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Capítulo 1 DAS SENSAÇÕES E A QUÍMICA ORGÂNICA

1.2. OLFATO, AROMAS E ODORES E SUA RELAÇÃO COM A QUÍMICA

1.2.2 Perfumes e o nosso olfato

O olfato é um dos sentidos que mais nos suscitam a memória e as nossas recordações, sejam elas pessoais, culturais ou sociais e outros, ao passo que o uso de perfumes, aromatizantes e incensos também possuem finalidade semelhante, além do seu papel na nossa memória e recordação, contribuem para nosso prazer e bem-estar no ambiente quando sentimos suas fragrâncias e aromas. Isso acontece, porque o nosso olfato ao captar os aromas

e odores envia as mensagens olfativas para áreas do cérebro que estão associadas à nossa emoção, criatividade e memória. Com efeito, tantas vezes nos lembramos de determinado lugar, pessoa ou comida quando sentimos determinado odor ou aroma.

Para a composição dos perfumes, ocorrem-se os mesmo princípios que as outras fontes que causam e intensificam a sensação de aroma e odor, porém ao tratar de perfumes, cosméticos, produtos de limpeza e afins essas moléculas são denominadas de fragrâncias, pois causam um odor agradável. Há aquelas também que são desagradáveis, algumas são insuportáveis que não são adicionadas em um perfume ou amaciante. Portanto, para os perfumes denominamos as substâncias ou óleo essencial de fragrâncias, sendo que tais podem ser divididas entre os naturais e sintéticos. E, antigamente, os perfumes e incensos eram muito utilizados para rituais religiosos e momentos de adoração de divindades e deuses pagãos, tendo sua origem datada da época dos antigos egípcios, e em alguns casos seu uso é datado de 800 mil anos atrás quando o homem dominou o fogo. Durante os rituais religiosos, os deuses eram homenageados e adorados com a oferenda de uma fumaça proveniente da queima de madeira, folhas secas e outros materiais aromáticos, esse ato que viria a ser mais tarde denominado de incenso ou ato de incensar veio a ser praticado nas diversas religiões e cultos cuja crença pregava que a fumaça simbolizava a subida das orações e preces até a divindade. Seu uso ainda continua em algumas religiões atuais em ritos solenes. O termo “perfume”, considerando esse histórico, vem do latim e é derivado das palavras “per” que quer dizer origem “de, pela, pelo, por” e afins e “fumare” que significa fumaça. (DIAS; SILVA, 1996).

Perfume, por definição, é uma porção de matéria com mais de uma substância em que se forma uma solução que contêm substâncias aromatizantes que causam odor agradável, essas substâncias são dissolvidas em um solvente, na maioria das vezes em etanol e água. (COSTA et al, 2013; DIAS; SILVA, 1996). Sabendo-se que os óleos essenciais são constituídos de fragrâncias, que por sua vez são provenientes dos óleos essenciais de vegetais ou animais. Amoore classificou os odores em sete categorias, sendo: canfórico, almiscarado, floral, de hortelã, etérico, penetrante e pútrido, ele concluiu também que parte das substâncias que pertencia a uma dessas categorias possuía forma e tamanho molecular semelhante. (RETONDO; FARIA, 2010).

No início, as fragrâncias e óleos essências eram classificados de acordo com sua origem: floral consistia no óleo e fragrância obtido de flores como rosas, jásmin, lilás e etc., verde para óleos e fragrâncias extraídos de árvores e arbustos, como o eucalipto, o pinho, o

citrus, o alfazema, a cânfora e etc., animal consistia em óleos extraídos de espécies de animais obtidos à partir de animais como o veado almiscareiro, daí o aroma/odor chamado almíscar, o gato da algália, do castor (castóreo) e etc., por fim o aroma ou fragrância amadeirada que contém extratos de raízes, casca de árvores e de troncos como o cedo e o sândalo. Porém, atualmente classificam-se as fragrâncias de outro modo, em 14 grupos e que são organizados de acordo com sua fonte e volatilidade de seus componentes, seguem-se junto de seus exemplos: cítrica (laranja, limão e etc.), lavanda, ervas (hortelã), aldeídica, verde (jacinto), frutas (pêssego, banana, abacaxi, morango e etc.), florais (jasmin, rosas e etc.), especiarias (cravo, canela e etc.), madeira (sândalo), couro (resina de vidoeiro), animal (algália e castóreo), almíscar, âmbar (incenso) e baunilha.

Dos óleos essenciais, já foram identificados mais de 3 mil óleos essenciais distintos e muitos deles são disponíveis comercialmente. (DIAS; SILVA, 1996; RETONDO; FARIA, 2010). E tendo em vista que os perfumes são misturas de óleos essenciais que formam as fragrâncias, e que sua composição e combinação variando a concentração de cada componente irão resultar no perfume que sentimos, assim os perfumistas dividem os perfumes em três partes, as quais denominam de notas de perfume aludindo as notas musicais (DIAS; SILVA, 1996):

Nota superior (ou de cabeça): são os aromas mais voláteis do perfume e são detectados nos primeiros 15 minutos de evaporação;

Nota do meio (intermediária ou de coração): são os aromas voláteis intermediários e são percebidos entre 3 a 4 horas;

Nota de fundo (ou base ou alma do perfume): é a parte menos volátil do perfume, o qual demora 4 a 5 horas para ser sentida. Seus compostos aromatizantes são chamados de fixadores por causa da baixa volatilidade, os quais fixam as outras notas e trazem o aroma principal do perfume; (BARBOSA; BARCELLOS, 2013; DIAS; SILVA, 1996). A parte menos volátil do perfume é também responsável pela fixação das fragrâncias, e muitas vezes estão associadas, “segundo os perfumistas, as emoções fortes e a sugestão de experiências como encontros sexuais e mensagens eróticas.” (DIAS; SILVA, 1996). A Figura 11 nos mostra a escala de participação das fragrâncias segundo sua classificação e volatilidade:

Figura 11 Escala de notas de um perfume e a participação de diferentes fragrâncias

nessas notas

Fonte: DIAS; SILVA, 1996, p. 2

As fragrâncias dos grupos de baunilha, âmbar, almíscar e animal são os menos voláteis e podem estar entre as notas intermediárias e as de fundo, já as fragrâncias dos grupos cítrica, lavanda, ervas e aldeídica constituem as fragrâncias mais voláteis e que são percebidas logo nos primeiros minutos de evaporação e aplicação do perfume. É importante destacar que tanto em perfumes como em materiais de limpeza, cosméticos e outros são utilizados aromas naturais, como os óleos essenciais ou apenas seus ativos majoritários, e aromas artificiais produzidos em laboratório ou na indústria. E, com o avanço científico e da indústria, tanto químicos como perfumistas, pode-se realizar diversas análises química das quais permitiram identificar quais compostos orgânicos faziam parte do óleo essencial coletado, e qual a concentração de cada componente. Sem as técnicas atuais de análise de óleos essenciais e de voláteis, como por exemplo, cromatografia a gás, espectrometria de massa, ressonância magnética nuclear, espectroscopia de infravermelho e outros, era possível apenas identificar o ativo majoritário.

Por conta do risco e ameaça de extinção das espécies de animais e vegetais usadas para a perfumaria, tem-se substituído cada vez mais o uso de aromas naturais por artificiais, ou ao menos se usa, ou deve-se usar, de acordo com o bom senso de que não venha a ameaçar tais espécies tendo em vista a sustentabilidade e preservação do ambiente. Conhecendo-se os aromas naturais, pode-se fabricá-los sinteticamente e para torná-los mais baratos, como é o caso do acetato de isoamila, aroma natural da banana, que passou a ser sintetizado industrialmente por meio de reações orgânicas de esterificação. Outra possibilidade “é a síntese de novos compostos com aroma similar ao produto natural, porém com estruturas

totalmente diferentes.” (DIAS; SILVA, 1996, p.3). Tais aromas sintéticos artificiais não são usados apenas em perfumes, mas também em sabões, detergentes, amaciantes de roupas, talco e desodorantes. O preço do aroma natural é muito mais caro frente ao aroma sintético ou artificial, uma vez que o rendimento do primeiro é muito mais baixo em comparação aos outros dois. (DIAS; SILVA, 1996; FELIPE; BICAS, 2017).

A diferença de preço, como também na composição, dos produtos similares ao perfume (desodorante, loção perfumada, água de toalete, água de colônia e deocolônia) e o perfume são segundo a quantidade e concentração de essência adicionada aos mesmos. Outro fator que os diferencia é a proporção entre as fragrâncias e o solvente (etanol e água), nos perfumes e colônias a concentração das fragrâncias é bem maior do que nos desodorantes e água de colônia, por exemplo. Além da quantidade de água junto de etanol, há também a presença de fixadores que buscam retardar a evaporação total dos voláteis a fim de prolongar os efeitos dos perfumes, como já visto as fragrâncias da nota de fundo também podem servir a esse fim, e adiciona-se também propileno glicol, outro álcool que tem como função aumentar a solubilidade da essência no solvente. (DIAS; SILVA, 1996). A Figura 12 demonstra as diferenças entre os produtos da perfumaria nas suas composições e proporções entre a concentração de fragrâncias e solvente:

Figura 12 Composição média de misturas usadas em produtos de perfumaria

Fonte: DIAS et SILVA, 1996, p.4