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Percepções sobre a legislação do serviço em família acolhedora do município de Içara/SC

REGRAS DISPOSTAS NAS ORIENTAÇÕES TÉCNICAS E NA TIPIFICAÇÃO NACIONAL:

5.2.4 Percepções sobre a legislação do serviço em família acolhedora do município de Içara/SC

No município de Içara o acolhimento familiar é regido pela lei nº. 4.395 de julho de 2019. Esta revogou a lei nº. 1781, que orientava os acolhimentos desde 2002 no município. Das leis estudadas, a atual de Içara é que menos segue em sua formulação padrões idênticos quando comparado aos demais municípios aqui pesquisados. O modelo da lei utilizado por Içara é o formulado pela Secretaria da Família e do Desenvolvimento Social do estado do Paraná para todos os seus municípios que tivessem a intenção de implantar o serviço naquele estado (PARANÁ, 2019). Da análise da lei municipal de Içara, tem-se:

Tabela 06 – Análise dos requisitos mínimos no município de Içara/SC

REGRAS DISPOSTAS NO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE:

Requisito Existência na lei municipal

Clareza quanto ao caráter provisório e excepcional da medida; Contém;

Aplicação: crianças e adolescentes; Contém, mas estende a aplicação para jovens de 18 a 21 anos de idade;

Esclarecimento quanto a impossibilidade dos acolhedores estarem

no cadastro de adoção; Contém;

Esclarecimento sobre o caráter voluntário dos acolhedores; Contém;

Previsão de repasse de recursos para subsídio dos acolhidos; Contém, mas sem valor fixo e igualitário, apenas previsão mínima;

Previsão de que o acolhimento familiar somente poderá ser feito por autoridade judiciária;

Contém, mas também permite o Conselho Tutelar em situação emergencial; Existência de regra com obrigatoriedade de elaboração de plano

criança ou do adolescente pela entidade responsável pelo serviço, ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada em contrário de autoridade judiciária competente;

Existência de regra sobre a obrigatoriedade de encaminhamento de relatório circunstanciado para o Poder Judiciário a cada 03 meses sobre a situação da criança/adolescente;

Não contém; Previsão de tentativa de que o acolhimento ocorra em local mais

próximo à residência dos pais ou do responsável; Não contém; Previsão de manutenção e estimulação de contato da criança ou

adolescente com seus pais e parentes; Contém; Previsão de estudo da necessidade de inclusão da família de

origem em programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção social;

Não contém; Articulação com a Justiça da Infância e da Juventude e a rede de

atendimento; Contém;

Existência de dispositivos em desacordo com o Estatuto. Art. 1º; Art. 2º, inc. I; Art. 4º, §§ 1º e 2º; Art. 7º, §§ 2º, 3º e 4º.

REGRAS DISPOSTAS NAS ORIENTAÇÕES TÉCNICAS E NA TIPIFICAÇÃO NACIONAL:

Requisito Existência na lei municipal

Previsão de aplicação do serviço de acolhimento à crianças e adolescentes cuja avaliação da equipe técnica e dos serviços da rede de atendimento indique possibilidade de retorno à família de origem, ampliada ou extensa, salvo casos emergenciais, nos quais inexistam alternativas de acolhimento e proteção;

Não contém;

Previsão de acolhimento de uma criança/adolescente por vez para cada família acolhedora, exceto quando se tratar de grupo de irmãos, quando esse número poderá ser ampliado;

Contém; Formas claras e pertinentes de: ampla divulgação do serviço,

avaliação inicial e avaliação documental mínima, seleção, cadastramento, preparação e acompanhamento das famílias acolhedoras pela equipe técnica do serviço;

Contém – exceto: divulgação;

Preparação e acompanhamento psicossocial da criança/adolescente, da família de origem e da rede social de apoio até o seu desligamento;

Contém; Existência de abrangência territorial – municipal e/ou regional; Contém; Previsão de capacitação continuada da equipe responsável pelo

serviço; Contém;

Necessidade de termo de guarda provisória pelo serviço de acolhimento à autoridade judiciária para a família acolhedora previamente cadastrada;

Não contém; Equipe profissional mínima: 01 coordenador com nível superior e

experiência em função congênere; mínimo de 02 profissionais para compor a equipe técnica, com nível superior, para o acompanhamento de até 15 famílias de origem e 15 famílias acolhedoras;

Contém, mas não há exigência de experiência na área pelo coordenador; Infraestrutura e espaços mínimos sugeridos que deverão funcionar

em área específica para atividades técnico-administrativas; Não contém;

Existência de dispositivos em desacordo com os documentos. Art. 1º; Art. 2º, inc. I; Art. 4º, §§ 1º e 2º; Art. 7º, §§ 2º, 3º e

4º; Fonte: Elaborado pela autora.

O art. 1º, da lei municipal (IÇARA, 2019) institui o acolhimento familiar destinado à garantia de direitos de crianças e adolescentes (de zero a dezoito anos) e, excepcionalmente, de jovens entre 18 e 21 anos de idade, afastados da família de origem por meio da medida de proteção prevista no art. 101, inciso VIII, do Estatuto da Criança e do Adolescente. No mesmo conceito de aplicação, seguem os artigos 2º, inc. I; 4º, parágrafos 1º e 2º; 7º, parágrafos 2º, 3º e 4º.

Por melhor que seja a intenção da lei, ela está em desacordo com a legislação estatutária, as Organizações Técnicas e a Tipificação Nacional. O Estatuto da Criança e do Adolescente é aplicado para crianças e adolescentes, consideradas pessoas até 18 anos de idade e, em casos excepcionais e expressos em lei, aos jovens de 18 a 21 anos de idade (BRASIL, 1990b). Com relação ao acolhimento familiar, não há manifesto expresso para os jovens, então não se aplica. Os documentos Organizações Técnicas e Tipificação Nacional organizam a aplicação da medida para crianças e adolescentes de 0 a 18 anos, que estão em medida protetiva. Para os jovens, os documentos recomendam o acolhimento sob a modalidade de República (BRASIL, 2009; 2013). Até porque, a maioridade já foi atingida, sendo discricionariedade dos mesmo a tomada de decisão sobre suas vidas.

Além do mais, equivocada está também o dispositivo que aduz que a continuidade no serviço para os jovens será analisada pela própria equipe, sem qualquer participação do Poder Judiciário (IÇARA, 2019).

5.2.5 Percepções sobre a legislação do serviço em família acolhedora do