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Três modelos supervisivos para a educação ambiental

No documento GloriaMeloDEF (páginas 77-79)

Parte II – Enquadramento teórico

3. Supervisão e sustentabilidade ecológica

3.1. Supervisão: enquadramento histórico-conceitual

3.1.2. Três modelos supervisivos para a educação ambiental

O desenvolvimento descontrolado da sociedade moderna obriga a que todos tenha- mos de refletir sobre qual o caminho a seguir e, de forma positiva, iniciar a mudança que se impõe para uma sociedade mais justa, mais equilibrada e mais sustentável. A educação não pode alhear-se deste desígnio e cabe, por isso, à escola fazer do seu ambiente um espaço cons- trutivo que, por um lado, desperte o interesse dos educandos e, por outro, aponte para a neces- sidade de se formar uma sociedade de homens capazes de nela avaliar o seu papel e a sua importância e construir uma consciência social. Caberá ao professor o papel de mediador na consecução desses objetivos e, assumindo-se como aprendiz, fazer da sua aprendizagem uma ferramenta de compromissos sociais. Mas o papel do supervisor também não é aqui despi- ciendo, pois a ele cabe inovar, redimensionar, descodificar necessidades de toda a ordem –

69 administrativas, educativas, culturais, axiológicas, etc. –, facilitar a atividade docente que garanta o sucesso das aprendizagens e promover um ambiente formativo de pessoas. Assim, a estes dois profissionais – o supervisor e o professor – cabe a nobre missão de planear e orien- tar a educação para uma conceção libertadora e de compromisso com a sociedade e seus valo- res.

De entre estes valores está o ambiente e a sua sustentabilidade, pelo que a educação ambiental tem de começar na escola, que deve assumir-se como espaço de práticas sociais humanistas, de aprendizagem de valores, de escolhas conscientes, de comportamentos sem ser de riscos – um espaço que saiba lidar com as mudanças. Como sugerem Alarcão e Tavares (1987, 85), a prática docente e a supervisiva devem promover “uma aprendizagem consciente, procurando desenvolver nos estudantes a capacidade de tomar decisões apropriadas” que sejam capazes de dar resposta aos desafios que a sociedade enfrenta. Neste contexto, afigu- ram-se como importante destacar, de entre os vários possíveis, três modelos de supervisão: a clínica, a ecológica e a reflexiva.

A clínica porque, como já foi observado no item anterior, é a que melhor capacita a aplicação de diferentes saberes na ação e produção de novos conhecimentos, resultantes das suas diferentes fases de atuação. Como se de uma terapêutica se tratasse, a supervisão clínica preocupa-se com sucessivos ajustes e correções – o que, em termos de comportamentos ambientais, é significativo. Este modelo faz dos alunos sujeitos ativos na aprendizagem e capacita-os para respostas competentes em relação aos desafios que a realidade proporciona. E eles são constantes e significativos no que concerne à educação ambiental, porque, antes de tudo, é preciso mudar consciências para que se previna o bem-estar futuro. Como referem Alarcão e Sá-Chaves (1994, 150), torna-se importante assumir “um quadro de valores, de ati- tudes, de conhecimento, bem como de capacidades e competências, que permitam enfrentar com progressivo sucesso” essas mudanças que são tão urgentes para a sustentabilidade. Tam- bém o espírito de interação, colaboração e partilha, ajuda a mediar e resolver conflitos de inte- resses cuja superação é indispensável para que se possa olhar para o futuro com olhos de esperança. Caracterizado por uma vertente cíclica ou de feedbacks, o modelo clínico é um suporte seguro dessa esperança, sustentada na interação inacabada do espírito de investiga- ção/ação com o equacionar continuado dos problemas e de opções alternativas.

Também se deve considerar o modelo ecológico de importância significativa por ser um construtor do saber, do saber ser, e potenciador do saber fazer profissional. Além disso, porque neste modelo se reforça a importância das relações interpessoais e contextos, permite

70 também a assunção de novos comportamentos e papéis. Aproximando este perfil à educação ambiental e percebendo-se a necessidade que as equipas multidisciplinares assumem, como já anteriormente foi referido, e por delas provirem diferentes estímulos, compreende-se como poderão ser também estimulados novos comportamentos, avaliados papéis e interiorizados estímulos para a formação de uma autoconsciência – fatores importantes de mudança. Como referem Alarcão e Sá-Chaves (1994, 23), a educação ambiental deve passar por “transições ecológicas que ocorrem quando a posição no meio ambiente se altera em virtude . . . de alte- rações nos papéis e actividades por ele desenvolvidos”. São estas transições que permitem uma dinâmica de alteração do sujeito e do meio que o envolve.

E, finalmente, vê-se também como imprescindível o contributo do modelo reflexivo, porque assenta numa lógica de pensar nas práticas e sobre elas. Daí decorre uma atitude refle- xiva, que é o sustentáculo do desenvolvimento. A partir desta reflexão na ação, podem refor- mular-se práticas e reconstruí-la; e mobilizar competências que permitam a autonomia e a descoberta e fundamentem a crítica e a problematização. Ora, se na sala de aula o professor conseguir implementar este processo de reflexão e reflexão na ação, poderá obter resultados encorajadores a nível da mudança de atitudes rumo à sustentabilidade e estimular a conscien- cialização das práticas que se repercutirão num futuro próximo. Como referem Alarcão e Sá- Chaves (1994, 23), “uma prática reflexiva leva à (re)construção de saberes, atenua a separa- ção entre a teoria e a prática e assenta na construção de circularidade em que a teoria ilumina a prática e a prática questiona a teoria”.

Para sintetizar, importa salientar como é importante que a Escola, em todos os níveis de ensino e apoiando-se no supervisor, inclua no seu projeto de trabalho a educação ambien- tal, de modo a que este funcione como um plano coletivo de toda a comunidade. Desta forma, desde cedo a criança poderá passar a ter uma outra visão do meio ambiente e das relações que se podem estabelecer entre a natureza, a sociedade e a cultura. Assim, dando lugar a novas abordagens nestas relações, descobrir-se-ão novos hábitos, novas atitudes, nova conscienciali- zação e novos valores para a sustentabilidade dos sistemas ambientais do planeta.

No documento GloriaMeloDEF (páginas 77-79)