• Nenhum resultado encontrado

Tornar-se professor nos espaços de privação de liberdade perpassa

3.3 Iniciando a Coleta de Dados: primeiras percepções e análises

3.3.5 Tornar-se professor nos espaços de privação de liberdade perpassa

O desgaste que ocorre no processo de adaptação é chamado de estresse (stress no original, em inglês). O dicionário o define como “[...] um conjunto de reações do organismo às agressões de ordem física, psíquica, infecciosa e outras, capazes de perturbar a homeostase [equilíbrio]” (FERREIRA, 1975, p. 587). É considerado como uma resposta fisiológica e comportamental do indivíduo para se adaptar aos estímulos internos e externos, sendo inerente à vida humana na busca pela sobrevivência (MAGALHÃES, 2006). Porém, nem todos sofrem da mesma forma ao passarem pelas mesmas situações. O indivíduo precisa perceber a demanda como estressora e esta ultrapassar suas habilidades de enfrentamento,

para assim desencadear reações negativas em seu organismo (TAMAYO; MENDONÇA; SILVA, 2011).

O estresse psicológico causado pela pressão e agitação da vida do trabalho, vem sendo muito investigado. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2015), mais da metade dos trabalhadores, em geral de países considerados industrializados, julgam seu trabalho “mentalmente pesado”. Alguns fatores têm efeitos psicológicos adversos, como o trabalho isolado, monótono, o que exige concentração constante, o trabalho em turnos ou sob a ameaça de violência, como no sistema prisional.

A carreira de docentes pode estar relacionada a um grande número de estressores externos. Em virtude disso, o favorecimento da redução dos sintomas do estresse neste grupo torna-se essencial. Historicamente, nota-se um grande número de estudos e pesquisas voltadas a identificar e relacionar os níveis de estresse ligados às atividades e funções imbricadas no trabalho do professor. Quando o estresse está relacionado, principalmente, às condições de trabalho do indivíduo e quando seus sintomas se tornam crônicos, pode-se dizer da ocorrência da Síndrome de Burnout.

Cunha (2006) organizou um levantamento da produção científica no Brasil nos anos de 2003 a 2008 sobre Síndrome de Burnout e docência e verificou que o assunto foi estudado pelos diferentes campos científicos, sobressaindo-se a área da saúde. A autora verificou que, dos estudos levantados, várias categorias profissionais foram pesquisadas no tocante à Síndrome, porém os docentes apresentaram maiores probabilidades de a desenvolverem devido a fatores de risco provenientes da organização de sua rotina de trabalho.

Os professores que dão aula nos espaços de privação são frequentemente surpreendidos por alguma situação de estresse. Os depoimentos da Profa. Estela e do Prof. Leonardo indicaram o mal-estar que sentiam nesses momentos, conforme nossas anotações:

[...] Depois, no final da aula, o agente chegou com um papel embebido de cola, dando a atender que aquilo fora um flagrante da atitude negligente de algum professor. E que havia professor que estava usando cola e deixando por aí ao alcance dos alunos. Assim, disse a professora, fiquei em uma situação muito difícil em função de que tinha consciência de não ter deixado a cola à toa em minha sala. (Diário de Campo, 26/10/17).

[...] Diante da invasão da polícia no presídio, fiquei esquecido dentro da sala de aula no final do corredor e foi preciso alguém se lembrar de resgatar-me imediatamente. Pois senão a polícia iria me pegar e talvez confundir-me

com um dos presos, e iria provavelmente ser agredido. Para mim, esse foi um momento de estresse que passei no CR, diz o professor Leonardo. (Diário de Campo, 26/10/17).

As vivências nesse clima de estresse estão relacionadas ao contexto do espaço, condições e relações de trabalho, ao lado da pressão por parte dos órgãos penitenciários, uma vez que os professores sofrem com a precariedade das condições físicas, materiais e humanas, além da falta de reconhecimento institucional, e mesmo o descaso com a educação:

Ao investigar a ação educativa na prisão, existem algumas pistas para a compreensão da lógica de funcionamento das unidades prisionais: ‘existe uma nítida superposição das ações de segurança e disciplina em detrimento de outras tarefas e atividades no interior das prisões’. (LOURENÇO, 2007, p. 61).

Além de algumas questões já apontadas e que são vivenciadas pelos professores nos espaços de privação, soma-se a adaptação ao universo das prisões: “O regime totalitário na prisão é tão intenso que os professores controlam suas roupas e o uso de materiais para não terem problemas com a segurança.” (SILVA, 2017, p. 164).

Em relação ao trabalho docente, percebe-se a complexidade da ação educativa nesse contexto e as contradições presentes nessa prática. No entanto, mesmo diante das dificuldades e desafios enfrentados, com o trabalho permeado por contradições, o professor se reconhece valorizado por seus alunos, pois estes encontram naquele uma perspectiva de humanização dentro daquele espaço permeado pelas lógicas de formação e da adaptação ao cárcere (SILVA, 2017).

A natureza estressante e perigosa de trabalhar dentro do ambiente prisional pode repercutir na saúde dos professores que lá estão enfrentando o dia a dia de seus alunos em situação de privação de liberdade, exigindo deles um equilíbrio permanente entre as necessidades de toda ordem advindas dos seus alunos e as exigências do espaço advindas da postura, muitas vezes repressora, dos agentes prisionais e outros. Como consequência, gera nesses profissionais doenças físicas, estresse, burnout, problemas familiares, incapacidade de exercer suas funções, além de vir a comprometer suas vidas pessoais. Prova concreta dessa situação é o diálogo entre dois professores registrado em uma das reuniões:

Quando indago sobre o estado do professor George, o professor Demetrius afirma que ele está afastado do trabalho por motivo de saúde e que, não suportando mais tanta pressão no espaço de privação de liberdade da penitenciária, foi acometido por síndrome do pânico, não tendo talvez possibilidade de retornar àquele trabalho. O professor chegou a firmar que

não é qualquer professor que consegue segurar aquela barra nos espaços de privação porque é muita pressão e tensão. (Diário de Campo, 06/04/2018).

Nesse processo todo, que acompanhamos através das reuniões de ATPCs, bem como nas entrevistas individuais, constatamos, pela exaustão emocional que atingiu o citado professor e pelo depoimento de alguns outros professores, que essa situação acaba sendo uma ameaça permanente entre os docentes. A gravidade da situação pôde ser mensurada quando uma professora, em seu depoimento em reunião, afirmou que os professores precisavam de acompanhamento psicológico para poder “segurar” a barra de estar diariamente lidando com as pressões advindas dos alunos, dos agentes, da unidade escolar, da direção de ensino, do sistema jurídico, dos próprios pares.

Uma questão que vários professores levantaram, e que nos remete à postura da Profa. Dra. Elenice Onofre, diz respeito ao fato de que para o sujeito que cometeu um delito, sua falta de liberdade já é uma grande pena. A perda da sua liberdade já basta para que ele se sinta condenado. O restante faz parte da perversidade do próprio sistema carcerário. Mas, o que dizer do professor que em alguns momentos não quer nem parar para pensar que também se encontra na mesma situação de seu aluno? Como foi o relato do Prof. Kaio durante a reunião, ao se referir de sua visita a uma cela.

Então, o Professor ficou muito chocado porque a cela é um espaço muito pequeno em que entre duas camas não há condição de passar duas pessoas ao mesmo tempo. É uma coisa assustadora, segundo ele. Falou também de uma sensação muito forte com muita ênfase quando diz que “eu não quero nem imaginar que naquele momento em que estamos em sala de aula, a gente também está aprisionado, a gente está em pé de igualdade com eles.” (Diário de Campo, 19/10/2017).

Segundo o Professor, se parar para pensar não terá mais condições de continuardandoaulas.

Não posso me debruçar sobre esse assunto, pois a sensação da falta de liberdade, de ter passado por tantas grades e me encontrar na mesma situação de meu aluno, ou seja, aprisionado, privado de liberdade, me deixa inquieto demais. (Diário de Campo, 19/10/2017).

Estresse psicológico e sobrecarga têm sido associados a distúrbios do sono, síndromes de burnout e depressão. Há também evidências de elevado risco de doenças cardiovasculares, particularmente as coronarianas e hipertensão.

Nos últimos anos vem se destacando o construto que enfatiza tanto os fatores estresse ocupacional, para Paschoal e Tamayo (2004) este é um enfoque mais abrangente estressores organizacionais quanto suas respostas fisiológicas, psicológicas e comportamentais. Tal abordagem acentua o caráter relacional do conceito que atribui importância às percepções individuais como mediadoras do impacto estressor do ambiente de trabalho. (MINAYO; SOUZA; CONSTANTINO, 2008, p. 15).

Depois da participação dos professores, a coordenadora retomou sua fala sobre do PDP – Procedimentos Disciplinantes Penitenciários falou dos diários e comunicou que, do dia seguinte em diante eles, estariam proibidos de levar qualquer material para dentro da sala de aula. Então houve um incômodo muito grande por parte dos professores, algumas inquietações, questionamentos. Isso gerou um mal-estar nos professores, porque a pergunta não queria calar: O que houve? Por que isso agora? (Diário de Campo, 19/10/2017).

Neste sentido, nos espaços de privação, são comumente demonstrados pelos professores sentimentos de desvalorização e de insegurança, de certa indignação em alguns momentos em que eles são colocados à prova de forma desrespeitosa, como foi o caso dessa determinação que proibia o professor de conduzir dentro do espaço sua ferramenta de trabalho, o diário de classe.

Essa forma de lidar com a realidade dentro das unidades poderá impactar intensamente as suas vidas e as suas possibilidades de interação social. Nesse aspecto, o professor passa a possuir um traço que o marcará; ele é um elemento suspeito, que chama a atenção por despertar a confiança de seus alunos.

DuranteoperíododeinserçãonasreuniõesdeATPC,constatamosoquanto os professores dos espaços de privação de liberdade se deparam em sua rotina de trabalho com situações que, se forem analisadas com mais rigor, chegam a demonstrar as marcas de uma prática penal punitiva que se fazem presentes no cotidiano do seu trabalho. Mesmo que sua proposta educativa seja revestida de um idealderessocialização,enfrentaobstáculose desafios de várias frentes por meio das práticas e ideologias punitivas que perpassam a rotina dos espaços em que atua.

Esses obstáculos passam por toda ordem e situação tais como o registro a seguir. Mas depois a grande polêmica, o grande mal-estar que estava por vir foi a da falta d’agua, pois os professores ficaram ansiosos, apreensivos com essa situação. E isso causou um grande mal-estar dentro de sala de aula, respingando na estabilidade emocional e física do professor: “Estamos com medo de uma rebelião e

sermos vítimas dessa situação toda”. Os alunos estão se estressando porque não tinha água para beber, porque não tomavam banho; “estamos com medo de um movimento lá dentro, de uma rebelião por conta da situação dramática.” (Diário de Campo, 19/10/2017).

Nós estamos vivendo sob ameaça de um tumulto lá dentro. A Coordenadora sugeriu muita calma, o uso do bom senso; pediu pra eles não inflamarem essa situação, terem muito cuidado com o que falassem, pois poderiam provocar mal-estar; que eles se acautelassem e fossem muito cuidadosos com essa questão. (Diário de Campo, 19/10/2017).

Durante a reunião, apesar do clima pesado que havia, os professores se mantiveram com certa tranquilidade respondendo às nossas indagações. Depois, houve o sentimento de vitória por termos alcançado os objetivos naquela tarde. Na verdade, não tínhamos a menor noção da gravidade daquela situação de estresse que passavam. Porém, refletindo sobre o comportamento dos professores, nos veio nitidamente o conceito de resiliência do professor.

Segundo Tavares (2001), a resiliência seria a capacidade do indivíduo ou grupo resistirem a situações adversas, numa reequilibração e acomodação contínua. A resiliência é frequentemente referida por processos que explicam a superação de crises e adversidades em grupos, organizações e indivíduos nas ciências humanas e sociais. A resiliência torna-se uma capacidade cada vez mais importante para que o educador saiba lidar com os problemas dos alunos, inclusive no cotidiano escolar.

E toda essa situação do professor estar em sala de aula, mas ao mesmo tempo “carregado” de tensões e de mal estar por parte dos estudantes, nos remete a várias indagações: para quem, para onde esses professores irão apelar? Quem vai realmente assegurar sua permanência nesse local? De que forma eles irão enfrentar a sala de aula todos os dias diante de tanta tensão? Quem apoia realmente esse professor? Quais suas expectativas em relação a esse processo de ensinar nas prisões? Quem vai ajudá-lo a atravessar esse deserto?

Para entender as angústias dos professores, temos que entender as angústias de nosso tempo, pois algumas são compartilhadas e vividas por todos os indivíduos constituídos sócio-historicamente. A angústia do professor, revelada em sua fala, está diretamente relacionada à expectativa de atender a uma exigência do contexto social em que está inserido.

Atualmente, vivemos uma instabilidade em todos os sentidos, pois não existe mais nem estabilidade de emprego como havia antes. É provável que não

tenhamos, por exemplo, nenhuma garantia ou até mesmo expectativa de aposentadoria no emprego em que iniciamos nossa vida profissional; as novas tecnologias são substituídas por outras tecnologias mais novas a cada dia; os relacionamentos são passageiros - o “ficar” é algo de nossa época - pois mesmo que precisemos de outras pessoas, tememos um relacionamento mais profundo, que nos prenda enquanto vivemos nesse mundo em constante movimento.

O professor das escolas nas prisões também vive essa angústia da vida contemporânea e passa por muitos momentos de insegurança do ponto de vista de seu vínculo empregatício, do espaço em que cotidianamente adentra para trabalhar, da relação com os agentes penitenciários, com a escola vinculadora, além de enfrentar a discriminação da própria sociedade e de sua família, como no caso de um professor que, ao dar seu depoimento, resgatou uma frase de sua mãe: “Quando você vai parar de dar aula para bandido?” Não parece assustadora a ideia de uma incerteza e ansiedade nunca antes sentidas que se torna permanente e irredutível?

Nesse contexto de incerteza e desamparo, a angústia se torna constantemente presente. Compartilhamos essa angústia com todos os que vivem nesse mundo atual e não seria diferente com os sujeitos nas relações educativas. Porém, se o professor não encontra espaço para compartilhar suas ansiedades e angústias pessoais e profissionais, de modo particular os professores que ensinam nas prisões, como conviver com isso ao longo dessa busca de tornar-se professor com todas as nuances que a atividade exige? Em nossos apontamentos, foram registradas as demandas dos professores que, ao desabafarem acerca das condições de trabalho, apontavam para um acompanhamento psicológico. Uma forma de acolher a angústia e também outros sentimentos dos professores seria manter um espaço de escuta na escola, conduzido por alguém que tenha propriedade na condução. Seria um espaço onde o professor pudesse falar sobre sua experiência, já que falar sobre o que vive é importante e necessário.

Depois, de alguns desabafos no coletivo daquela reunião de ATPC de outubro 2017, alguns professores se posicionaram sobre como estava sendo difícil aquele semestre e a Profa. Maria fez a comparação entre quando eles iniciaram, em 2013, e a situação daquele momento. Ela disse que, naquela época, era muito pior, que naquele momento os professores estavam no céu; mais uma vez, o Prof. Ivan questionou: “Se estamos hoje no céu imagino como era o inferno”. Depois desse diálogo, houve o esclarecimento de que as dificuldades contemporâneas eram de

toda ordem: pedagógica, de relacionamento de poder e etc. (Diário de Campo, 26/10/2017).

E nessa perspectiva dos desafios contemporâneos na educação surgem alguns paradoxos.

Alguns paradoxos aparecem ... e a prisão é cheia deles. A escola tem de funcionar segundo as normas de segurança e de disciplina, ao mesmo tempo em que se quer desvinculá-la dessas normas e construir um espaço escolar onde o aluno possa participar ativamente, onde possa haver integração grupal e onde o debate e a reflexão crítica sejam vistos como aspectos fundamentais na formação dos indivíduos. A leitura das situações limite, do espaço no qual se encontram educadores e educandos e do até onde se pode ir é essencial no processo educativo. (ONOFRE, 2008, p. 12).

Pelo percurso que vivemos nessas inserções, compreendemos que está faltando diálogo, entendimento, todos sentarem à mesa para discutir a Lei e as normas e fazer os encaminhamentos. Essa ação é urgente, porque não é possível mais manter essa situação que provoca adoecimento dos professores. Caso contrário, poderá chegar ao ponto que eles adoecerão, irão sair e serão substituídos por outros que passarão pelo mesmo processo de desejo de fazer o melhor, de acertar, de buscar a ressocialização daqueles sujeitos, de incentivar, de trabalhar isso. Mas depois cairão no desânimo, no descrédito etc. Então, assim como foi afirmado em vários momentos que a educação aqui fora não está nada bem, também dentro da prisão, cremos, o professor está pedindo socorro.

Dessa forma, o professor é submetido a uma hierarquia administrativa e pedagógica que o controla. Ele mesmo, quando demonstra qualidades excepcionais, é absorvido pela burocracia educacional para realizar a política do Estado, portanto, da classe dominante em matéria de educação. Fortalecem-se os célebres "órgãos" das Secretarias de Educação em detrimento do maior fortalecimento da unidade escolar básica.

Em relação à questão da posição hierárquica da Secretaria de Educação em detrimento da autonomia da escola vinculadora, destacamos o reforço disso na fala da Profa. Maria. “A Professora, talvez na tentativa de acalmar os ânimos, sugeriu que os professores lessem a legislação novamente e com essa releitura entendessem que a situação já está posta há muito tempo.” (Diário de Campo, 26/10/2017). Talvez sua proposta pudesse ser desenvolvida no coletivo, com a Diretoria de Ensino, os agentes, professores e outras pessoas envolvidas. Cremos que esteja faltando alguém, ou algum órgão, que possa conduzir, por meio do diálogo e da reflexão coletiva, essas questões.

Emsuma,aescolaéuma organização formalmente organizada, condenada a refletir e a reproduzir uma dada estrutura de autoridade e poder, mas é também umaorganizaçãonaqualseproduzemdinâmicas organizacionais próprias,nãosendo apenas um lócus de reprodução, mas também um lócus de produção, admitindo-se que possa constituir-se também como uma instância (auto)organizada, para a produção de regras (não formais e informais). Nessa perspectiva, de acordo com Tragtenberg (1985, p. 69), “por tudo isso a escola é um espaço contraditório: nela o professor se insere como reprodutor e pressiona como questionador do sistema, quando reivindica. Essa é a ambiguidade da função professoral.”

A cultura escolar reflete especificidades, com manifestações simbólicas, com identidade e valores compartilhados, com um determinado projeto social que sustenta o modelo organizacional democrático. Assim sendo, as normas estabelecidas pelo sistema educacional são nelas incorporadas, seja de forma burocrática, racional, técnica-instrumental, coercitiva, seja de forma analítica, crítica, valorativa, dialógica, argumentada, em conformidade com as respectivas características culturais. Nessa perspectiva, compreendemos que a distribuição de poder no sistema educacional carcerário é representada via diversos centros de poder.

Isso revela para nós que essas manifestações de tensão no trabalho não residem isoladamente dentro do ambiente ou dentro do indivíduo, mas são resultados de transações dinâmicas que ocorrem entre esses elementos.

4 RITO DE PASSAGEM, PROCESSO DESAFIADOR: DO COLETIVO AO INDIVIDUAL

O título que se apresenta nesta segunda parte das análises dos dados da pesquisa resume o sentimento que ficou em relação à passagem das observações participantes, ou seja, as inserções nas reuniões de ATPCs, para a fase das entrevistas individuais. A propósito destas, é preciso esclarecer que, em um dado momento, acreditamos não haver, já que enfrentamos quadro de resistência por parte dos professores na última reunião, nos deixando atônitos e inseguros quanto a esse segundo momento.

Foi um verdadeiro rito de passagem, em que nos submetemos, inesperadamente, a uma situação delicada de avaliação do processo de pesquisa.