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3 O ENSINO DE CIÊNCIAS NATURAIS

III. Tendência de Ciência Integrada – pautada em uma “suposta” 5 integração entre as subáreas que compõem as Ciências Naturais, sem a mínima consideração das

4.1 O PERCURSO METODOLÓGICO

Ao nos debruçarmos sobre o campo formativo inicial dos futuros professores da Educação Básica, percebemos que a abordagem qualitativa possibilitaria elementos para compreendermos o que se colocou enquanto problema de investigação, pois nos interessava conhecer e entender o processo referente à formação voltada para o ensino de Ciências entre estes futuros docentes, estudantes do curso de Licenciatura em Pedagogia da Universidade Federal da Bahia, e não apenas os resultados finais referentes a esta formação. Para tanto, tomamos como referência os argumentos trazidos por Bogdan e Biklen (1994) sobre o uso da investigação qualitativa em educação.

A investigação qualitativa preocupa-se em compreender, a partir do mundo conceitual dos sujeitos, como e qual o significado construído para os acontecimentos diários. Outro destaque é o fato deste tipo de pesquisa apresentar uma análise descritiva dos fatos, quando se constitui como busca do pesquisador a compreensão aprofundada dos fenômenos objeto de seu estudo, verificados diretamente em seu próprio contexto social.

Bogdan e Biklen (1994, p.48-50) colocam que este pesquisador necessitará fazer observações prolongadas no contexto em que se dá o fenômeno, a fim de captar os dados e significados dos comportamentos apresentados pelos sujeitos pesquisados, e que este tipo de pesquisa pauta-se na concordância de que para melhor estudar os elementos que constituem o problema, será necessário observar suas cinco características: (1) ambiente natural como fonte direta para obtenção dos dados investigativos; (2) caráter descritivo destes dados; (3) interesse maior residir no processo, e não nos produtos; (4) tendência indutiva na análise dos dados pelos investigadores; e (5) o significado atribuído pelos sujeitos é de importância vital neste tipo de abordagem.

Neste sentido, a descrição configura-se enquanto um dos métodos de coleta de dados, pois “[...] a abordagem da investigação qualitativa exige que o mundo seja examinado com a idéia de que nada é trivial, que tudo tem potencial para constituir uma pista que nos permita estabelecer uma compreensão mais esclarecedora do nosso objeto de estudo” (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 49). No âmbito dos programas de formação de professores, a descrição qualitativa é considerada muito útil por proporcioná-los uma possibilidade de conhecer mais a fundo o seu meio profissional, explorando os ambientes onde a prática pedagógica é desenvolvida, com consequente direcionamento dessa atividade para uma reflexão de seu fazer docente. Assim, pareceu-nos necessário tomar como base para a coleta de dados a observação, desenvolvida em um dos componentes curriculares que atuam na formação do professor para o ensino de Ciências. Nas Ciências Sociais, a relação teoria/prática é “[...] condição fundamental da pesquisa e da intervenção na realidade social” (DEMO, 1999, p.104).

Ao mesmo tempo, a prática é elemento metodológico integrante do processo científico, tanto no sentido de servir de constante leste para a validade da teoria, quanto no sentido de assumir que a própria pesquisa é uma intervenção na realidade. Assim, em ciências sociais, a prática é uma forma de conhecimento, porque através dela testamos o conhecimento vigente e produzimos o novo, bem como dialogamos dinamicamente com a realidade e conosco mesmos, na medida em que também fazemos parte da realidade social (DEMO, 1999, p. 111).

Desta forma, para atendermos aos objetivos da pesquisa e dado o grupo a ser trabalhado, optamos pela escolha da Pesquisa Participante (doravante PP), descrita como “[...] atividade integrada que combina investigação social, trabalho educacional e ação” (HALL, 1981 apud DEMO, 1999, p.121). Além da possibilidade de exploração do ambiente onde a prática pedagógica é desenvolvida, a justificativa pela PP reside, também, em seu principio educativo que, segundo Demo (2011), relaciona-se com o valor pedagógico, educativo e formativo na medida em que implica questionamento, consciência crítica, incentivo à formação do sujeito capaz de história própria, sustentação da autonomia crítica e criativa (p.16).

Em linhas gerais, a PP constitui-se enquanto um procedimento de pesquisa em que a comunidade pesquisada participa ativamente da compreensão de sua realidade, na busca de transformação social em benfeitoria própria.

A tônica básica, todavia, do ponto de vista metodológico, é a união entre conhecimento e ação, em primeiro plano, e, mais a fundo, entre conhecimento e ação coletivamente organizada. [...] É patente a filiação educativa, a idéia de superação dos procedimentos tradicionais de conhecimento, a opção crítica e política, a união entre teoria e prática, o envolvimento comunitário (DEMO, 1999, p.129).

Um dos desafios posto pela Pesquisa Participante se refere à necessidade de ser participação quando se diferencia da pesquisa-ação (pesquisa que se volta diretamente à intervenção), apesar de ambas terem em comum a investigação com vistas à transformação da realidade social do grupo pesquisado. Sobre este ponto, destacamos ainda que, buscando enfatizar a socialização do saber adquirido via pesquisa e participação dos envolvidos, esta pesquisa focalizou a produção coletiva de conhecimento, decorrendo, portanto: a análise, coleta e ordenação das informações obtidas, a promoção de análise critica e o estabelecimento de relações entre os problemas individuais e coletivos, funcionais e estruturais. Estes últimos figuraram como uma possibilidade de solucionar/minimizar os problemas evidenciados na comunidade com a participação efetiva desta.

A PP busca a identificação totalizante entre sujeito e objeto, de tal sorte a eliminar a caracterização de objeto. A população pesquisada é motivada a participar da pesquisa como agente ativo, produzindo conhecimento, e intervindo na realidade própria. A pesquisa torna-se instrumento no sentido de possibilitar à comunidade assumir seu próprio destino (DEMO, 2008, p.43).

Primando pela relação teoria/prática e enfatizando a retroalimentação, a PP estrutura-se inicialmente com a formulação da problemática provisória, da qual farão parte os conceitos assumidos, os objetivos e as hipóteses relacionadas à questão. Em seguida, faz-se a escolha pelo tratamento dos dados obtidos e a sua respectiva sistematização. Encaminha-se para a elaboração de uma nova problemática, a partir do que foi captado na comunidade, para a afinação e transformação da problemática apresentada, foco da pesquisa (DEMO, 2008). Neste sentido, esta pesquisa considerou as três fases apresentadas por Demo (1999, 2008) que caracterizam uma Pesquisa Participante:

Tabela 5: Fases constitutivas da Pesquisa Participante – PP 1. Exploração Geral da

Comunidade

2. Identificação das necessidades básicas

3. Elaboração de estratégia educativa

1.1 Fixação dos objetivos; 1.2 Elaboração e definição dos

instrumentos de pesquisa; 1.3 Realização da pesquisa; 1.4 Síntese dos dados coletados.

2.1 Elaboração do problema de pesquisa;

2.2 Discussão/elaboração de novos instrumentos;

2.3 Realização de nova pesquisa; 2.4 Síntese e análise dos dados.

3.1 Elaboração de estratégias hipotéticas;

3.2 Elaboração de dispositivos para comprovação;

3.3 Discussão com a comunidade; 3.4 Adoção das estratégias 3.5 Execução das estratégias

educativas.