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O Programa Agente Jovem

No documento MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS SÃO PAULO 2008 (páginas 152-156)

O Programa Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano é uma ação do Governo federal, implantada no município de Vitória da Conquista no ano de 2006, com o objetivo de formar jovens lideranças que atuem dentro de suas comunidades em prol da garantia de direitos106. Trabalha também criando mecanismos que possibilitem que tais jovens freqüentem a escola que outrora fora por eles abandonada, devido às dificuldades financeiras das famílias.

Diversos fatores fazem com que os adolescentes abandonem a escola, entre os principais destacam-se o trabalho e a gravidez. Essa realidade fez com que o Programa Agente Jovem definisse como seu principal objetivo atender aos:

[...] meninos que desistiram da escola, porque tiveram que trabalhar (ou por outros motivos), meninas que engravidaram, tiveram filho muito cedo. A gente trabalha na reinserção desses meninos na rede de ensino, para que eles voltem a estudar, para que eles sejam modificadores tanto dentro da escola, como dentro da comunidade, a partir das atividades que a gente desenvolve no Programa107.

Ainda, segundo a coordenadora, as atividades desenvolvidas não se configuram enquanto trabalho, mas possibilitam aos adolescentes a aquisição de saberes significativos para sua vida comunitária, despertando seu desejo de permanecer na escola. Suas atividades artísticas e culturais, desenvolvidas nos bairros de origem ou nas proximidades das moradias dos adolescentes, pretendem envolvê-los no cotidiano da sua comunidade,

106 O Programa configura-se como uma ação de assistência social destinada a jovens com idades entre 15 e

18 anos, visando ao seu desenvolvimento pessoal, social e comunitário. A estes jovens é fornecida uma bolsa de auxílio financeiro no valor de 75 reais por mês, para que abandonem as atividades de trabalho e dediquem-se à escola.

107 Entrevista com a coordenadora do Programa Agente Jovem do município de Vitória da Conquista,

possibilitando que os mesmos, com base na sua formação, transformem-se em agentes capazes de mudar sua realidade local.

Os resultados do Programa Agente jovem são quantificados através das metas que são estipuladas pelo Governo Federal.

[...] o Governo federal já manda as metas a serem atingidas, aqui no município é de 200 jovens. No ano de 2006, nós cadastramos, 200 jovens, sendo que, com freqüência regular até o final do projeto, nos só tivemos 146. Esse ano, nós também temos a meta de 200 adolescentes (Coordenadora do Programa Agente Jovem).

Nota-se aqui uma preocupação com dados quantitativos também presente nos demais programas. No entanto, diferentemente de outros programas, o adolescente não precisa estar na escola para poder fazer parte do Agente Jovem, basta que, posteriormente, seja inserido na rede regular de ensino e desenvolva as atividades do Programa no turno oposto. Conforme a coordenadora, durante a seleção dos adolescentes, são sempre priorizados os que têm baixa renda. O Programa não estabelece nenhuma condição para que os adolescentes ingressem em suas atividades, com exceção da idade: “se não for encaminhado por outro projeto aí a gente leva em consideração a renda” no momento do ingresso.

Devido à estrutura do Programa Agente Jovem, verifica-se que este projeto poderia atender aos adolescentes em situação de rua, tendo em vista que estes vêm de um grupo de baixa renda. No entanto, como salienta a coordenadora, o Programa reconhece a necessidade de efetuar um trabalho com os jovens em situação de rua e até já houve tentativas de atendê-los,

Mas, como se sabe que, para aqueles meninos da rua participarem de um programa, de um projeto, eles não conseguiriam se adaptar. O Programa tem algumas normas de estar sempre no lugar, todo dia, naquele horário, eles tiveram muita dificuldade com isso. Eu acho que isso é a falta de um trabalho mais temático(Coordenadora do Programa Agente Jovem). O Programa Agente Jovem justifica a falta de estrutura para atender aos adolescentes em situação de rua e a coordenadora afirma que os educadores não têm capacitação para trabalhar com esse público. Para trabalhar com esses adolescentes,

[...] a gente sabe que tem que ter todo um cuidado, não é a mesma coisa de se trabalhar com um adolescente que tem uma estrutura dentro de casa. [Eles] podem dar alguns problemas para alguns educadores que num sabem ainda lidar com eles. Então, eu acho que precisaria capacitar um pouco mais os educadores para estar trabalhando, acolhendo esses meninos (Coordenadora do Programa Agente Jovem).

Verifica-se que o Programa Agente Jovem, mesmo destinando-se a atender aos adolescentes em situação de rua, vai priorizar o atendimento daqueles que ainda têm um vínculo familiar. Em suas experiências, o Programa só principiou a atender aos adolescentes em situação de rua que pernoitavam na Unidade de Acolhimento Noturno, não conseguindo dar continuidade ao trabalho.

Não houve também por parte da Prefeitura uma capacitação dos profissionais que atuariam no Programa Agente Jovem. Esta foi uma iniciativa dos funcionários:

[...] ao começar esse trabalho, houve toda uma preocupação da gente estar fazendo estudos, e inclusive estudo sobre educação de rua, de como ela funcionava e isso ajudou muito na hora da prática, porque tem profissionais que vieram da saúde, da educação, mas que não tinham experiência efetiva com turma ou com meninos de rua. Então, esses

estudos possibilitaram discussões com o grupo que ajudaram muito (Coordenadora do Programa Agente Jovem).

Faz-se importante ressaltar que a falta de estrutura para o atendimento aos adolescentes em situação de rua se dá por falta da aplicação efetiva de recursos que cabe ao município. A contratação de profissionais sem experiência e a não capacitação dos mesmos impedem que estes tenham condições de atender ao público em situação de rua. Faltam também espaços públicos nos bairros, para que as atividades sejam desenvolvidas e faltam recursos para deslocar os adolescentes para as áreas onde são desenvolvidas as atividades. De acordo com a coordenadora, o fornecimento de locais adequados para o desenvolvimento das atividades deveria ser uma contrapartida do Governo Municipal.

Esta faz criticas ao modelo de seleção dos educadores executado pelo governo municipal, o que prejudica a ação do Programa,

[...] nem sempre, quando se trabalha em um projeto, é feita essa seleção criteriosa dos profissionais. [...] às vezes, tem as indicações e isso, para mim, atrapalha muito, porque você fica de mãos atadas. Alguém indicou e você, de certa forma, tem que aceitar a indicação e nem sempre essa indicação atende ao perfil. [...] nem sempre essa pessoa que vem indicada tem condições de estar trabalhando (Coordenadora do Programa Agente Jovem).

Cabe ainda ressaltar que a falta de estrutura para o atendimento aos adolescentes em situação de rua se dá por falta da aplicação efetiva de recursos que cabe ao município. Faltam também espaços públicos nos bairros, para que as atividades sejam desenvolvidas, e faltam recursos para deslocar os adolescentes para as áreas onde são desenvolvidas as atividades. Segundo a coordenadora, o fornecimento de locais adequados para o desenvolvimento das atividades deveria ser uma contrapartida do Governo Municipal.

No que se refere ao investimento do Governo Federal, segundo a coordenadora, “essa parte é cumprida. A gente sabe que vem uma verba, a gente sabe o quanto a gente pode estar comprando”. Entretanto, é por causa da não-efetivação da contrapartida do município que o atendimento aos adolescentes em situação de rua não acontece de forma efetiva. Assim, o Programa Agente Jovem afirma que, pelo fato de seu público alvo estar classificado em uma categoria de risco, que é muito mais ampla do que a que envolve os que estão em situação de rua, o atendimento a esse público deveria ser efetuado pelo Programa Conquista Criança, destinado a esse fim. Para ela, cada programa delimita que público irá atender e, assim, acabam excluindo os que estão em situação de rua. Mesmo que o Programa Agente Jovem tenha o perfil para atender aos que estão em situação de rua, é preferível que eles sejam encaminhados para o Programa Conquista Criança.

No documento MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS SÃO PAULO 2008 (páginas 152-156)