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Percepções sobre a legislação do serviço em família acolhedora do município de Criciúma/SC

REGRAS DISPOSTAS NAS ORIENTAÇÕES TÉCNICAS E NA TIPIFICAÇÃO NACIONAL:

5.2.2 Percepções sobre a legislação do serviço em família acolhedora do município de Criciúma/SC

O município de Criciúma conta atualmente com a lei nº. 6689, de 21 de dezembro de 2015, dispondo sobre o serviço de acolhimento familiar provisório de crianças e adolescentes, que revogou a lei nº. 5233 de novembro de 2008 (CRICIÚMA, 2015). Com relação a coleta dos dados, tem-se:

Tabela 04 – Análise dos requisitos mínimos no município de Criciúma/SC

REGRAS DISPOSTAS NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE:

Requisito Existência na lei municipal

Clareza quanto ao caráter provisório e excepcional da medida; Contém quanto ao caráter provisório;

Aplicação: crianças e adolescentes; Contém; Esclarecimento quanto a impossibilidade dos acolhedores estarem

no cadastro de adoção; Contém;

Esclarecimento sobre o caráter voluntário dos acolhedores; Contém; Previsão de repasse de recursos para subsídio dos acolhidos; Contém; Previsão de que o acolhimento familiar somente poderá ser feito

por autoridade judiciária; Contém;

Existência de regra com obrigatoriedade de elaboração de plano individual de atendimento imediatamente após o acolhimento da criança ou do adolescente pela entidade responsável pelo serviço, ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada em contrário de autoridade judiciária competente;

Não contém;

Existência de regra sobre a obrigatoriedade de encaminhamento de relatório circunstanciado para o Poder Judiciário a cada 03 meses sobre a situação da criança/adolescente;

Não contém; Previsão de tentativa de que o acolhimento ocorra em local mais

próximo à residência dos pais ou do responsável; Não contém; Previsão de manutenção e estimulação de contato da criança ou

adolescente com seus pais e parentes; Contém; Previsão de estudo da necessidade de inclusão da família de

origem em programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção social;

Não contém; Articulação com a Justiça da Infância e da Juventude e a rede de

atendimento; Contém;

Existência de dispositivos em desacordo com o Estatuto. Art. 2º, incisos I, III e § único; Art. 3º; Art. 10, § 2º e 3º;

REGRAS DISPOSTAS NAS ORIENTAÇÕES TÉCNICAS E NA TIPIFICAÇÃO NACIONAL:

Requisito Existência na lei municipal

Previsão de aplicação do serviço de acolhimento à crianças e adolescentes cuja avaliação da equipe técnica e dos serviços da rede de atendimento indique possibilidade de retorno à família de origem, ampliada ou extensa, salvo casos emergenciais, nos quais inexistam alternativas de acolhimento e proteção;

Não contém;

Previsão de acolhimento de uma criança/adolescente por vez para cada família acolhedora, exceto quando se tratar de grupo de irmãos, quando esse número poderá ser ampliado;

Não contém; Formas claras e pertinentes de: ampla divulgação do serviço,

avaliação inicial e avaliação documental mínima, seleção, cadastramento, preparação e acompanhamento das famílias acolhedoras pela equipe técnica do serviço;

Contém – exceto: divulgação; um documento mínimo (atestado de saúde física e mental);

Preparação e acompanhamento psicossocial da

até o seu desligamento;

Existência de abrangência territorial – municipal e/ou regional; Contém; Previsão de capacitação continuada da equipe responsável pelo

serviço; Não contém;

Necessidade de termo de guarda provisória pelo serviço de acolhimento à autoridade judiciária para a família acolhedora previamente cadastrada;

Contém; Equipe profissional mínima: 01 coordenador com nível superior e

experiência em função congênere; mínimo de 02 profissionais para compor a equipe técnica, com nível superior, para o acompanhamento de até 15 famílias de origem e 15 famílias acolhedoras;

Contém;

Infraestrutura e espaços mínimos sugeridos que deverão funcionar

em área específica para atividades técnico-administrativas; Contém; Existência de dispositivos em desacordo com os documentos. Art. 6º; Fonte: Elaborado pela autora.

O art. 2º, inciso I e seu parágrafo único estão destacados como em desacordo com o Estatuto pois usam a expressão “famílias substitutas de apoio” ou somente “famílias substitutas” para se referirem às famílias acolhedoras (CRICIÚMA, 2015). As pessoas que acolhem como famílias acolhedoras não podem ser confundidas com as famílias substitutas, diante das diferentes finalidades entre elas, mas, especialmente, com relação ao animus de constituir família. O uso da expressão “família substituta” pode trazer confusão ao leitor ou ao aplicador da lei.

O inciso III, do art. 2º, da lei (CRICIÚMA, 2015), refere-se que a adoção quando deveria se referir à família substituta de maneira geral, vez que o instituto da adoção não é o único que possibilita a colocação de crianças e adolescentes em famílias substitutas, existindo ainda a guarda e a tutela (BRASIL, 1990b). Trata-se de consequência do uso equivocado do termo família substitua. Em todo o texto da lei, é utilizada a denominação família adotiva para os fins de família substituta.

O art. 3º abre margem para dupla interpretação. Referido dispositivo diz que o serviço atenderá crianças e adolescentes “que tenham seus direitos ameaçados ou violados, que estejam em situação de abrigo aguardando definição de sua situação familiar” (CRICIÚMA, 2015). A segunda parte “que estejam em situação de abrigo aguardando definição de sua situação familiar” parece restringir tão somente àquelas que já estão em acolhimento institucional. No entanto, podem estar se referindo, também, a situação de medida de proteção. Se houver a restrição, está em total desacordo com as normativas em vigor.

O art. 10, parágrafos 2º e 3º, dispõem que o acolhimento se limitará ao prazo máximo de dois anos, referenciando ao artigo 19, parágrafo 2º52, do Estatuto, que

impõem prazos aos acolhimentos institucionais. No entanto, o equívoco da lei municipal está na imposição que a prorrogação do prazo poderá ser determinada pela equipe técnica (CRICIÚMA, 2015), quando a autoridade competente é a judiciária (BRASIL, 1990b).

5.2.3 Percepções sobre a legislação do serviço em família acolhedora do