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Perspetivas das educadoras de infância e professoras do 1.º CEB

Parte II – Exercício investigativo

4. Apresentação e análise dos resultados

4.1 Perspetivas das educadoras de infância e professoras do 1.º CEB

Conhecer as perspetivas das educadoras de infância e professoras de 1.º CEB acerca das NE

Uma das primeiras questões colocadas tanto às educadoras de infância como às professoras do 1.º CEB relacionava-se com a maneira como estas interpretam o conceito “necessidades educativas”.

Ao analisar as várias entrevistas, concluiu-se que tanto as educadoras de infância como as professoras do 1.º CEB têm conhecimento dos vários tipos de NE existentes. Tal como se pode comprovar nos seguintes excertos “(…) há casos profundos e há casos ligeiros.” (E1) e “(…) temos muitos tipos de necessidades educativas especiais: ligeiros, graves, muito graves.” (P1)

No entanto, as docentes, também associam as NE a problemas que condicionam o apoio prestado às crianças, “quando as crianças têm algum problema que necessitam de ser apoiadas numa maneira diferente das outras crianças.” (E2) ou ainda descrevem as crianças com NE como sendo aquelas que manifestam problemas “físicos, intelectuais, sensoriais e emocionais.” (P1)

Os excertos destacados anteriormente, vão ao encontro da ideia apresentada por Brennan (1988) citado por Madureira e Leite (2003, pp.29-30) que menciona que uma criança carece de uma NE quando manifesta “uma deficiência (física, intelectual, emocional, social ou qualquer combinação destas) que afecta a aprendizagem até tal ponto que são necessários alguns ou todos os acessos especiais ao currículo especial ou modificado, ou a umas condições de aprendizagem especialmente adaptadas para que o aluno seja educado adequada e eficazmente.”

Compreender os desafios na inclusão de crianças com NE

Ainda no seguimento da questão anterior as docentes foram questionadas relativamente aos desafios que podem ser impostos na inclusão de crianças com NE, sendo

60 que neste aspeto as opiniões tanto das educadoras de infância como das professoras do 1.º CEB são comuns, pois ambas destacam a falta de meios, “(…) para isso tem que haver meios e o nosso país não tem muitos meios nem dá muitas respostas nessa área.” (E1), a falta de resposta por parte do Ministério da Educação, “(…) o Ministério da Educação tem vindo a cortar educadores e professores na área das necessidades educativas especiais.” (E1), a falta de tempo disponibilizado aos técnicos, “(…) os técnicos nem sempre conseguem realizar o seu trabalho, uma vez que não possuem horas que cheguem para tal.” (P1), a falta de apoio, “o apoio nem sempre chega.” (P1) bem como o elevado número de crianças por grupo, “(…) o número de crianças por grupo deve ser reduzido.” (E1)

Conhecer qual o papel a adotar pelos educadores de infância e professores do 1.º CEB na inclusão de crianças com NE

As docentes, educadoras de infância e professoras do 1.º CEB, quando questionadas de qual deveria ser o seu papel na inclusão de crianças com NE rapidamente afirmaram que esse papel devia de passar pela aceitação da diferença e pela inclusão das crianças no grupo. Tal como se pode confirmar nos seguintes excertos: “(…) o dever e a responsabilidade de aceitar a diferença de cada uma destas crianças e de integrá-las e incluí-las na sua sala como uma criança que tem o direito à educação tal como as outras.” (P2) e “(…) papel de inclusão, tentar inserir a criança com necessidades educativas especiais no grupo de crianças ditas “normais”.” (E2).

Ao analisar-se os excertos destacados anteriormente, pode-se confirmar, que as entrevistadas vão ao encontro da ideia defendida por Rocha (2017) uma vez que, segundo este autor as docentes devem ter em consideração a diversidade da turma ou do grupo bem como desenvolver o seu papel de forma justa e solidária, eliminando qualquer tipo de preconceito ou descriminação.

Ainda no seguimento desta questão as entrevistadas, educadoras de infância e professoras do 1.º CEB, enumeraram um conjunto de práticas que podem beneficiar a inclusão de crianças com NE, entre elas destacam-se: o trabalho em equipa, “(…) ser um trabalho feito em equipa.” (E1), o diálogo e a troca de informação constante entre os vários elementos que compõem a equipa, “(…) através do diálogo entre os intervenientes no processo. O diálogo e a troca de informação constante, devem ser a principal linha condutora para o sucesso.” (E2). As professoras do 1.º CEB, destacam ainda a cooperação entre o professor titular de turma e os restantes técnicos, “(…) cooperação entre o professor titular de turma e os restantes técnicos para que conjuntamente encontrem o melhor caminho para que a criança obtenha um desenvolvimento pleno.” (P2)

61 Ao analisar os excertos mencionados anteriormente, pode-se concluir que estes se relacionam com a revisão da literatura realizada. Uma vez que estudos tais como os de Vieira (1994), Madureira (1997) e Leite (1997) comprovam que a colaboração entre os vários intervenientes que constituem a equipa contribui para o sucesso educativo das crianças com NE.

Compreender quais as estratégias utilizadas na inclusão de crianças com NE

Ainda no seguimento das entrevistas semiestruturadas, as educadoras de infância e professoras do 1.º CEB mencionaram algumas estratégias que consideram que se devem ter em consideração para que se promova a inclusão de crianças com NE.

Das estratégias mencionadas pelas educadoras de infância destacam-se fundamentalmente o respeito pelo ritmo de cada criança, “(…) deixar ao ritmo da criança (…) cada qual tem o seu ritmo.” (E1), o papel investigador por parte dos docentes, “fazer pesquisas” (E1), o estabelecimento de uma relação com a família, “cabe a nós alertar os pais”

(E1) bem como proporcionar a participação de todas as crianças, “(…) não deixar que a

criança não participe.” (E1). O decreto lei n.º 54/2018 evidencia o aumento da participação das crianças com NE tanto nos processos de aprendizagem como na vida da comunidade escolar.

Ainda segundo Coutinho (2000) os docentes devem estabelecer uma relação com a família da criança e incentivar a sua participação na vida educativa da mesma.

As professoras do 1.º CEB destacam ainda que se consegue alcançar a inclusão através dessa mesma inclusão das crianças com NE, ou seja, compreendendo que todos nós temos tanto capacidades como incapacidades, “é precisamente a inclusão, são crianças iguais a todas (…) todos temos incapacidades de alguma forma e todos temos capacidades de qualquer outra forma.” (P1) realçando ainda a promoção da aprendizagem e a priorização das áreas curriculares, “estimular a aprendizagem e priorizar as áreas curriculares.” (P2)

Dar a oportunidade às entrevistadas de colocar alguma questão que considerassem pertinente

Como forma de finalizar as entrevistas semiestruturadas, tanto às educadoras de infância como às professoras do 1.º CEB foi-lhes dada a oportunidade de acrescentarem alguma questão ou de mencionarem algo que não tivesse sido abordado ao longo de toda a entrevista. Podemos destacar um pedido de apoio e um melhor trabalho em equipa, “o sistema tem que dar mais apoio, o estado tem que dar mais apoio, investir, mas tem que ser um trabalho de equipa, deveria fazer-se mais investimento a longo prazo para se poder ajudar famílias e principalmente as crianças” (E1). As professoras do 1.º CEB apelaram ainda para

62 que a inclusão deixe de ser apenas no papel e que se comece a implementar e a adequar às realidades vividas nas escolas, “gostava só que a inclusão deixa-se de ser só no papel e que passa-se à realidade existente nas escolas.” (P1)