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3.2 DESAFIOS SOCIAIS

3.2.1 Perfil social dos catadores(as) de materiais recicláveis

No estudo elaborado pelo IPEA (2013), a partir dos dados do Censo Demográfico de 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, foi apontado que existe no Brasil 387.910 pessoas que tem na catação de materiais recicláveis sua principal atividade remunerada.

Contudo conforme salienta o referido estudo, tendo em vista que o Censo é uma pesquisa domiciliar declaratória, aqueles indivíduos que não possuem um domicílio fixo geralmente não são contemplados na coleta de dados, logo as informações dessas pessoas não foram coletadas4.

Outro ponto destacado pelo IPEA (2013) é que os dados analisados foram de indivíduos que declararam ter como ocupação principal a atividade de catação de materiais recicláveis. Entretanto os dados relativos àquelas pessoas que desenvolve outras atividades como ocupação principal e exerce a atividade de catador como uma ocupação secundária, não foi captada pelo Censo 2010, e dessa forma ficaram também fora da amostra.

De acordo com as estimativas do MNCR (2014) existe no Brasil cerca de 800 mil trabalhadores (as) atuando como catadores(as) de materiais recicláveis. Deste total o MNCR (2014) aponta que em torno de 70% são mulheres.

Apesar dos dados levantados pelo Censo 2010 não conseguir captar melhor o contingente de pessoas que trabalham como catadores e catadoras de materiais recicláveis, o estudo elaborado pelo IPEA (2013) consegue fazer uma síntese dos

4 Este fato é facilmente constatado ao vermos nos grandes centros urbanos que uma parte significativa da população em situação de rua exerce a catação de materiais recicláveis.

principais indicadores sociais desses atores da cadeia da reciclagem revelando assim o perfil socioeconômico, conforme se observa abaixo.

Quadro 4 – Síntese dos indicadores sociais dos catadores(as) de materiais recicláveis – Censo 2010.

Indicadores Brasil Nordeste Bahia

Total de catadores(as) 387.910 116.528 34.107 Percentual de negros (pretos e pardos) 66,1% 78,5% 84,2% Percentual de catadores(as) residentes em áreas

urbanas 93,3% 88,5% 86,3%

Rendimento médio do trabalho dos catadores(as)

(R$ de 2010) 571,56 459,34 458,55

Taxa de analfabetismo entre os catadores(as) 20,5 34,0 28,6 Percentual de catadores(as) com 25 anos ou mais

com pelo menos ensino fundamental completo 24,6% 20,4% 21,8% Percentual de catadores(as) com 25 anos ou mais

com pelo menos ensino médio completo 11,4% 9,7% 10,8% Percentual de domicílios com pelo menos 1

catador(a) com esgotamento sanitário adequado 49,8% 32,5% 42,1% Percentual de domicílios com pelo menos 1

catador(a) com computador 17,7% 7,0% 8,3%

Fonte: IPEA (2013). Elaboração própria (2014).

Representando 29% da quantidade total de catadores(as) do Nordeste e 9% da quantidade total do Brasil, a Bahia possui um contingente significativo de trabalhadores e trabalhadoras que retiram seu sustento da catação dos materiais recicláveis. Podemos observar também que a cadeia da reciclagem reflete o processo histórico de exploração e marginalização da população negra brasileira. Como era de se esperar, a maioria dos catadores(as) do Brasil (66%) são negros e dentro do estado este número salta para 84%.

Gráfico 1– Percentual de Catadores Negros (pretos e pardos).

Fonte: IPEA (2013). Elaboração própria (2014).

Os dados acerca do percentual de catadores(as) que se encontram residindo em áreas urbanas corrobora com a análise de Damásio (2011) que aponta a ligação existente entre a problemática dos resíduos sólidos e o processo de esvaziamento das zonas rurais e consequente inchamento das cidades. Os dados do Censo 2010 apontaram que no Brasil 93% desses trabalhadores estão no meio urbano. Apesar de seguir a tendência nacional a quantidade de catadores na Bahia que residem no meio urbano é inferior (86%).

Gráfico 2 – Percentual de Catadores Residentes em Áreas Urbanas.

Fonte: IPEA (2013). Elaboração própria (2014).

No que se refere ao rendimento do trabalho, os dados do Censo 2010 indicaram que a média estava em R$ 571,56, valor superior ao salário mínimo da época que era de R$

0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0% 80,0% 90,0% Brasil Nordeste Bahia 66,1% 78,5% 84,2% 82,0% 84,0% 86,0% 88,0% 90,0% 92,0% 94,0% Brasil Nordeste Bahia 93,3% 88,5% 86,3%

510,00 (IPEA, 2013). A região Nordeste ficou muito abaixo da renda média nacional com apenas R$ 459,34, já a Bahia ficou praticamente no mesmo patamar da região com uma média de rendimento por catador de R$ 458,55.

Gráfico 3 – Rendimento Médio do Trabalho dos Catadores.

Fonte: IPEA (2013). Elaboração própria (2014).

Quando observamos os indicadores relativos à educação, vemos que a baixíssima escolaridade destes atores da reciclagem é uma dura realidade. A taxa de analfabetismo chega a quase 25% no Brasil (sendo que a taxa geral nacional apontada pelo Censo 2010 ficou em 9,4%), já na região Nordeste ficou acima dos 30% e na Bahia próximo a 28%.

Gráfico 4 – Taxa de Analfabetismo entre os Catadores.

Fonte: IPEA (2013). Elaboração própria (2014).

R$ 0,00 R$ 100,00 R$ 200,00 R$ 300,00 R$ 400,00 R$ 500,00 R$ 600,00 Brasil Nordeste Bahia R$ 571,56 R$ 459,34 R$ 458,55 0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% 30,0% 35,0% Brasil Nordeste Bahia 20,5% 34,0% 28,6%

No que diz respeito à escolaridade apenas pouco mais de 24% dos catadores(as) no Brasil acima de 25 anos possuem ensino fundamental completo, dentro da Bahia o cenário é ainda pior, menos de 22% o possuem. Cabe ressaltar que a média geral nacional foi de 50%, de pessoas que possuem o ensino fundamental completo.

Gráfico 5 – Percentual de Catadores com 25 Anos ou Mais com ao Menos o Ensino Fundamental Completo.

Fonte: IPEA (2013). Elaboração própria (2014).

Ao observar a mesma faixa etária anterior, o cenário é ainda pior, daqueles que possuem o ensino médio completo, a média geral nacional ficou em aproximadamente 36%, já o percentual entre os catadores cai para 11% no Brasil e um pouco menor (10,8%) na Bahia.

Gráfico 6 – Percentual de Catadores com 25 Anos ou Mais com ao Menos o Ensino Médio Completo.

Fonte: IPEA (2013). Elaboração própria (2014).

0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0% Brasil Nordeste Bahia 24,6% 20,4% 21,8% 8,5% 9,0% 9,5% 10,0% 10,5% 11,0% 11,5% Brasil Nordeste Bahia 11,4% 9,7% 10,8%

Do ponto de vista do acesso a serviços públicos, no Brasil menos de 50% dos domicílios que possuem ao menos 1 catador têm esgotamento sanitário adequado, já na Bahia apenas 42% possuem.

Gráfico 7 – Percentual de Domicílios com ao Menos 1 Catador com Esgotamento Sanitário Adequado.

Fonte: IPEA (2013). Elaboração própria (2014).

A inclusão digital, em geral, no Brasil não chega a 17% o percentual das mesmas residências com ao menos um catador que têm um computador em casa, na Bahia esta quantidade fica próximo a 8%.

Gráfico 8 – Percentual de Domicílios com ao Menos 1 Catador com Computador.

Fonte: IPEA (2013). Elaboração própria (2014).

0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% Brasil Nordeste Bahia 49,8% 32,5% 42,1% 0,0% 2,0% 4,0% 6,0% 8,0% 10,0% 12,0% 14,0% 16,0% 18,0% Brasil Nordeste Bahia 17,7% 7,0% 8,3%

Com base nestes indicadores levantados pelo IPEA (2013) podemos afirmar que o perfil social dos catadores e catadoras de materiais recicláveis é de indivíduos que: são majoritariamente negros; residem em áreas urbanas; possuem rendimento médio do trabalho próximo ao salário mínimo para a média nacional (sendo que no nordeste e na Bahia fica abaixo); possuem mais que o dobro da quantidade média geral nacional de analfabetos; tem indicadores de escolaridade muito inferiores a média geral nacional; possuem dificuldades sanitárias básicas; e tem baixíssima inclusão digital. Podemos acrescentar ainda conforme análise do MNCR (2014) que, quando nos referimos a gênero, a maioria destes trabalhadores são mulheres.