CAPÍTULO IV: METODOLOGIA E RESULTADOS DA INVESTIGAÇÃO
4.4. PERSPETIVA DE UMA EMPRESA DA ÁREA – POTENCIAL PARCEIRA/CONCORRENTE –
Por forma a abranger todos os stakeholders da AdNw, considerou-se pertinente conhecer a
realidade de uma empresa parceira/concorrente da AdNw, analisando a sua perspetiva
relativamente à temática em análise.
Considerou-se pertinente analisar esta empresa pelo facto de haver uma sobreposição de
concessões, ou seja, em 1993, o Estado Português através do Decreto-Lei nº 379/93 de 5 de
novembro atribuiu a concessão do Sistema Integrado de Despoluição do Vale do Ave (SIDVA) por
25 anos, na respetiva área de intervenção - que abrange os municípios de Guimarães, Santo
Tirso, Trofa, Vila Nova de Famalicão e Vizela -, pela exploração e a gestão, em regime de
exclusividade, do Serviço Público de drenagem, depuração e destino final das águas residuais.
Já em 14 de maio de 2002 é criado o Sistema Multimunicipal de Abastecimento de Água e de
Saneamento do Vale do Ave, através do Decreto-lei n.º 135/2002, de 14 de maio. O Sistema
Multimunicipal foi criado para captação, tratamento e distribuição de água para consumo público e
para recolha, tratamento e rejeição de efluentes dos municípios de Fafe, Guimarães, Póvoa de
Lanhoso, Santo Tirso, Trofa, Vieira do Minho, Vila Nova de Famalicão e Vizela.
Com a criação do Sistema Multimunicipal criou-se uma sobreposição de concessões nos
Municípios de Guimarães, Santo Tirso, Trofa, Vila Nova de Famalicão e Vizela, que tem criado
algumas dificuldades, nomeadamente na relação com os clientes municipais e industriais. Até há
pouco tempo esta Empresa era vista como concorrente, estando atualmente a “trabalhar” mais em
parceria e de forma coordenada, até que se chegue a um consenso no que respeita à
problemática da sobreposição das concessões, daí este capítulo tratar uma empresa
parceira/concorrente.
4.4.1. DESCRIÇÃO DA EMPRESA TRATAVE
A TRATAVE - Tratamento de Águas Residuais do Ave, S.A., é a entidade gestora do Sistema
Integrado de Despoluição do Vale do Ave (SIDVA) por 25 anos, sendo a empresa responsável,
pela "exploração e gestão, do Serviço Público de drenagem, depuração e destino final das águas
residuais materializado pelo SIDVA, nos municípios de Guimarães, Santo Tirso, Trofa, Vila Nova
de Famalicão e Vizela.
A atividade da TRATAVE de "drenagem, depuração e destino final das águas residuais lançadas
ou entregues pelos clientes e utilizadores" encontra-se certificado pelo NP EN ISO 9001 e assenta
numa Política de Gestão que visa obter um elevado nível de desempenho.
A missão e a visão da TRATAVE são definidas da seguinte forma:
Missão
A missão da TRATAVE é a exploração e gestão do Serviço Público de Drenagem, Depuração e
Destino Final das Águas Residuais do Sistema Integrado de Despoluição do Vale do Ave, num
quadro de harmonização entre o crescimento industrial e a qualidade ambiental do Vale do Ave.
Assim, e dando corpo ao slogan “TRATAVE, no presente e no futuro do Vale do Ave”, o centro de
todas as suas atenções situa-se na zona geográfica abrangida pelos três subsistemas de
drenagem que integram o SIDVA, ou seja aquela que já foi considerada a "zona mais poluída" da
bacia hidrográfica do Ave.
Valores
A TRATAVE assenta a sua ação no respeito pelo ambiente, criação de valor, ética, melhores
práticas do estado da arte e promoção da estabilidade e espírito da sua equipa.
De acordo com o site da empresa, a TRATAVE tem ao seu serviço 46 colaboradores, distribuídos
pelas diferentes áreas de atuação, descritas na figura que se segue:
Figura nº 11: Estrutura Organizacional da TRATAVE
Fonte:http://www.tratave.pt/
A TRATAVE a 20 de julho de 2012, tinha sob a sua gestão 387 clientes industriais e de cisternas
pertencentes aos municípios descritos anteriormente e dois clientes municipais – Guimarães e
Vizela – encontrando-se os restantes municípios sob a gestão direta da AdNw, apesar de parte
efluente em causa destes municípios ser tratado em infraestruturas sob a gestão da TRATAVE,
considerando-se esta relação como subcontratação. Para a gestão destes clientes a TRATAVE
utiliza como software informático o SAP, na componente contabilística e uma base de dados
própria para gestão efetiva dos contratos.
Tendo em conta a relação existente com esta entidade, considerou-se de grande relevância a
análise da sua opinião no que respeita à temática em estudo. Assim, foi remetido um questionário
por email para o Diretor de Gestão de Clientes e Intercetores (DGCI) da TRATAVE – Eng.º
Rolando Faria − que foi respondido a 20 de julho de 2012. Considerou-se que seria mais
enriquecedor conhecer a opinião deste diretor, no que respeita a esta temática, ao invés de um
administrador, considerando ser este que tem maior relação com os clientes e que melhor
conhece os procedimentos dessa área.
4.4.2. ANÁLISE DAS RESPOSTAS
A primeira questão apresentada neste questionário foi se “Considera que a TRATAVE tem uma
cultura orientada para os clientes ou para os resultados (lucro)?”, ao que foi respondido pelo
Eng.º Rolando Faria que a TRATAVE “tem uma cultura orientada para o cliente mas com
preocupações de sustentabilidade financeira sua e do cliente. A sobrevivência e saúde do cliente é
fundamental para a sustentabilidade técnica e económica da empresa”, havendo desta forma uma
relação entre as duas vertentes, sendo ambas praticadas pela TRATAVE.
Considerando que na estrutura organizacional da TRATAVE existe um departamento isolado dos
restantes, denominado de Direção de Gestão de Clientes e Intercetores, e levando em linha de
conta as respostas dos administradores da AdNw no que respeita às ações de melhoria,
questionou-se se “considerava pertinente que a área de clientes seja isolada dos restantes
departamentos? Quais as razões?”. A resposta a esta questão foi afirmativa, de acordo com o
DGCI a “área de clientes deve estar equidistante das áreas financeiras e operacionais”,
apresentado as seguintes razões como justificativa: “A ligação à área financeira implica um
enfoque exagerado na faturação e cobrança, sendo o cliente uma mera fonte de receita. A ligação
à área operacional, do serviço propriamente dito, origina exigências unidirecionais sobre o cliente
sem que haja uma adaptação do prestador do serviço (TRATAVE) e do Sistema às necessidades
e dificuldades do cliente.”
Nesta sequência pretendeu-se conhecer quais as principais funções desta área, e que pessoal
técnico constitui a mesma, assim como a formação do mesmo. No que respeita às funções
inerentes a esta área, foram descritas, pelo DGCI, as seguintes: identificação e contacto inicial
com potenciais clientes
sensibilização para a ligação
contratualização da adesão
definição das condições técnicas de ligação
o acompanhamento das obras de ligação
a aplicação e resposta a esclarecimentos sobre os Regulamentos técnicos de ligação ao
Sistema
fiscalização
determinação dos caudais mensais e tarifas para faturação e apoio à cobrança
elaboração de relatórios e definição de indicadores sobre os proveitos da empresa
No que respeita aos técnicos que constituem esta área, a mesma é constituída por quatro
colaboradores a tempo inteiro e três, a tempo parcial, sendo que estes três acumulam funções de
operação e manutenção dos intercetores, área que está no mesmo departamento da área de
clientes. Dos sete colaboradores: dois são licenciados, três possuem o secundário completo e
dois, o 3º ciclo.
Na sequência das questões anteriores e considerando a possibilidade da criação de uma área
isolada de clientes na AdNw foi questionada a pertinência ou o objetivo desta área dentro da
TRATAVE, ao que o DGCI resumiu como sendo os propósitos da área de clientes em três
objetivos:
assegurar o cumprimento dos regulamentos por parte dos clientes de modo a minimizar os
problemas e os custos na drenagem e tratamento do efluente global;
maximizar a receita através da prevenção, eliminação e punição de fraudes, a definição de
tarifas justas e a medição efetiva dos caudais;
assumir o papel de interlocutor dos clientes, sendo o seu porta-voz, e assumindo, quando
se justifica, a defesa interna dos clientes e utilizadores do Sistema.
Foi ainda abordada a questão a comunicação interna e da relação com os restantes
departamentos da TRATAVE, questionando-se o DGCI de “Como interage a área de clientes com
as restantes áreas/departamentos da empresa?”. De acordo com o mesmo esta comunicação é
efetuada de “forma natural e simples até pelo reduzido número e proximidade entre os
colaboradores envolvidos. São privilegiados os contactos diretos e, quando necessário, as
comunicações internas.”
Ainda relacionada com a questão anterior e porque é uma das questões essenciais também desta
problemática é a questão da comunicação com os clientes e, neste sentido, questionou-se esta
entidade de “Que meios de comunicação são privilegiados pela TRATAVE para comunicar
com os seus clientes? Considera que são suficientes?” No que respeita a esta questão o
DGCI referiu que a TRATAVE para além dos contactos diretos, efetuados, essencialmente, nas
instalações dos clientes, elabora trimestralmente um boletim, designado "TrataveNotícia", com
notícias e informações sobre a sua atividade e assuntos de interesse para o cliente. Com esta
iniciativa a TRATAVE pretende que os seus clientes conheçam com mais pormenor as atividades
e as infraestruturas sob a sua responsabilidade.
Sendo a cultura organizacional o tema central desta dissertação, não poderíamos deixar de o
abordar junto deste stakeholder. Uma das questões apresentadas ao DGCI foi, na opinião do
próprio “o que deverá fazer uma empresa desta área para ter uma Cultura Organizacional
orientada para o Cliente?” e, de acordo com as palavras do mesmo, a empresa deverá “valorizar
a área de clientes, com benefícios equivalentes às áreas financeira e operacional e com reporte
direto à Administração. Deve assegurar que seja constituída por meios humanos qualificados e
preparados para transmitirem os valores e a missão da Empresa de modo a valorizar o serviço
prestado.”
A última questão, foi ainda no mesmo âmbito da anterior, mas direcionada para a opinião pessoal
quanto à cultura organizacional da AdNw – “Qual a sua opinião relativamente à Cultura
Organizacional da Águas do Noroeste? Considera que tem uma Cultura orientada para o
Cliente? Em que pode melhorar?” – ao que o DGCI respondeu não conhecer com rigor a
organização da AdNw, não permitindo que expresse a opinião de forma fundamentada, mas que
“estando a área de clientes dentro do Departamento Administrativo e Financeiro, vai contra o que
foi defendido nos pontos anteriores. Julgo que a autonomia e o reforço das suas competências
seriam essenciais para o assumir de uma cultura claramente orientada para o cliente”.
Ao longo da análise a este stakeholder foi possível verificar a importância que a área de clientes
tem dentro da organização e de qual a importância da referida área ser independente das
restantes áreas. Verifica-se que privilegiam a comunicação pessoal – face to face - com os seus
clientes, por exemplo no site da Empresa não têm uma área destinada aos clientes, o que nos
dias que correm não é muito usual, cada vez mais a internet é um meio de comunicação mais
utilizado para as transações comerciais.
Tendo em conta o que foi dito anteriormente pelo DGCI da TRATAVE pode concluir-se que, sendo
a área de clientes transversal a todas as áreas da empresa, uma vez que o serviço que está a ser
prestado é para o cliente, esta área pode ser considerada como a área que faz a ponte entre todas
as restantes áreas e direções, devendo a mesma estar isolada das restantes para que assim
possa atuar de forma autónoma e com o pensamento focado na prestação de um serviço de
No documento
ORIENTAÇÃO PARA O CLIENTE, COMUNICAÇÃO E CULTURA ORGANIZACIONAL
(páginas 119-124)