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PERFIL SOCIOECONÔMICO E AMBIENTAL BACIA DO RIO TAMBAY-

Para determinação do perfil socioeconômico da população foram aplicados questionários nos bairros integrantes da bacia, configurando um total de 394 questionários, pois no decorrer do trabalho foi constatado que um dos bairros (Centro) integrantes da bacia não tinha toda a sua população nesta, a maior parte do bairro se localizava em outra bacia, motivando então a aplicação dos questionários apenas nas ruas inseridas na bacia do Rio Tambay.

O número de perguntas no questionário eram vinte e oito (28), englobando aspectos, sociais e culturais, algumas não foram discutidas devido a sua irrelevância na temática (ver apêndice). Os questionários perfazem 5% do total de domicílios, apresentando os seguintes números por bairro (Tabela 2).

TABELA 2 - QUESTIONÁRIOS APLICADOS

Bairros Domicílios Número de Questionários Previstos questionários aplicados Número de

Alto da Boa Vista 2080 125 143

Brasília 942 80 81

Centro 3373 315 27

Jardim São Severino 544 80 73

Tambay 788 80 70

Fonte: Dados da Pesquisa, 2009.

Ao observar a bacia in loco, foi sendo alterado o número de questionários previstos para alguns bairros, modificando tanto para mais quanto para menos de acordo com a realidade observada e a proximidade do corpo hídrico. A distribuição dos questionários por bairros foi realizada na seguinte proporção: 36% foram aplicados no Bairro Alto da Boa Vista, 21% no bairro Brasília, 18% no bairro Tambay, 18% no Jardim São Severino e 7% no Centro (Figura 34).

FIGURA 34 - Distribuição dos Questionários por Bairro. Fonte: Dados da Pesquisa, 2009.

O bairro Alto da Boa Vista foi o que mais teve questionários aplicados, devido a sua população (número de habitantes) e a realidade observada lá. Lixo e esgoto são encontrados em várias ruas do bairro. Apesar de haver coleta de lixo durante três dias por semana como relatam os moradores, alguns insistem em lançar o seu lixo em terrenos vazios, nas ruas e principalmente em um ponto de erosão bem próximo a nascente do rio Tambay, conhecido pelos moradores como “buracão”. Neste ponto há o lançamento constante de esgoto e o lixo já faz parte da paisagem. É comum encontrar vetores nocivos ao homem.

No bairro Jardim São Severino foi constatado a existência de um aglomerado subnormal as margens do rio Tambay, que serve de depósito de lixo e esgoto para os moradores desse aglomerado. Neste ponto do rio é onde ocorrem as cheias que inundam as casas próximas, pois aí é onde o rio sofre influência do rio Paraíba.

Segundo o IBGE (2002), no Brasil em se tratando de organização do núcleo familiar, nas famílias em que o homem é a pessoa de referência, os tipos de família mais freqüentes são "casal com filhos" (70,9%) e "casal sem filhos" (18,2%). Nas famílias em que a mulher é a referência, predominam as sem cônjuge e com filhos (65,1%), seguidas do tipo unipessoal (17,1%). As famílias residentes na bacia são famílias grandes, apresentando um percentual elevado às famílias compostas por mais de cinco pessoas. Pelo que foi observado nas entrevistas, boa parte das famílias possuem mãe, pai e filhos, se enquadrando no modelo dito “tradicional de família” (Figura 35).

FIGURA 35 - Número de pessoas por família. Fonte: Dados da Pesquisa, 2009.

Com relação à escolaridade, a pergunta se dividia em duas, na escolaridade do entrevistado e na escolaridade dos membros da família. Em algumas ocasiões os entrevistados eram diaristas e empregadas domésticas, que por vezes não sabiam informar a escolaridade de seus empregadores (Figura 36).

FIGURA 36 - Escolaridade do entrevistado. Fonte: Dados da Pesquisa, 2009.

Quando perguntados sobre a escolaridade da família muitos não sabiam informar ao certo. Observa-se na Figura 37 um número elevado de pessoas com o fundamental incompleto

(25%), porém tal fato se justifica, pois as crianças em idade escolar foram incluídas neste número.

FIGURA 37 - Escolaridade dos membros da família. Fonte: Dados da Pesquisa, 2009.

O tempo de residência na comunidade também é importante para determinar a relação existente entre a população e o rio. Pois muitos falam com nostalgia do tempo em que lavavam roupas, pescava e as crianças tomavam banho no rio. A maioria dos moradores mora dos bairros pertencentes à bacia há mais de 15 anos (Figura 38):

FIGURA 38 - Tempo de residência na comunidade. Fonte: Dados da Pesquisa, 2009.

A maior parte das famílias está enquadrada na faixa de renda entre 1 e 3 salários mínimos. De acordo com o IBGE (2008) as famílias com rendimentos com mais de R$1.100,00 (mil e cem reais) são considerados da Classe B e com rendimentos entre 1 salário mínimo (R$ 510,00) e R$ 1.000,00 (mil reais) estão enquadradas na Classe C. Estas são as duas principais classes encontradas na população da bacia (Figura 39).

FIGURA 39 - Renda Média Familiar. Fonte: Dados da Pesquisa, 2009.

É importante destacar que segundo o IBGE (2002) independentemente do sexo da pessoa de referência na família, os núcleos familiares com filhos têm as mais baixas médias de rendimento familiar per capita. As do tipo "casal com filhos" (citados anteriormente), chefiadas por homens, têm rendimento médio de R$295,80, e as chefiadas por mulheres "sem cônjuge com filhos” (citados anteriormente), R$263,90.

Para verificar a salubridade ambiental da bacia, foram perguntadas nos questionários as doenças mais comuns verificadas nos membros da família, já que se tem conhecimento de inúmeras doenças com origem em ambientes com baixa salubridade ambiental.

Também foi questionado o que na opinião dos moradores poderia estar causando essas doenças, o que para eles causaria danos a saúde dos membros de sua família. Segundo os moradores as patologias mais freqüentes em seus domicílios bem como as suas respectivas causas estão mostradas nas Figuras 40 e 41.

FIGURA 40 - Doenças presentes da comunidade por domicílio. Fonte: Dados da Pesquisa, 2009.

FIGURA 41 - Possíveis causas segundo os moradores das doenças em seus domicilio. Fonte: Dados da Pesquisa, 2009.

Com relação aos serviços públicos de coleta de lixo e esgoto se tem um quadro deficitário no que diz respeito à coleta e tratamento das águas servidas, pois não há redes coletoras de esgoto em nenhum dos bairros, apenas em seis domicílios entrevistados é que os moradores responderam haver rede coletora de esgoto, porém na constatação foi verificado que era a uma galeria de água pluvial e que os moradores a utilizavam clandestinamente para lançar suas águas servidas, sem qualquer cuidado com o meio ambiente, apenas procurando um modo para se livrar do problema. Lobo (2003) afirma que essa percepção cultural gera um

comportamento de quase indiferença em relação ao esgoto, não tendo clareza do impacto ambiental que está causando, ou mesmo da possibilidade de solução. Através da Figura 43 pode-se observar os destinos dos esgotos.

FIGURA 42 - Domicílios atendidos por rede de esgoto. Fonte: Dados da Pesquisa, 2009.

FIGURA 43: - Destino do esgoto dos domicílios sem coleta de esgoto. Fonte: Dados da Pesquisa, 2009.

Já com relação à coleta de lixo, o cenário não condiz com as informações dadas pelos entrevistados, pois a maioria afirmou que a coleta de lixo é realizada regularmente três vezes por semana, porém foi observada na bacia a disposição inadequada de lixo, resíduos de construção e demolição (RCD) e poda por toda parte (Figura 44).

FIGURA 44 - População atendida por coleta de lixo. Fonte: Dados da Pesquisa, 2009.

Já o percentual de 4% da população que afirmou não ser atendida por coleta de lixo, destina os resíduos de suas atividades diárias para terreno baldio (19%), rio Tambay (26%) (Figura 45).

FIGURA 45 - Destino do lixo da população não atendida por coleta de lixo. Fonte: Dados da Pesquisa, 2009.

A destinação inadequada do lixo reflete falta de consciência ambiental da população bem como uma falha nas práticas sanitárias aplicadas na comunidade, gerando problemas que

vão além do aparecimento de vetores responsáveis pela transmissão de doenças, esta prática faz também com que a permanência no ambiente seja desagradável (Figuras 46 e 47).

FIGURA 46 - Disposição inadequada de resíduos de construção civil. Foto: Déborah Melo Alves, 2009.

FIGURA 47 - Disposição inadequada de resíduos de polda as margens do rio Tambay. Foto: Flaviana Lima, 2010.

As questões ambientais por vezes são colocadas de lado tanto pelas autoridades que consideram ações que não geram votos, ou as chamadas obras invisíveis, quanto pela população que não tem o entendimento de que faz parte do ambiente e que deve cuidar dele. Algumas perguntas fazem menção a essa situação de conhecimento e consciência ambiental.

Muitos entrevistados não atribuíam nenhuma função ao rio, nem mesmo a de receber esgotos, diziam que o rio não serve de nada. Uma moradora em sua “ignorância ambiental” perguntou se não seria possível aterrar o rio e construir uma laje para construção de casas, mostrando a total falta de consciência ambiental, refletidos nos modos de vida dessa população. As funções ou ausência de funções dadas ao rio são diversão (10%), alimento (3%), (Figura 48).

FIGURA 48 - Atribuições dadas ao rio Tambay pela população residente circunvizinha. Fonte: Dados da Pesquisa, 2009.

Outra questão que revela que boa parte da população tem certo medo de responder as questões sobre Meio Ambiente, era a que perguntava se o entrevistado tinha conhecimento de despejo de esgoto no rio. O percentual de 58% da população afirmou que conhecia esta forma de disposição das águas residuárias e 42% informaram que não sabiam (Figura 49).

FIGURA 49 - Você conhecimento do despejo de esgoto no Rio Tambay? Fonte: Dados da Pesquisa, 2009.

Esta pergunta mostra-se antagônica, pois muitas pessoas no meio da entrevista afirmavam que o rio era sujo e recebia esgoto, porém quando se perguntava diretamente sobre o conhecimento destes despejos os entrevistados diziam não saber.

Com relação ao uso da água no domicílio, a maioria não usa, pois as residências possuem água encanada. Apenas 8% da população a utiliza para algum fim em seu domicílio (Figura 50).

FIGURA 50 - Utilização da água em seu domicílio. Fonte: Dados da Pesquisa, 2009.

Ao longo da bacia há cultivos agrícolas de hortaliças e algumas raízes como macaxeira e inhame. Estes cultivos são irrigados com a água do Rio Tambay, e muitos moradores compram os produtos dos agricultores. Porém, quando os entrevistados foram indagados sobre se consumiam produtos cultivados com a água do rio a maioria respondeu que não, fato que não se prova, pois não há como ter certeza de onde vêm os produtos que eles compram na feira livre do mercado público.

Através de conversas informais com os produtores foi constatado que a produção sai dessas hortas para o mercado público de Bayeux localizado no bairro da Imaculada Conceição. As terras utilizadas pelos agricultores são arrendadas.

Observando a Figura 51 verifica-se que 85% dos agricultores não são proprietários das terras que cultivam.

FIGURA 51 - Consumo de produtos cultivados com a água do rio. Fonte: Dados da Pesquisa, 2009.

Algumas perguntas foram elaboradas para instigar os entrevistados a darem a sua opinião sobre a forma como tratam o rio e como acham que as autoridades também o tratam. Tais perguntas refletem a relação entre o poder público, a população e o meio ambiente, mostrando qual a visão dos populares sobre as formas de tratamento do ser humano com a natureza. Quando perguntados sobre a forma como o poder público vem tratando o rio, a grande maioria (97%) respondeu que vem tratando mal (Figura 52). Quando perguntados sobre a maneira como o rio vem sendo tratado pela população, a maioria (96%) dos entrevistados respondeu a população o trata mal (Figura 53).

FIGURA 52 - Tratamento do poder público em relação ao Rio Tambay. Fonte: Dados da Pesquisa, 2009.

FIGURA 53 - Tratamento da população em relação ao Rio Tambay. Fonte: Dados da Pesquisa, 2009.

Quando perguntadas sobre a situação do rio as pessoas sempre respondiam que estava sujo, então quando se perguntou sobre se eles achavam que deveria ser feito uma limpeza no rio, 75% afirmaram que sim, 21% responderam que não e 4% preferiram não emitir opinião dobre o assunto (Figura 54).

FIGURA 54 - Opinião sobre se deve ou não se fazer uma limpeza no rio Tambay. Fonte: Dados da Pesquisa, 2009.

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