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4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

4.1. Perfil dos docentes participantes

“A teoria das representações sociais lida com a diversidade de saberes oriundos das múltipas culturas circulantes da nossa sociedade caleidoscópica” (ARRUDA, 2014). Essa afirmativa de Arruda ratifica a importância de o pesquisador conhecer “quem são” e “de onde falam” os sujeitos da investigação, uma vez que esses aspectos influenciam na construção de representações sociais, permeada de significados e sentimentos que dão lógica a discursos e práticas e os justificam.

Ainda de acordo com Arruda (2014), conhecer esse sujeito inclui identificar seu percurso histórico, o atual momento de sua vida, os conflitos e perspectivas que o norteiam e acabam por contribuir para a elaboração dessas representações. Tais aspectos não podem e nem devem ser excluídos no processo de análise e interpretação dos dados.

Nessa perspectiva, o perfil dos docentes que responderam os questionários foi sintetizado no quadro a seguir.

Quadro 09: Gênero e Faixa Etária

Gênero Faixa Etária

Masculino Feminino Outro 30-40 41-50 51-60 61-70 + 70

12 02 0 04 07 02 01 0

A partir da leitura desses dados, notamos que há uma maior concentração de docentes do gênero masculino exercendo a docência universitária nesse Centro (do universo de 130 docentes lotados no CCEN, 105 são do gênero masculino e 25 do gênero feminino – o que representa um percentual de 19,23%, aproximadamente). Isso nos remete a representações segundo as quais os professores do gênero masculino são os mais “aptos” a aprender e, consequentemente, ensinar disciplinas que envolvam cálculo, uma vez que se trata de conteúdos de difícil entendimento.

Tais representaçõestêm origem no Brasil, no século XVI, com a chegada dos militares e a necessidade do conhecimento em matemática para o manejo com as armas e o trabalho nas construções civis (VALENTE, 2008). Apenas com a entrada das mulheres no mercado de trabalho, houve a possibilidade de inserção delas nos contextos essencialmente masculinos. Contudo, ainda hoje, permanece, mesmo que timidamente, o discurso da “superioridade” masculina quanto ao entendimento e ao trabalho com a matemática (SOUZA e FONSECA, 2015).

No que diz respeito à faixa etária desses docentes, observamos que há uma maior concentração dos que possuem a idade entre 41 e 50 anos (07 ao todo), o que indica tratar-se de sujeitos com certa vivência no contexto profissional. Verificamos, também, que há 04 docentes com a idade entre 30 e 40 anos, indício da existência de professores em início da vida profissional na docência universitária, visto que, ao atentarmos para o tempo de exercício nessa docência, há uma variação de 04 a 06 anos.

Quanto à formação inicial e stricto sensu dos docentes, percebemos que a formação acadêmica de todos eles ocorreu na área das ciências exatas e da natureza. Alguns docentes (03 dos 14) não têm Mestrado, mas ingressaram diretamente no Doutorado. Dos 14 professores que concluíram o doutoramento, apenas 08 alegaram ter realizado o pós- doutorado.

No que diz respeito à formação continuada pedagógica, voltada para a atuação em sala de aula, 05 dos 14 docentes declararam que essa formação foi promovida pelo Núcleo de Formação Continuada Didático-Pedagógica dos Professores da UFPE (NUFOPE), no início de sua carreira na docência na instituição, ou seja, no período do estágio probatório. Tais

dados indicam uma considerável resistência por parte dos docentes em participar dessas formações, possivelmente por conta da ausência de políticas e exigência de uma formação pedagógica no momento da contratação do docente universitário, bastando apenas os conhecimentos específicos da área de formação (ZABALZA, 2004; ALMEIDA e PIMENTA, 2011; SALES e MACHADO, 2013). Contudo, pesquisadores (SILVA e RAMOS, 2012; SILVA, 2013; e, SILVA, 2014) reafirmam a importância do contato dos docentes com esses espaços de formação, pois eles oferecem subsídios que fundamentam e transformam suas práticas em sala de aula.

Em relação à experiência na docência percebemos que 06 dos 14 professores participantes possuem experiências na docência em instituições de ensino superior, anteriores ao ingresso na docência na UFPE. Por outro lado, verificamos a existência de docentes (04 no total) cuja primeira e única experiência na docência se deu na UFPE.

A partir desses dados, podemos inferir que esse espaço de ensino ainda é considerado um espaço de prestígio para aqueles que desejam galgar a carreira profissional, social e acadêmica, uma vez que essa instituição proporciona o contato direto e contínuo com o desenvolvimento de pesquisas em níveis nacionais e internacionais, tornando-se uma fonte de formação, conhecimento e atuação dos docentes. Além disso, essa instituição é uma referência em formação profissional de qualidade.

Percebemos também que dos 14 docentes, 03 construíram experiências com a docência nos 03 espaços de ensino: primeiramente, na Educação Básica e/ou Técnica; posteriormente, em IES; e, por fim, na UFPE. Do total de participantes, apenas 01 ensinou na Educação Básica e/ou Técnica e, posteriormente, na UFPE. Tais dados permitem duas inferências: de um lado, há docentes que possuem a formação em Licenciatura a qual lhes deu suporte para a atuação em sala de aula; de outro lado, há docentes que exercem essa docência, apesar de não possuírem formação básica pedagógica para atuarem no ensino.

Passemos, então, ao perfil dos docentes que aceitaram participar da segunda etapa de coleta de dados: a entrevista. No quadro abaixo, estão sintetizadas essas informações.

Quadro 10: Perfil dos docentes entrevistados

Identificação Faixa Etária Experiência na Docência Área de Atuação na

Docência a UFPE

E1 41-50 IES e UFPE (6-10 anos) Física

E2 61-70 UFPE (+20 anos) Estatística

E3 51-60 Ed. Básica/Técnica, IES e UFPE (+20 anos) Estatística

E4 41-50 UFPE (11-15 anos) Matemática

E5 31-40 IES e UFPE (6-10 anos) Física

E6 41-50 UFPE (6-10 anos) Matemática

Antes de nos determos na análise do quadro acima, queremos registrar as seguintes informações: dos 06 docentes participantes da entrevista, 01 é do gênero feminino, 03 participaram de formações continuadas de caráter didático-pedagógico ofertadas pelo NUFOPE e, apesar de o único(a) docente do Departamento de Química ter-se disponibilizado a participar da entrevista, não confirmou essa participação, justificando, dessa maneira a ausência desse Departamento nessa etapa de coleta de dados.

Verificamos que todos os docentes entrevistados têm experiência no exercício dessa profissão. E1, E5 e E6 exercem a docência há bem menos tempo que E2 e E3 e pouco menos que E4. Chama-nos a atenção, contudo, a experiência de E3, por ter exercido a docência em educação básica/técnica e hoje exercê-la em ensino superior.

Uma vez conhecidos quem são e de onde falam esses docentes participantes da investigação e responsáveis pelas representações aqui proferidas, passaremos a apreciar suas inferências, falas e concepções. Para tanto, iniciaremos com a análise dos dados advindos do questionário semiprojetivo e, posteriormente, procederemos à análise dos dados coletados por meio das entrevistas semiestruturadas, buscando identificar e compreender que representações de docência universitária são construídas em seus contextos de convivência e atuação.

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