ponham em nosso lugar Minha liberdade vai chegar6 O Coração Aperta

[…] Triste é saber e muitas vezes me senti só Ainda que haja história idêntica a minha ao meu redor Transito entre altos e baixos Num lugar onde é difícil manter a sanidade E de cada 10 palavras que eu penso, 9 delas é liberdade Sei que há algo maior agindo para eu me manter assim, E mais difícil do que viver entre grades É permanecer presa dentro de mim7.

Os versos que iniciam este capítulo são as vozes das adolescentes internas da Case Feminina Salvador. Nestes expõem a aflição, o anseio por liberdade, a angústia e força num lugar marcado pela saudade por estarem distante dos seus. Os sentimentos expressos por estas meninas através de seus versos irão dialogar com todo o trabalho e dará mostras do conflito vivenciado por elas: a dor da restrição da liberdade e ao mesmo tempo o reconhecimento da MSEI como oportunidade de transformação.

Neste capítulo, apresentarei a Case Feminina através de um breve histórico, estrutura organizacional e técnico pedagógica, corpo de profissionais, rotina das meninas internas na instituição e o perfil das meninas, a fim de trazer considerações e reflexões quanto aos seguintes aspectos: condições estruturais e pedagógicas da unidade para construção e implementação da socioeducação, o cotidiano da unidade e o impacto da internação para as meninas. Para tanto, serão tecidas considerações acerca do contexto mais amplo em que a unidade está inserida. A análise da instituição em seus diversos aspectos contou como

6 Força Feminina: a poesia que liberta. Vitória da Conquista: Galinha Pulando, 2017. Livro de autoria das adolescentes internas na Case Feminina decorrente do Prêmio literário Galinha Pulando 2017, em virtude da vitória numa batalha de poesias.

principal referência teórica com o Erving Goffman (2001), através de sua obra clássica “Manicômios, prisões e Conventos”.

A análise do perfil das meninas conta com os aportes da interseccionalidade. Houve o diálogo também com os seguintes estudos: “As Filhas do Mundo: infração juvenil no Rio de Janeiro” (2001) de Simone Gonçalves de Assis e Patrícia Constantino; Relatório “Meninas Fora da Lei: a medida socioeducativa de internação no Distrito Federal” (2017) e de forma mais próxima com o trabalho de Jalusa Arruda, “’Para Ver as Meninas’: um estudo sobre as adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de internação na Case/Salvador” (2011). A intenção é, dos “intramuros” da Case Feminina, compreendê-la no contexto social em que está imersa. Neste capítulo também são trazidas de modo singular as falas dos diversos sujeitos alcançados no trabalho de campo, em especial, os olhares das adolescentes que “vi e ouvi de perto” por meio de suas narrativas orais e de suas poesias.