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2 ANÁLISE DAS AÇÕES CULTURAIS NO ENSINO SUPERIOR

2.3 Reflexões sobre o cenário cultural da UFJF-GV

2.3.1 Perfil dos estudantes da UFJF-GV e suas expectativas em relação à

Identificar o perfil sociocultural dos estudantes das universidades públicas é um passo importante para se pensar e planejar políticas e projetos que contribuam efetivamente para o desenvolvimento de ações culturais pertinentes à realidade dos estudantes. Mas a identificação desse perfil exige um trabalho árduo, uma vez que qualquer pesquisa nesse cenário precisa levar em consideração diferentes variáveis que permeiam a educação pública superior, entre elas a dinâmica orgânica das instituições de ensino, que ainda não têm um sistema nacional de cadastrado unificado de suas atividades, servidores, cursos e entre outros.

Em nível nacional, uma das pesquisas mais importantes sobre o perfil do estudante do ensino superior é realizada pela Andifes. Ao lançar a quinta edição da Pesquisa do Perfil Socioeconômico dos Estudantes das Instituições Federais de Ensino Superior, em janeiro de 2018, a associação recordou que os dados coletados “são fundamentais por gerarem subsídios para políticas públicas e diagnóstico de como está constituído o corpo discente das instituições federais de Ensino Superior, com a finalidade de auxiliar, sobretudo, nas demandas de assistência estudantil” (ANDIFES, 2018a).

É interessante observar que, na edição de 2014, a pesquisa já diagnosticou grande diferença no público das universidades. De acordo com matéria do site da associação, a quarta pesquisa mostrou uma evolução no perfil dos graduandos, sendo que o número de alunos negros havia triplicado entre 2003 a 2014. Os dados comprovaram que os estudantes que se consideravam negros e pardos representavam, há três anos, 47,5% do total de alunos das universidades federais do Brasil (ANDIFES, 2018b). A evolução dos números entre as duas pesquisas, que aconteceram em um intervalo de 11 anos, se deu principalmente, de acordo com a associação, pelos

processos seletivos massivos, como o Enem, a criação de mais de 300 campi no interior do País e a Lei de Cotas, criada em 2013, e que garantiu o ingresso de 32% dos estudantes que compõem o

corpo discente das 63 universidades federais brasileiras (ANDIFES, 2018b, s/p).

Além da diversidade de raças, a expansão das universidades, marcada fortemente por políticas como o Reuni, também possibilitou uma diversificação nos quesitos socioeconômicos, uma vez que cada vez mais pessoas de pequena renda acessam o ensino superior público e buscam, por meio da assistência estudantil, a sua manutenção no ambiente acadêmico. Também marcam esse novo cenário a o intercâmbio de regiões dentro de um mesmo campus, que acontece graças à interiorização dos campi e da possibilidade de acesso às vagas em outras cidades e estados. Outro fator que chama a atenção é a diversidade de sexo e gênero.

Por isso, a urgência das instituições de se atentarem para o fomento à produção cultural dentro do espaço universitário. Ações que deem oportunidade para que a diversidade seja reconhecida e respeitada, e também que contribuam para a ampliação do capital cultural dos estudantes, principalmente daqueles que, durante a infância, não tiveram acesso a projetos culturais de qualidade. Todo esse trabalho tende a possibilitar maior integração entre os estudantes, gerando assim para um ambiente respeitoso e solidário, que zele sempre pela diversidade no ambiente público.

Em relação ao questionário utilizado como instrumento desta pesquisa, o mesmo obteve 368 respostas, de um universo aproximado de 2700 estudantes. Na Tabela 5 é possível identificar os números que se destacam entre as respostas.

Tabela 5 – Dados significativos do perfil socioeconômico dos estudantes da UFJF-GV

Pergunta Maior representação No respostas % do total

Idade 20 anos 67 18,2%

Sexo Feminino 258 70,1%

Naturalidade Governador Valadares 118 32%

Estado Minas Gerais 316 85,9%

Estado Civil Solteiro 356 96,7%

Onde você mora em

Governador Valadares? Com a família/parentes 166 45,5%

Tem filhos? Não 357 97%

Qual foi a sua forma de

ingresso na UFJF-GV? Enem 272 73,9%

Fonte: Pesquisa Perfil sociocultural dos discentes da UFJF-GV, 2018.Tabela elaborada pela autora.

Em relação à naturalidade, o questionário ressaltou que o campus de Governador Valadares tem recebido pessoas de inúmeras cidades do país. Ao todo, o questionário ressaltou que, entre as respostas, havia pessoas naturais de 101 cidades brasileiras e três do exterior. A origem mais distante de Governador Valadares foi da cidade Ji-Paraná, um município do estado de Rondônia que fica há 2.968,7 km do campus avançado. Minas Gerais é o estado mais presente nas respostas do questionário, sendo que 85,9% dos participantes vieram de 75 cidades mineiras. Chamou a atenção o número expressivo de valadarenses que responderam a pesquisa, sendo eles 32% dos questionários. O Vale do Rio Doce também é bem representado, com 28 estudantes de Ipatinga e 14 de Caratinga. Os números demonstram que a estruturação da UFJF-GV, através das políticas de expansão da educação pública superior, como o Reuni, contribuiu para o atendimento à realidade da região leste de Minas, que tinha até o momento um número expressivo de cursos particulares, mas poucos públicos12. Tais números reforçam a estruturação de Governador Valadares como um polo regional de educação superior, retomando a proposta contida no PDI 2015-2019 da UFJF, de alavancar o desenvolvimento do Vale do Rio Doce (UFJF, 2014a).

Além da ampliação de atendimento a regiões do interior do país, o processo de expansão das universidades está, mesmo que paulatinamente, permitindo maior diversificação no perfil dos estudantes da educação pública superior. Dados da IV Pesquisa do Perfil socioeconômico e cultural dos estudantes de graduação das instituições federais de ensino superior brasileiras, realizada pela Andifes em 2014 e publicada em 2016, ressaltam que em um período de quase 20 anos – entre 1996 e 2014 – foi possível observar um crescimento expressivo na representação de pardos e negros nas instituições federais. Segundo o documento, houve um crescimento de 167% no número de pardos e 233% no número de negros. Enquanto isso, o número de autodeclarados brancos cresceu em 53,9% (ANDIFES, 2016). A associação recorda que os números também representam uma ampliação na composição da sociedade brasileira no período de quase 20 anos – 1996 e 2014. Houve uma redução da população Branca - 55% para 45% - e crescimento das populações

12 Até 2012 havia, em Governador Valadares, diferentes cursos particulares oferecidos pelas

seguintes instituições de ensino superior: Univale, Fadivale, FAGV, Unipac e Pitágoras, Funorte, Uninter, entre outras. A cidade conta ainda com um campus do IFMG e um polo da UAB (VASCONCELOS, 2018).

Preta e Parda - 44% para 53% (ANDIFES, 2016). Para a Andifes essa mudança demonstra também um amadurecimento social, uma vez que ela é

bastante significativa para um perfil populacional e que parece estar mais relacionada ao processo de autodeclaração, com a mudança daqueles que se autodeclaravam brancos apenas como um resultado de um racismo latente na sociedade (ANDIFES, 2016, p. 4).

A pesquisa de 2014 demonstrou que, dentre os estudantes do ensino superior público federal, a população amarela representava 2,3% dos estudantes; a branca 45,7%; a parda 37,7%; a preta 9,8%; os indígenas apenas 1% e os sem autodeclaração eram 3,7% do total (ANDIFES, 2016). O atual quadro da UFJF-GV, que veio se estruturando nesse processo de expansão da educação superior pública federal e também em maior conscientização social, apresenta dados similares ao cenário nacional. Quando questionados sobre como se considera, em relação às categorias do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o gráfico da resposta 9 da pesquisa do Perfil sociocultural dos discentes da UFJF-GV, que deu origem ao Gráfico 1, tem grande similaridade aos dados da Andifes de 2014.

Gráfico 1 – Identificação de raças dos respondentes, segundo categorias do IBGE

Fonte: Pesquisa Perfil sociocultural dos discentes da UFJF-GV, 2018. Gráfico elaborado pela autora.

O gráfico da pesquisa, junto aos estudantes da UFJF-GV, ressalta uma situação alarmante: a pouca presença de autodeclarados índios na educação

superior pública federal. No diagnóstico feito pela Andifes em 2014 apenas 1% dos estudantes se autodeclaravam indígena. Já na pesquisa realizada no campus avançado da UFJF não houve representação, apesar do campus está inserido em uma região de importantes comunidades indígenas, como os Krenak13. Nesse sentido, se considerarmos a importância da democratização do acesso ao ensino público superior, de modo que o mesmo seja capaz de refletir e contribuir no enfrentamento e na melhoria das condições de grupos minoritários, como os indígenas, a UFJF-GV tem o desafio de articular formas de inserção desses grupos, revisando e ampliando o trabalho realizado pela assistência estudantil, além de fortalecer os projetos relacionados às comunidades indígenas, como os de extensão e pesquisa.

Outro ponto muito importante a ser melhorado na UFJF-GV é a adesão de pessoas com necessidades especiais. De acordo com a pesquisa apenas 4,9% do público apresenta alguma deficiência, principalmente no enquadramento físico. Este número é um reflexo do cenário nacional, uma vez que na pesquisa IV Pesquisa do Perfil socioeconômico e cultural dos estudantes de graduação das instituições federais de ensino superior brasileiras, realizada pela Andifes em 2014, diagnosticou que apenas 3% dos graduandos das instituições de educação superior pública federal apresentavam algum tipo de deficiência (ANDIFES, 2016). Os números demonstram um cenário retrogrado do país, que ainda não consegue realizar a inclusão por diferentes fatores. Dados da Cartilha do Censo 2010 – pessoa com deficiência, produzida pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (BRASIL, 2012c), afirmam que 23,9% da população brasileira têm algum tipo de deficiência, seja ela visual, auditiva, motora e mental ou intelectual. No entanto, neste mesmo ano apenas 6,7% das pessoas com deficiência possuíam diploma de cursos superior neste ano, enquanto 10,4% das pessoas sem deficiência já tinham passado pela graduação (BRASIL, 2012c).

Para a UFJF-GV, a mobilização em prol de maior entrada de pessoas com deficiência no campus avançando esbarra principalmente na falta de estrutura física. Apesar de ser crescente a consciência e a legislação que garanta as adaptações à

13 Originários da região leste de Minas, os índios Krenak passaram por vários processos de

desterritorialização, desde a construção da Estrada de Ferro Vitória a Minas, a partir de 1905. No final da década de 1950 os índios retornaram para o Vale do Rio Doce, para a região da cidade de Resplendor, cerca de 130km de Governador Valadares. Atualmente são cerca de 600 índios morando em pequenas reservas ao longo do Rio Doce (KRENAK, 2017).

realidade das pessoas com deficiência, muitos espaços são construindo ou projetos são estruturados sem se levar em consideração tal fator. O aluguel da sede administrativa da UFJF-GV, por exemplo, que pode ser observado no Contrato nº 149/2017, aconteceu após inúmeros processos licitatórios que não recebiam propostas que atendessem às necessidades da universidade, sendo necessário um processo administrativo de inexigibilidade de licitação (UFJF, 2017h). Apesar de buscar um espaço o mais adaptável possível às necessidades de um setor público, que deve prezar pela democratização de seu acesso, a sede tem um andar que só é acessado por escada, limitando, com isso, a entrada de pessoas com mobilidade reduzida.

Para minimizar o problema, os principais setores de atendimento ao público ficaram no primeiro andar, como a Central de atendimentos e o Recursos Humanos. Outros setores como o CCE, que tem ações junto à Diretoria Geral do campus, foram alocados no segundo andar do prédio, limitando o atendimento ao público, principalmente aos estudantes. O contrato da sede administrativa tem vigência de cinco anos, com possibilidade de prorrogação, e não apresenta cláusulas que definam possível alteração na estrutura do espaço para que ela seja adaptada, em especial, para acessibilidade de deficientes físicos.

Em relação aos projetos culturais, nas audições do Coral Universitário – edição 2018, aconteceu a inscrição de uma pessoa paraplégica, uma caloura do curso de Farmácia. Como os ensaios do Coral são realizados em auditório cedido pelo GV Shopping, e o espaço só é acessado por escadas, foi preciso conversar com a inscrita e informar que, naquele momento, não era possível que ela participasse da atividade do Coral. Foram apresentados os outros projetos para a estudante, que demonstrou interesse em contribuir com o setor de Cultura da universidade. Durante a conversa foi informado também que a organização do projeto está a procura de um espaço acessível para os ensaios do Coral, mas há grande limitação na cidade, principalmente de um auditório em área central, que consiga atender às necessidades de logísticas da comunidade acadêmica que está espalhada em diferentes pontos da cidade e também de cessão gratuita do local, como é feito pelo GV Shopping.

Perpassados pelos desafios de infraestrutura, a pesquisa realizada na UFJF- GV demonstrou que, em relação à renda familiar, o campus avançado apresenta grande diversificação de seu público, sendo destaque para o número de estudantes

com renda familiar de um a dois salários mínimos (R$ 954,00 a R$ 1.908,00), que são 21,5% do total de respostas. A Tabela 6 apresenta um panorama sobre a diversidade de renda familiar dos estudantes da UFJF-GV:

Tabela 6 - Pergunta 6 - Renda familiar

Valores Frequência Percentual

Menos de 1 salário mínimo (menos de R$ 954,00) 15 4,1% 1 a 2 salários mínimos (entre R$ 954,00 e R$ 1.908,00) 79 21,5% 2 a 3 salários mínimos (mais que R$ 1.908,00 até R$ 2.862,00) 52 14,1% 3 a 4 salários mínimos (mais que R$ 2.862,00 até R$ 3.816,00) 52 14,1% 4 a 5 salários mínimos (mais que R$ 3.816,00 até R$ 4.770,00) 38 10,3% 5 a 6 salários mínimos (mais que R$ 4.770,00 até R$ 5.724,00) 32 8,7% 6 a 7 salários mínimos (mais que R$ 5.724,00 até R$ 6.678,00) 19 5,2% 7 a 8 salários mínimos (mais que R$ 6.678,00 até R$ 7.632,00) 16 4,3% Acima de 8 salários mínimos (mais que R$ 7.632,00) 65 17,7%

Total 368 100%

Fonte: Pesquisa Perfil sociocultural dos discentes da UFJF-GV, 2018. Tabela elaborada pela autora.

Ainda dentro do contexto familiar, um dado relevante da pesquisa no campus avançado é que o grau de instrução das mães supera a média nacional, indicada pela IV Pesquisa da Andifes, de 2014. Na UFJF-GV 41,6% dos estudantes têm mães com formação superior completa. A média nacional é de apenas 18,14% (ANDIFES, 2016). Já a formação dos pais se equipara a média nacional, sendo mais representativa a formação completa no Ensino Médio - 25,04% (ANDIFES, 2016). A realidade da UFJF-GV é de que 29,01% dos pais completaram essa etapa da educação. Toda essa diversificação do campus avançado já pode ser considerado reflexo da interiorização e do crescimento do número de campi universitários, além da ampliação dos métodos de ingresso à universidade, antes limitado aos vestibulares.

Entre as respostas da pesquisa na UFJF-GV, 73,9% dos estudantes ingressaram via Sistema de Seleção Unificada (Sisu), cuja nota é conquistada através do Enem. Além do exame unificado, 47,3% declararam ter utilizado o sistema de cotas, regido pela Lei Federal nº 12.711/2012 (BRASIL, 2012d), que abrange os critérios de renda familiar, origem de ensino básico, dando preferência à escola pública, raça e deficiência física. O número é menor que o geral da UFJF, em que os dois campi já somavam, em 2015, um total de 51% de estudantes cotistas (SANTOS, 2016). No entanto, o autor acredita que é crescente a eficácia na política de cotas, principalmente pelo Sisu, que possibilitou “uma maior mobilidade

acadêmica, contribuiu para o preenchimento das vagas destinadas aos grupos de cotistas, já que não é necessária a presença do candidato para a realização do vestibular” (SANTOS, 2016, p. 54). O caso da UFJF-GV é um exemplo disso, já que a pesquisa diagnosticou que o campus recebe pessoas de mais de 100 cidades brasileiras, sendo o Sisu uma grande oportunidade para que os estudantes possam entrar para a universidade.

Se de um lado há muito o quê se comemorar pelo crescente acesso de pessoas de escolas públicas no ensino superior público, por outro, a questão amplia as obrigações das universidades para com a formação humana dos estudantes, já que tal formação não tem sido possível na educação básica, devido à organização de currículos cada vez mais tecnicistas. Para Silva (2016) a estruturação de currículos mais técnicos ganhou maior dimensão a partir da década de 1970, quanto a legislação da educação brasileira passou a ser direcionada para o desenvolvimento de habilidades e conhecimentos necessários ao setor produtivo. A autora dá como exemplo a obrigatoriedade da formação profissional para os jovens, sendo que “nesse contexto, a pedagogia tecnicista introduziu nas escolas brasileiras um currículo por áreas de estudo, com ênfase no desenvolvimento de habilidades, atitudes e conhecimentos necessários à integração no processo produtivo” (SILVA, 2016, p. 204). Tal limitação está presente tanto na educação pública quanto na privada, sendo resquício de um sistema que não tem como prioridade a formação humana, mas sim técnica, ocasionando “uma inversão no processo pedagógico, de modo que as técnicas determinam os fins” (SILVA, 2016, p. 206).

Nesse cenário, as escolas apresentam estruturas e profissionais limitados no campo cultural e os estudantes têm pouco acesso a estas possibilidades fora da escola. Retomando os dados do Censo Escolar da Educação Básica 2016 (BRASIL, 2017c), que apontou que escolas brasileiras oferecem poucos espaços para o processo de ensino aprendizagem, principalmente no estimulo à formação cultural dos estudantes, a pesquisa proposta na UFJF-GV identificou que 89% dos estudantes tiveram acesso à biblioteca em suas escolas de educação básica, mas esse número cai para menos de 30% quando nos referimos a anfiteatro e 24% em relação às brinquedotecas. Além da estrutura limitada no ambiente escolar, que também dificulta a execução de atividades por parte dos professores, a pesquisa realizada na UFJF-GV diagnosticou que 53% dos estudantes, ou seja, 195 pessoas,

não tiveram acesso a nenhum curso de arte e de cultura na infância, como pode ser observado na Tabela 714:

Tabela 7 - Pergunta 24 - Na infância e adolescência, você fez algum curso de arte e cultura? Se sim, marque aquele que fez por mais tempo

Respostas Públicas Escolas Privadas Escolas Total % do total

Não fiz cursos nessas áreas 130 65 195 53%

Artes cênicas (Dança, teatro ou circo) 28 31 59 16%

Música 43 33 76 20,7%

Outras15 29 9 38 10,3%

Fonte: Pesquisa Perfil sociocultural dos discentes da UFJF-GV, 2018. Tabela elaborada pela autora.

Entre aqueles que dizem não ter feito nenhum curso na infância, 30,7%, 60 estudantes, declaram ter renda familiar de até dois salários mínimos. Destacamos também, nesse quadro, o número de pessoas com renda familiar superior a oito salários mínimos que também nunca participaram de um curso de cultura na infância, um total de 16,4% - 32 pessoas. Esse dado mostra que, além do fator econômico, as experiências na infância, no cenário cultural, dependem também de sensibilização por parte da família. Entre os que fizeram algum curso, 29,1% diz ter feito de forma particular, sendo que apenas 15,5% estiveram envolvidos na atividade por mais de três anos. Entre os que participaram de algum projeto cultural, a maioria é oriunda de escolas particulares e apresenta renda familiar acima de quatro salários mínimos. Em relação à formação dos pais, as mães desses estudantes têm, em sua maioria, curso superior completo e os pais, Ensino Médio completo.

Entre aqueles que tiveram a oportunidade de fazer algum curso relacionado à área cultural na infância, as modalidades mais acessadas são a música e as artes cênicas, que engloba a dança, o teatro e o circo. Esses dados refletem o cenário nacional. Na pesquisa “Públicos de Cultura”, realizada pelo Sesc e pela Fundação Perseu Abramo em 2013, na pergunta “Atividades Culturais que produzem”, as respostas que mais aparecem também estão relacionadas com a música e a dança,

14 Nesta tabela considera-se escolas públicas os estudantes que marcaram as opções

escola pública, instituição militar e instituto federal de educação. São consideradas respostas de escolas particulares aqueles que disseram ter estudado em escolas particulares, metade em escola pública e metade em escola particular e misto.

15 No campo “Outras” estão aparecem as seguintes respostas: Artes plásticas/grafite; Artes

visuais (fotografia, cinema, etc); Artesanato (bordado, crochê, papel machê, etc); Idiomas; Literatura; Desenho.

sendo que “Canta individualmente ou em grupo” e “Toca algum instrumento”, aparecem em 15% e 10% respectivamente das respostas. Já “Dança individualmente ou em grupo” representa 13% das respostas (SESC, 2013). Em relação à frequência a atividades culturais a pesquisa do SESC ressalta também que as artes cênicas, em especial a dança, e a música estão sempre em destaque: 80% do público diz sair ou já ter saído para Dançar em balada/ baile/ forró/ gafieira e 69% já assistiram a um show de música em casa, na rua ou outro local que não sala de espetáculo. Esses números caem muito quando o público é perguntado sobre a apreciação de espetáculos em equipamentos culturais específicos: apenas 11% já foram a uma ópera ou concerto de música clássica em sala de espetáculo e 25% foram a espetáculo de dança ou balé no teatro (SESC, 2013).

Para Iavelberg (2015), a prática diária de atividades no campo cultural, em especial no universo artístico, é o que permite que as pessoas levem para a vida adulta o interesse pela área. Ela ressalta que

para que se aprenda com profundidade na área de arte, para seguir aprendendo por si a vida pós-escolar, os alunos que frequentam as escolas precisam assimilar uma quantidade expressiva de conteúdos para que possam estabelecer relações complexas entre eles. Em outras palavras, arte se aprende, inclusive a fazer, portanto, a escola é o espaço onde se pode promover a postura investigativa do aluno (IAVELBERG, 2015, p. 145).

Iavelberg (2015) sintetiza, então, o que os dados apresentados pela pesquisa do Sesc e o resultado da pesquisa realizada na UFJF-GV comprovam: há grande