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A perspectiva dos professores, arranjador e da pianista sobre as composições dos

CAPÍTULO 4 MODALIDADE DA COMPOSIÇÃO: ANÁLISE DE PEÇAS

4.4 A perspectiva dos professores, arranjador e da pianista sobre as composições dos

Ao final das entrevistas os professores de violino contaram seus pontos de vista sobre as composições dos alunos. O professor Felipe destacou:

O que eu percebo é que, por eles possuírem mais recursos técnicos, as composições, elas vão ganhando mais coloridos, mais timbres, mais contrastes, etc. Então, como nós vimos em composições que alunos usou surdina, os alunos usavam pizzicatos, que os alunos trocaram o ponto de contato do arco para colocar um aspecto, ou um som diferenciado em determinado ponto da peça, que eles passavam, por exemplo: poder utilizar notas mais agudas do instrumento porque já conheciam essa outra região do instrumento e assim por diante. A gente vai vendo com o embasamento técnico, os novos recursos vão sendo utilizados, eles vão se apropriando desses recursos para enriquecer e colocar mais pontos nas próprias composições.

O professor destaca o embasamento técnico que os alunos vão adquirindo no decorrer dos estudos. Foi possível perceber que a composição é o reflexo do que os alunos aprenderam ao utilizar os elementos expressivos nas peças. Nessa modalidade os alunos têm oportunidade de mostrar as suas ideias musicais e decidir os recursos que eles querem mostrar em suas peças. Pela fala do professor de violino é possível destacar os seguintes recursos: surdina, pizzicato, ponto de contato do arco, alturas das notas como o agudo no violino. Outro elemento expressivo bastante evidente nas peças autorais é a exploração da dinâmica e no andamento também. O professor Felipe comentou:

Na parte intuitiva das crianças, o que vai ficando realçado antes da própria partitura escrita. É, dentro desses recursos, a necessidade às vezes da criança de fazer acellerandos, de fazer certos crescendo ou pianos súbitos. Elementos assim, inesperados que vão surgindo e que

quando o próprio professor que transcreve as músicas vai escrever. Ele realmente ver, e precisa buscar esses recursos para descrever essas mudanças ou essas ideias que as crianças vão colocando ali na sua parte mesmo intuitiva. A gente ver acontecendo com muita frequência: acellerandos, rallentandos, dinâmicas pouco é, imprevisíveis, faz tudo parte da criação delas.

É possível perceber que a dinâmica foi o recurso mais enfatizado nas composições dos alunos. Assim, esse dado confere com os discursos dos alunos anteriormente como sendo o elemento mais evidente nas peças autorais. Porém o andamento não foi muito mencionado pelos alunos nas entrevistas sobre a peça autoral. Ainda sobre a perspectiva dos professores, o arranjador observou o desenvolvimento das composições dos alunos:

A criatividade que eles vão desenvolvendo com o passar dos anos. As peças vão ficando maiores, eu acho isso engraçado, interessante. Eles costumam fazer peças curtas quando tão nessa primeira fase, quando o tempo vai passando, forma no livro 2, 3 e 4 as peças vão ficando mais longas entendeu. O tempo fica mais constante, mais bem concebido, quadrado. São essas duas coisas: as peças ficam maiores né, as peças tendem a ficar um pouco mais românticos, é o que eu percebi assim no modo geral, tendem a ficar um pouco mais. Não são todos, mas assim, o que eu percebi dá, de boa parte deles foi isso assim. Uns temas mais envolventes, mais, e as peças ficam maiores, eles gostam de escrever, eles gostam de, vai passando um tempo, eles ficando mais criativos, mais ousados também né, porque eles vão usando recursos que eles nunca usaram. Usam padrão diferente, usa corda dupla, usa articulação diferente, que outras vezes não usaram né, acho bacana. É possível perceber que as peças ficam um pouco romantizadas na visão do arranjador. Isso é caracterizado pelas escolhas dos temas, estabilização do tempo, peças grandes e o uso das cordas duplas, articulações diferentes e recursos musicais que eles vão aprendendo ao progredir nos livros do Método Suzuki. Quando as composições ficaram prontas, os alunos realizaram ensaios com a pianista. No primeiro ensaio ela comenta com eles como as suas peças ficaram maiores, principalmente quando os alunos se formam no livro quatro.

É bem engraçado que no livro quatro eles ficam contando as páginas! Tipo assim, nossa! Quando eu começo a mostrar a partitura pra eles, nossa tem sete páginas! E tipo assim, eles acham o máximo! Não importa, sabe? Tem uns que não ligam, mas uns ficam assim: minha composição tem tudo isso? (risos). Não sei se também é porque é uma novidade, as músicas ficam muito maiores, então eles querem que a composição seja maior. É muito parecido as composições com a tendência dos livros, assim.

Tanto o arranjador quanto a pianista observaram que as composições ficam grandes no decorrer das formaturas de violino. Para eles isso foi desencadeado de quando eles vão se formando nos livros, pois vão adquirindo recursos técnicos para elaborar as suas composições. O professor arranjador acrescentou: “No meu ponto de vista, eles aprendem coisas novas, por causa das habilidades que eles conquistam nos livros e eles tentam experimentar isso de uma forma mais livre e mais criativa. Então é como se eles quisessem colocar tudo que eles aprenderam aqui o tempo todo numa música só”. Além disso, a pianista Bárbara fez a seguinte observação:

Assim, a coisa que eu mais me surpreendo em palco, acho que não é nem assim a expressividade, é a concentração. Às vezes a criança é super desconcentrada, ai como no palco é uma situação diferente eles se concentram muito mais. E de certa forma, acertam muito mais. Ao observar os alunos no palco, a pianista percebe uma notável concentração dos alunos em estarem se apresentando. E detalhou algumas diferenças de comportamento do aluno ao tocar o repertório Suzuki e a sua peça autoral, e relatou:

O que eu acho superinteressante é como eles se sentem muito, mas muito mais a vontade nas peças deles. É libertador, pra maioria tocar a peça deles. Até em recital, você vê o aluno tocando muito bem, afinado, tal e tal. Mas quando ele toca a peça dele, essa é minha peça! Uma diferença, não sei se você já teve essa oportunidade de sentir isso, e eles são incríveis.

Para a pianista, o fato de poder tocar as suas próprias composições recheadas de ideias e emoções torna a composição algo muito pessoal e especial para os alunos. Isso refletiu na maneira que eles tocaram as suas peças. Para o professor de violino é inevitável a diferença das performances do repertório Suzuki e das composições. Ele descreveu:

Porque, existe outro nível de propriedade musical, cada nota de uma composição que a criança coloca. Ela sabe de onde surgiu, como foi aquela construção, o que aquilo significa pra ela, o que representa. Então, a ideia interna da música pra criança, do sentido, do que significa, é claríssimo. Por ela ter essa clareza, ela consegue fazer com que os outros percebam que ali existe algo diferente. Como toca, como coloca o som, como respira no tocar, como se move, como o tempo que sente da música.

É possível perceber na fala do professor de violino que os alunos possuem uma liberdade de escolha dos gestos musicais, cada nota, frase, dinâmica, articulação possui

um significado de sentimentos para o aluno. Os professores entrevistados observaram a construção das decisões expressivas dos alunos no decorrer das formaturas ao adicionarem a cada recital novos elementos expressivos que aprenderam e foram importantes para os alunos. Além disso, os professores perceberam a mudança de comportamento dos alunos ao tocarem as suas peças autorais, pois estão tocando algo que eles sabem como foi pensado e construído.