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4 ABORDAGEM METODOLÓGICA

4.2 O CONTEXTO DA PESQUISA

4.2.1 Percurso e Ferramentas

Inicialmente, foram mapeados os principais estudos publicizados sobre as políticas de accountability na educação brasileira. Com base nestes, identificou-se que Pernambuco foi um dos pioneiros no país, especialmente, quando se trata da implementação de políticas de avalia- ção, prestação de contas e responsabilização no ensino médio.

Neste contexto, foram levantados os documentos que orientam e instituem essas políti- cas no estado. O Quadro 4 exemplifica os principais:

QUADRO 4 - DOCUMENTOS QUE ORIENTARAM A IMPLEMENTAÇÃO DE DISPOSITIVOS DE AC- COUNTABILITY/PE

Documento Descrição

Curso de Aperfeiçoamento em Gestão Escolar – Módulo 12 “Políticas de Res- ponsabilização Educacional”.

Material elaborado para o curso de aperfeiço- amento oferecido aos gestores.

Nota Técnica – Avaliação das escolas es- taduais e o Bônus de Desempenho Edu- cacional

Nota técnica explicativa sobre os critérios para receber o BDE.

Lei nº 13.486, de 1º de julho de 2008.

Institui o Bônus de Desempenho Educacional - BDE, no âmbito do Estado de Pernambuco, e dá outras providências.

Decreto n 32.300 de 08 de setembro de 2008.

Regulamenta a Lei nº 13.486, de 1º de julho de 2008, que institui o Bônus de Desempenho Educacional – BDE, no âmbito do Estado de Pernambuco, e dá outras providências.

Lei nº 13.696, de 18 de dezembro de 2008

Altera a Lei nº 13.486, de 1º de julho de 2008, que institui o Bônus de Desempenho Educa- cional – BDE, no âmbito do Estado de Per- nambuco, e dá outras providências.

Programa de Modernização da Gestão Programa focado na melhoria dos indicado-

res educacionais.

Após a análise dos documentos oficiais, foi realizada a organização do instrumento para a realização da coleta de dados em campo, com vistas à resolução do objetivo principal dessa tese, que é analisar quais as repercussões das políticas de accountability no estado de Pernam- buco. Foi escolhida como instrumento de coleta de dados a entrevista.

Foram entrevistados 19 professores que atuam em 4 escolas de ensino médio do muní- cipio de Recife, pertencentes a rede estadual de educação. As escolas foram indicadas por uma funcionária que atua na Gerência Regional de Educação atendendo às especificações da pes- quisadora, ou seja, instituições bonificadas e não bonificadas.

Para a escolha das escolas e realização das entrevistas foram utilizados os resultados do BDE do ano de 2016, pagos no ano de 2017. Na ocasião da visita da pesquisadora ao estado, os dados do ano de 2017, com previsão de pagamento para 2018, ainda não haviam sido divulga- dos pela Secretaria de Estado de Educação

No tocante aos professores, foram entrevistados os que se voluntariaram para colaborar com a pesquisa em questão. Cabe destacar que, na ocasião da visita da pesquisadora nas escolas, os professores eram convidados a participarem da pesquisa, ou seja, não foram previamente escolhidos para tal.

Como procedimento ético, no momento da entrevista foi entregue a cada sujeito um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (conforme Apêndice 1), o qual explicava os objetivos da pesquisa e mencionava a observância ética do sigilo e da liberdade que o pro- fessor possuía de participar ou não da atividade. O termo foi assinado em duas vias pela pes- quisadora e pelos sujeitos que concordaram em participar da pesquisa. Providos deste docu- mento, poder-se-ia realizar a entrevista individual, que foi realizada a partir de roteiro semies- truturado (conforme Apêndice 2).

Um dos aspectos que também merece atenção é o medo de repressão de muitos profes- sores em conceder entrevista. Uma das primeiras perguntas dirigidas a pesquisadora é se a pes- quisa era realizada a pedido do estado de Pernambuco e se tinha algum tipo de financiamento de institutos ou fundações. Mesmo com a assinatura do TCLE, pediam que não fosse divulgado o nome dos profissionais e nem das escolas participantes. Dessa forma, optou-se pela não di- vulgação dos envolvidos na realização dessa pesquisa.

QUADRO 5 – ORGANIZAÇÃO E CARACTERÍSTICAS DAS ESCOLAS PESQUISADAS

ESCOLA 1 ESCOLA 2 ESCOLA 3 ESCOLA 4

Modalidade de ensino médio ofertada

Escola de Referência de Ensino Médio (EREM)

Integral

Regular Regular Técnica

Resultado final do BDE no ano de 2016 (pago

em 2017)

89,1% 89,1% Não obteve bo-

nificação 33,3% Número de matrículas 882 705 integral 980 760 722 500 integral Turnos 2 3 3 2 Número de funcionários 63 67 52 64 FONTE: a autora.

As entrevistas foram efetivadas no mês de agosto do ano de 2018. Além de sua realiza- ção, a pesquisadora teve a oportunidade de visitar as 4 (quatro) escolas e dialogar informal- mente com gestores e demais profissionais que nelas atuam. Uma das questões que merece destaque é a surpresa dos profissionais na realização da pesquisa em Pernambuco, especial- mente, pela pesquisadora residir na região sul do país. Alguns profissionais manifestaram tam- bém a percepção de que a região sul é muito mais desenvolvida em âmbito educacional.

As entrevistas foram transcritas logo após a sua realização e, como técnica para o trata- mento dos dados coletados, foi utilizada a análise de conteúdo. Bardin (1995), ao analisar as raízes históricas dessa técnica, menciona que o primeiro nome que ilustra a análise de conteúdo foi H. Lasswell, que fez análises da imprensa e da propaganda desde 1915. No entanto, cabe salientar que nessa época o material utilizado era essencialmente jornalístico, e o rigor cientifico invocado era o da medida, o que corroborava que as análises da época fossem quantitativas. Criou-se, na época, certo fascínio pela contagem e pela medida, técnicas que foram ampliadas com a Segunda Guerra Mundial e passam a integrar o estudo das propagandas. Vale destacar que, por aproximadamente 40 anos, a análise de conteúdo se desenvolveu nos Estados Unidos.

A análise de conteúdo, segundo os estudos de Bardin (1995), constitui-se de várias téc- nicas que buscam descrever e analisar os conteúdos presentes no processo de comunicação. Essas técnicas possibilitam levantamentos tanto quantitativos como qualitativos. Tratam-se de técnicas de pesquisa que permitem a descrição de forma sistemática das mensagens, assim como possibilitam que o interlocutor teça inferências sobre os dados.

Desdobra-se nas seguintes etapas: pré-análise, exploração do material ou codificação e tratamento dos resultados obtidos. Poirier e Valladon (1983) salientam que a análise de conte- údo está orientada para um número razoável de entrevistas, pois deve permitir estabelecer uma análise comparativa por via de tipologias, categorias e análises temáticas.

As entrevistas desse estudo foram agrupadas nas categorias: Gaming e/ou efeitos inde- sejados; Marketing Accountability; Competitividade e Meritocracia; Regulação e Cobrança por resultados; e, Qualidade das Aprendizagens no ensino médio. Ao final, buscou-se sintetizar o pensamento dos docentes acerca dos dispositivos de accountability implementados no estado, com vistas a apresentar as contradições do modelo implementado.

Para atender aos demais objetivos específicos fez-se uso da pesquisa bibliográfica e do- cumental, além de uma revisão de literatura. A pesquisa bibliográfica é uma das etapas na rea- lização de uma investigação cientifica. “É feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites” (FONSECA, 2002, p. 32), auxilia o pesquisador a compreender o uni- verso de estudo, assim como o que já foi dito a respeito do objeto estudado.

A pesquisa documental, apesar de muito próxima da bibliográfica, “recorre a fontes mais diversificadas e dispersas, sem tratamento analítico, tais como: tabelas estatísticas, jornais, revistas, relatórios, documentos oficiais, cartas, filmes, fotografias, pinturas, tapeçarias, relató- rios de empresas, vídeos de programas de televisão, etc.” (FONSECA, 2002, p. 32).

Cabe destacar que tanto a pesquisa bibliográfica como a documental foram de suma importância para compreender a temática e o universo pesquisado.