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CAPÍTULO II – ENQUADRAMENTO TEÓRICO DA PESQUISA

2. Metacognição, o Primeiro Modelo Metacognitivo e Evolução da Teoria

2.4 Perpectivas sobre Aquisição de Língua Não Materna

2.4.2 Perspetiva da Psicologia Cognitiva de ALE

A visão da Psicologia Cognitiva de ALE tende a diferenciar-se da descrição comum de ALE descrita por vários autores (cf. Ellis, 1987; Stroud, 1997; Duarte, 1993; James, 1998) e anteriormente apresentada, porque a “cognitive theory in SLA has been closely identified with information-processing paradigm” Harrington (2002: 125). Ou seja, na Psicologia Cognitiva analisa-se a ALE no âmbito da Teoria de Processamento da Informação em que a Metacognição surge para explicar as operações de monitorização e regulação de ALE. Os mecanismos de aquisição, manuseamento e armazenamento da informação, de acordo com a teoria de processamento de informação, configuram os processos mentais, ou seja, nesta teoria considera-se que “individuals are said to “process” information, and the thoughts involved in this cognitive activity are referred to as “mental processes” O'Malley & Chamot (1990: 1).

A visão da Psicologia Cognitiva de ALE defende que a perspectiva Linguística de ALE assume que a LE é aprendida sem acesso às capacidades cognitivas e incide mais sobre o comportamento do aprendente. Não é de surpreender pois que a perspetiva adotada na Psicologia Cognitiva sobre ALE procure argumentar que a mente humana opera segundo processos mentais (os empreendimentos cognitivos usados no processamento da informação) que se assemelham aos mecanismos usados por um computador no processamento da informação. À partida este posicionamento anula a participação de perspetivas mentalistas de ALE, como a defendida por Noam Chomsky que sugere que o Homem dispõe de sistema cognitivo (LAD – Language Acquisition Device) que, inatamente, facilita a Aquisição da LE. Atente-se sobre a figura abaixo

30 retirada da obra de Purpura (1999) sobre o Processamento da Informação no decurso da Aquisição da LE.

Figura 1: Elementos Básicos do Sistema de Processamento da Informação

Esquema (adapatado) retirado de Purpura (1999) citando Gagné, Yenkovich & Yenkovich (1993) na obra The Cognitive Pshycology of School Learning

Purpura (1999) citando o estudo de Gagné, Yenkovich &Yenkovich (1993) apresenta um modelo de processamento da informação Humana na ALE. De acordo com o esquema, teoricamente, dois suportes são avançados: (i) suporte estrutural, que consiste de recetores sensoriais, Memória de Curto e Longo Prazo e (ii) suporte funcional que detalha as atividades ou estratégias que se vão desenvolvendo em determinadas etapas peculiares do processo de aquisição da informação. De acordo com a figura acima, a informação ou input entra no suporte estrutural através dos recetores e passa para a memória intermédia. Alguma parte do input é acolhida por mecanismo de perceção seletiva (i.e. estratégias de seleção) enquanto a parte do input não acolhida é desperdiçada. A parte do input isolada avança para a memória de trabalho onde

31 convergem mecanismos de armazenamento (estratégias de compreensão e estratégias de armazenamento e memória) para a sua preparação e deposição na Memória de Longo Prazo. Quando se pretende ativar os mecanismos de retoma da informação, acede-se à Memória de Longo Prazo (i.e. estratégias de recuperação) e organiza-se a informação para a sua saída (output) com base em mecanismos de estruturação da resposta (i.e. mecanismos psicofisiológicos). Cada uma destas ações cognitivas é controlada ou regulada por processos metacognitivos (processos de controlo). Por esta via, os processos metacognitivos auxiliam na planificação e auto-controlo da aprendizagem (Purpura, 1999).

O esquema de análise acima não apresenta diferenças significativas com aquele descrito por O´Malley & Chamot (1990) apoiando-se em outros autores (Lachmam, Lachman & Butterfield 1979; Shuell 1986; Weinstein & Mayer, 1986). Fundamentado na Teoria de Processamento da Informação para aprendizagem, o modelo procura explicar como uma nova informação é armazenada na mente e como é depois adquirida. De forma resumida, o esquema em causa sugere que a informação é armazenada em dois estágios na Memória de Longo Prazo e na Memória de Curto Prazo, em que a primeira descreve o funcionamento da última por meio de processos cognitivos de armazenamento da informação.

Nessa sistematização, a nova informação (aprendizagem de LE) é adquirida por via de 4 processos mentais interligados que abarcam a seleção, aquisição, construção e integração. Na seleção os aprendentes recolhem informação de aprendizagem que lhe é

válida e armazenam na Memória de Curto Prazo; na aquisição os aprendentes transferem a informação recolhida e arquivada na Memória de Curto Prazo à Memória de Longo Prazo para arquivo definitivo; na construção os aprendentes constroem a sua aprendizagem através da interligação da aprendizagem recentemente arquivada e a

32 informação anteriormente arquivada. Na integração o aprendente busca a informação da aprendizagem arquivada na Memória de Longo Prazo e a conduz a Memória de Curto Prazo. Neste sistema, a seleção e aquisição indicam a quantidade de informação de aprendizagem enquanto que a construção e integração indicam o que é aprendido e modo como é estruturada essa informação da aprendizagem na memória.

As Estratégias de Aprendizagem neste modelo são ativadas para tornar evidente ao aprendente os passos a desenvolver para a efetivação de cada uma destas etapas. Neste contexto, chama-se atenção aos aprendentes a identificar e aplicar conscientemente as Estratégias de Aprendizagem que sejam produtivas para que essa aprendizagem seja retida definitivamente na Memória de Longo Prazo. Considera-se, assim, que as Estratégias de Aprendizagem que atuam sobre a cognição do indivíduo têm maior probabilidade de serem mais eficazes no processo de aprendizagem. Com a repetição e aquisição completa das Estratégias de Aprendizagem, elas tornam-se automatizadas e podem facilmente ser usadas na aprendizagem da LE em outros contextos.

No entanto, O´Malley & Chamot (1990) concluem que o formato atrás referenciado não foi desenhado exclusivamente para explicitar a ALE com base na Psicologia Cognitiva na sua totalidade, pois ele mostrou-se eficaz apenas no tratamento de alguns aspetos da ALE como vocabulário, compreensão da leitura, resolução de problemas em determinadas tarefas entre outros. Deste modo, de acordo com O´Malley & Chamot (1990), o esquema não cobre a totalidade dos fenómenos linguísticos, em geral, e da LE, em particular, nomeadamente Ouvir, Falar, Ler, Escrever. Por outro lado, o modelo não abre espaço à compreensão e produção linguística, o que está previsto nas pesquisas sobre a ALE.

33 Na perspetiva dos autores que temos vindo a citar, uma teoria alternativa sobre ALE com base na Psicologia Cognitiva deve ser capaz de descrever as representações do complexo de habilidades cognitivas, ter em conta a análise da tarefa, rede das actividades processuais e sistema de produção.

O´Malley & Chamot (1990) basearam-se em Anderson (1983, 1989) que descreve uma teoria de ALE em que se concebe a LE como uma competência cognitiva passível de ser aprendida, sendo termo competência cognitiva a habilidade que permite o desenvolvimento de diferentes atividades mentais (processo mentais). Assim, na aquisição da competência cognitiva interferem ações cognitivas situáveis na Memória de Longo Prazo e na de Curto Prazo, que se reportam ao (i) Conhecimento Declarativo, que é o que nós já sabemos, isto é, o conhecimento estático; e ao (ii) Conhecimento Processual, que é o sabemos como fazer (Memória de Curto Prazo). No centro, estão as Estratégias de Aprendizagem que facultam a ALE através de processos de controlo da entrada, gestão e arquivo e, por fim, saída da informação da LE.

No Conhecimento Declarativo encontramos, do ponto de vista da língua, o arquivo da representação proposicional que retém a parte semântica da informação armazenada, onde a proposição se desdobra entre as relações e os seus argumentos. Num exemplo como “a Luana vestiu uma blusa bonita” as relações correspondem ao verbo “vestir”, ao adjetivo “bonita” e os argumentos se reportam aos Nomes “a Luana”, “uma blusa”. Na análise proposicional, as relações e os argumentos podem ser

representadas esquematicamente por uma rede proposicional, podendo esta última ser arquivada na mente hierarquicamente e, uma vez arquivada, pode ser recuperada acionando outros conceitos por referência de apenas uma proposição.

O Conhecimento Processual refere-se à habilidade de desenvolver diferentes procedimentos mentais, isto é, à capacidade de perceber e de produzir sons linguísticos

34 e/ou fazer uso do conhecimento de regras para resolver uma determinada situação de aprendizagem. Enquanto o Conhecimento Declarativo é adquirido de forma imediata por que é rapidamente arquivado na mente do aprendente, o Conhecimento Processual como a ALE é adquirido de forma gradual e somente se houver uma constante exercitação. A representação do Conhecimento Processual na memória é uma questão central na teoria da Psicologia Cognitiva de ALE e revela-se através dos Sistemas de Produção. Os Sistemas de Produção consistem de um complexo de capacidades cognitivas que, de um modo geral, envolve uma ação que é determinada por uma situação anterior condicional, ou seja, na produção existe um “se” (condição) que antecipa o “então” (ação). Inicialmente, estas relações de produção (condição-ação)

fazem parte do Conhecimento Declarativo e com a prática gradual podem constituir-se em conjuntos de produção que se tornam automatizados.

Com a automatização dos sistemas de Produção da Memória de Longo Prazo, facilmente se pode transferir esses sistemas para a Memória de Curto Prazo e operacionaliza-los. É justamente aqui que reside o facto de a ALE ser um processo longo, porque enquanto não houver uma redução da capacidade da Memória de Curto Prazo, através da simplificação dos sistemas de produção, o processo de ALE torna-se mais demorado e difícil.

Sumariando, (i) o conceito de Metacognição foi proposto por John Flavell, investigador pioneiro da Metacognição e, no âmbito da teoria psicológica de processamento de informação, diz respeito à cognição sobre a cognição ou o pensar sobre o pensar; (ii) não parece haver uma distinção entre a Metacognição e cognição, porque os fenómenos atinentes à Metacognição resultam de processos cognitivos e, por consequência, a Metacognição é mais um fenómeno da cognição e não um fenómeno estranho à cognição. A teoria proposta por este autor (John Flavell) evoluiu e, entre

35 outros aspetos (estudos sobre monitorização e a regulação da cognição, por exemplo), passou a explicar o processamento da informação resultante da aprendizagem da LE, sobretudo em aprendentes com dificuldades de aprendizagem. No centro deste tipo abordagem, há salientar as Estratégias de Aprendizagem (cognitivas, metacognitivas e ainda afetivas e sociais) que auxiliam o aprendente a melhorar o seu desempenho no processo de aquisição de conhecimentos, sobretudo, da aquisição de conhecimentos da LE. As Estratégias Metacognitivas destacam-se por poderem propiciar um controlo cognitivo das aprendizagens em curso, contudo, devem ser aplicadas em conjugação com as Estratégias Cognitivas para o sucesso das aprendizagens da LE.

A interlíngua é a base científica que procura explicar o conjunto de “erros” produzidos por um aprendente de uma LNM quando se analisa uma teoria geral de Aquisição de LS. No entanto, à luz da Psicologia Cognitiva alicerçada na teoria de processamento da informação humana, os “erros” de Aquisição da LE decorrem da

ausência de automatização das informações recuperadas da Memória de Longo Prazo pela Memória de Curto Prazo, resultando numa sobrecarga desta última memória e consequente perda de informação do sistema linguístico da LE que devia ser operacionalizada em output, ou seja, produção ou saída da informação de LE.

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CAPÍTULO III – MÉTODOS E INSTRUMENTOS DE RECOLHA E ORGANIZAÇÃO DE DADOS

3. Metodologia de Recolha e Organização de Dados

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