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Capítulo 1 – Revisão da literatura

3. Colaboração entre o docente de educação regular e o docente de educação especial

3.2. Perfis de desempenho profissional

Os Decretos-Lei n.º 240/2001 e n.º 241/2001 definem os perfis geral e específico do educador de infância e do professor do ensino básico. A filosofia inclusiva presente no novo modelo de educação e as NEE das crianças estão contempladas nas funções de ambos os docentes.

Assim, segundo o DL n.º 240/2001, para além de outras competências gerais, o educador/professor:

exerce a sua atividade profissional na escola, entendida como uma instituição educativa, à qual está socialmente cometida a responsabilidade específica de garantir a todos, numa perspetiva de escola inclusiva, um conjunto de aprendizagens de natureza diversa, designado por currículo, que, num dado momento e no quadro de uma construção social negociada e assumida como

temporária, é reconhecido como necessidade e direito de todos para o seu desenvolvimento integral;

desenvolve estratégias pedagógicas diferenciadas, conducentes ao sucesso e realização de cada aluno no quadro sociocultural da diversidade das sociedades e da heterogeneidade dos sujeitos, mobilizando valores, saberes, experiências e outras componentes dos contextos e percursos pessoais, culturais e sociais dos alunos;

assegura a realização de atividades educativas de apoio aos alunos e coopera na deteção e acompanhamento de crianças ou jovens com necessidades educativas especiais;

perspetiva a escola e a comunidade como espaços de educação inclusiva e de intervenção social, no quadro de uma formação integral dos alunos para a cidadania democrática;

perspetiva o trabalho de equipa como fator de enriquecimento da sua formação e da atividade profissional, privilegiando a partilha de saberes e de experiências. Como se vê, o trabalho em colaboração está igualmente referido neste documento, ainda que de forma muito sucinta. Porém, o DL n.º 241/2001 já avança um pouco mais neste sentido, ao dizer que o professor do 1º CEB «coopera na construção e avaliação do projecto curricular da escola e concebe e gere, em colaboração com outros professores e em articulação com o conselho de docentes, o projecto curricular da sua turma».

No que se refere ao docente de educação especial, o Despacho Conjunto n.º 198/99 define o seu perfil de formação especializada, e enumera uma vasta lista de competências, que incluem, entre muitas outras, as seguintes:

identificar necessidades educativas especiais, limitações físicas e desvantagens sociais no quadro do desenvolvimento social e educativo dos alunos;

aplicar técnicas de aconselhamento e de diferenciação pedagógica;

apoiar ativamente a diversificação de estratégias e de métodos educativos, por forma a promover o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças e dos jovens; proceder a transformações e adaptações do currículo regular decorrentes das necessidades educativas especiais;

desenvolver, como docente, programas em áreas específicas de aprendizagem ou no âmbito de intervenções curriculares alternativas para alunos portadores de

deficiências de baixa incidência, nomeadamente cegos, surdos ou multideficientes;

intervir na melhoria das condições e do ambiente educativo da escola numa perspetiva de fomento da qualidade e da inovação educativa;

dinamizar a conceção e o desenvolvimento de projetos educativos da escola que respondam às características da população escolar e mobilizem os recursos locais existentes;

apoiar a formação contínua de professores de ensino regular e cooperar na formação dos professores especializados e dos órgãos de administração e gestão das escolas;

apoiar os professores de ensino regular, na sala de aula, em tarefas de diferenciação pedagógica, para uma melhor gestão de turmas heterogéneas em processos de educação inclusiva, numa escola para todos;

proceder ao diagnóstico de necessidades educativas especiais dos alunos tendo como referenciais o currículo e os padrões do desenvolvimento social correspondentes à idade cronológica, em articulação com o desenvolvimento dos projetos educativos das escolas;

apoiar os professores na caracterização da situação socioeconómica e escolar dos alunos e suas famílias e na organização de atividades de enriquecimento curricular;

acolher e estimular o professor no início de carreira, apoiando-o no seu processo de inserção e desenvolvimento profissional na sala de aula, na escola e no sistema educativo;

fomentar a existência, nos contextos de trabalho, de climas relacionais favoráveis ao desenvolvimento de interações participativas e de práticas reflexivas;

conceber, planificar, dinamizar e gerir programas de formação;

observar e planificar práticas educativas e envolver os professores em processo de reflexão sobre as mesmas;

estimular a melhoria do desempenho profissional dos professores.

Também aqui se encontram referências à cooperação com o docente do ensino regular e o apoio que deve ser prestado na sala de aula, um tema que se irá abordar em pormenor nesta última secção do enquadramento teórico.

Mais recentemente, o DL n.º 3/2008 criou três grupos de docentes de educação especial:

Educação Especial 1 – apoio a crianças e jovens com graves problemas motores, com graves perturbações da personalidade ou da conduta, com multideficiência e para o apoio em intervenção precoce na infência;

Educação Especial 2 – apoio a crianças e jovens com surdez moderada, severa ou profunda, com graves problemas de comunicação, linguagem ou fala;

Educação Especial 3 – apoio a crianças e jovens com cegueira ou baixa visão. Gil (2009, p. 179) sintetiza assim as funções dos docentes titulares de grupo/turma em relação com a educação especial, aos quais compete:

a elaboração do projeto curricular de grupo/turma;

identificar diferentes ritmos de aprendizagem e NEE dos alunos, promovendo a articulação com os respetivos serviços especializados de apoio educativo;

assegurar a adequação do currículo às características específicas dos alunos, estabelecendo prioridades, níveis de aprofundamento e sequências adequadas; adotar estratégias de diferenciação pedagógica que favoreçam as aprendizagens dos alunos;

elaborar conjuntamente com o departamento de Educação Especial, os Serviços de Psicologia e Orientação e outros intervenientes, o PEI dos alunos com NEE. Por sua vez, ao docente de educação especial compete (Gil, 2009, p. 180):

colaborar na avaliação dos alunos para definição da sua elegibilidade e/ou resposta educativa;

elaborar, conjuntamente com o docente do grupo ou turma, diretor de turma, encarregados de educação e outros serviços, se necessário, os PEI dos alunos com NEE;

avaliar o contexto educativo de forma a verificar barreiras e facilitadores para a aprendizagem;

adequar estratégias educativas;

promover a participação de todos os intervenientes no processo educativo;

trabalhar diretamente com o aluno, sempre que este necessite de técnicas especiais;

colaborar na procura de outras respostas educativas e/ou profissionais, tendo em vista o sucesso e progresso escolar do aluno.

O quadro abaixo sintetiza os pontos essenciais da intervenção de cada um dos docentes em relação ao aluno com NEE.

Quadro 3 – Papel dos vários docentes no apoio ao aluno com NEE

Docentes Funções

Educador / Professor de turma Deve promover uma educação apropriada para todos os alunos, incluindo os alunos com NEE

Professor de apoio Responsável por alcançar os objetivos das programações educativas para os alunos com NEE, levando-os a adquirir competências numa área determinada

Professor de educação especial Responsável pela elaboração e execução de programas educacionais adequados às características e necessidades dos alunos com NEE, em colaboração com os outros docentes

Fonte: Correia (2008a, p. 61)

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