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3. ADMINISTRADORAS FOCADAS BRASILEIRAS PROPORCIONAM FUNDOS DE

4.2 Revisão da literatura

4.2.3 Performance e famílias de fundos

Segundo Siggelkow (2003), uma família de fundos é similar a uma corporação, em que os interesses dos proprietários da companhia administradora serão geralmente distintos dos interesses dos cotistas dos fundos. Enquanto os cotistas dos fundos se beneficiam dos maiores retornos, os proprietários da administradora estarão preocupados com a maximização dos lucros gerados, ou seja, o aumento do patrimônio total administrado, por meio da maior captação de dinheiro dos atuais e de novos cotistas.

Pollet e Wilson (2008) estudaram o efeito do tamanho no comportamento dos fundos mútuos. Em primeiro lugar, diante de novos fluxos de dinheiro dos investidores, os fundos aumentam sua participação nas empresas que já formam parte de seu portfólio, ou seja, onde já são proprietários. Essa evidência sugere que quando o fundo cresce os gestores procuram reforçar a escala de seus investimentos existentes e que não estão interessados em gerar alternativas de investimento adicionais, exceto para compensar as restrições de liquidez. Assim, as famílias de fundos e os gestores parecem estar tentando permanecer focados nas suas poucas boas apostas atuais.

Em se tratando da estratégia de “dispersão” ou de “foco”, as famílias de fundos podem

oferecer aos investidores uma ampla gama de opções de fundos atuando, por exemplo, nas diferentes categorias de investimento de renda fixa, ou de renda variável, ou em ambas; como também poderiam concentrar suas ofertas em um segmento específico de algum desses tipos de investimento. De forma análoga aos modos de produção tradicionais, a indústria de fundos pode experimentar deseconomias de escopo na pesquisa e nas operações. A falta de especialização de uma família poderia afetar os custos tanto para seu negócio como para os cotistas de seus fundos. Para Ciccotello, Miles e Walsh (2006), as famílias que se especializam em uma pequena linha de produtos poderiam proporcionar maiores retornos líquidos que as famílias não focadas em função das deseconomias de escopo. Assim, se os fundos de famílias não focadas são, de fato, em termos de ativos, maiores que os das famílias focadas, as deseconomias de escala e escopo podem minar a performance para retornos líquidos menores.

Nanda, Wang e Zheng (2004) investigaram empiricamente como as famílias de fundos procuram gerar fundos “estrelas” incrementando a variância dos retornos entre seus fundos, em cada período, ou através do número de fundos administrados pela família. Os autores encontram alguma evidência de que o investidor não se beneficia com esses comportamentos no nível das famílias nos retornos dos períodos subsequentes, mas mostraram que o fato de ter fundos estrela resulta em maiores captações líquidas para o fundo e outros fundos da mesma família.

O estudo de Massa (2003) avaliou o trade-off entre diversificação (proliferação de categorias) e foco das famílias de fundos, indicando que a proliferação de categorias melhora a cobertura do risco porque faz o portfólio de títulos da família mais diversificado. Por outro lado, o foco permite à companhia obter economias de escala por meio do learning by doing. Ao ter gestores mais especializados, as famílias focadas também deveriam proporcionar maior persistência da performance.

Guedj e Papastaikoudi (2005) reportam que a persistência da performance é mais prevalente nas famílias de maior tamanho. Sugerem que as famílias poderiam estar alocando recursos entre seus fundos de uma maneira desigual. Nesse sentido, o estudo de Massa (2003) mostrou que o grau de diferenciação de produtos nas famílias de fundos afeta negativamente a performance e positivamente a proliferação de fundos. Gaspar, Massa e Matos (2006) indicam que os gestores das famílias podem utilizar mecanismos como as subscrições de ofertas públicas iniciais ou as operações de compra-venda cruzadas de títulos possuídos pelos fundos delas para favorecer aos de maior performance (fundos “estrelas”).

Elton, Gruber e Green (2007) ponderam que os retornos dos fundos na da família são mais correlacionados do que entre as famílias. Ou seja, restringir o investimento a uma só família de fundos conduz a maior risco total do portfólio do investidor quando comparado com o que seria obtido diversificando entre famílias. Essa maior correlação deve-se ao fato de os fundos das famílias em cada segmento (por exemplo, renda variável, renda fixa, etc.) possuírem os mesmos ativos. No entanto, segundo estes autores, outro aspecto importante está associado ao fato de as famílias adotarem posturas diferenciadas em relação a determinados setores ou indústrias. Siggelkow (2003) acrescenta que essa diferença aparece porque as famílias que se especializam estão em melhores condições de atrair e avaliar os gestores de fundos nesse segmento particular. Isso significa que um investidor que está avaliando a compra de

participações adicionais em determinada família necessitará acreditar que o fundo escolhido nesta família oferecerá retorno adicional para alcançar o mesmo retorno por unidade de risco.

Para Massa e Patgiri (2009), os incentivos nas famílias de fundos estão relacionados a um maior desempenho, que se deve não só à estratégia de maior risco do fundo, mas também a uma melhoria genuína na gestão dos fundos. Para os autores uma possível explicação reside na relação entre o gestor do fundo e a família de fundos. Em verdade, o contrato de assessoria com o gestor liga o fundo com a família e quantifica diretamente os benefícios que revertem para a família quando do aumento do risco e do maior desempenho. O fato de um maior incentivo proporcionar elevada performance persistentemente pode sugerir que melhor informação ou apoio é prestado a fundos com incentivos elevados. As famílias de fundos podem proporcionar aos gestores diversas formas de conseguir melhor desempenho por meio de suporte entre fundos e/ou do amortecimento dos efeitos adversos de pior desempenho (por exemplo, reduzindo o risco do emprego por meio da rotatividade no seio da família).