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Equação 3 – Cálculo do coeficiente de correlação de Pearson (r)

5.2 PERSPECTIVAS DE UNIVERSIDADES EMPREENDEDORAS

Inicialmente, o papel destinado às universidades era o de formadoras de recursos humanos capacitados. Após a primeira revolução acadêmica, no final do século XIX, as universidades adicionaram então às suas funções de ensino, as atividades de pesquisa. Uma segunda revolução acadêmica, iniciada a partir da criação do Massachusetts Institute of Technology (MIT), em 1862, possibilitou às universidades um redirecionamento de suas atividades, aproximando-as do setor produtivo, o que foi favorável ao desenvolvimento econômico (AMADEI; TORKOMIAN, 2009).

A denominada “terceira missão” das universidades trata-se, portanto, da interação da academia com parceiros que estão “além de seus muros”. Essa relação visa estabelecer vínculos com as comunidades, resultando em um desenvolvimento local e regional mais acentuado. Nesse sentido, a transferência de tecnologia cumpre exatamente esse papel: ser a ponte de ligação entre a universidade e o setor produtivo, gerando inovações que beneficiam a sociedade.

Consequentemente, o monitoramento e aprendizado com as formas de governança desenvolvidas pelas universidades em relação às atividades de transferência de tecnologia tornaram-se usuais, almejando atingir a máxima eficiência (GEUNA; MUSCIO, 2009; FAN; LI; CHEN, 2017).

Esse novo modelo institucional, conhecido como “Universidade Empreendedora”, substitui e agrega o modelo de Torre de Marfim16. De acordo com Etzkowitz e Zhou (2017, p. 31), “a presença de uma universidade empreendedora, cujos professores e alunos buscam ativamente os resultados úteis de suas pesquisas é um fator-chave da inovação regional”. De acordo com Terra (2001, p. 09), citando Etzkowitz (1994), uma universidade tecnológica como o MIT é atualmente conhecida também como universidade empreendedora, “criada para divulgar na indústria o conhecimento como um gerador de resultados, é conhecido agora como pesquisa estratégica”.

Nesse sentido, o novo modelo de transferência de conhecimento foi baseado na crença de que o modelo anterior não era bom o suficiente para prover o conhecimento necessário para a nova economia baseada no conhecimento. Os policy

makers que apoiam esse ponto de vista estavam concentrados na profissionalização

da transferência de conhecimento como a terceira atividade principal, a "terceira missão" da universidade (GEUNA; MUSCIO, 2009).

Embora as universidades possuam um papel primordial na sociedade, enquanto agentes disseminadores de conhecimento e formadoras de recursos humanos capacitados, foi a partir da década de 1980, com o Triângulo de Sábato e da década de 1990, com o modelo de Tríplice Hélice, que essas instituições tiveram uma ampliação considerável em sua atuação nos sistemas de inovação.

À capacidade de desenvolver profissionais qualificados e de oferecer enriquecedoras atividades de extensão, soma-se atualmente a sinergia, em alguns casos, ainda embrionária, com a esfera privada, bastante incentivada. Essa inter- relação é de “ganha-ganha”, em que a empresa é beneficiada com produtos e processos mais qualificados oriundos do saber científico se tornando, por conseguinte, mais competitiva no mercado e as universidades, por outro lado, por meio da transferência de tecnologia, transformam a pesquisa e desenvolvimento em ativos econômicos tangíveis, propiciando retorno financeiro para a instituição, podendo ser reempregado em P&D. Além da universidade, o inventor e a sociedade

16 O antigo modelo de academia, era visto por Machado de Assis como uma "torre de marfim", local que funcionaria como um refúgio no mundo das ideias para os intelectuais, com foco exclusivo na preocupação literária. Neste modelo, os intelectuais ficariam no alto da torre, contemplando o mundo e refletindo sobre ele, contudo, sem um envolvimento direto com as lutas sociais (VELLOSO, 1987).

se beneficiam desse processo, gerando um ciclo virtuoso (conforme observado na Figura 4).

O efeito desse novo papel destinado às universidades, resulta numa maior atuação do governo no sentido de determinar políticas e orientações para apoiar a academia nesse processo. Especialmente nas universidades públicas, os temas ligados à propriedade intelectual e à transferência de tecnologia se tornaram foco de atenção por parte dos gestores institucionais (AMADEI; TORKOMIAN, 2009).

Nesse sentido, o governo brasileiro tem buscado estimular as universidades a incorporarem um papel mais proativo em relação ao desenvolvimento econômico, social e tecnológico do país (OLIVEIRA; GIROLETTI, 2016), uma vez que considera- se que essas instituições são “agentes basilares e auxiliam o processo de criação e disseminação, tanto de novos conhecimentos, quanto de novas tecnologias, através de pesquisa básica, pesquisa aplicada e desenvolvimento e, por essa razão são encaradas como agentes estratégicos para o catch-up” (CHIARINI; VIEIRA, 2012, p. 119). Na visão de Etzkowitz; Jnr e Gulbrandsen (2000, p. 58, tradução nossa), “a universidade está sendo transformada de instituição de ensino e pesquisa em um fator de produção”.17

Entretanto, de acordo com pesquisa divulgada pela Agência Reuters, nenhuma universidade brasileira figura na lista das 100 universidades mais inovadoras do mundo. Em contrapartida, a Universidade Stanford, localizada no Vale do Silício, recebeu em 2017, pelo terceiro ano consecutivo, o título de universidade mais inovadora do mundo, em grande parte pelo alto volume de registros de patentes (que demonstra a capacidade de uma instituição de aplicar pesquisas e comercializar suas invenções), bem como pelas citações de trabalhos de pesquisa. Vale destacar que a lista considera apenas instituições que depositaram 70 patentes ou mais junto à OMPI, durante o período de cinco anos examinado pela Thomson Reuters. Um dado que chama atenção na lista é a presença de poucas instituições asiáticas, sendo uma das razões apontadas pelo estudo, o fato de que as universidades japonesas, que se destacam em termos de pesquisa, dependerem muito dos gastos em P&D por parte do governo (EWALT, 2017).

17 “The university is being transformed from a teaching and research institutione into a fator of production” (ETZKOWITZ; JNR; GULBRANDSEN, 2000, p. 58).

6 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este capítulo apresenta a metodologia utilizada no presente estudo com vistas a analisar de que forma as práticas de governança pública, na percepção de gestores de NITs de universidades públicas das regiões Sul e Sudeste, são utilizadas para realizar a gestão de sua propriedade intelectual. Deste modo, contempla: as definições de categorias analíticas (seção 6.1); a caracterização da pesquisa (seção 6.2); a população (seção 6.3); o delineamento metodológico (seção 6.4), contendo a validação do instrumento de pesquisa (subseção 6.4.1) e o cálculo da amostra (subseção 6.4.2); os procedimentos de coleta de dados (seção 6.5), incluindo: questionário (subseção 6.5.1) e pesquisa documental (subseção 6.5.2); o tratamento estatístico dos dados (seção 6.6) e as limitações da pesquisa (seção 6.7).