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5 OS PARTICIPANTES, SEU VÍNCULO PROFISSIONAL E SUAS PRÁTICAS

5.1 PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO

O perfil sociodemográfico dos participantes é composto por informações referentes a seu gênero, idade, naturalidade, estado civil, número de filhos, natureza pública ou privada da instituição onde se graduaram, tempo transcorrido desde a graduação e formação acadêmica complementar realizada. O Quadro 1 a seguir apresenta os 14 participantes por meio de seus nomes fictícios, escolhidos por eles antes da entrevista, e mostra seu perfil.

Quadro 1 – Dados sociodemográficos.

Participante Gênero Idade Naturalidade Estado Civil filhos N. de Natureza instit. Tempo form. (anos)

Formação Complementar

Amanda F 26 Blumenau Casada s/filhos privada 3

Pós-graduação em Administração Empresarial

Cursando pós-graduação em Dinâmica dos Grupos

Árvore F 28 Blumenau Solteira s/filhos privada 7 Pós-graduação em Gestão de Pessoas

Beatriz F 34 Porto Alegre Casada 1 filha privada 12

Pós-graduação em PO&T Formação em Terapia Cognitivo- Comportamental

Formação em Coaching

Betina F 32 Blumenau Casada s/filhos privada 9

MBA Executivo em RH

Cursando pós-graduação em Dinâmica dos Grupos e em Coaching

Cd F 43 Blumenau Casada 2 filhos privada 20 Pós-graduação em Psicodrama Cursos técnicos em instrumentos de medidas psicológicas

Coruja F 49 São B. do Campo Casada 2 filhos privada 33 Pós-graduação PO&T MBA em Gestão de Pessoas Estratégica

Fabiele F 23 Blumenau Casada 1 filho privada 0,5 Sem formação complementar

Helena F 34 Blumenau Solteira s/filhos privada 7 MBA em Gestão Estratégica de RH Pós-graduação em Dinâmica dos Grupos Ivone F 54 Blumenau Casada 2 filhos privada 20 Especialização em PO&T Mestrado em Administração

Julia F 31 Blumenau Casada grávida privada 9 Formação em Avaliação Psicológica MBA em RH

Liberdade F 27 Blumenau Solteira s/filhos privada 5

Formação em Coaching

Cursando pós-graduação em Gestão de Pessoas

Livro M 61 Tupanciretã Casado 3 filhos privada 38 Pós-graduação em Gestão de Pessoas no EUA

Maria F 48 Beltrão/PR Francisco Casada 1 filha pública 16

Especialização em T&D

Mestrado em Psicologia Aplicada a Negócios pela Universidade de Londres Pós-graduação em Dinâmica dos Grupos Formação em desenvolvimento de dirigentes

Priscila F 25 Blumenau Solteira s/filhos privada 4 Formação em Terapia Cognitivo-comportamental

Em relação ao gênero, encontrou-se predominância do sexo feminino, com 93%. O significativo contingente de mulheres com formação e atuação no campo da Psicologia tem se apresentado como uma característica da profissão no país, desde a primeira pesquisa sobre a atuação desse profissional (MELLO, 1972). Estudos mais recentes confirmam essa tendência, como o de Bastos, Gondim e Rodrigues (2010), que encontraram 83,3%, e o de Lhullier (2013), sobre o perfil da psicóloga brasileira, que identificou 89% de psicólogas.

As idades dos participantes mostraram-se diversificadas, variando entre 23 e 61 anos, com média de 34 anos. A Tabela 1 abaixo apresenta as faixas etárias e seus percentuais:

Tabela 1 – Faixa etária.

Idade N.º de Participantes Percentual De 23 a 30 anos 5 36% De 31 a 40 anos 4 29% De 41 a 50 anos 3 21% Mais de 51 anos 2 14%

Houve predominância da faixa etária até 30 anos (36%), seguida pela faixa de 31 a 40 anos (29%). Somadas, essas duas faixas abrangeram nove participantes, ou 65%, o que caracteriza o grupo como formado em sua maioria por adultos jovens. Esse dado se assemelha à faixa etária entre 27 e 37 anos, encontrada por Schossler (2006) em pesquisa sobre práticas de trabalho de psicólogos organizacionais em seleção de pessoal na cidade de Porto Alegre, e também à média de idade de 36,7 anos encontrada por Bastos, Gondim e Rodrigues (2010).

Observando o conjunto de percentuais, percebe-se sua diminuição à medida que a idade avança: o menor índice (14%) é o de faixa etária acima de 51 anos, indicando ser pouco expressivo o número de indivíduos de maior faixa etária que atua como psicólogo OT vinculado a uma organização. A pesquisa de Lhullier (2013) também confirmou esses dados, ao encontrar porcentagem de psicólogas com idades até 29 anos, mais que o dobro daquelas que possuíam mais de 60 anos. Todas essas informações sugerem que a profissão é exercida de forma predominante por mulheres adultas jovens, aspecto já identificado por Bastos e Gomide (2010).

Quanto à naturalidade, a grande maioria dos entrevistados (10) nasceu no município de Blumenau, enquanto quatro nasceram em

cidades localizadas em outros estados. Esse dado sugere que a região apresenta boas oportunidades de trabalho/emprego, não sendo necessária a migração para outras áreas de Santa Catarina ou mesmo do país, em busca de oportunidades de trabalho no campo da Psicologia.

A respeito do estado civil, 10 participantes são casados e quatro são solteiros. Oito deles possuem filho, e a maioria apenas um. Tal dado é consoante com as características do crescimento populacional no Brasil nos últimos anos, o qual tem apresentado queda na taxa de natalidade, decrescendo da média de 2,3 filhos por mulher em 2000 para 1,86 em 2010 (IBGE, 2010).

Apena um dos participantes (Maria) não cursou a graduação em Psicologia em instituição de ensino superior privada. Esse dado está em sintonia com o fato de a maioria dos participantes ter cursado graduação em Blumenau ou cidades próximas, como Itajaí, nas quais não há um curso superior em Psicologia em instituição pública, aliás, o único curso dessa natureza no estado é oferecido pela UFSC, em Florianópolis. Maria é natural do Paraná e cursou a Federal de seu estado, vindo a se mudar para Santa Catarina nos últimos anos. A predominância entre os participantes de graduações realizadas em instituições particulares está relacionada com a expansão do ensino superior privado, incentivada pelo governo federal, a partir da década de 1960, quando ocorreu uma proliferação de cursos de Psicologia no país (CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 1988; BASTOS; GOMIDE, 2010; COSTA, 2008; TONIAL, 2014). A confirmação da predominância da rede privada de ensino na formação do psicólogo brasileiro é também referida por Yamamoto et al. (2010), os quais citam o índice de 80% dos profissionais formados nos últimos anos como egressos de instituições privadas.

Constatou-se que uma das participantes (Ivone) possuía também outras duas graduações (Tecnologia em Gestão e Administração), ambas cursadas na modalidade à distância e após a obtenção do título de psicólogo. O interesse por cursos vinculados à área administrativa pode indicar a necessidade, por parte do psicólogo OT, de buscar conhecimentos em outras áreas, conforme indicado por Bastos (2010) e por Zanelli e Bastos (2004).

Em relação ao tempo transcorrido desde a obtenção da graduação em Psicologia, encontrou-se variação desde seis meses até 38 anos, com média aproximada de 13 anos, um dado próximo àquele encontrado na pesquisa de Pires (2009), cujo tempo médio de formado entre os psicólogos OT foi de 11 anos. Como um dos critérios para a inclusão de sujeitos no estudo era a diversificação de tempo de formação, que

favoreceria a vivência profissional em várias atividades da POT, essa variabilidade mostrou-se satisfatória.

Verificou-se, no entanto, que a maioria dos participantes, oito, contava com menos de 10 anos de formado; outros quatro contavam com até 20 anos transcorridos desde a formatura e apenas dois haviam se formado há mais de 30 anos. Essa informação pode ser relacionada à faixa etária predominante: uma vez que a maioria é de adultos jovens, conforme se mostrou acima, é coerente que o tempo transcorrido desde a formação seja compatível com a idade que apresentam.

No que se refere à formação acadêmica complementar à graduação, evidenciou-se que, à exceção de Fabiele, cujo curso de Psicologia era recém-concluído, os demais profissionais cursaram algum tipo de pós-graduação. A recorrência de formações complementares entre os psicólogos foi considerada por Langenbach e Negreiros como uma “postura de aperfeiçoamento, revisão e atualização de conhecimentos” (1988, p. 96), assentada, sobretudo, na busca por tornar- se um profissional clínico liberal. O aprimoramento, segundo essas autoras, é apontado pela classe como indispensável à constituição do sujeito psicólogo, especialmente no âmbito clínico, o que torna o curso de especialização uma necessidade para o exercício profissional. A busca por aperfeiçoamento parece de fato ser significativa para o desempenho de uma profissão marcada pelo movimento de “metamorfose”, entendida como o conjunto de transformações vivenciadas ao longo do percurso profissional visando a construir-se, desconstruir-se e reconstruir-se para exercer seu oficio (KRAWULSKI, 2004).

Pesquisa sobre a formação do psicólogo brasileiro identificou índice de psicólogos com formação complementar de 60%, independentemente do tempo de titulação, da modalidade do curso escolhido ou da área de atuação dos profissionais (YAMAMOTO et al., 2010). Esses autores afirmam que a complementação dos estudos caracteriza-se como uma formação paralela à graduação, abrangente e complexa, sendo o psicólogo um profissional que investe significativamente na continuação dos estudos. Resultado menor foi encontrado por Pires (2009): em pesquisa realizada nas cidades de Itajaí e Navegantes (SC), verificou que 50% dos psicólogos atuantes nas organizações de trabalho possuíam apenas o curso de graduação, o que foi interpretado como acomodação e reprodução de práticas.

A Tabela 2, abaixo, expressa em percentuais a quantidade de cursos complementares à graduação realizados pelos profissionais

entrevistados, evidenciando que a grande maioria cursou duas ou mais pós-graduações.

Tabela 2 – Quantitativo de pós-graduações realizadas.

Quantidade de pós-

graduação34 participantes N.º de Percentual

Nenhuma pós-graduação 1 7%

1 pós-graduação 3 21%

2 pós-graduações 7 50%

3 ou mais pós-graduações 3 21%

A preocupação com o aprimoramento dos conhecimentos necessários para a atuação profissional do psicólogo OT fica evidente diante desses números. No entanto, embora a formação continuada possa ser considerada uma característica da profissão, pode-se questionar se a busca reiterada por formação complementar também não indicaria certa precariedade de conceitos e competências que deveriam ter sido construídas durante a graduação. Conforme será abordado adiante, a frustração com a formação acadêmica foi tema recorrente no conteúdo de algumas entrevistas, como no caso de Julia, a qual apontou que a compreensão e o domínio de suas atividades como psicóloga OT foram adquiridos mediante contato com profissionais da Administração e em cursos de pós-graduação da mesma área, e não por meio da graduação em Psicologia.

Alusões a deficiências da formação acadêmica que redundam em despreparo para o exercício profissional são comumente encontradas em trabalhos da área (MELLO, 1972; BASTOS; GOMIDE, 2010, ZANELLI, 1992; PIMENTEL, 2007; KRAWULSKI, 2004; GONDIM, SOUZA, PEIXOTO, 2013; MARCONDES, 2014). O campo da POT, em especial, possui interface com outras áreas, como a Administração, a Sociologia do trabalho, a Ergonomia, a Antropologia das Organizações, a Engenharia, o Direito, a Medicina, a Política e a Economia (SAMPAIO, 2013, GOULART, 2013). Por essa razão, e também pelo fato de que muitas vezes a carga horária das disciplinas do curso de Psicologia é distribuída de forma desproporcional entre as diferentes áreas no currículo dos cursos, com poucas cadeiras atribuídas à POT (MORELLO-FILHO, 2004; BOTELHO, 2003), considerou-se relevante identificar as formações complementares realizadas. Conforme mostra a

Tabela 3 a seguir, predominou a pós-graduação ou MBA em Recursos Humanos (RH) ou em Gestão de Pessoas (GP), com 50% dos participantes.

Tabela 3 – Campos de formação complementar.

Formação Complementar N.º de

participantes Percentual

Pós-graduação/MBA em RH/GP 6 43%

Formação em Dinâmica dos

Grupos 4 28% Formação em Coaching 3 21% Pós-graduação em PO&T 3 21% Formação em Abordagem Teórica da Psicologia 3 21% Formação em Avaliação Psicológica 2 14% Mestrado 2 14% Pós-graduação em Administração 1 7% Pós-graduação em T&D 1 7%

Os dados indicam que, embora o leque de cursos buscados a título de formação complementar seja diversificado, há prevalência daqueles do âmbito de Recursos Humanos e/ou Gestão de Pessoas, provavelmente em função da área na qual as pessoas atuam nas organizações onde estão inseridas. Chama a atenção a formação em dinâmica dos grupos, pois se sabe que historicamente a intervenção do psicólogo, independentemente do campo de atuação, dirigiu-se para o indivíduo, suas características de personalidade e o comportamento apresentado (MELLO, 1972; BASTOS, 1988; DIMENSTEIN, 2000). Assim, pressupõe-se que uma formação nessa área capacite o profissional para ampliar seu foco de análise, buscando intervir também na coletividade (BASTOS, 2010).

A formação em Coaching também apresentou índice significativo, com 21% dos participantes do estudo. O Coaching traduz- se em um tipo específico de programa de ações de treinamento, desenvolvimento e aprendizagem, que utiliza técnicas e métodos, geralmente oriundos da teoria cognitivo-comportamental. Ele pode ser aplicado com diferentes enfoques, seja o desenvolvimento de aspectos da vida pessoal do sujeito ou mesmo o aprimoramento do conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes para o desempenho do papel

profissional nas organizações de trabalho (DINSMORE; SOARES, 2007; SOUZA, 2011).

A avaliação psicológica, campo tradicional de estudo e de intervenção da Psicologia, o qual marcou o início da atuação profissional do psicólogo OT (MOTA, 2004) também foi referida como formação complementar realizada. Os saberes desse campo muitas vezes se operacionalizam no trabalho dos profissionais nas organizações, por meio da aplicação de testes psicológicos, uma demanda clássica, conforme se discutirá adiante, ao serem abordadas as práticas de trabalho.

Duas psicólogas (Ivone e Maria) incorporaram a seu currículo a pós-graduação stricto sensu, realizando mestrado. Yamamoto et al. (2010) referem que a especialização é a principal modalidade de pós- graduação frequentada pelos psicólogos, e apenas 18,4% deles cursam o mestrado e 5%, o doutorado. Os autores também ressaltam que a pós- graduação stricto sensu é buscada por aqueles psicólogos com maior tempo de titulação de graduação, o que é exatamente o caso de Ivone e Maria: a primeira possui 20 anos de formada e a segunda, 16 anos.

Os percentuais encontrados, 93% com formação complementar à graduação, 71% com pós-graduação relacionada à POT e 14% com pós- graduação stricto sensu, indicam que o psicólogo OT está interessado em desenvolver novos conhecimentos, mantendo contato com as instituições de ensino e de formação e buscando seu contínuo aperfeiçoamento profissional. Acredita-se que a iniciativa de buscar essa formação também revele a necessidade de estar em contato com outros profissionais, o que favorece as trocas e realimenta as práticas cotidianas de trabalho.

Em suma, o perfil sociodemográfico encontrado revela as seguintes características: é uma mulher, adulta jovem, geralmente nascida em Blumenau, casada, com filhos e graduada em Psicologia por uma instituição privada de ensino. Possui tempo médio de 13 anos de formada e cursou, além da graduação, duas pós-graduações, em áreas relacionadas à POT.

5.2 VÍNCULO PROFISSIONAL E CONTEXTOS DE TRABALHO