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O perfil do segmento sociedade civil no conselho municipal dos direitos da

CAPÍTULO 2 CONSELHO MUNICIPAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO

2.3 O CONSELHO MUNICIPAL DE DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

2.3.1 O perfil do segmento sociedade civil no conselho municipal dos direitos da

De acordo com o Houaiss; Villar e Franco (2004, p. 563), perfil significa “[...] contorno; delineamento; pequeno escrito em que se salientam os traços característicos de uma pessoa”. Seguindo este raciocínio, este item tem por objetivo deslindar as características do sujeito coletivo COMDICA, sobretudo no que diz respeito ao segmento sociedade civil. Entende-se que a constituição do perfil possibilita localizar as diferenças e especificidades dos sujeitos que materializam este espaço. Para isso, os conselheiros do segmento governamental e não- governamental, foram convidados a preencher um formulário de dados51 com informações sobre a idade, gênero, naturalidade, tempo de residência no município, escolaridade, situação ocupacional e renda individual.

Dos oito conselheiros que compõem o segmento não-governamental, quatro são homens e quatro mulheres, sendo que três são naturais de Guarapuava e cinco vieram de outras cidades, mas todos os cinco de estados do Sul e com residência há mais de três anos no município.

No que diz respeito à idade, todos possuem mais que trinta anos estando distribuídos conforme o gráfico 2:

51

Os conselheiros do segmento governamental e não-governamental foram convidados a preencher o formulário de dados na reunião do COMDICA. Devido às ausências na reunião, estes foram contatados através de ligação telefônica e dois emails. Os emails foram enviados nos dias 12 e 21 de junho de 2011. Registra-se que os oito conselheiros do segmento não-governamental e apenas três do segmento governamental responderam. Sendo que o conselheiro representante da Secretaria Municipal de Esportes e Recreação não foi encontrado nos telefones cadastrados junto ao COMDICA. Ao contatar o segmento “Sindicatos e ou Associações dos Contabilistas”, a informação obtida foi que a conselheira titular nunca foi associada junto ao órgão, tendo a atendente na ocasião informado que sequer tinha conhecimento de quem se tratava. Portanto, as informações constantes para este segmento referem-se ao conselheiro suplente. O formulário de dados utilizado está no apêndice deste trabalho.

GRÁFICO 2 – IDADE DOS CONSELHEIROS DO SEGMENTO SOCIEDADE CIVIL Fonte: Formulário de Dados

Organização: A autora

Com relação aos três conselheiros governamentais, dois têm idade entre 30 e 40 anos e um não respondeu a questão, sendo as três participantes mulheres. Uma das entrevistadas é natural de Palmas/PR e reside no município há trinta e seis anos; as demais não responderam estas questões.

Registra-se que sete são mulheres e quatro homens, o que segundo Souza (2004) não surpreende,

[...] pois é conhecido predomínio feminino quanto à participação nos assuntos públicos relacionados á assistência social e, em especial à criança ao adolescente. [...] De todo modo é significativo que as mulheres tenham conquistado espaço nessa arena decisória, pois o simples fato de atuarem com crianças e adolescentes não garantiria de antemão cadeira cativa para as mulheres nesta instância de poder (SOUZA, 2004, p. 80).

Ao considerar-se a idade dos conselheiros, o autor defende que o quesito experiência tem algum peso na ocupação do conselho.

De acordo com Souza (2004), os estudos sobre cultura política52 e participação apontam os critérios de renda e escolaridade como indicativos

52

“Concebemos cultura política como o conjunto de valores, crenças, atitudes, comportamentos sobre a política, entendida como algo além daquela que se desenrola nos parlamentos, no governo, ou no ato de votar. [...]. A cultura política pública envolve também símbolos, signos, mitos e ícones que expressam e catalisam os sentimentos, as crenças compartilhadas, sobre a ação dos indivíduos, agindo em grupos, em função da política. O conjunto de percepções e de visões de mundo que um grupo constrói no processo de experiência histórica ao atuarem coletivamente, aliado às representações simbólicas que também constroem ou adotam, são a parte mais relevante da cultura política de um grupo porque é a partir destes elementos que o grupo constrói sua identidade. Há mais um elemento importante a destacar na cultura política: as ideologias, que são os valores e crenças que permitem agregar, dar coesão e coerência interna a um dado coletivo” (GOHN, 2008, p. 34).

relevantes a propósito do grupo ao qual cada ator pertence, sobre os recursos à sua disposição e ainda a respeito da instituição estudada. No caso do COMDICA, o gráfico 3 aponta que 50% dos conselheiros não-governamentais possuem rendimentos de dois a quatro salários mínimos. Quanto os conselheiros governamentais, 33% possui renda de dois a quatro salários mínimos, 33% de seis a oito salários mínimos e 33% acima de dez salários mínimos.

Constata-se que os conselheiros municipais têm rendimento superior à realidade do município que, segundo o IBGE (2000), têm 11.104 famílias sobrevivendo com renda mensal per capta de até meio salário mínimo, registrando uma taxa de pobreza de 24,85%, ou seja, 26,7% do total de habitantes. Ainda, segundo os Indicadores de Vulnerabilidade Familiar de 2000, 39,9% das crianças vivem nestas famílias.

A especificação da renda dos conselheiros não-governamentais aparece detalhada no gráfico abaixo:

GRÁFICO 3 - RENDA DOS CONSELHEIROS DO SEGMENTO SOCIEDADE CIVIL Fonte: Formulário de Dados

Organização: A autora

Tratando da atual formação dos conselheiros não-governamentais, conforme o gráfico 4, dos oito entrevistados 50% concluiu uma pós-graduação, 12,5% estão com a pós em andamento e 37,5% estão cursando a graduação. As informações obtidas sobre os conselheiros governamentais demonstram que dois possuem pós- graduação e apenas um não concluiu a graduação. O conjunto de informações sobre o segmento no quesito grau de instrução escolar aponta certa homogeneidade.

GRÁFICO 4 – FORMAÇÃO ATUAL DOS CONSELHEIROS DO SEGMENTO SOCIEDADE CIVIL Fonte: Formulário de Dados

Organização: A autora

Estabelecendo um comparativo com a média de escolarização da população do município, afirma-se que os conselheiros estão acima da média do município e da própria realidade brasileira, uma vez que, para o IPARDES (2011), em Guarapuava a taxa de analfabetismo entre adultos é de 11,7% sendo que 31% têm menos de quatro anos de estudo e 63,4% menos de oito.

E quando se trata da população infanto-juvenil, fica mais evidente a disparidade entre a formação dos conselheiros e a realidade municipal, pois segundo o IBGE (2000), a taxa de analfabetismo para a faixa etária de 7 a 14 anos é de 5.2, já de 10 a 14 anos é de 1.7, seguido de 1.8 para as idades entre 15 a 17. Sendo que 35,1% das crianças e adolescentes de 10 a 14 anos e 10,8% dos meninos e meninas que têm entre 15 e 17 anos possuem menos de 4 anos de estudo.

Para o IPARDES (2011), 94,4% dos pupilos de 7 a 14 anos estão frequentando a escola, e 93,2% pupilos de 10 a 14 anos e 67,6% de 15 a 17 anos. Em 2009, o número de matrículas na educação infantil (creche) compreendeu 2.077 alunos e na pré-escola 1.282 alunos. No ensino fundamental, registrou-se 31.022 meninos e meninas matriculados, e 8.628 matriculados no ensino superior. Guarapuava comporta 30 creches, 30 pré-escolas, 84 unidades de ensino fundamental, 31 de ensino médio, e 4 de ensino superior - sendo uma pública e três privadas -, o que compreende 112 unidades.

Ao serem questionados sobre a atuação profissional, seis conselheiros não- governamentais afirmam desenvolver atividades na área de formação, enquanto que dois não exercem a profissão em que se formaram. Entre os conselheiros governamentais, dois exercem a profissão na qual se formaram.

Portanto, o perfil dos conselheiros em Guarapuava apresenta diferenças marcantes em comparação com as informações gerais dos munícipes e do Brasil de modo geral, destacando-se entre os elementos o grau de escolarização e de certa forma a renda, que apresenta um nível de diferença razoável em comparação com as condições socioeconômicas do município.

Entende-se que a renda e a escolaridade dos conselheiros são elementos que influenciam na qualidade de participação destes sujeitos políticos, considerando que as atividades dos conselhos exigem a capacidade de interpretar legislações, planos, orçamentos, entre outros.

Contudo, para Siqueira (2005), a participação política não é determinada pelo acesso à renda e pelo grau de escolaridade dos sujeitos políticos. Existem outros condicionantes que inferem decisivamente no processo de construção dessa modalidade de participação. A ênfase em canais que suscitem a cultura cívica é fundamental. Para a autora, Gramsci destacou a importância da articulação da cultura, da educação e da política na construção de um projeto hegemônico de sociedade que viabilizasse a transcendência do interesse corporativo ao interesse público.

2.4 A SOCIEDADE CIVIL E O CONTROLE SOCIAL PELO CONSELHO MUNICIPAL