• Nenhum resultado encontrado

Capítulo IV – Oferta para o turismo LGBTQ

7.2. Apresentação dos resultados dos e-mails às unidades de alojamento turístico: I Fase

7.3.1. Opinião dos residentes sobre a comunidade LGBTQ

7.3.1.2. Perspetivas dos residentes sobre o mercado LGBTQ

A perceção que os residentes do município do Porto, têm sobre este mercado é que este está em grande crescimento, em grande parte devido ao facto de que o município do Porto, está cada vez mais recetivo a diferentes nichos de mercado, como refere diversos entrevistados, como, por exemplo:

“é um mercado que está a crescer, isto é, é um mercado que sempre existiu e com a abertura das mentalidades, acho que começou a ser visto de uma maneira diferente”, E4 “Sinceramente acho que é uma oportunidade. (…) Acho sinceramente que é um nicho que tem muito para crescer e é um nicho muito pouco explorado em Portugal.” (E1)

Capítulo VII – Análise e discussão dos resultados

142

“é um nicho que esta em crescimento pois cada vez mais há pessoas a assumir a sua sexualidade e a deixar de ter medo de viajar.” (E8)

A perceção de crescimento do mercado turístico LGBTQ está associado ao desenvolvimento dos direitos que esta comunidade (Clift e Wilkins (1995, citado por Vorobjovas-Pinta & Hardy, 2016)), tem conseguindo vir a usufruir no município do Porto, como observado pelos entrevistados.

É um mercado de grande importância já que possui características sociodemográficas pertinentes.

“São na minha opinião clientes que têm um poder económico alto” E1 “tem um poder económico mais alto” E4

“Normalmente é um cliente que possui dinheiro” E6

“Os gays e lésbicas têm muito mais posses que os heterossexuais. Não têm filhos a maior parte deles e logo aí, tem uma vantagem muito grande sobre os outros.” E13

Estas observações demonstradas pelos entrevistados só salientam que aquilo que dá maior representatividade a este mercado está associado ao DINK e ao “pink-money”, como referem os autores Badgett (2001); Hughes (2005); Hughes, Monterrubio, e Miller (2010); Pritchard et al. (2000); UNWTO (2017); Visser (2003); Walters & Moore (2002). A ideia de que o mercado da comunidade homossexual possuir mais dinheiro, do que população heterossexual, é também uma ideia que se abrange e estende aos entrevistados residentes no município do porto.

As suas expressões de identidade só os tornam mais aliciantes para serem bem-recebidos no mercado turístico:

“são clientes que não nos criam problema nenhum, antes pelo contrário, são muito low

profile; são cliente muito calmos, querem ser bem atendido, não querem problemas” (E1)

“têm um cuidado especial em termos de limpeza, não só das casas-de-banho. Eu acho que os homossexuais homens têm uma preocupação maior com as limpezas. As mulheres, nem tanto.” (…) “São mais sensíveis do que a maior parte das pessoas. Mas nada de especial…” (E6)

“Mas a nível de tipo de turista, digamos que a única que se distingue em quanto pessoas é que são mais detalhistas, no sentido em que são mais peculiares, ou são mais rigorosos, às vezes, em determinadas coisas.” (E10)

“A nível de serviço, de atenção ao cliente. Acho que se calhar são os que exigem um maior cuidado, uma maior atenção da nossa parte.” (E14)

A neutralidade do cliente só o torna mais atraente, na perspetiva que não cria problemas de interação com outros mercados do hotel.

Capítulo VII – Análise e discussão dos resultados

143 Ou seja, tudo conjugado: a capacidade de conseguirem estar numa sociedade que

aceita a comunidade LGBTQ e de terem oportunidade económica para se exprimirem e afirmarem-se levou a que este mercado conseguisse “começar a sair – acho eu - mais, e mais para dentro de Portugal. O que eu achava que muitos portugueses, não se sentiam bem dentro do seu país, e então aproveitavam e iam muito para o exterior. E agora acho que não, eu a partir de algum tempo atrás, se eu sou de Lisboa e quero ir passar um fim-de- semana ao Porto, vou para um hotel e acabou, está resolvido. E eu acho que nesse aspeto, estamos a evoluir e ainda bem.” (E1). Optam por alojamentos que ficassem em locais mais cosmopolitas, ou em cidades mais desenvolvidas “não escolhem sítios muito mais conservadores, muito mais… Não quer dizer que eles não sejam religiosos, ou não tenham a sua religião. Mas julgo que é não escolher aquela zona mais conservadora.” (E2) ou “procuram sítios mais calmos, mais recatados, para se calhar não darem muito nas vistas” (E15) e optam por escolher unidades de alojamento que se identifiquem como “amigas da comunidade LGBTQ” “no momento da escolha deles, existem alguns momentos que eles pretendem, não pela estrutura do hotel, não pela decoração, não pela localização, mas o facto de serem LGBTQ-friendly, pesa bastante na decisão deles.” (E11).

O turista da comunidade LGBTQ têm vindo a procurar locais que sejam cada vez mais amigáveis e que aceitem bem a comunidade local (Kyriakaki & Abanoudis, 2016), levando a que os entrevistados, também tenham a perceção que o município do Porto acolhe bem a comunidade LGBTQ e a própria comunidade já não sente vergonha em usufruir do seu próprio país, e não sente a necessidade tão explícita de ir para outro país, para poder estar em anonimato, podendo assim expressar a sua sexualidade publicamente (como observado no estudo de Hughes (1997) e Köllen e Lazar (2012)). Porém, é percecionado por alguns entrevistados, que a escolha de um alojamento e/ou destino é feita com a perceção de se este, é ou não LGBTQ-friendly, como percecionado pelo estudo da Community Marketing Inc. (2017).

Conseguem e insistem em se demarcar e acarinhar ao “Procuram mais um bocadinho o setor de luxo” E4, “escolherem o melhor” E6 e “gostam de ter um espumante no quarto, um pouco de fruta – elevar um pouco aquilo que é a fasquia da sua estadia. Mas isso é algo que não é uma condição para eles ficarem no hotel, ou não é um requisito, mas notamos.” E11.

Não que sendo o caso específico dos entrevistados, porém um dos hotéis que é denominado com sendo LGBTQ-friendly capta uma perceção de como cada vez mais existe uma necessidade de conseguir oferecer produtos diferentes para esta comunidade

Capítulo VII – Análise e discussão dos resultados

144

(Lubowiecki-Vikuk & Borzyszkowski, 2016).O facto de conseguirem ter um maior poder económico, leva a que estas comunidades, consigam e queiram acarinhar-se e melhorar as comodidades a que estão expostas nos serviços hoteleiros e tal cativa as unidades de alojamento que tentam agradar cada vez mais, a esta a comunidade e faz, com que voltem de novo ao destino (Barbosa et al., 2017; Kyriakaki & Abanoudis, 2016). Para além de que os millennials procuram cada vez mais serviços personalizados (World Tourism Organization, 2017)

Para outros entrevistados, a comunidade LGBTQ é apenas um mercado igual a qualquer outro e exprime-se através das mesmas formas:

“Não. É igual! (…) É como digo, connosco, não! A nível…. É que nem sequer a nível de pedidos especiais: quanto a housekeeping, F&B É tudo igual. Tem um comportamento exatamente igual! Há muitos deles que são, e nós nem entendemos!” “Os que eu tenho aqui identificado, não têm pedidos especiais, não tem … Acho que a nossa experiência é toda igual, é muito normal! A atitude deles, é exatamente a mesma, tal como o hétero. E a nossa com eles, também é exatamente igual.” (E2)

“pessoas que procuram, por exemplo, turismo de adrenalina; esse tipo de situações. Acho que isto é um segmento de mercado completamente diferente – são pessoas com crenças, com gostos e que de nada diferem de outro tipo de cliente, pelo contrário. Acho que no fundo não deixam de ser clientes, não deixam de ser humanos com escolhas.” (E5) “são turistas normais, completamente iguais aos outros.” (E9)

“Não, é tudo normal. Não existe valorização ou fatores a ter em conta.” (E16)

A perspetiva dos profissionais hoteleiros, define a perceção total de como a comunidade LGBTQ, pretende ser tratada: com igualdade perante todos os outros, como refere o autor Kyriakaki e Abanoudis (2016).

Com as entrevistas que se realizaram, percebe-se que existe descriminação por parte dos entrevistados para a comunidade LGBTQ, já que mesmo percebo que não seja de todo, de forma intencional, existem a necessidade de definir a comunidade LGBTQ como “sendo normal”, isto é como E4 “exatamente como pessoas normais”, ou E6 “são pessoas como as outras”, ou E7 “de um turista que tenha uma orientação sexual normal”, ou E13 “a este tipo de pessoas”. Existe uma imposição de anormalidade, como se as pessoas possuíssem algum tipo de deficiência, como observa o autor Pritchard et al. (2000). Por parte dos entrevistados dos hotéis só relatam ter havido claramente um problema de os colaboradores descriminarem a comunidade LGBTQ “Sim. E quando achei que o estava a fazer, chamei-o à atenção.” (E15). Pois no caso deste entrevistado, apesar de ter chamado a atenção para o colaborador, perante

Capítulo VII – Análise e discussão dos resultados

145 a sua atitude de discriminação para com a comunidade LGBTQ, porém levou a que a unidade

de alojamento pudesse na eventualidade possuir repercussões na medida em que é alvo de word-of-mouth negativo (Munar & Jacobsen, 2014; Walsh, 2009), inibições de consumo (Poria, 2006) e não se recomendar o serviço (E. B. King et al., 2006)) ou se pensa, sequer em repetir o serviço (Gremler et al., 1994). Uma vez que se corrigiu o problema, não se evitou

Relatam também que existem situações que para os entrevistados não fazem sentido, como é o caso de: “Há muitas estupidezes que se ouvem, como eu já ouvi: “Se forem duas mulheres, eu não me importo. Agora se forem dois homens…é que é mau.” Às vezes irrita-me, porque estás a falar na tua fantasia, queres estar com duas mulheres… e não com dois homens. Por amor de Deus, não tem nada a ver! Mas ainda existe essa parte. Ainda não demos o passo em definitivo, mas eu acho que estamos a dar uns passos bastantes largos a ver melhorias nesse aspeto.” (E1)

7.3.2. Opinião dos profissionais no ramo hoteleiro sobre o turismo LGBTQ