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Sobre a situação da educação no Brasil, é importante observar o trecho da entrevista com o representante do Ministério Público do Trabalho que desenvolve atividades na Procuradoria Regional do Trabalho da 8ª Região:

Tudo começa na escola. Um país sem escola é um país sem futuro. A qualidade das escolas públicas brasileiras hoje é precária. Eu costumo citar o Cristóvão Buarque, pois, se o Banco do Brasil que é uma instituição bancária do Governo consegue padronizar suas agências do Oiapoque ao Chuí, por que o governo não consegue padronizar suas escolas públicas de norte a sul do país, criando assim uma estrutura adequada para os alunos?

O problema começa aí. Daí vem a geração de toda a desigualdade, da miséria, da falta de qualificação. A obrigação com as escolas é dos Estados e dos Municípios, mas o problema está no desvio dos recursos por causa da corrupção, principalmente nas municipalidades. Por isso, eu sou um defensor da federalização da educação básica, justamente para evitar esse desvio que ocorre principalmente nos Municípios. O ponto chave é combater a corrupção e o desvio desses recursos. Com menos impunidade e mais controle nos gastos públicos, é possível executar uma reforma na educação muito grande no país. (Depoimento do representante do MPT/PRT8).

Ainda sobre a educação no Arquipélago do Marajó, esta é a realidade vivenciada na região:

A maioria das escolas existentes na zona rural, até uma década atrás, tinha como nível máximo o terceiro ano do primeiro grau (antigo curso primário). Isso determina o baixo índice de educação das populações locais. Nessas localidades, freqüentemente encontraram-se "escolas" cujas aulas são ministradas por particulares em suas próprias casas, sendo que tais professores, muitas vezes, não possuem sequer o primeiro grau completo. Portanto, o número de analfabetos é muito grande no arquipélago. (PDTSAM, 2007, p. 67).

Pelo exposto, é possível dizer que o desenvolvimento econômico e social da região do Arquipélago do Marajó é, como costumam discursar tecnocratas, políticos e setores acadêmicos, um grande desafio. Frisa-se que nestes estudos as principais barreiras apontadas são os processos de monopolização da terra e dos recursos, a ausência de acessibilidade às tecnologias já desenvolvidas pela pesquisa para o desenvolvimento de atividades produtivas e sustentáveis, em especial aplicado aos grupos concentrados na atividade pecuária. De uma política social excludente, atribui-se a carência de mão-de-obra qualificada, os baixos níveis de educação formal enquanto a fragilidade na capacidade de organização social guarda relação com as estruturas de mando oligárquicas e o coronelismo.

Todavia é preciso ressaltar tal análise do IDH dos Municípios da Ilha de Marajó, é decorrente das formas de intervenção do Poder Público, das formas de dominação e a estrutura política controlada por grupos oligárquicos vinculados à pecuária extensiva e ao comércio, que utilizam formas de imobilização dos trabalhadores.

4.2 A exploração madeireira no Estado do Pará e no Arquipélago do Marajó

Conforme Lentini et al. (2005), a Amazônia possui quatro tipos de fronteiras de exploração madeireira, classificadas com base em suas tipologias florestais, idade da fronteira e condições de acesso:

a) Antigas: possuem mais de 30 (trinta) anos de funcionamento e estão localizadas ao sul e ao leste da Amazônia, em Municípios como Paragominas (PA), Tailândia (PA) e Rondon do Pará (PA), além de Sinop (MT) e Feliz Natal (MT). Contam com um bom acesso rodoviário e tem sua cobertura florestal muito reduzida; b) Intermediárias: possuem de 10 (dez) a 30 (trinta) anos de funcionamento, estando situadas nos arredores de Cláudia (MT), Marcelândia (MT), Porto Velho (RO), Buritis (RO) e Rio Branco (AC). Possuem uma infraestrutura precária, no entanto ainda contam com um estoque significativo de madeira;

c) Novas: possuem menos de 10 (dez) anos de funcionamento, podendo-se destacar o oeste do Pará com os Municípios de Novo Progresso e Castelo de Sonho, além do extremo noroeste de Mato Grosso, em Municípios como Aripuanã e Colniza. São fronteiras com ocupação recente e possuem respeitáveis estoques de espécies de madeira valiosas, porém com pouca infraestrutura;

d) Estuarinas: estão localizadas no entorno de Belém e Arquipélago do Marajó. Desde o século XVII, a exploração madeireira nessas fronteiras vem ocorrendo de forma seletiva e esporádica. A partir da década de 60, começou a haver uma maior intensidade de exploração nessa localidade.

Apesar da existência de uma dura legislação ambiental como a lei de crimes ambientais e do Código Florestal Brasileiro, milhares de hectares de floresta nativa são explorados todos os dias na Amazônia e mais especificamente no Estado do Pará de forma predatória, com pouca ou nenhuma intervenção das autoridades

competentes, responsáveis pela fiscalização da prática da atividade da exploração da madeira e derrubada da floresta.

Conforme dados do IBGE, o Estado do Pará possui uma área de 1.247.690 km², o que corresponde a aproximadamente 15% do território nacional e a 24% da área da Amazônia Legal. Os recursos florestais pertencentes ao território paraense vêm sendo explorados desde o século XIX, tendo como um dos principais produtos a madeira serrada que é utilizada na fabricação de móveis, construção de casas entre outros produtos, destinados tanto para o mercado interno quanto para o externo.

A crescente exploração madeireira aliada à falta de critérios e cuidados causou a devastação de grandes áreas na região, o que impulsionou discussões acerca da viabilidade da atividade madeireira nos estados que fazem parte da Amazônia Legal. O Estado do Pará representa uma localidade propícia para o crescimento da atividade madeireira, tendo em vista que possui uma infraestrutura mínima, como um sistema de transportes e comunicações razoáveis, além de recepcionar uma boa demanda de mão-de-obra de migrantes.

Em estudo realizado sobre os pólos madeireiros do Estado do Pará, Veríssimo, Lima e Lentini (2002), apontam que no ano de 2001 foram identificadas 1.295 indústrias madeireiras em funcionamento no Pará, sendo que 1.191 correspondiam a pequenas serrarias, que alcançavam uma produção média de 650 m³ de madeira serrada ao ano; outras 98 eram serrarias de porte médio, com produção média de 3.500 m³ por ano; já 6 eram grandes fábricas de laminados e compensados, com produção na média de 33.850 m³ por ano. Reunidas, tais madeireiras geraram aproximadamente 28.500 empregos e foram responsáveis por uma produção de 1,3 milhão de m³ de madeira, ou seja, 31% da produção de todo o estado do Pará.

No ano de 2004, o Pará possuía 33 pólos madeireiros distribuídos em cinco zonas, conforme se observa no Mapa 6, quais sejam: central, estuarina, leste, oeste e sul. No total foram identificadas 1.592 empresas madeireiras em atividade no estado, com uma produção de 11,1 milhões de metros cúbicos de madeira em tora. A renda bruta gerada foi aproximadamente de 1,1 bilhão de dólares, e o número de empregos diretos e indiretos criados correspondeu a aproximadamente 184 mil (LENTINI et al., 2005).