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5 COMÉRCIO E POLÍTICA COMERCIAL: AS EXPERIÊNCIAS DOS PAÍSES

5.1 PERFIL COMERCIAL DO BRICS

O comércio internacional tem representado prioridades diferentes nos modelos de inserção externa do BRICS. Para a China, por três décadas, o comércio internacional tem

26 Essa contradição ficou conhecida na literatura como o “paradoxo de Leontief”. 27

O índice varia entre zero (0) e um (1), sendo zero o indicativo de um comércio puramente inter-setorial e um (1) o indicativo de um comércio puramente intra-setorial.

28 No CII, apesar da tendência de que os produtos que estejam localizados em “exportação e importação” obtenham o maior índice de comércio intra-indústria, poderá ocorrer diferenças consideráveis entre os valores exportados e/ou importados entre os primeiros e últimos setores selecionados. Além disso, para países preponderantemente exportadores de produtos primários, os dez setores mais exportados da indústria podem não ser relevantes nas exportações gerais, o que lhes confere menores valores.

sido elemento central da política econômica baseada em um capitalismo com forte presença do Estado. A China priorizou exportações de bens via empresas estatais e estrangeiras e liberou as importações. Apenas no início de 2011 sinalizou que pretendia dar maior relevância para o crescimento de seu mercado interno (THORSTENSEN; OLIVEIRA, 2012). Para o Brasil, Índia, Rússia e a África do Sul, a prioridade foi o desenvolvimento do mercado interno, através da expansão da demanda e controle da inflação, sendo que o comércio internacional não se configurou como prioridade.

Índia e África do Sul em particular mantiveram suas economias relativamente fechadas e, somente a partir dos anos 1990, passaram a aumentar a exposição ao mercado externo, dando maior peso ao comércio internacional. A Índia deu prioridade para as exportações de serviços, mas, manteve o protecionismo, em particular no setor agrícola. O Brasil priorizou o modelo de desenvolvimento interno, mas, desde os anos 1990, abriu sua economia e vem transformando sua agricultura em um grande polo exportador.

Para a Rússia, em fase de transição de uma economia planificada para uma de mercado, o comércio passou a representar a forma mais rápida de reduzir a dependência de atividades ligadas a produtos energéticos, como petróleo e gás.

Embora diferentes sejam as prioridades, em termos econômicos, o país destaque no BRICS é a China. Sua importância é desproporcional em relação aos outros países do acordo, conforme indica a Tabela 1: com 14,8% do PIB mundial em 2015, a representatividade da China é aproximadamente quatro (4) vezes maior se comparada a ano de 2000, em que se encontrava com 3,6%.

Tabela 1 - BRICS e mundo: dados em termos de PIB, exportações e importações de bens e serviços (em US$ bilhões e % em relação ao mundo) – 2000-2015

Fonte: Elaborado pela autora a partir dos dados de UNCTADstat (2019).

Contudo, ressalta-se que a comparação entre os países do BRICS é usual em análises tanto de mercado, quanto acadêmicas. Isso ocorre, pois suas economias se destacam nos mercados internacionais como países emergentes e em ascensão. Todos pertencem à lista das

trinta maiores economias do mundo e têm recebido grandes fluxos de investimento para aproveitar o mercado doméstico e seus setores exportadores, a despeito dos problemas estruturais. Em termos de comércio internacional, o Brasil, Rússia e África do Sul se manteram em patamares similares de representatividade frente às exportações e importações mundiais entre 2000 e 2015. Destacaram-se, contudo, a Índia, com crescimento de 0,8% para 2,0% nas exportações, e 0,9% para 2,6% nas importaçõs, sobretudo pelo perfil exportador no setor de serviços; e a China, com crescimento de 3,5% para 11,2% nas exportações, e 3,2% e 9,7% nas importações.

Ainda de acordo com a Tabela 1, em termos de participação global nas exportações, de 2000 a 2015, a China passou do 8º lugar, com 3,5% do total mundial, para o 2º lugar, com 11,2% das exportações totais, considerando a UE a maior exportadora durante todo o período, com 38,1% em 2000 e 32,6% em 2015. A Rússia passou do 18º lugar (1,4%) para o 16º lugar (1,9%). A Índia passou do 33º lugar (0,8%) para 21º (2%). O Brasil passou de 29º lugar (0,8%) para 26º (1,1%). A África do Sul, por sua vez, manteve-se em 38º lugar (0,5%).

Por sua vez, a partir do Gráfico 1, é possível identificar que, entre 2000 e 2015, houve uma trajetória linear de crescimento do PIB no BRICS, exceto para a África do Sul, Brasil e

Rússia no ano de 2009, período esse marcado pelo efeito da crise do subprime29

sobre as economias de todo o mundo.

Gráfico 1 - Taxa de crescimento anual do Produto Interno Bruto (PIB) Real dos países do BRICS e do mundo (2000 a 2015) – em %

Fonte: Elaborado pela autora a partir dos dados da OCDE (2019).

Com isso, nota-se que o período imediatamente posterior ao ano de 2000 é marcado pela instabilidade em termos de crescimento do PIB em virtude de crises econômicas,

29 A crise de crédito de alto risco iniciada nos EUA teve sua origem no setor de compra e venda de títulos hipotecários de imóveis residenciais e resultou em uma grave crise financeira. Devido à importância da economia norte-americana, a escalada da crise adquiriu uma dimensão mundial, contaminando os países desenvolvidos e também as economias em desenvolvimento (CARVALHO, 2010).

-10 -5 0 5 10 15 20 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

mudanças políticas e/ou alterações na condução da política macroeconômica que promoveram, em alguns países, uma conduta mais ortodoxa.

Assim, tal como reforça Santos (2010), é possível identificar um efeito decoupling dos países dos BRICS em relação às economias mais desenvolvidas desde a crise de 2008. O argumento é sustentado principalmente pela taxa de crescimento desses países, acima da média obtida pelos países desenvolvidos frente aos efeitos da crise.Esse efeito, segundo O’Neill (2009), é explicado pelo fato das economias dos BRICS terem uma grande demanda doméstica, o que possibilitaria o crescimento das economias, mesmo que haja uma desaceleração de importações de outros países.

Neste sentido, apresenta-se a Tabela 2.

Tabela 2 - BRICS: Exportações brutas de produtos e participação nas exportações totais do grupo (2000-2015) - em bilhões de US$

Fonte: Elaborado pela autora com base em WTO (2019).

Percebe-se que entre 2000-2015, o comércio dos países do BRICS em termos brutos apresentou as seguintes características, que ilustram a importância relativa desta forma de inserção externa:

BRASIL: em 2000, exportou US$ aproximadamente 55 bilhões e importou US$ 59 bilhões. Em 2015, exportou aproximadamente US$ 191 bilhões e importou US$ 179 bilhões. Em quinze anos, o Brasil multiplicou suas exportações 3,5 vezes e suas importações 3,3 vezes.

RUSSIA: em 2000, exportava US$ 105 bilhões e importava US$ 44.9 bilhões. Em 2015, exportou US$ 341 bilhões e importou US$ 193 bilhões, mostrando um aumento significativo de seu comércio internacional após sua acessão à OMC, em 2012. Em quinze anos, a Rússia multiplicou suas exportações 3,2 vezes e suas importações 4,3 vezes.

ÍNDIA: em 2000, exportava US$ 42 bilhões e importava aproximadamente US$ 52 bilhões. Em 2015, exportou aproximandamente US$ 267 bilhões e importou aproximadamente US$ 393 bilhões. Em quinze anos, a Índia multiplicou suas exportações por 6,3 e suas importações por 7,5.

CHINA: em 2000, exportava aproximadamente US$ 250 bilhões e importava aproximadamente US$ 225 bilhões. Em 2015, exportou aproximadamente US$ 2,3 bilhões e importou aproximadamente US$ 1,66 bilhão. Em quinze anos, a China multiplicou por 9,2 suas exportações e por 7,4 suas importações.

ÁFRICA DO SUL: em 2000, exportou aproximadamente US$ 30 bilhões e importou aproximadamente US$ 30 bilhões. Em 2015, exportou aproximadamente US$ 81 bilhões e importou aproximadamente US$ 105 bilhões. Em quinze anos, a África do Sul multiplicou suas exportações 2,7 vezes e suas importações 3,5 vezes.

A despeito da crise financeira de 2008, o BRICS ainda apresentou bom desempenho quando comparado com países desenvolvidos. Como apresentado na Tabela 2 exposta acima, em 2000, a China já era o país responsável pela maior parte das exportações do grupo, respondendo por 51,7% do total . Em 2015 essa posição subiu para 72,1%, enquanto a participação da Russia reduziu à metade, saindo de 21,8% em 2000 para 10,8%, a maior queda de participação nas exportações totais do grupo.

A importância da China nesse cenário é reconhecida pelo aumento da sua presença nas exportações mundiais de produtos manufaturados de média-alta e alta tecnologia, mercados antes reservados predominantemente aos países da OCDE. A sua participação nas exportações brutas de produtos de maior valor agregado cresceu 42% no período 2000-2015.

Continuando as análises, apresenta-se o Gráfico 2, o qual expõe informações sobre o país de interesse em relação aos outros quatro países do grupo. As informações, foram geradas a partir da plataforma UN COMTRADE, através do somatório dos valores de importações e exportações a cada triênio, durante a série 2000 a 2015 e, a partir de então, identificada a participação percentual.

Gráfico 2 - Participação percentual relativa no fluxo de exportação e importação entre cada país e os quatro demais membros dos BRICS (2000-2015)

Fonte: Elaborado pela autora a partir dos dados do UN Comtrade (2019).

Com relação ao Brasil, as exportações e importações com o BRICS entre 2000 e 2015 apresentaram cenários muito semelhantes e com caráter evolutivo. Em 2000, o Brasil exportou para os demais países do bloco 4% do total com o mundo e, em 2015, este valor evoluiu para 23%. As importações brasileiras com origem no bloco representavam, respectivamente, 4% (2000) e 22% (2015) do total importado pelo país.

A Rússia, diferentemente do Brasil, importou mais do que exportou do BRICS. Entre 2000 e 2015, respectivamente, 6,4% e 10,2% das exportações Russas destinaram-se ao BRICS. Já em relação às importações, 5,7% (2000) e 22,4% (2015) tiveram origem no BRICS.

A Índia, apresentou desempenho semelhante ao da Rússia. Embora se observe progresso das exportações indianas para o bloco, o crescimento foi pequeno para o período, sendo, 4,9% (2000) e 6,8% (2015). As importações, que representavam 6,7% em 2000, evoluíram para 19,7% em 2015.

A China apresentou desempenho semelhante nas exportações e importações com o BRICS, apresentando, entretanto, percentuais mais baixos comercializados com o bloco e com pequeno crescimento no período. De todas as exportações chinesas em 2000, apenas 2,4% se destinaram ao bloco, frente a 6% em 2015. As importações evoluíram de 4,4% (2000) para 7,2% (2015). É possível constatar que a China, apesar de ser uma grande potência comercial e principal parceira comercial dos demais membros do BRICS, pouco comercializa intra BRICS, haja vista que os seus principais parceiros comerciais são países terceiros.

Por fim, a África do Sul apresentou uma sólida relação comercial com os parceiros, principalmente em relação às importações. As exportações sul-africanas para o BRICS evoluíram de 3,6% para 14,4%, tendo no período entre 2006 e 2009, seu melhor desempenho. As importações, por sua vez, evoluíram de 6% (2000) para 25,4% (2015), a maior representatividade deste período entre todo o bloco.

5.2 EVIDÊNCIA DA LIBERALIZAÇÃO COMERCIAL E SEUS IMPACTOS: UMA