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O cliente em causa apresentou um perfil intraindividual que evidenciou como áreas fortes a capacidade de adaptação e como áreas menos fortes a autonomia, comunicação e AVDs. A observação direta do cliente e especial atenção pelos seus gostos e interesses, em conjunto com os resultados da avaliação, permitiram traçar um PII com objetivos gerais e específicos dentro dos quatro domínios: Autonomia e Funcionalidade, Motricidade Global e Fina, Estimulação Sensorial, Interação e Comunicação. De seguida serão apresentados alguns exemplos dos objetivos estipulados dentro de cada um dos domínios.

Objetivos PII - Objetivos Gerais e Específicos

Autonomia e Funcionalidade

Dentro do domínio da Autonomia e Funcionalidade importa referir a importância do treino da marcha autónoma dentro e fora da instituição. Além deste aspeto, a avaliação exacerbou também a importância da melhoria da funcionalidade em termos de alimentação e higiene pessoal (tabela 19).

Tabela 19 - Objetivos Gerais e Específicos PII - Domínios Autonomia e Funcionalidade

OBJETIVOS GERAIS OBJETIVOS ESPECÍFICOS

DESENVOLVER A ORIENTAÇÃO NO ESPAÇO, COM RECURSO À BENGALA,

O MAIS AUTONOMAMENTE QUANTO POSSÍVEL;

! O R. deve ser capaz de se movimentar, autonomamente, pelas instalações do CAO, com recurso à bengala;

! O R. deve ser capaz de reconhecer um obstáculo, e ultrapassá-lo, com recurso à bengala;

! O R. deve ser capaz de abrir e fechar uma porta, autonomamente;

DESENVOLVER A CAPACIDADE DE SE ALIMENTAR SOZINHO, O MAIS AUTONOMAMENTE QUANTO POSSÍVEL;

! O R. deve ser capaz de se alimentar com uma colher, de forma autónoma, sem despejar a comida;

! O R. deve ser capaz de beber do copo, sem derramar;

! O R. deve ser capaz de utilizar o guardanapo de forma adequada;

DESENVOLVER A CAPACIDADE DE CUIDAR DA

SUA HIGIENE PESSOAL, O MAIS AUTONOMAMENTE

QUANTO POSSÍVEL;

! O R. deve ser capaz de lavar as mãos com sabão, e limpá-las com a toalha, apenas com a ajuda do auxiliar/técnico na transição de uma tarefa para a outra;

! O R. deve ser capaz de lavar e limpar a cara, apenas com a ajuda do Ajudante de Reab./Técnico na transição de uma tarefa para a outra; Motricidade Global e Fina

O cliente manifesta dificuldades na preensão e manipulação de objetos tendo sido necessário estabelecer objetivos específicos em termos de motricidade fina (tabela 20).

Tabela 20 - Objetivos Gerais e Específicos PII - Domínios Motricidade Global e Fina

OBJETIVOS GERAIS OBJETIVOS ESPECÍFICOS

DESENVOLVER A MOTRICIDADE FINA;

! O R. deve ser capaz de realizar a preensão e manipulação de pequenos objetos, sem apoio;

! O R. deve ser capaz de realizar encaixes simples, sem apoio;

!

O R. deve ser capaz de desenroscar a tampa de uma garrada de água, sem apoio;

A nível motor e postural o R. apresenta uma hiperpronação da coxa e joelho valgo. Este tipo de morfologia dos M.I. foi agravado pela abertura da base de sustentação para manutenção e controlo do equilíbrio, derivada da falta de visão, em associação à hipotonicidade característica da Trissomia 21. Posto isto, tornou-se necessário estabelecer um Plano de Intervenção Motora com exercícios de fortalecimento da musculatura interna e posterior da coxa, mais especificamente: semitendinoso, semimenbranoso, bicípite femoral, adutores, pectíneo, tricípite sural, tibial posterior e quadrado plantar. Aliado a este fortalecimento, foi também importante alongar a musculatura externa e anterior da coxa, perna e pé, tendo-se estabelecido um leque de exercícios de fortalecimento e alongamento, a ser realizados com uma frequência trissemanal (tabela 21).

Tabela 21 - Objetivos Gerais e Específicos PII - Fortalecimento Muscular

OBJETIVOS GERAIS OBJETIVOS ESPECÍFICOS

FORTALECER MÚSCULOS

ADUTORES E POSTERIORES DA COXA;

! O R. deve ser capaz fazer a elevação dos M.I., permanecendo nas pontas dos pés durante pelo menos 8 segundos, com apoio;

! O R. deve ser capaz de sustentar uma bola com peso entre os joelhos, na posição sentada, sem deixá-la cair, durante pelo menos 1 minuto;

! O R. deve ser capaz de sustentar uma bola com peso entre os joelhos, em decúbito dorsal com os M.I. fletidos e os pés apoiados no colchão, sem deixá-la cair, durante pelo menos 1 minuto;

! O R. deve ser capaz de fazer abdução dos M.I. com banda elástica colocada acima do joelho, mantendo a abdução durante pelo menos 10 segundos, na posição sentada;

!

O R. deve ser capaz de fazer flexão da perna, com caneleira com peso (1,5Kg), em decúbito ventral, pelo menos 10 repetições, sem descanso, com ajuda física parcial do Técnico/Ajudante de Reab.;

Estimulação sensorial

As dificuldades sensoriais vividas pelo cliente limitam o estabelecimento de objetivos neste domínio pelo que se torna essencial explorar os restantes sentidos (tato, olfato, paladar) e a capacidade de resolução de problemas (tabela 22).

Tabela 22 - Objetivos Gerais e Específicos PII - Domínio Estimulação Sensorial

OBJETIVOS

GERAIS OBJETIVOS ESPECÍFICOS

DESENVOLVER O SENTIDO OLFATIVO;

! O R. deve ser capaz de sentir os diferentes odores cedidos pelo Técnico/Ajudante de Reab., procurando-os;

DESENVOLVER O

SENTIDO TÁTIL; ! O R. deve ser capaz de manipular os diferentes objetos dados pelo Técnico/Ajudante de Reab.; Interação Social e Comunicação

Neste domínio é importante referir que as limitações sensoriais vividas dificultam a interação social e comunicação do cliente com os seus pares. Sendo assim, os objetivos neste âmbito vão ao encontro de uma relação de confiança e à vontade com o outro (tabela 23).

Cada sessão termina com um alongamento passivo dos músculos antagonistas, bem como alongamento dos músculos do tronco e coluna.

Tabela 23 - Objetivos Gerais e Específicos PII - Domínios Interação Social e Comunicação

OBJETIVOS

GERAIS OBJETIVOS ESPECÍFICOS

DESENVOLVER À VONTADE COM A PRESENÇA DO

OUTRO;

! O R. deve ser capaz de permitir a proximidade e o toque de outra pessoa, sem manifestar reações abruptas;

DESENVOLVER A CONFIANÇA NO

OUTRO;

! O R. deve ser capaz de se deixar guiar por outra pessoa, sem manifestar resistência;

Intervenção

A intervenção foi organizada em sessões individuais bissemanais de Intervenção Psicomotora (IPM) com a duração de 1 hora. Além das sessões individuais, os objetivos e tipos de atividades foram também explorados pela Estagiária, Técnicos Superiores e Ajudantes de Reabilitação nas Atividades Regulares, sendo que, a pedido da Estagiária, o Treino da Marcha Autónoma com bengala/andarilho foi feito diariamente (bengala no interior da instituição e andarilho no exterior devido ao tipo de piso).

As sessões de IPM eram dirigidas pela Estagiária, inicialmente com a supervisão e apoio da Técnica Superior de Atividade Física (Coordenadora), e numa segunda fase já de forma autónoma. Neste tipo de sessões a sequência-tipo encontra-se, normalmente, estruturada da seguinte forma (Anexo H):

- Fase Inicial: Ativação Geral - composta por uma ativação geral através de uma descoberta e exploração guiada onde eram colocados no espaço, ao dispor do cliente, diferentes materiais a serem explorados de forma orientada; especificamente no caso em estudo, numa primeira fase, era fornecido ao cliente um andarilho com rodas para que este pudesse explorar, sempre orientado fisicamente pela Estagiária, o espaço ao seu redor; numa segunda fase, eram fornecidos ao cliente objetos de pequenas/médias dimensões para este explorar, também de uma forma orientada;

- Fase Fundamental: Atividades de acordo com PII - variavam de acordo com os objetivos (tabelas 19 a 23) e de acordo com a evolução do cliente; os objetivos específicos para cada um dos domínios foram trabalhados em tarefas com uma complexificação crescente, e tentando ir sempre de encontro à sua individualidade (e.g.: treino da marcha autónoma com andarilho/bengala, treino do equilíbrio, treino do contorno de obstáculos nas barras paralelas); esta fase era também composta, ocasionalmente, por exercícios localizados de fortalecimento da musculatura interna e posterior da coxa; e

- Fase Final: Retorno à Calma e Alongamento - mobilização passiva de todos os grupos musculares envolvidos, bem como um alongamento dos M.I., M.S. e tronco.

Torna-se indispensável expor que, devido às limitações sensoriais e à constante passividade na exploração do envolvimento vivida pelo cliente, tornou-se claro que este beneficiaria de um apoio individualizado também em algumas das Oficinas de Atividades Regulares (e.g.: Atividade Física), pelo que, sempre que possível, o cliente, mesmo fora do horário de IPM, beneficiava de um apoio constante e exclusivo de encontro aos objetivos estipulados pelo PII. A tabela 24 ilustra alguns exemplos de atividades realizadas no processo interventivo.

O tipo de estratégias utilizadas neste tipo de intervenção passou essencialmente por um reforço tátil constante, tendo em conta as limitações sensoriais vividas pelo

cliente, utilização de tarefas simples de complexidade crescente; atividades significativas para o cliente, que tentem sempre ir de encontro aos seus gostos; instruções simples, precisas e claras; realização das atividades em ambientes calmos e seguros, sem estímulos distráteis; feedback constante e reforço positivo. É importante referir que foram feitas algumas tentativas para envolver os prestadores de cuidados no processo de intervenção, sem sucesso, i.e., todo o trabalho desenvolvido rumo aos objetivos foi feito apenas no tempo útil do cliente no CAO.

Tabela 24 - Exemplos de Atividades Intervenção Estudo de Caso OBJETIVOS

GERAIS OBJETIVOS ESPECÍFICOS EXEMPLO DE ATIVIDADE

DESENVOLVER A AUTONOMIA NA

MARCHA;

O R. deve ser capaz de reconhecer um obstáculo, e ultrapassá-lo, com recurso à bengala;

Dispersos no espaço encontram-se diversos obstáculos de grandes dimensões (mesas, cadeiras). Com o recurso à bengala, o cliente é incitado a percorrer o espaço, ultrapassando os obstáculos. O R. deve ser capaz de se

deslocar no interior da instituição, apenas com recurso à bengala;

Colocar ao longo de todas as paredes, a uma altura que corresponda ao nível dos M.S. do cliente, pistas tácteis (e.g. papel autocolante com relevo), do ponto A ao ponto B. O cliente deve conseguir percorrer a distância entre os dois pontos, apenas com recurso à bengala e às linhas orientadores na parede.

DESENVOLVER A MOTRICIDADE

FINA

O R. deve ser capaz de realizar encaixes simples, sem apoio;

Sobre uma mesa encontra-se um suporte de madeira com 4 peças de encaixe, de diferentes tamanhos. Com apoio físico parcial da Psicomotricista, o cliente é incentivado a colocar cada uma das peças no encaixe correspondente. A diminuição progressiva do apoio físico parcial é uma das estratégias a utilizar.

O R. deve ser capaz de realizar o movimento de preensão e rotação do pulso;

É dado ao cliente um frasco de plástico com tampa de diâmetro aproximadamente correspondente à palma da mão do mesmo. Com ajuda física parcial da Psicomotricista, este é estimulado a fazer o movimento de preensão da tampa e rotação do pulso, abrindo o frasco. A complexificação crescente da tarefa é feita através da diminuição do apoio físico, bem como do tamanho do frasco.