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Percepções e expectativas

No documento MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS SÃO PAULO 2008 (páginas 130-135)

Durante a pesquisa, os adolescentes também foram indagados sobre suas expectativas para o futuro. Pode-se perceber que todos fazem planos para um futuro longe da rua. Esta é uma questão crucial para a análise no próximo capítulo, pois entre as suas prioridades estão: trabalhar, estudar, conseguir uma moradia digna. Todavia, para as crianças e adolescentes, esse futuro é jogado para o horizonte etário, só quando atingirem 18 anos, fase em que almejam adentrar o mundo do trabalho.

O que eu pretendo fazer na minha vida é assim: arrumar qualquer coisa assim, chegar os 18 anos, arrumar um emprego que dá pra mim, podia ser

de serigrafia ou então de outra coisa, outra pra ganhar o dinheiro (Pedro, 16 anos).

Mesmo havendo embates com a polícia e a não-adaptação aos programas de ação educativa complementar, muitas crianças e adolescentes ainda sonham em compor estes grupos no futuro. Muitos pensam em ser policiais ou educadores sociais.

O futuro pra mim é estudar e se formar pra ser um bombeiro, pode ser polícia, pode ser qualquer coisa. Num sei por que quero ser polícia, tem uns que morre, que eles quer ser muito machão... Pode ser médico, o que Deus quiser que eu seja eu posso ser, médico, policial ou outra coisa (Paulo, 13 anos).

Eu quero é estudar mais pra poder chegar na frente arrumar um emprego bom, comprar uma casa pra mim morar, num ficar muito dependendo da minha família. Depender da família é meio ruim, eu quero aprender uma profissão pra poder arrumar um emprego bom. Meu sonho é ser mestre de capoeira, pra dar aula de capoeira pra outras pessoas. Aprender, ensinar aquilo que eu aprendi. Eu quero ter filhos, mas eu não quero que eles fiquem na rua (João, 14 anos).

O futuro dessas crianças e adolescentes está diretamente ligado às políticas públicas implantadas no município. Por estes relatos, foi possível perceber a inexistência ou precariedade das políticas públicas municipais que realmente tragam mudanças significativas para as famílias e para as crianças e adolescentes em situação de rua. A violência a que são submetidos faz com que a exclusão social crie raízes cada vez mais fortes, tornando esse cotidiano de exclusão a regra quase permanente. A violência, muitas vezes, traz fim para muitos sonhos. Segundo Feffermann (2006: 204), para muitos jovens, devido às situações inusitadas, “[...] o momento presente é o único tempo que lhes é possível” e seu futuro é, muitas vezes marcado pela morte.

Observou-se, durante a pesquisa, a violação contínua do Estatuto da Criança e do Adolescente, principalmente por parte daqueles a quem cabe seu cumprimento. Assim, o próximo capítulo dedica-se a analisar o discurso do poder público municipal, no que se refere ao atendimento à criança e ao adolescente em situação de rua, tendo por base as entrevistas feitas com os agentes sociais.

Capítulo IV

Políticas públicas, programas e projetos para a população infanto-juvenil

em Vitória da Conquista

O partido (PT) quer, pretende e está fazendo as transformações dentro do marco da democracia representativa, dentro do marco das instituições liberais do Estado brasileiro. Isso exige paciência. São mudanças no comportamento, nas instituições. A capacidade de atender materialmente um contingente de pessoas é limitada. Mas a opção preferencial pelos pobres, com política de inclusão para conter a barbárie, a saúde pública, programa de habitação, o combate à fome, o programa de agricultura familiar, essas políticas vão ter um efeito extremamente positivo na condição de amplas massas de brasileiros. Nossa expectativa é que crescentemente continue esse repasse de renda e de riqueza para a população, porque é a condição histórica do nosso modelo ser sustentável, do nosso projeto ser mais duradouro, independente de perder ou não as eleições em algum momento. 92

Os dados contidos no capítulo anterior, referentes às crianças e aos adolescentes em situação de rua, apontam que as ações dos órgãos de garantia de direitos continuam lentas e que, muitas vezes, ao invés de protegê-los, continuam violentando-os, ignorando o Estatuto da Criança e do Adolescente e agindo com se fossem conduzidos à luz do extinto Código de Menores.

92 Trecho da entrevista concedida pelo Prefeito José Raimundo Fontes à Agência Carta Maior, no dia

No entanto, os mesmos dados também demonstram que os órgãos de garantia de direitos têm conseguido ganhar credibilidade junto às crianças e adolescentes em situação de rua. Segundo informações da Unidade de Educação de Rua (UER), no final da década de 1990, até meados de 2005, crianças e adolescentes em situação de rua não conseguiam visualizar os órgãos de garantia de direitos como mecanismos de proteção. Desta forma, a maioria não os procuravam em caso de violação de seus direitos por parte da sociedade em geral.

Dados levantados no ano de 2004 pela UER detectaram diversos problemas na ação dos órgãos que deveriam garantir os direitos à população infanto-juvenil. A UER, enquanto a única ação governamental de atendimento direto existente na cidade, tinha, muitas vezes, seu trabalho impossibilitado pela polícia, devido à forma agressiva e violenta com que esta os trata, desrespeitando a legislação que deveria cumprir.

Cabe ressaltar que as crianças e adolescentes em situação de rua não têm sido atendidos pelos órgãos que deveriam garantir seus direitos. Por isso, esta pesquisa objetivou investigar alguns órgãos ligados ao Governo Municipal. Assim, foram realizadas entrevistas com representantes do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA), da Coordenação de Assistência à Criança e ao Adolescente (CACA), do Programa Conquista Criança, do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), do Programa Agente Jovem e do Projeto Juventude Cidadã.

No documento MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS SÃO PAULO 2008 (páginas 130-135)