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CAPÍTULO 3. TEMPOS E ESPAÇOS DA CONSTRUÇÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS EDUCANDOS DO LECAMPO

3.1 Perfil dos Sujeitos

Os sujeitos dessa pesquisa estão vinculados ao curso de Licenciatura em Educação do Campo na habilitação em Língua, Artes e Literatura com ingresso no ano de 2010. Esta turma iniciou-se com trinta e cinco alunos. Atualmente, a turma conta com vinte e dois educandos. Segundo Antunes-Rocha (2010), em sua análise sobre o percurso formativo da Turma 2008:

112 Questões de gênero, sobrevivência, familiares, saúde, ente outras, foram pressionando e alguns não conseguiram dar continuidade ao curso. Algo como uma reprodução de tudo o que já sabemos sobre as dificuldades das populações do campo de frequentarem uma escola com assiduidade. A duração do tempo escola, geralmente cerca de trinta dias longe do trabalho e da família, criou dificuldades para os mesmos. (ANTUNES-ROCHA, 2011, p.53).

Nessa pesquisa, apesar de citar, não aprofundamos as discussões sobre esse assunto por considerar que ele não tinha efeito direto sobre o tema de estudo em questão.

Participaram das entrevistas 22 educandos. Desse total, há predominância do gênero feminino, sendo 19 mulheres e 03 homens. (Gráfico 3). A composição do gênero, em sua maioria de mulheres, dá pistas para o tipo de práticas artísticas desenvolvidas pelos entrevistados. A presença do artesanato nas práticas de tecelagem, bordado e escultura em barro é um elemento que pode ser relacionado ao campo do feminino.

Gráfico 3: Gênero da turma LAL 2010. (Fonte: Dados da Pesquisa)

Notamos que a predominância do gênero feminino vem se mantendo ao longo das turmas do LeCampo. Rodrigues (2012), em pesquisa sobre a Turma LAL 2008, informa que, dos 26 educandos pertencentes à turma, 22 eram do gênero feminino. O perfil da turma, composto em sua maioria por mulheres, também nos dá pistas a respeito dos desafios superados por elas para a permanência no curso.

Nas entrevistas ouvimos um número significativo de relatos que dizia respeito à situação das mulheres durante a permanência no curso. “Quando eu cheguei aqui eu não podia falar no

nome da minha filha que eu chorava, que eu nunca tinha me afastado dela a não ser para fazer a prova do vestibular e eu sofri demais.” (Giovana). A entrevistada havia desmamado a filha poucos dias antes de vir para o primeiro Tempo Escola e conta que a distância nos períodos de aulas em Belo Horizonte foi um grande desafio para a sua permanência no curso.Com relação à faixa etária observa-se que dos 22 alunos, 13 deles têm entre 20 e 30 anos, o que nos mostra a predominância de uma geração jovem com acesso aos cursos de nível superior. Em comparação com a turma de 2011 da habilitação em Ciências Sociais e Humanidades percebemos um proximidade do perfil etário. Resultado semelhante foi encontrado por Diniz- Menezes em sua pesquisa da Turma 2011.

Gráfico 4: Perfil etário da turma LAL- 2010. Fonte: Dados da Pesquisa.

Mesmo com a predominância de uma faixa etária, podemos perceber a presença de educandos de diferentes idades. Dos 22 alunos da turma sete têm entre 31 e 40 anos e 2 entre 41 e 57 anos. Apenas uma aluna não quis informar sua idade. Esse perfil heterogêneo também era presente na primeira turma da Licenciatura em Educação do Campo, no ano de 2004. Segundo (ANTUNES- ROCHA et al. 2011, p.30) “se tratava de uma turma heterogênea com relação à presença de gerações diferenciadas”.

A entrevistada Alice conta que só conseguiu entrar na universidade com idade mais avançada, por que ela teve que trabalhar antes de prestar vestibular.

114 E aí teve uma hora que eu desisti, ah não vou fazer vestibular e não vou estudar na faculdade e vou trabalhar. Aí fui em um bocado de trabalho e assim trabalhei e não foi uma coisa tão boa, foi bom a nível pessoal mas a nível financeiro a gente trabalhar a nível de 2° grau né é explorado e não ganha bem. (Alice)

Para Manuela, a inserção no LeCampo só foi possível após a aposentadoria. “Trabalhei e aposentei na saúde e depois eu vim fazer o curso.”. A predominância de mulheres com idades médias são indicativos de pessoas que estejam na fase de criar vínculos familiares como casamento, filhos e trabalho. O que pode dar pistas para futuras pesquisas que articulem as categorias de gênero, trabalho e permanência no curso.Com relação à região de moradia, observa-se que na turma 2010 os alunos residem em três estados diferentes. No Estado de Minas Gerais estão concentrados nas regiões Norte, Jequitinhonha, Vale Do Rio Doce, com algumas espacializações nas regiões Metropolitana de Belo Horizonte. Distribuição apresentada na Imagem 1.

A região do Norte de Minas detém sete educandos. Em seguida, temos as regiões Jequitinhonha e Metropolitana de Belo Horizonte com cinco participantes cada. A região do Vale do Rio Doce tem três participantes, seguidas de um participante da região de São Paulo e outro de Brasília.

A presença de um maior número de educandos das regiões Norte de Minas e Jequitinhonha remete-nos à constatação de que esses são oriundos de áreas geográficas marcadas pela presença do artesanato em cerâmica, tecelagem, grupos musicais dentre outras atividades. Acrescente-se o fato de que estas duas regiões, mais o Vale do Rio Doce, são historicamente palco do maior número de movimentos de luta pela terra de números de assentamentos e acampamentos rurais, (VIEIRA, 2012).

Imagem 1: Mapa da distribuição dos alunos nas cidades.

Dentre os entrevistados, temos cerca de 11 pessoas que estiveram, ou estão envolvidos diretamente com movimentos sociais do Campo, participam de: Associação de Agricultores, Pastoral Familiar, Associação dos Assentados, Pastoral do Migrante, Movimento Sindical, Movimentos de Luta pela Terra dentre outros. Giovana explicita que a sua participação na luta pela terra foi um elemento de construção de suas experiências na infância. “Na época eu já tinha feito 7 anos e tinha 1 ano dessa vida de reforma agrária e luta pela terra”. Beatriz deixa ver seu envolvimento com o Movimento Sindical ao narrar o processo de inscrição para o vestibular.

[...] o meu pai é assentado e então um dia eu tava lá na roça no assentamento e aí a minha mãe me falou do curso. E aí meu pai foi e falou que o pessoal do sindicato tava divulgando o curso na UFMG. Lá não tem internet e na época

116 não tinha nem luz nem água e aí eu peguei e falei nossa eu tenho que fazer. Eu fui lá na casa do coordenador do sindicato e eu falei que eu queria ir na cidade de Santa Fé de Minas que eu queria fazer a inscrição e aí eu fui na cidade e fiz a inscrição no último minuto. (Beatriz)

As informações a respeito do gênero, idade, local de moradia dos entrevistados nos permitiram a construção de um perfil dos participantes da pesquisa que apontou também informações acerca das características das práticas artísticas desenvolvidas por esses sujeitos. Notamos maior preponderância do gênero feminino e de sujeitos pertencentes às regiões Norte de Minas e Jequitinhonha, dados que nos possibilitam entender o artesanato enquanto prática artística presente no cotidiano de grande parte dos entrevistados. Já as informações sobre a relação dos sujeitos com os movimentos sociais do Campo permitiram perceber como se dá a articulação desses movimentos com a estrutura do curso LeCampo/ FaE e com a luta pela Educação do Campo