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PARTE II – A Pesquisa

Capítulo 4: O percurso metodológico

4.1 Desenho da pesquisa e participantes

O presente estudo tem caráter qualitativo. Esse tipo de investigação costuma preocupar-se com aspectos da realidade, compreendendo-os e explicando-os, sem se ater a uma grande

representatividade numérica. A pesquisa qualitativa trabalha com discursos, significados, valores e permite um aprofundamento de fenômenos e contextos sociais (Gerhardt & Silveira, 2009). Dentro da perspectiva qualitativa, esse estudo é caracterizado como Pesquisa de Campo. Nela, além da revisão bibliográfica, realiza-se coleta de dados junto aos indivíduos e instituições envolvidas (Gerhardt & Silveira, 2009).

A presente pesquisa foi realizada com profissionais envolvidos na execução do Projeto “Trabalho Humaniza”, eixo do Programa “Cidadania é Liberdade”, componente da Política de Ressocialização da Secretaria de Administração Penitenciária do Estado da Paraíba (SEAP – PB) através de entrevistas semiestruturadas, bem como utilizou-se de documentos cedidos pela própria secretaria para análise posterior: a cartilha de apresentação do Projeto Trabalho Humaniza e o documento que discorre sobre os Procedimentos da Política de Ressocialização (anexo 1)

No que diz respeito aos procedimentos e Considerações Éticas, primeiramente foi solicitado o termo de anuência à responsável pela autorização da realização da pesquisa na SEAP - PB. Posteriormente, submeteu-se a pesquisa ao Comitê de Ética da UFRN com todos os documentos

necessários devidamente assinados. A pesquisa obteve o parecer de aprovação de número 85580217.6.0000.5537 e, então, deu-se início à coleta de dados.

A coleta de dados se deu em duas partes. Primeiro, foi realizado um mapeamento afim de reunir informações sobre a composição do programa, tempo de existência, número de

profissionais que o compõem, entre outras informações. Durante esse procedimento, foi entregue pela gerência uma cartilha elaborada juntamente ao Ministério Público que discorre sobre o projeto para acesso da população em geral. Além disso, também foi cedido outro documento institucional que contém informações sobre fluxograma e funcionamento do projeto internamente (Anexo 1). Apesar de não estarem programados previamente na pesquisa, ambos os documentos acessados a partir do mapeamento foram utilizados como material de análise. Inclusive,

considerou-se a necessidade do material da cartilha ser analisado paralelamente às entrevistas. A segunda etapa contou com a realização de entrevistas semiestruturadas feitas com os profissionais que executam o projeto “Trabalho Humaniza”. O roteiro de entrevistas foi dividido em blocos conforme posto a seguir42:

1. Práticas desenvolvidas pelos profissionais entrevistados 2. Execução da Política

3. O acompanhamento 4. Impressões

5. Sugestões

O contato com os profissionais se deu através de ofícios. O número de entrevistados é o número total de profissionais atuantes no programa “Cidadania é Liberdade – eixo trabalho”, totalizando 4 entrevistas. As entrevistas se deram com gravação de áudio devidamente autorizada

em documento pelos entrevistados e foram realizadas no local de trabalho, em ambiente fechado e privativo, sem presença de terceiros, em respeito ao sigilo das informações prestadas. Após realizadas todas as entrevistas, os áudios foram transcritos para posterior análise dos dados.

Decidiu-se pelas entrevistas semiestruturadas para alcançar os objetivos dessa pesquisa pois essa opção permite que as informações apareçam de forma mais livre e que as respostas não fiquem condicionadas a um padrão de alternativas. Através dela os indivíduos envolvidos:

(...) partilham uma conversa permeada de perguntas abertas, destinadas a "evocar ou suscitar" uma verbalização que expresse o modo de pensar ou de agir das pessoas face aos temas focalizados, surgindo então a oportunidade de investigar crenças, sentimentos, valores, razões e motivos que se fazem acompanhar de fatos e comportamentos, numa captação, na íntegra, da fala dos sujeitos (Alves & Silva, 1992, p. 64)

Todos os participantes foram apresentados aos Termos de Consentimento Livre e

Esclarecido e ao Termo de autorização de voz, assinados por eles e pelo pesquisador e impresso em duas vias. Também foi informado o direito ao sigilo de informações e liberdade para

desistência a qualquer momento durante a pesquisa. As entrevistas tiveram duração média de 50 minutos.

4.2 Procedimentos de Análise de dados

Essa etapa contou com dois momentos. Primeiramente, utilizou-se o material da cartilha do projeto para realizar uma análise do mesmo relacionando-o com a revisão bibliográfica feita na pesquisa. Para isso, foi estruturada em dois blocos definidos durante a exploração do material: 1. O reforço ao punitivismo e a superpopulação carcerária e 2. A importância do trabalho para o

preso. Essa primeira etapa foi importante para contribuir na análise das entrevistas, feita posteriormente.

Na segunda etapa, foram transcritas as entrevistas e destacadas informações e dados a partir de blocos de respostas referentes aos pontos abordados em entrevista, o que possibilitou uma análise reflexiva e crítica acerca do tema. Para isso, contou-se com a releitura exaustiva do material bibliográfico, constituinte da fundamentação teórica da pesquisa. Os dados coletados foram analisados à luz da criminologia crítica e na articulação com as questões problematizadas na fundamentação teórica do trabalho, como: as funções da prisão, a seletividade penal e a falácia da ressocialização. Os blocos de análise que surgiram após a exploração do material foram: 1. Caracterização dos participantes; 2. Funcionamento do projeto; 3. Resultados percebidos e desafios; 4. Ressocialização e Importância do Trabalho Prisional.

Com vistas a preservar a identidade dos entrevistados, os participantes foram identificados com nomes fictícios usados aleatoriamente nas respostas, de forma que os nomes e as respostas não sejam correspondentes, mas sim alternados. Foram suprimidos trechos que contém

informações que pudesse identificar os participantes da pesquisa, afim de respeitar os cuidados éticos com o sigilo.

Capítulo 5: Resultados e discussão

5.1 Considerações Iniciais

No Estado da Paraíba, a realidade em relação ao cárcere não é diferente do restante do país. Contando com um número de 12.124 indivíduos presos (Brasil, 2019) para uma capacidade de 7.892 vagas, possui um sistema prisional superlotado e com infraestrutura decadente e desumana. Como já discutido, há um esforço do estado (ainda que não suficiente) em promover políticas que possam diminuir os efeitos negativos causados pela desigualdade social e pelo aprisionamento dos indivíduos. Dessa forma, na Paraíba, a Gerência de Ressocialização (GER) da Secretaria de Estado da Administração Penitenciária (SEAP) propõe projetos voltados para a ressocialização do apenado, bem como a redução da reincidência da população prisional.

O Estado da Paraíba, através da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária, criou a Gerência Executiva de Ressocialização (GER) em 2011, mesmo ano em que também foi criado o Programa "Cidadania é Liberdade", fruto da Política de Ressocialização que surge como norteador das ações da gerência. O foco do Programa é a população privada de liberdade (PPL) dos regimes fechado, semi-aberto e aberto e também do livramento condicional. Além disso, realiza trabalho junto a familiares. A Política de Ressocialização possui 5 eixos: Educação, Saúde, Família, Cultura e Trabalho. Esse último eixo, através do Projeto "O Trabalho

Humaniza", está voltado para a reintegração do preso, com proposta à reinserção no mercado de trabalho, visando sua reintegração no meio social.