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Percursos da sustentabilidade

No documento GloriaMeloDEF (páginas 83-85)

Parte II – Enquadramento teórico

3. Supervisão e sustentabilidade ecológica

3.2. Dimensões do desenvolvimento sustentável e da sustentabilidade

3.2.1. Percursos da sustentabilidade

O novo paradigma civilizacional coloca um problema central, a saber, de que forma sustentável se pode harmonizar o desenvolvimento que o homem persegue com a vitalidade do planeta terra e dos seus ecossistemas?

A resposta a esta inquietante questão já veio a lume na década de 70 do século ante- rior, porque já nessa data se começava a potenciar a questão da sustentabilidade. E isto entronca no contexto da Conferência de Estocolmo (1972) sobre o Ambiente e Desenvolvi- mento Humano, proposta e organizada pela ONU. Foi também com a publicação da obra de Medows (1972) e por iniciativa do Clube de Roma que se deu início a um debate que dura até aos nossos dias e que se tornou oficial pela primeira vez em 1987 quando a ONU, na Confe- rência das Nações, lançou a sobre a humanidade um alerta a propósito das ameaças do futuro da vida na terra, da equidade geracional e para que fossem envidados todos os esforços para que a satisfação das necessidades presentes não comprometessem as das gerações futuras.

Em 1972 a Assembleia Geral da Nações Unidas, reunida em Estocolmo, apontou pela primeira vez o conceito de sustentabilidade ambiental por forma a que se buscassem alternativas paradigmáticas que, baseadas num esforço político, ético, social e cultural, se superasse a crise ecológica vivenciada no mundo moderno. Já nessa conferência era veiculada a ideia de que não pode haver desenvolvimento sem sustentabilidade, e vice-versa.

Contudo, foi o economista Sachs (1986) que, de forma explícita, fez referência à noção de desenvolvimento sustentável ao apresentar a noção de ecodesenvolvimento e que marcou decisivamente a preocupação com a preservação ambiental em articulação com o desenvolvimento e crescimento económico, a equidade social e cultural, apontando para a necessidade e possibilidade de se projetarem e implementarem estratégias ambientalmente adequadas, capazes de promoverem um desenvolvimento socioeconómico equitativo. Este

ecodesenvolvimento é, segundo Sachs (cit. Layrargues, 1997, 3), “um estilo de desenvolvi-

mento que em cada ecorregião insiste nas soluções específicas de seus problemas particulares, levando em conta os dados ecológicos da mesma forma que os culturais, as necessidades ime- diatas como também as de longo prazo”. Esta teoria assenta na tese do crescimento sem des- truição.

75 E logo no ano seguinte se institui a Comissão Mundial para o Ambiente e Desenvol- vimento com o objetivo de fazer uma análise crítica da sustentabilidade ambiental a nível mundial e cujo relatório foi publicado em 1987 com o sugestivo título O Nosso Futuro

Comum. Nesse relatório é efetivo o sentimento de preocupação que perpassa e que é resultado

da consciencialização da utilização excessiva dos recursos naturais. Aí é oficialmente forma- lizado o conceito de Desenvolvimento Sustentável.

Em 1990 um grave problema preocupou o mundo – as mudanças climáticas – e que foi objeto da Segunda Conferência Mundial do Clima, realizada em Genebra, e da qual saiu, dois anos depois, uma Convenção-Quadro das Nações Unidas para as alterações climáticas, que viria a ser apresentada em 1992 numa conferência sobre o ambiente na ONU. Esta cimei- ra, conhecida por Cimeira da Terra, alastrou as suas preocupações ao mundo, plasmadas em importantes documentos: Agenda XXI, Declaração do Rio sobre Ambiente e Desenvolvimen- to, Declaração dos Princípios para uma Floresta Sustentável. Esta cimeira marca também a integração do mundo empresarial na discussão da sustentabilidade. Por sua vez, em 1995, em Copenhaga, na Cimeira Mundial para o Desenvolvimento Social, assumiu-se que a sustentabi- lidade passava também pela coesão social, pelo respeito pela dignidade humana e equidade educacional. Foi em 1996 que surgiu a primeira norma internacional de certificação ambien- tal. E em 1997 se reafirmou o compromisso da sustentabilidade na XXIX Sessão Especial da ONU e onde foram assumidos compromissos e estratégias com vista á sustentabilidade e avançado o Protocolo de Quioto, que só entrou em vigor em 2005, e onde se limitam as emis- sões de gases nocivos para o ambiente. Em 1999, no Forum Mundial de Davos, foi proposto o Pacto Global da ONU, ligado à responsabilidade empresarial para a sustentabilidade, surgindo também o Índice de Dow Jones com o mesmo fim.

Por sua vez, em 2000 verificou-se a Cimeira do Milénio, que fixou oito objetivos para serem atingidos em 2015:

- Reduzir parâmetros de pobreza extrema e fome; - Alcançar a educação primária universal;

- Promover a igualdade entre os géneros; - Reduzir em 2/3 a mortalidade infantil;

- Reduzir em 3/4 a taxa de mortalidade materna;

- Combater o VIH/SIDA, a malária e outras doenças graves; - Garantir a sustentabilidade ambiental;

76 Mas é na declaração política da Cimeira Mundial para o Desenvolvimento Sustentá- vel, de Joanesburgo, em 2002, que se consideraram três grandes pilares para a sustentabilida- de: o económico, o social e o ambiental.

Em 2003, cada Estado teve de publicar o seu nível de cumprimento em relação à Cimeira de Joanesburgo; e, em 2004, a ONU atualizou o seu Pacto Global, acrescentando o princípio contra a corrupção. Em 2006, são apresentados os Princípios para o Investimento Responsável; em 2007, a ONU faz nova publicação sobre os indicadores do desenvolvimento sustentável; e, em 2008, é o Ano Internacional do Planeta Terra. Mais perto dos nossos dias, a Cimeira do Rio+20 procurou, sem sucesso, alargar o sentido de responsabilidade dos países para o âmbito das relações internacionais, da economia, do emprego, do clima, da alimenta- ção, da água, dos oceanos, entre muitos outros itens.

Após esta breve resenha histórica da sustentabilidade ambiental, verifica-se que há uma crescente preocupação com qual ou quais o(s) modelo(s) de desenvolvimento a socieda- de/ mundo deve assumir para que a vida na terra seja protegida, assegurando, simultaneamen- te, progresso e sustentabilidade. Novas alternativas para o desenvolvimento assentes na tecno- logia verde, parece ser a resposta mais viável, conforme acentua Layrargues (1997):

“A escolha se coloca precisamente entre que tipo de desenvolvimento se deseja implementar de agora em diante, uma vez que, após a criação das tecnologias lim- pas – a nova vantagem competitiva no mercado –, desenvolvimento e meio ambiente deixaram de ser considerados como duas realidades antagônicas, e passa- ram a ser complementares.” (p. 1)

Neste sentido, é importante que tudo não pareça passar de uma miragem e que, para bem de todos, a humanidade assuma conscientemente a importância de um projeto verdadei- ramente ecológico com suporte ético, porque a nossa existência se sustenta no significado real do termo grego êthos.

No documento GloriaMeloDEF (páginas 83-85)