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CAPÍTULO II – ADVOCACIA POPULAR: PRÁTICAS SOCIAIS NO CAMINHO POR

2.3 Perfil dos Entrevistados

Nesse tópico buscaremos apresentar o perfil dos nossos entrevistados, essencialmente no que se refere à sua trajetória profissional, perfil etário e de gênero, região de atuação, escolaridade, lócus do desempenho das atividades, movimentos sociais que assessoram e área do direito que predominantemente atuam.

Primeiramente, importa apresentar a trajetória profissional dos advogados entrevistados por meio de uma breve descrição. Vale referir que, com a intenção de preservar a identidade dos entrevistados, utilizamos nomes fictícios.

168 MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio da pesquisa social. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org). Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. 26ª ed. Petrópolis: Vozes, 2007, p. 27.

Quadro 1 - Trajetória Profissional Entrevistados (nomes fictícios) Trajetória Profissional Jairo Gomes

Formado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Mestre em Direito pela Unisinos. Na juventude atuou na Juventude Universitária Cristã (JUC). Iniciou sua atividade profissional em 1965 quando aprovado no concurso público para Procurador do Estado. Em 1979 viveu uma “mudança radical” em sua vida quando foi convidado pelo Ir. Antonio Cechin, para realizar a defesa de uma grande ocupação urbana no município de Canoas/RS. Passou a iniciar a sua atuação com movimentos populares a partir desta experiência. Em 1995 participou da reunião de fundação da Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares (RENAP). Atualmente é aposentado pelo Estado e dirige há 14 anos a ONG ACESSO-Cidadania e Direitos Humanos, atuando basicamente com demandas cíveis ligadas ao acesso à terra urbana e rural. Presta assessoria cotidianamente ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST). Busca inspiração para seu trabalho como advogado popular na Teologia da Libertação.

Nereu Alves Participou ativamente do movimento estudantil durante a graduação. Iniciou sua atividade como advogado popular em 1997 no Estado da Paraíba, ano em que participou do 1º Encontro da RENAP. Depois de graduado passou a trabalhar no escritório da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Atualmente trabalha em um escritório de advocacia que presta assessoria jurídica para a CPT e para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).

começou a participar de atividades promovidas pelo MST. Inicialmente queria cursar a faculdade de história para contribuir nos cursos de formação dos movimentos sociais. Diante da realidade de processos criminais dos militantes do movimento e da carência de advogados para os defenderem, foi motivado pelos pais a ingressar no curso de Direito. Graduou-se na Faculdade de Direito Osasco. Em 1995 participou da reunião de fundação da Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares (RENAP). Atualmente é Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). É conhecido por ser o “1º sem- terra doutor”. Ainda hoje atua como advogado do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).

Lidiane Marques Formada em Direito pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atuou durante o movimento estudantil junto a comunidades pobres em Salvador por meio do Serviço de Assessoria Jurídica Universitária (SAJU). Iniciou sua atividade como advogada no ano 2000. É mestre em Direito Público pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Ingressou na RENAP em 2007. Atualmente trabalha em uma importante ONG prestando assessoria jurídica ao MST, Movimento dos Quilombolas, Associação dos Povos Indígenas e Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).

Daniel Amaral Em 1987, enquanto cursava a Faculdade de Direito atuou junto à Comissão Pastoral da Terra (CPT), espaço no qual iniciou seus contatos com algumas demandas jurídicas. Em 1995 participou da reunião de fundação da Rede Nacional de Advogados e Advogadas Populares (RENAP). Em 2001 recebeu o Prêmio de Direitos Humanos do “Memorial Robert Kennedy”, em Washington. É fundador e coordenador da ONG Terra de Direitos, na cidade de Curitiba/PR.

Armando Perez Iniciou sua atividade como advogado em 2001 por meio da aproximação com um advogado da RENAP, atuante no Estado da Paraíba. Inicialmente atuou com o Sindicato dos Servidores Públicos. A partir de 2002 passou a atuar com demandas ligadas as lutas no campo, ano em que também ingressou na RENAP. Atualmente presta assessoria jurídica para a CPT e o MST.

José Francisco Duarte

A partir dos 14 anos estudou em um internato de padres. Ao final do 2º grau decidiu cursar o Curso de Teologia e Filosofia. Desistiu de ser padre logo na sequencia e em 1996 decidiu cursar o Curso de Direito. Ainda antes de ingressar na faculdade já atuava junto aos movimentos sociais. Em 2001 gradua-se e permanece atuando para os movimentos. Atualmente desempenha suas atividades na Comissão Pastoral da Terra (CPT) atuando essencialmente para o MST, para o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e para os Sindicatos Rurais.

Ana Maria Ingressou na Faculdade de Direito em 1988. Em 1991 ajudou a fundar o Centro de Defesa dos Direitos Humanos de Teófilo Otoni (CDDHTO), onde atuou de forma voluntária no atendimento de vítimas de violação de direitos humanos especialmente contra mulheres, crianças e idosos. Em 1992 ingressou como voluntária na Comissão Pastoral da Terra (CPT) para atuar com demandas ligadas à violência no campo. Em 1993, ainda como estudante, participou pela 1ª vez de algumas reuniões envolvendo advogados populares vinculados a CPT e ao Movimento Nacional de Direitos Humanos (MNDH). Em 1995, já formada, participou como convidada da reunião de fundação da RENAP, ocasião em que conheceu dezenas de advogados populares atuantes em diversas regiões do país. Atualmente atua em seu próprio escritório, prestando assessoria jurídica a CPT, ao MST, ao CDDHTO e aos Sindicatos de Trabalhadores Rurais.

José Carlos Santos Ingressou na Faculdade de Direito da Universidade de Brasília (UnB) no ano 2000. Atuou junto a Pastorais da Igreja Católica. Ainda quando estudante participou de atividades promovidas pela Rede Nacional de Assessoria Jurídica Universitária (RENAJU), ocasião em que conheceu o trabalho da advocacia popular. Em 2004, já graduado, passou a atuar como advogado do MST na região do Pará. No mesmo ano passou a freqüentar as reuniões e os encontros promovidos pela RENAP. Atualmente é professor da Universidade Federal de Goiás, onde leciona direito civil para a Turma Especial do Curso de Direito, destinado a filhos de assentados e beneficiários da Reforma Agrária. Atua também como advogado do MST.

Rafael Macedo Ainda durante a graduação em Direito militou na Rede Nacional de Assessoria Jurídica Universitária (RENAJU), ocasião em que conheceu o trabalho dos advogados populares. Também atuou na Rede Estadual de Assessoria Jurídica Universitária (REAJU). Durante a faculdade estagiou no Escritório de Direitos Humanos e Assessoria Jurídica Popular Frei Tito de Alencar. Graduou-se em 2003 e em 2005 passou a integrar a RENAP. Atualmente trabalha no escritório de advocacia assessorando diversos movimentos, entre eles a Via Campesina e o Movimento Indígena. Trabalha também como Assessor Parlamentar.

Edgar Matoso Graduou-se em Direito pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA). Durante a faculdade foi presidente do Centro Acadêmico da mesma Universidade. Nessa época conheceu um dos advogados do MST no Maranhão e tomou conhecimento do trabalho da advocacia popular. Ao se formar, passou a atuar com Sindicatos e com o MST. Ingressou na RENAP em 1998. Atualmente trabalha em escritório próprio, atuando com causas particulares, mas

também assessorando diversos movimentos como o MST, o Movimento Nacional de Luta pela Moradia e a União Nacional por Moradia Popular.

Quadro 2 – Perfil Etário e de Gênero

Quanto ao perfil etário e de gênero dos 11 (onze) advogados entrevistados nesta pesquisa, 09 (nove) são do sexo masculino e 02 (dois) do sexo feminino. Mais da metade dos entrevistados possuem menos de 36 anos, havendo apenas 1 com mais de 49 anos.

Idade Nº de entrevistados (11) De 25 a 30 anos 1 De 31 a 36 anos 5 De 37 a 42 anos 2 De 43 a 48 anos 2 De 49 a 54 anos 0 Mais de 54 anos 1

Quadro 3 – Ano de ingresso na RENAP

Do total de entrevistados, 07 ingressaram na Rede no período de 1995 a 1998, sendo que deste montante 04 participaram da sua fundação (em 1995), o que significa que estão há pelo menos quinze anos atuando como advogados populares. Vale lembrar que o referido período representou o principal momento de “construção” da entidade”, importante na capilaridade e na articulação dos advogados da RENAP169.

Período de ingresso na RENAP Nº de entrevistados (11)

1995-1998 07

1999-2002 01

2003-2006 02

2007-2010 01

Quadro 4 – Região de Atuação

Dentre os critérios de escolha dos entrevistados esteve o de garantir a representatividade da advocacia popular em sua abrangência nacional. Nesse sentido, os entrevistados encontram-se atuando nas seguintes regiões do país: 02 na região sul; 03 na região sudeste; 01 na região centro-oeste; 04 na região nordeste e 01 na região norte.

Região Nº de entrevistados (11) Sul 02 Sudeste 03 Centro-oeste 01 Nordeste 04 Norte 01 Quadro 5 – Escolaridade

Quanto ao perfil da escolaridade, de acordo com o Quadro 4, dos entrevistados 06 possuem apenas o curso superior completo e 05 possuem algum tipo de pós-graduação (especialização, mestrado ou doutorado).

Escolaridade Nº de entrevistados (11)

Superior completo 06

Pós-Graduação - Especialização 01

Pós-Graduação - Mestrado 03

Pós-Graduação - Doutorado 01

Quadro 6 – Lócus do desempenho das atividades

Quanto ao local onde desempenham suas atividades, 06 entrevistados referiram que atuam em defesa dos movimentos sociais por meio de organizações não-governamentais (Terra de Direitos; Acesso Cidadania e Direitos Humanos; Justiça Global; Dignitatis;

Comissão Pastoral da Terra) e 05 entrevistados alegaram atuar por meios de seus escritórios particulares. As ONGs vem consolidando-se como espaço referencial para a prática da advocacia popular. A atuação dos advogados populares em escritórios de advocacia revelam que eles acabam por dividir sua atuação profissional entre a assessoria a causas particulares e a assessoria a causas populares.

Local de trabalho Nº de entrevistados (11)

Organização não-governamental 06

Escritório de advocacia 05

Quadro 7 – Grupos assessorados

Entre os movimentos sociais e entidades para os quais os advogados entrevistados atuam encontram-se: o Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), Sindicatos, Associações de Moradores; Movimento Nacional de Luta pela Moradia Urbana (MNLM); União Nacional dos Movimentos Populares (UNMP); Movimento das Mulheres Camponesas (MMC); Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB); Movimento Indígena; Movimento dos Quilombolas; Comunidades pesqueiras e o Movimento dos Atingidos pela Base Espacial de Alcântara (MABE). Nota-se que do total de 11 entrevistados, 10 atuam para o MST.

Movimentos Sociais/Entidades/Comunidades assessorados

Nº de advogados que referiram atuar com

movimento/entidade/comunidade

Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra 10

Sindicatos 03

Associação de Moradores 01

Movimento Nacional de Luta pela Moradia Urbana

02

União Nacional dos Movimentos Populares 01

Movimento das Mulheres Camponesas 01

Movimento Indígena 02

Movimento dos Quilombolas 01

Comunidades pesqueiras 01

Movimento dos Atingidos pela Base Espacial de Alcântara

01

Quadro 8 – Área de Atuação

Do total de entrevistados, 07 trabalham predominantemente na área cível e 04 na área penal.

Área Nº de entrevistados

Cível 07

Penal 04

2.4 ADVOCACIA POPULAR: UM OLHAR A PARTIR DAS PERCEPÇÕES E