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A perspetiva dos experts: o Turismo Cemiterial, de Portugal para o Porto

7. Dark Camps of Genocide – Campos de Genocídio Negros

4.3. A perspetiva dos experts: o Turismo Cemiterial, de Portugal para o Porto

“(…) o potencial turístico de um cemitério não se avalia somente pelo que contém, mas também pela sua localização, enquadramento urbano, asseio e, sobretudo, pela questão das dissonâncias no seu interior. (Queiroz, 2009:3)”

Esta afirmação ajuda a explicar o porquê de não estarem destacados todos os cemitérios portuenses nesta proposta de criação de uma Rota, bem como as divergências notórias nos cemitérios do país. Até agora analisamos o que os visitantes disseram sobre as suas experiências. Apontam algumas tendências, por vezes avaliam e hierarquizam os diferentes espaços cemiteriais, mas trata-se de uma visão de proximidade.

É a voz de alguns estudiosos acerca do património cemiterial que propõe alguns rumos classificativos de valorização de alguns cemitérios, merecedores de visitas organizadas. Por exemplo, Queiroz (2009:3)refere o caso dos cemitérios propostos em 2002 e 2003 como monumento nacional (Cemitério da Lapa, Cemitérios dos Prazeres e Cemitério Britânico de Lisboa) e os propostos como imóvel de interesse público (Cemitério de Viana do Castelo, Braga, Guimarães, Lamego, Conchada, Cemitério Setentrional da Figueira da Foz, Alto de S. João, Agramonte e Prado do Repouso) que podem ter menos potencial turístico que alguns que não foram propostos para classificação.

69 Contudo, alguns destes cemitérios, devido ao seu valor artístico e histórico, estão ao nível dos mais importantes do mundo, embora o seu potencial turístico se encontre numa fase embrionária. Não obstante alguns sinais são positivos, como as iniciativas de musealização de parte da Capela do Cemitério dos Prazeres de Lisboa e a colocação de sinalética nos jazigos de maior interesse que remetem para as brochuras temáticas existentes. No caso do Porto, os cemitérios municipais e não só (como se descreveu atrás) foram alvo destas iniciativas. Apesar de em nenhum dos casos existir “(...)uma estrutura especificamente vocacionada para a salvaguarda e promoção turística do património cemiterial”, a verdade é que algumas experiências tenham sido levadas a cabo ( restauro em túmulos monumentais abandonados) (Queiroz, 2009:4)”. Além disto, Queiroz assume que o turismo cemiterial em Portugal não é organizado, ao contrário de França, Inglaterra, Espanha e Itália e considera que o investir nos cemitérios neste momento ainda não traz o retorno imediato, advertindo que apesar dos cemitérios ainda serem gratuitos, no futuro podem não o ser. Como exemplo temos o caso do Cemitério de Highgate (Londres), que se encontra dividido em duas áreas: a Este é de acesso livre mas devido à sua elevada procura, aos sábados realizam-se visitas guiadas com um custo de £7 por adulto; a Oeste só está acessível nas visitas guiadas, como forma de proteger a fauna e flora (Abranja et al., 2012: 1289).

Relativamente aos cemitérios municipais devemos destacar a criação do “Guia dos Cemitérios do Porto” que teve disponível nos postos de turismo. De acordo com Francisco Queiroz, em entrevista à Rádio TSF (2011), este tipo de iniciativas permite que a autarquia ganhe visibilidade e a relação dos familiares com os seus túmulos modifica-se, pois valorizam mais e sentem mais a pressão de preservar. Quanto ao Cemitério da Lapa, a Ordem foi apercebendo-se que tinham um grande potencial através das visitas guiadas, impedindo o processo de degradação e descaracterização a que estava sujeito.

Além desta vantagem, Francisco Queiroz (TSF, 2011) salienta o perfil do turista, pois tem uma média ou elevada formação e um médio ou elevado poder económico. Para este autor existem sobretudo três tipos de visitantes: nacionais do segmento do Turismo Cultural (grupo mais pequeno que tem dificuldade em visitar um cemitério sem um guia, livro ou pessoa); portugueses ou estrangeiros que procuram um turismo negro/mórbido (por exemplo os góticos) e turistas do norte da Europa, do mundo anglo- saxónico e nipónicos.

70 Estes turistas visitam os cemitérios essencialmente por duas razões:

 Visitar “(…)locais de elevado significado histórico, literário ou patriótico, como é o caso de túmulos de grandes escritores, músicos, líderes políticos e ideológicos, ainda que estes túmulos não tenham qualquer interesse artístico. Esta motivação nota-se em Portugal sobretudo em grupos restritos (Queiroz, 2009:6)”.

 Conhecer “(…) peças de arquitetura e escultura marcantes. Esta motivação não se nota muito em Portugal, porque os cemitérios ainda não são vistos pelo cidadão comum como repositórios de arte ou, se o são, existe ainda muita dificuldade em discernir o real valor das peças. Isto reflete falta de estudo dessas peças e, sobretudo, falta de divulgação do estudo que já foi realizado (geralmente, devido a preconceito por parte dos editores) (Queiroz, 2009:6)27”

Apesar dos portugueses não visitarem um cemitério pelo espólio artístico que detém (verificou-se isso nos inquéritos atrás apresentados), não acontece o mesmo por parte dos turistas estrangeiros. Estes dissociam as duas perspetivas, a relação artística dos sentimentos de tristeza e de recordação. Francisco Queiroz (2009:6) explica que não é “mórbido para um inglês visitar um cemitério português, aplicando-se também o inverso. Tal significa que o potencial turístico dos cemitérios monumentais portugueses é maior sobretudo junto do mercado estrangeiro e especialmente junto de turistas não mediterrânicos.”

27Indo encontro desta carência de informação, o Dr. Licínio Fidalgo explica que a temática do Turismo Cemiterial é muito recente em Portugal, pois data dos finais dos anos 90 mas só a partir de 2002 é que se começou a trabalhar. E a nível legislativo apesar de consultarem o Decreto-Lei nº411/98, ainda recorrem à Lei de 62 (Abranja et al., 2012: 1293).

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5. Estudo de caso: A Rota dos Cemitérios do Porto

A criação de uma rota enquanto produto turístico implica a direção de uma estratégia, o que implica que incorporem no espectro mais alargado de património, recursos endógenos que intersetam com os espaços cemiteriais, entendidos como pontos de interesse do território.

Tendo em conta que o turismo, de uma forma muito redutora, baseia-se em 3A, Alojamento, Alimentação e Animação, a rota deve englobar estes mesmos aspetos, sempre que possível e interligarem-se. Assim, um recurso patrimonial associado a equipamentos e infraestruturas que vão em busca das necessidades do turismo, poderão definir itinerários turísticos que justifiquem a existência da rota e contribuir para a economia local.

Por itinerário turístico entende-se como sendo a “indicação de um caminho que pode ser seguido numa viagem entre dois locais distintos, com referências aos vários pontos de interesse turístico que se poderão encontrar pelo meio, e que está, em muitos casos, sujeito a um tema específico. Por forma a serem mais facilmente seguidos, os itinerários podem incluir indicações de distâncias e tempos previstos para as deslocações e visitas sugeridas (IPB,2012)”. A rota acaba por ser o mesmo que um itinerário, normalmente de curta duração e está associada a um tema.

No caso da Rota dos Cemitérios do Porto está estruturado em dois segmentos: o segmento complementar, que integra todos os cemitérios existentes nesta cidade, e o segmento principal que será direcionado para os mais significativos da cidade, pelo seu valor histórico, arquitetónico ou artístico. O segmento principal é constituído pelos seguintes cemitérios: Cemitério de Agramonte (1),Cemitério Britânico (2), Cemitério da Lapa (3), Cemitério Catacumbal de S. Francisco (4) e Cemitério do Prado do Repouso (5).

72 Figura 3 - Localização dos Cemitérios

Fonte: Google, 2013

5.1 Objetivos gerais e específicos