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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.2 PERFIL DOS BANCOS BRASILEIROS EM RELAÇÃO ÀS CONEXÕES POLÍTICAS

Primeiramente, constrói-se o perfil dos bancos a partir da amostra. Identificando-se os perfis tomando por base: (a) presença de um político ou ex-político nos sistemas de gestão e de governança do banco; (b) existência do “acionista governo” ou seus agentes na estrutura de propriedade, de acordo com os registros no Bacen; e (c) pela doação para campanhas políticas feitas pelos integrantes da diretoria ou conselhos, pelos próprios bancos ou pelos seus sócios.

Com a classificação em polos/perfis, identifica-se quais os bancos que têm conexões políticas, dado as diversas tipologias de laços, denotando a estreita vinculação entre o governo, os políticos e a indústria bancária brasileira. Essa categorização não representa uma hierarquização entre as tipologias, uma vez que não há referências na literatura que embasem tal estruturação. No entanto, no que se refere à estratificação gradual de poder desses laços e quanto cada um deles pode vir a influenciar o banco, foram estabelecidos nessa pesquisa níveis diferenciados, em especial, pela reincidência, ou seja, pela ocorrência de laços simultâneos. No Quadro 6 são descritos os itens observados para vinculação aos polos/perfis:

Quadro 6 – Definição dos itens observados para os polos/perfis

Polo/perfil Nomenclatura Descrição

0 Não conectado Não encontrado quaisquer dos laços indicativos de conexão política estudados

na presente tese.

1 Conectado

nível 1

Conectado via estrutura de governança: presença de um político ou ex-político nos sistemas de gestão e governança da empresa.

2 Conectado

nível 2

Conectado via doação para campanha política dos bancos, membros dos sistemas de governança e gestão ou pelos sócios dos bancos (pessoa física ou jurídica).

3 Conectado

nível 3

Conectado via estrutura de propriedade: posição acionária do governo, suas subsidiárias ou fundos de pensão (estatais e empresas públicas).

4 Conectado

nível 4

Conectado via, pelo menos, dois dos laços disponíveis: estrutura de propriedade, governança ou doação para campanha eleitoral.

5 Conectado

nível 5

Conectado via estrutura de propriedade, presença de políticos e ex-políticos nos sistemas de governança e gestão ou doação para campanha eleitoral.

Os níveis 4 e 5 avaliam a combinação de laços conectivos. Tal premissa sustenta-se, uma vez que foi preciso avaliar relações mais complexas do ponto de vista operacional. Buscou- se, averiguar nesse momento a combinação de pelo menos dois laços de conexão, estabelecendo o nível 4, como também o nível 5, resultante da presença dos três tipos de laços de conexão política estudados nessa tese e que pode vir a interferir na política administrativa da organização. A avaliação por esses dois outros polos leva a entender que, em diversos casos, a conexão ocorre não apenas por um simples acaso.

A classificação depende da identificação de laços, os quais são apresentados e descritos em sua completude, do que se considera conexão política, em cada uma de suas formas observadas:

a) Conexão política pela estrutura de governança

Mapearam-se quais membros da estrutura de governança dos bancos são conectados politicamente. Esse detalhamento permitiu que fossem verificadas as relações personificadas entre o governo e os conselheiros/diretores capazes de gerar alterações na política operacional e financeira dos bancos. As evidências empíricas que sustentam essa avaliação são: Brey et al. (2011), Brey et al. (2014), Camilo, Marcon e Bandeira-de-Mello (2012) e Dinç (2005).

Inicialmente, verificou-se a existência de conexão política, por meio da candidatura a cargo eletivo de algum dos membros dos sistemas de governança e gestão dessas organizações. Avaliou-se, com isso, a presença de políticos e ex-políticos nos conselhos e na diretoria executiva, de acordo com o Quadro 7.

Quadro 7 – Descrição das variáveis – ex-político exercendo cargo nos sistemas de governança e gestão dessas organizações

Tipo Descrição Comportamento da variável Base teórica

Membro conectado

direto

Membro dos sistemas de governança e gestão que foi

candidato a cargo eletivo nos anos entre 1994 e 2014

Binária 0 (ausente) ou 1 (presente)

Brey et al. (2011), Camilo, Marcon e Bandeira-de-Mello (2012), Dinç (2005), Brey et al.

(2014). Diretor

conectado direto

Diretor que foi candidato a cargo eletivo nos anos entre

1994 e 2014

Binária 0 (ausente) ou 1 (presente)

Brey et al. (2011), Camilo, Marcon e Bandeira-de-Mello (2012), Dinç

(2005), Brey et al. (2014). Fonte: Elaboração própria.

A partir desse item, apresentaram-se as possibilidades de conexão política dos integrantes desses dois sistemas e, por meio dele, demonstrou-se seu relacionamento com o governo ou qualquer outra instância política. Não se avaliou o filiado a partidos, pois a filiação no Brasil é a condição necessária para ser candidato, e não se tem registro de filiados sem

exercer a vida pública. Dessa forma, buscou-se avaliar aquele que já havia sido confirmado como político.

b) Conexão política identificada por meio da estrutura de propriedade

Nesta dimensão, buscou-se caracterizar e descobrir se os bancos possuem conexão por intermédio do “acionista governo”. Avaliaram-se as posições acionárias pertencentes a todas as esferas de governo, demais entidades públicas, bancos, bancos de desenvolvimento, holdings públicas e fundos de pensão (de empresas estatais e outras). A presença do “acionista governo” revela a conexão, conforme apontam La Porta, Lopez-de-Silanes e Shleifer (2002), Claessens, Feijen e Laeven (2008), Lazzarini (2011), Brey et al. (2011), Brey et al. (2014), Camilo, Marcon e Bandeira-de-Mello (2012) e Dinç (2005).

A participação do governo ou dos seus agentes como acionistas na estrutura de propriedade do banco, propiciam indícios de vinculação e direcionamento das ações estratégias do banco a partir daquelas norteadas pelo governo. No caso em tela, utilizam-se os dados do cadastro do Bacen, para separar a propriedade estatal das demais formas de propriedade, promovendo a qualificação dos proprietários.

c) Conexão política por meio das doações às campanhas políticas nos pleitos eleitorais ocorridos no período de 2002 a 2014

Segundo as evidências encontradas por Samuels (2001), Faccio (2006), Claessens, Feijen e Laeven (2008) e Bandeira-de-Mello, Marcon e Alberton (2008), as empresas conectadas doam para as campanhas políticas e, após a vitória, poderão vir a receber mais contratos graças à conexão política. Em alguns casos, essa percepção incremental de possibilidade de retorno é tão cristalina que é percebida por meio de incremento no valor de mercado das ações, pois essas doações são precificadas pelo mercado (CLAESSENS; FEIJEN; LAEVEN, 2008). Nesse sentido, o Quadro 8 apresenta o resumo das campanhas políticas ocorridas no período.

Quadro 8 – Descrição das variáveis – periodicidade dos processos eleitorais brasileiros

Ano Cargo Período da eleição

2002 Federais/estaduais/distrital 1º turno: 06/10/2002; 2º turno: 27/10/2002

2004 Municipais 1º turno: 03/10/2004; 2º turno: 31/10/2004

2006 Federais/estaduais/distrital 1º turno: 01/10/2006; 2º turno: 29/10/2006

2008 Municipais 1º turno: 05/10/2008; 2º turno: 26/10/2008

2010 Federais/estaduais/distrital 1º turno: 03/10/2010; 2º turno: 31/10/2010

2012 Municipais 1º turno: 07/10/2012; 2º turno: 28/10/2012

2014 Federais/estaduais/distrital 1º turno: 05/10/2014; 2º turno: 26/10/2014