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A metodologia é o encontro do percurso que faz o pensamento e a prática que se exerce na abordagem da realidade. Nessa perspectiva, Deslandes et al (2012, p. 14) ressalta que

A metodologia inclui ao mesmo tempo a teoria da abordagem (o método), os instrumentos de operacionalização dos conhecimentos (as técnicas) e a criatividade do pesquisador (sua experiência, sua capacidade pessoal e sua sensibilidade).

A metodologia se encontra no lugar central, isto é, no interior das teorias e refere-se a elas; poderíamos dizer então que sem o método a teoria não tem alma. Para Deslandes et al. (2012, p. 15), a metodologia é mais que a técnica, pois “inclui as concepções teóricas da abordagem articulando-se com a teoria, com a realidade empírica e com os pensamentos sobre a realidade”. Ainda acrescentam que, “enquanto conjunto de técnicas, a metodologia deve dispor de um instrumental claro, coerente, elaborado, capaz de encaminhar os impasses teóricos para o desafio da prática” (p.15). Porém, “nada substitui a criatividade do pesquisador, ou seja, a sua experiência, intuição, capacidade de comunicação e de indagação” (p.16).

Assim, é a pesquisa que alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade do mundo. Por isso, a pesquisa vincula pensamento e ação. Tudo está associado, primeiramente, aos problemas da vida prática, senão não é um problema. Portanto, as questões de investigação são frutos de determinada inserção na vida real, nela encontrando suas razões e seus objetivos.

Esta pesquisa tem como característica a abordagem qualitativa. O pesquisador, os sujeitos envolvidos na investigação, os instrumentos utilizados na aproximação com a realidade e os referenciais teóricos são elementos que compõem o cotidiano de uma pesquisa qualitativa. O processo de produção de conhecimento científico, em especial nessa modalidade de pesquisa, se dá pela interligação entre esses elementos, ponto central para o desvelamento da realidade.

A pesquisa qualitativa trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores, das atitudes e das inquietações. A realidade não pode ser pensada e analisada a priori, mas o pesquisador deve estabelecer contato, participar, dialogar, tornar os sujeitos envolvidos parceiros de suas inquietações.

Lüdke e André (1986, p. 2) afirmaram que

Para se realizar uma pesquisa é preciso promover o confronto entre os dados, as evidências, as informações coletadas sobre determinado assunto e o conhecimento teórico acumulado a respeito dele. Em geral isso se faz a partir do estudo de um problema, que ao mesmo tempo desperta o interesse do pesquisador e limita sua atividade de pesquisa a uma determinada porção do saber, a qual ele se compromete a construir naquele momento.

Nessa perspectiva, as autoras consideram:

Trata-se assim de uma ocasião privilegiada, reunindo o pensamento e a ação de uma pessoa, ou de um grupo, no esforço de elaborar o conhecimento de aspectos da realidade que deverão servir para a composição de soluções propostas aos seus problemas. Esse conhecimento é, portanto, fruto da curiosidade, da inquietação, da inteligência e da atividade investigativa dos indivíduos, a partir e em continuação do que já foi elaborado e sistematizado pelos que trabalham o assunto anteriormente. (id., ibid.).

Essa concepção, segundo as autoras, as remeteu ao caráter social da pesquisa descrita por Demo (1995). Esse professor caracterizou a dimensão social da pesquisa e do pesquisador, os quais estão mergulhados naturalmente na corrente da vida em sociedade, com suas competições, interesses e ambições, ao lado da legítima busca do conhecimento científico. Tal descrição vai de encontro ao que pensam os estudantes sobre a atividade de pesquisa se reservar a alguns eleitos, que escolheram ou foram escolhidos para realizá-la em caráter exclusivo, em condições especiais e até mesmo assépticas, em sua torre de marfim, isolada da realidade, ou seja, o mito da pesquisa.

Em se tratando de uma atividade humana e social, a pesquisa traz, inevitavelmente, a carga de valores, preferências, interesses e princípios que orientam o pesquisador, em função de ele estar inserido em uma sociedade que irá refletir em seu trabalho valores e princípios da sua época. Nesse sentido, a pesquisa é um trabalho artesanal que não prescinde da criatividade, realizando-se fundamentalmente por uma linguagem baseada em conceitos, proposições, hipóteses, métodos e técnicas, linguagem esta que se constrói com um ritmo próprio e particular (DESLANDES et al, 2012, p. 26). Esse ritmo é denominado pelos

autores de ciclo de pesquisa, ou seja, um peculiar processo de trabalho em espiral que começa com uma pergunta e termina com uma resposta ou produto que, por sua vez, dá origem a novas interrogações.

Segundo Lüdke e André (1986), os fenômenos educacionais situados entre as ciências humanas e sociais sofreram a influência das evoluções ocorridas nesses campos de estudo, que passaram por um longo período a serviço dessas ciências. Uma característica que predominava entre as pesquisas em educação era a crença na separação entre o sujeito da pesquisa, o pesquisador, e seu objeto de estudo, para que suas ideias, valores e preferências não influenciassem seu ato de conhecer. A crença na imutabilidade, pela qual se acreditava na permanência dos fenômenos estudados, é também um aspecto que foi revisto após o desenvolvimento da concepção social da pesquisa.

Porém, com a evolução dos próprios estudos na área da educação, a partir dos sinais de insatisfação dos pesquisadores em relação aos métodos, percebe-se que nesse campo de estudos as coisas acontecem, que é difícil isolar as variáveis envolvidas e, mais ainda, apontar claramente quais são as responsáveis por determinado efeito. Diante disso, seria preciso buscar novas formas de trabalho em pesquisa que rompessem com o antigo paradigma e, sobretudo, que se adaptassem melhor ao objeto de estudo considerado significativo pelos pesquisadores em educação. Nesse cenário, o papel do pesquisador é justamente de “servir como veículo inteligente e ativo entre esse conhecimento acumulado na área e as novas evidências que serão estabelecidas a partir da pesquisa” (LÜDKE; ANDDRÉ, 1986, p. 5). É por seu trabalho que o conhecimento naquela área vai ampliar-se, carregado e comprometido com as questões peculiares do pesquisador, inclusive com as suas definições políticas, porque “todo ato de pesquisa é um ato político” (p. 5).

De acordo com Bogdan e Biklen (1982, p. 48-51), a pesquisa qualitativa envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos a partir do contato direto do pesquisador com a situação estudada, processo em que se enfatiza mais o processo que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes.

Ainda, sobre a questão dos investigadores qualitativos, Bogdan e Biklen, (1982, p. 51) afirmaram que

Osinvestigadoresqualitativosemeducaçãoestãocontinuamenteaquestionar os sujeitos de investigação, com o objetivo de perceber aquilo que eles

experimentam,omodocomoelesinterpretam as suasexperiênciase omodo como eles próprios estruturam o mundo social em que vivem. Os investigadores qualitativos estabelecem estratégias e procedimentos que lhes permitam tomar em consideração as experiências do ponto de vista do informador. O processo de condução de investigação qualitativa reflete uma espécie de diálogo entre os investigadores e os respectivos sujeitos, dado estes não serem abordados por aqueles de uma forma neutra.

Em educação, a investigação qualitativa é frequentemente designada por

naturalista, porque o investigador frequenta os locais em que naturalmente se

verificam os fenômenos nos quais está interessado, incidindo os dados recolhidos nos comportamentos naturais das pessoas, como conversar, visitar, observar, entre outros. Portanto, um dos desafios para a pesquisa em educação é apreender essa realidade dinâmica e complexa do seu objeto de estudo, em sua realização histórica.

Apartirdasinquietações dos autores citados,começaramasurgirmétodos deinvestigaçãoeabordagensdiferentesdaquelestradicionais,queforaminfluenciados por outra postura de pesquisar, que traz o pesquisador para o cenário de sua pesquisa, inserindo-se nela e tomando partido nessa trama. Dessa forma, é preciso saber: de que lado estão os pesquisadores, para quem e para que pesquisam?

Assim surgiram as pesquisas participante ou participativa ou ainda emancipatória, a pesquisa-ação, a pesquisa etnográfica ou naturalística, o estudo de caso, em que o pesquisador deve estar sempre atento à acuidade e veracidade das informações que vai obtendo, ou melhor, construindo, para que, nessa construção, afirmaram Lüdke e André (1986, p. 9), “seja colocada toda a inteligência, habilidade técnica e uma dose de paixão para temperar”.