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Perspetivas Genéricas dos Profissionais

Capítulo III: Análise dos Resultados

Anexo 7 – Descrição das categorias relativas aos Profissionais da Justiça 1 Valoração da Prova Testemunhal

4. Perspetivas Genéricas dos Profissionais

- esta categoria temática inclui, por um lado, as críticas gerais que os profissionais apontam ao funcionamento do Sistema, e, por outro, sugestões de mudança para um

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4.1. Críticas ao funcionamento do sistema: encerra os pontos negativos que os PJ referem relativamente ao funcionamento geral do Sistema. Inclui:

4.1.1.Prática excessiva das DMF: descreve a crítica dos magistrados à determinação frequente dos procedimentos de DMF22.

4.1.2 Sobreprotecção da criança: engloba as perspetivas dos profissionais que entendem que atualmente há uma preocupação excessiva com o bem-estar e a proteção da criança, mesmo em prejuízo do processo.

4.1.3.Recorrência das alterações legislativas : inclui as críticas dos profissionais quanto às mudanças constantes da lei, com destaque para:

- Crimes públicos: reflete a desacordo dos magistrados relativamente à natureza pública dos crimes, dado que, em caso de não testemunho da vítima, muitas não é possível produzir qualquer prova.

- Tribunais especializados: descreve o descontentamento dos magistrados quanto à existência de Tribunais especializados que apenas versam sobre algumas questões.

- Inclusão da criança: inclui críticas relativamente ao envolvimento da criança no processo e à preocupação em compreender as perceções das crianças vítimas.

4.1.4. Sistema insensível: descreve o Sistema como insensível às questões das dinâmicas do abuso, das particularidades desenvolvimentais da vítima e dos potenciais efeitos traumáticos da vivência processual.

4.1.5. Espaços inadequados: descreve o desagrado dos profissionais relativamente à desadequação dos espaços à receção e à inquirição da criança.

4.2. Sugestões de mudança: por seu turno, inclui ideias construtivas para a reformulação dos procedimentos e da vivência judicial pela criança .

4.2.1.Aposta na intervenção preventiva primária: descreve a sugestão de insistir na prevenção e não na minimização dos danos causados pela situação

abusiva. Para isso, é necessário:

- Diagnósticos precoces: inclui a identificação precoce dos indicadores e, consequentemente, da situação de abuso.

- Reestruturação das crenças sociais: implica explorar as crenças sociais quanto ao poder paternal e quanto à importância de denúncia destes casos

- Valoração da versão da criança: descreve a importância da valoração da “verdade” da criança, no sentido de averiguar calmamente os factos e de proteger a criança.

4.2.2. Alterações processuais: engloba mudanças na realização e na condução dos procedimentos.

- Evitar reinquirições: reflete a importância de evitar as repetições constantes das experiências de vitimação pela criança.

- Afastamento da criança do Tribunal: descreve a não solicitação da presença da criança em sede de Tribunal, sobretudo da sala de Tribunal.

- Obrigatoriedade das DMF: ao contrário de perspetivas anteriormente abordadas, inclui perceções dos magistrados que defendem a importância de padronizar a obrigatoriedade da realização destes procedimentos e do cumprimento dos seus objetivos.

22 Apesar de no nº 2 do artigo 271º do CPP estar determinado que “No caso de processo por crime contra a liberdade e a autodeterminação sexual de menor, procede-se

sempre à inquirição do ofendido no decurso do inquérito” e referir no nº8 que o testemunho em audiência de julgamento é possível desde que não coloque em causa a saúde física ou psíquica de pessoa que o deva prestar. Contudo, não é referido quem deve avaliar esta possibilidade e de que forma.

109 - Salas com espelhos unidirecionais: refere o desenho de salas com espelhos unidirecionais, de modo a diminuir o número de elementos participantes no processo durante as inquirições, enquanto possibilita aos mesmos profissionais participar nas diligências processuais.

- Inquirição única: descreve a relevância de determinar um procedimento único de recolha da prova testemunhal, de modo a evitar as reinquirições e a ida da criança a Tribunal. Segundo os PJ, estas devem ser conduzidas:

* Por juiz: reflete, por uns, a indicação de que devia ser um juiz a conduzir esta inquirição única.

* Por técnico especializado: descreve, segundo a perspetiva de outros, que a inquirição devia ser conduzida por um profissional especializado, de modo a otimizar-se o testemunho, sem prejudicar a criança.

- Regulamentação da intervenção do MP: define a importância de regulamentar/padronizar a intervenção do MP de modo a assegurar a defesa dos

direitos e das necessidades da criança.

- Agilização da recolha do testemunho: em caso de não realização de inquirição única, descreve a essencialidade da recolha da prova testemunhal o

mais rapidamente possível.

- Padronização dos procedimentos: reconhecida a dependência das sensibilidades pessoais para uma condução adequada das diligências, enuncia a importância de padronizar funções, procedimentos e abordagens por todos os profissionais, em todos os casos de ASC.

- Articulação Processual e Colaboração Profissional: reflete a importância da comunicação e do trabalho em equipa entre os profissionais e do cruzamento, não cumulativo, mas complementar, entre os dois processos em prol da criança.

4.2.3. Formação dos Profissionais: reflete as sugestões de formação específica pelos PJ.

4.2.4. Leitura atualizada da Lei: descreve a necessidade dos PJ interpretarem a lei segundo as características da sociedade atual e dos casos particulares com os quais se cruzam todos os dias.

4.2.5. Promoção do bem-estar da criança e respetivos direitos: reflete a referência à proteção da criança, ao respeito dos seus direitos.

4.2.6. Criação de equipas especializadas: descreve a necessidade de criação de equipas que, incluindo profissionais devidamente formados nas dinâmicas do abuso e na inquirição às crianças, se dedicassem apenas a estes casos e sempre que fosse deduzida uma acusação de ASC.

4.2.7. Otimização das DMF: referências complementares em termos de perspetivas e sugestões sobre as DMF: a sua otimização; otimizar o espaço e otimizar as abordagens.

4.2.8. Garantia de acompanhamento terapêutico da vítima: além das preocupações processuais e da proteção da criança dentro das portas dos Tribunais, o sublinhar da importância de um acompanhamento terapêutico que ajude a criança a processar e a redefinir a situação abusiva, assim como todas as alterações (positivas e negativas) que resultarem da sua revelação.