• Nenhum resultado encontrado

FAMÍLIAS DA TERRA: PERFIS CAMARÁRIOS DOS HOMENS BONS DA CÂMARA DA CIDADE DO NATAL

1.1. PERFIS CAMARÁRIOS DE UMA CAPITANIA PERIFÉRICA

Segundo Charles Boxer, o Senado da Câmara e a Santa Casa de Misericórdia eram instituições típicas do império marítimo português, tendo ajudado a forjar o tipo de sociedade portuguesa nas diversas colônias desse reino. O autor utilizou a frase célebre de que as duas instituições eram os pilares gêmeos da sociedade portuguesa do Maranhão até Macau, sendo ocupadas por membros que compunham as elites coloniais. Assim, os concelhos88 municipais coloniais embora possuíssem diferenças em relação às reinóis, compartilhavam fortes semelhanças. Ainda para Boxer, inevitavelmente, tornaram-se instâncias de nepotismo, corrupção e desvio de fundos da municipalidade. Entretanto, a continuidade dessas elites coloniais garantia a fixação do projeto colonial português89. John Russell-Wood afirmou que as Câmaras, fossem aquelas localizadas em vilas proeminentes como Goa e Bahia, ou em municipalidades como Massangano e Cachoeira, eram ambas modeladas por suas contrapartes em Lisboa e Porto, possuindo pequenas variações locais quanto à composição, estatutos e

87

A Plataforma SILB (Sesmarias do Império Luso-Brasileiro) consiste em uma base de dados que pretende disponibilizar on-line as informações das sesmarias concedidas pela Coroa Portuguesa no mundo atlântico. Acesso em: 21 mar. 2017. Disponível em: <http://www.silb.cchla.ufrn.br>.

88 Em Portugal, o Concelho referente às municipalidades escrevia-se com ―c‖. 89

BOXER, Charles. Conselheiros municipais e irmãos de caridade. In: _____. O Império ultramarino português 1415-1825. Charles Boxer; tradução Anna Olga de Barros Barreto. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 286-298.

termos de referência. Portanto, para o autor, as Câmaras possibilitavam a garantia de estabilidade em um império que era extremamente móvel90.

A partir disto, buscou-se pensar quem eram esses indivíduos que compuseram a Câmara da cidade do Natal relacionada ao contexto do império ultramarino português, localizada em uma região periférica, mas em constante confluência com os valores que norteavam a sociedade hierárquica de Antigo Regime, que se refletiam também nos perfis camarários da cidade do Natal. Ressalta-se a questão periférica, pois conforme afirmado por Gabriel Parente, que analisou a Câmara da vila de Aracati no Siará Grande, as análises desenvolvidas em centros urbanos mais dinâmicos como Salvador, Rio de Janeiro e Recife, não devem ser estendidas de forma integral a outras realidades espaciais da colônia, visto que os grupos sociais que se ligavam às dinâmicas de poder eram outros, assim como a posição periférica, notadamente em relação à capitania de Pernambuco, no conjunto das Capitanias do Norte, conferia uma outra realidade no ordenamento hierárquico dos espaços91. A capitania do Siará-grande, assim como a capitania do Rio Grande, por exemplo, não desenvolveu uma cultura da cana-de-açúcar em larga escala, fonte de lucro aos conquistadores e à própria coroa portuguesa, mas encontrou na pecuária uma forte atividade econômica.

Para Carmen Alveal, os indivíduos que ocuparam os cargos camarários principais na cidade do Natal, na segunda metade do século XVII, foram os que haviam participado do período histórico intitulado de Restauração, pós-domínio holandês, na capitania do Rio Grande. A participação destas pessoas ocorreu, por exemplo, no auxílio oferecido para combater o indígena no sertão da capitania, recebendo em consequência dos seus feitos, graças como patentes militares e sesmarias. O recebimento de mercês deste tipo destacava-os na capitania, enquanto um grupo seleto, de ―maior qualidade‖, podendo chegar aos postos camarários da única Câmara do Rio Grande neste momento, que era a da cidade do Natal, configurando-se, portanto, como a elite política e senhorial da capitania do Rio Grande92.

Ainda sobre esses indivíduos que ocuparam os postos de vereança em Natal na segunda metade do século XVII, Alveal postulou que a ocupação nesse espaço de poder teria sido usada como uma estratégia para indivíduos que não conseguiram ocupar tais espaços em

90 RUSSELL-WOOD, A. J. R. O governo local na América portuguesa: um estudo de divergência cultural. Revista de História, v. 55, n. 109, 1977. p. 27.

91

NOGUEIRA, Gabriel Parente. Fazer-se nobre nas fímbrias do império: práticas de nobilitação e hierarquia social da elite camarária de Santa Cruz do Aracati (1748-1804). Dissertação de Mestrado (História) – Universidade Federal do Ceará. Fortaleza: 2010. p. 147

92 ALVEAL, Carmen. A Formação da Elite na Capitania do Rio Grande no pós-Restauração (1659-1691). In: Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime. Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011. p. 2-4. A autora baseia-se no conceito de economia do bem comum e de sistema de mercês apresentado por João Fragoso. Op. cit. 2001.

Olinda, ou em Filipeia (atual João Pessoa). Desse modo, buscava-se melhorar a ―qualidade‖, visto que nessas outras áreas haveria uma maior concentração com pessoas de ―maior qualidade‖ ou aptas a receberem outras honrarias de maior prestígio, e não apenas patentes militares, sesmarias e cargos menores da administração colonial, como no caso dos camarários da segunda metade do XVII no Rio Grande. Analisando a documentação camarária disponível para esse recorte temporal, a autora conseguiu detectar o nome de 134 indivíduos, sendo que destes, 26 ocuparam o cargo mais de uma vez. Entre esses 26 nomes, a autora destacou que se percebe a circulação desse grupo por vários postos na Câmara do Natal, assim como a repetição do cargo. Ademais, todos possuíam sesmaria, em um total de 37 concessões, aliando-se poder econômico ao político. Destes, seis eram capitães, um coronel, um tenente, dois sargento-mores, um comissário geral de cavalaria e sete alferes, verificando-se ascensão na carreira em alguns casos. Entre os 42 sesmeiros desse período na capitania do Rio Grande, 17 integravam o grupo dos 26, ocupando o cargo de vereador, e dos mesmos 26, oito tinham sesmarias em outras capitanias próximas ao Rio Grande. Para a autora, a Câmara de Natal poderia ser entendida por esses indivíduos como um espaço de poder ainda não consolidado, uma rede de poder em construção, abarcando diferentes grupos93.

Desta forma, se Alveal percebeu que apenas cerca de 20% dos camarários exerceram mais de uma vez os principais postos camarários, na segunda metade do século XVII, para o período aqui estudado (1720-1759), nota-se como houve uma mudança em relação a isto, chegando a cerca de 50%, aumentando-se a participação e revelando uma maior fixação das famílias na capitania do Rio Grande. Aliás, como a própria autora argumentou, na segunda metade do XVII, a Câmara do Natal seria um espaço a ser consolidado. Lembra-se que a Câmara voltou a ter suas atividades em funcionamento apenas em 166294, após o período holandês, passando já por um momento conturbado em seguida, que foi a Guerra dos

Bárbaros. Após essa guerra, a Câmara pode ser entendida como um espaço consolidado.

Entre os anos de 1720-1759, observa-se a quase totalidade dos cargos camarários (dois juízes ordinários, um procurador e três vereadores) ocupados por oficiais de ordenança. Entre os 150 diferentes nomes listados para ocupar um dos cargos de oficiais camarários, apenas 18 nomes não constavam referência à ocupação, e 131 tinham pelo menos uma patente

93 ALVEAL, Carmen. Os desafios da governança e as relações de poder na Capitania do Rio Grande na segunda metade do século XVII. In: MACEDO, Helder; SANTOS, Rosenilson (Orgs.). Capitania do Rio Grande. Histórias e colonização na América portuguesa. João Pessoa, Natal: Ideia Editora, EDUFRN, 2013. p. 41-43. 94 CASCUDO, Câmara. História do Rio Grande do Norte. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Cultura/ Serviço de Documentação. 1955.

de ordenança. Existiam ainda quatro nomes que foram apresentados como licenciados e um nome como doutor95, tendo estes também recebido patentes de ordenança, à exceção apenas de um licenciado. Portanto, a Câmara da cidade do Natal continuava sendo ocupada por oficiais que possuíam postos oriundos de patentes de ordenança em quase sua totalidade, após cerca de duas décadas. De acordo com Bicalho, nas conquistas ou colônias, a via privilegiada para a obtenção de capital social e aquisição de mais elevados graus de nobreza era o controle de instituições locais, como as Câmaras e as ordenanças. Por meio destes, as elites tinham acesso às honras, privilégios e signos de distinção, além de terem a possibilidade de obterem familiaturas do Santo Ofício e de cavaleiro de Ordens Militares. Os cargos camarários eram motivo de disputas entre grupos economicamente influentes, revelando a centralidade desses cargos enquanto um espaço de distinção e hierarquização dos moradores coloniais. A Coroa também procurava intervir nestes postos, no intuito de que tanto os ofícios de vereança como as ordenanças fossem ocupados pelos ―principais das terras‖.96 Esse sistema de distinções, típico da ―economia moral do dom‖, foi percebido, inclusive, em relação aos indígenas, quando da criação das vilas de índios, na segunda metade do século XVIII. De acordo com Fátima Martins Lopes, com a elevação das missões aldeadas às vilas de índios na capitania do Rio Grande, em 1759, alguns indígenas puderam ser incorporados à estrutura político- administrativa da colônia, participando das Câmaras. Entretanto, apenas os Principais foram incorporados a estas instâncias políticas, assim também como obtinham patentes de ordenanças, diferenciando-se socialmente e hierarquicamente dos demais indígenas das vilas97.

As Ordenanças eram circunscrições de recrutamento e treino milicial existentes em toda monarquia portuguesa, durante o século XVIII. Todos os homens capazes, acima de 16 anos, excetuando-se os velhos e os privilegiados, poderiam ser recrutados. Assim, não é algo incomum que a maioria dos oficiais de Câmara tivessem postos de ordenanças, sendo uma regra para as várias partes da colônia. Nuno Gonçalo Monteiro destacou que as Ordenanças correspondiam a uma fonte de poder na esfera local. O autor destacou existir uma

95

Na Universidade de Direito de Coimbra, o curso dividia-se em Direito Civil e Direito Canônico, e cada um deles tinha a ênfase em bacharel ou licenciado. Este último tinha um grau maior de prestígio na formação. O bacharelado era o grau mais comum, e a licenciatura correspondia a mais quatro anos após a conclusão do bacharelado. Já o doutorado permitia ao magistrado lecionar na Universidade. SCHWARTZ, Stuart. Op. cit. p. 59.

96 BICALHO, Maria Fernanda. As Câmaras ultramarinas e o governo do Império. FRAGOSO, João; BICALHO, Maria Fernanda; GOUVÊA, Maria de Fátima (Orgs.). O Antigo Regime nos trópicos: a dinâmica portuguesa (séculos XVI - XVIII). 2° ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. p. 206-207;212.

97 LOPES, Fátima. Em nome da liberdade: as vilas de índio do Rio Grande do Norte sob o diretório pombalino no século XVIII. Tese (Doutorado em História) - UFPE, Pernambuco, 2005. p. 95.

correlação entre o poder camarário e a hierarquia nos postos de ordenanças, sendo estes últimos influenciados pela Câmara, assim como pela interferência variável de outras instâncias, como os governos militares. Monteiro percebeu haver uma tendência para a vitaliciedade nesses cargos miliciais. Embora não recebessem remuneração aqueles que ocupavam seus postos, assim como os camarários, os oficiais de ordenança controlavam um fator importante de intimidação que poderia interferir na vida das pessoas, que era o recrutamento militar. Assim, a imagem perpetuada de poderosos locais que realizavam desmandos em fins do Antigo Regime confundia-se com estes oficiais de ordenanças, que possuíam uma grande autonomia se comparada à hierarquia militar, transformando-os em um polo autônomo de poder ao nível local98.

Segundo José Eudes Gomes, três eram os tipos de tropas no contexto do império ultramarino português: as tropas de primeira linha ou pagas; as tropas de segunda linha, milícias ou terços auxiliares; e os corpos de ordenanças; sendo estas últimas duas atuantes em nível local. As ordenanças eram formadas junto à população dos concelhos, pelas pessoas principais da terra, sendo organizadas em terços, companhias e esquadras. Cada terço possuía 10 companhias, formadas por sua vez por 10 esquadras de 25 homens. O capitão-mor de ordenanças seria o comando superior de cada terço, auxiliados por um sargento-mor e um alferes. Cada companhia de ordenança era comandada por um capitão, e cada esquadra comandada por um cabo-de-esquadra99. Entretanto, conforme pode ser visto para o caso da capitania do Rio Grande, existiam os cargos de tenente-coronel e de coronel das ordenanças. Provavelmente, correspondeu a uma das irregularidades encontradas na América portuguesa se comparado ao reino que José Eudes Gomes fez referência. Assim, afirmou o autor que a ordem régia de 21 de abril de 1739, conhecida como Regimento dos capitães-mores do Brasil, representa um caso emblemático das irregularidades no interior da organização militar da América portuguesa. Esta ordem procurava limitar a criação indevida de postos do oficialato bem como a existência de companhias incompletas nos corpos de ordenanças que foram criados100.

Arthur Curvelo, ao estudar a Câmara de Alagoas do Sul, na antiga capitania de Pernambuco, percebeu que entre 1668-1680 não havia nenhum militar de carreira que

98 MONTEIRO, Nuno. Os Concelhos e as Comunidades. In: HESPANHA, António Manuel. O Antigo Regime (1620-1810), volume IV da História de Portugal dirigida por José Mattoso. Lisboa: Círculo de Leitores, 1993. p. 273-274. Ver também PRADO JR., Caio. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 329-332.

99 GOMES, Jose Eudes Arrais Barroso. As milícias d’el Rey: tropas militares e poder no Ceará setecentista. Dissertação de Mestrado (História) – Universidade Federal Fluminense: Niterói: 2009. p. 56-57;89. Ver também PRADO JR., Caio. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo: Companhia das Letras, 2011. p. 329-332. 100 Ibid. p. 90-91.

estivesse servindo na Câmara, mas, como em Natal, apenas patentes de ordenança. O autor destacou o caráter dessas companhias que eram efetivamente postas em ação somente caso houvesse invasão do território101. Desse modo, não recebiam soldo como os oficiais das tropas de primeira linha, mas representavam ocupações de prestígio social, pois eram postos ocupados pelas pessoas consideradas mais idôneas e capazes, e também desfrutavam de privilégios em diversos assuntos. Outro ponto que merece ser destacado é que os capitães de ordenanças tinham uma responsabilidade imensa, que era o de alistar a população, tendo o poder de decidir quem seria ou não alistado, o que poderia ser aliado com ganhos ilícitos como subornos, a fim de que se pudesse ser dispensado102.

Para o caso de Porto Alegre do Rio Grande de São Pedro (1774-1794), Adriano Comissoli também percebeu uma correlação entre os postos de ordenanças e os camarários, sendo a maioria dos que ocuparam postos militares ocupado o cargo de capitão, fosse na companhia de Ordenanças ou em outro tipo de tropa. Os oficiais de ordenanças correspondiam um expressivo dado de 46,1% dos militares envolvidos com a Câmara nesse período. O autor concluiu que pelo fato de os membros da elite mais frequentes na Câmara de Porto Alegre serem também oficiais de Ordenanças indica que estes cargos se complementavam, além de garantir um determinado status nessa localidade103. Michelle Brandão, para a Vila do Carmo nas Minas Gerais, percebeu haver uma relação entre o posicionamento hierárquico do indivíduo na Câmara e a patente militar que este possuía, sendo o de juiz ordinário o que possuía patentes mais elevadas, seguidos do vereador, e do procurador, possuindo patentes mais baixas na hierarquia militar104.

Visto isto, percebe-se que tais análises realizadas nestas espacialidades se coadunam com os resultados obtidos para a composição camarária da cidade do Natal. Dessa forma, criou-se o gráfico a seguir que demonstra como estavam distribuídas as patentes de ordenança entre os camarários da cidade do Natal, a fim de verificar a importância desses indivíduos na localidade em que se inseriam. O número ao lado das patentes indica a quantidade de pessoas que foram providas com tal titulação. Ressalta-se que o número extrapola o de 131 pessoas que receberam patentes de ordenanças, pois tal contagem

101 CURVELO, Arthur. O senado da Câmara de Alagoas do Sul: governança e poder local no Sul de Pernambuco (1654-1751). Dissertação em História (Mestrado). Recife: UFPE, 2014. p. 95.

102

SILVA, Maria Beatriz Nizza. Ser nobre na Colônia. São Paulo: Editora da UNESP, 2005. p. 150-151. 103

COMISSOLI, Adriano. Os “homens bons” e a Câmara de Porto Alegre (1767-1808). 2006. 192 f. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2006. p. 75-78.

104

BRANDÃO, Michelle Cardoso. Forjando status e construindo autoridade: perfil dos homens bons e formação da primeira elite social em Vila do Carmo (1711-1736). Dissertação de Mestrado em História. Universidade Federal de Juiz de Fora: 2009. p. 85.

considera as patentes que um mesmo indivíduo possa ter recebido ao longo do recorte temporal (1720-1759), e que, portanto, ascendeu nessa estrutura hierárquica das ordenanças, correspondendo a um total de 187 concessões de ordenanças.

Fonte: Elaborado pelo autor Kleyson Barbosa a partir do catálogo dos termos de vereação da cidade do Natal (1720-1759) e das cartas patentes registradas nos livros de registros de cartas e provisões do Senado da Câmara do Natal.

Na tabela anterior, foram analisados 131 indivíduos (87%) dos 150 nomes listados, que receberam patentes de ordenanças, e então, tem-se a distribuição dos postos de oficiais de ordenança, que estavam localizados em várias povoações da capitania, como Goianinha, Mipibu, e Assú, por exemplo, além da própria cidade do Natal. Observando-se as patentes de ordenança concedidas na capitania do Rio Grande a esses camarários, conseguiu- se perceber uma trajetória de ascensão buscada por tais indivíduos, relacionados ao poder camarário. Seguindo a ordem hierárquica decrescente de importância, tem-se que 21 indivíduos tinham por ocupação o posto de coronel, 10 indivíduos de tenente-coronel, dois de comissário geral, e nove de capitão-mor, correspondendo a 23% de patentes de ordenança de alta hierarquia. Tem-se também uma expressiva quantidade de oficiais declarados como sargento-mor, 42 indivíduos, correspondendo a 24% do total. O grosso dos postos militares concentrava-se na ocupação de capitão, correspondendo a 67 indivíduos no período abordado

12% 5% 1% 5% 24% 38% 7% 8%

Gráfico 1: Porcentagem das patentes de ordenanças dos Camarários de Natal (1720-1759) Coronel (21) Tenente-coronel (10) Comissário geral (2) Capitão-mor (9) Sargento-mor (42) Capitão (67) Tenente (12) Alferes (14)

(38% dos casos). Dos 14 indivíduos listados como alferes, seis chegaram até postos mais elevados como capitão e sargento-mor, por exemplo, sem contar os vários casos de camarários que eram alferes antes da década de 1720, e que quando assumiram o posto camarário a partir de 1720, possuíam patentes mais expressivas. Ao estudar a Câmara do Recife, George Cabral de Souza afirmou que a patente de oficial das ordenanças indicava um

status quo, e quase todos os oficiais municipais possuíam uma patente deste tipo105, conforme se observa também no caso da Câmara do Natal. Dessa forma, pode-se pensar em como esses indivíduos, enquanto oficiais camarários e também de ordenanças, seriam fundamentais para gerenciar e disciplinar a vida colonial, nos sertões e espaços distantes da cidade do Natal, envolvidos em suas atividades econômicas e outros interesses, impondo o poder de mando que iam acumulando.

Alguns casos são exemplificativos de oficiais camarários de Natal que ocuparam postos de ordenanças, e que demonstram uma trajetória comum desses indivíduos. Além de Roberto Gomes Torres, camarário que se iniciou este capítulo, pode-se citar entre os mais variados outros mais três exemplos, como os de Hilário de Castro Rocha, Bernardo de Faria e Freitas e Caetano de Melo de Albuquerque.

O capitão Hilário de Castro Rocha ingressou como vereador na Câmara da cidade do Natal no ano de 1721, repetindo o mesmo feito no ano de 1724 e 1729. Antes de ocupar seu terceiro cargo como vereador, no ano de 1726 foi provido no posto de sargento-mor, confirmado pelo próprio rei D. João V no ano de 1727. Tal cargo havia sido passado para Hilário de Castro Rocha, pois outro camarário, Teodósio Freire de Amorim, havia sido promovido a coronel das ordenanças. Hilário de Castro Rocha estava ocupando até então o posto de capitão do regimento da cavalaria da ribeira do Assú, sendo destacados seus feitos nos sertões, ao guerrear contra os gentios que estariam causando danos e prejuízos aos moradores dessa localidade. Ao conceder tal patente, o rei lembrou ao seu vassalo o compromisso e pacto recíproco ao estabelecer que ―não haverá soldo algum de minha