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Pertença, Competência e Identidade 140

10. Canto VII 138

7.1. Pertença, Competência e Identidade 140

Todo o desempenho que a viagem exigiu, resultou na forma mais indicada na promoção da construção da identidade profissional, uma vez que através da partilha dos problemas que emergiram da ação resultou o desenvolvimento do espírito colaborativo e das competências argumentativas e comunicativas, escritas e orais (Matos, 2014). Este processo de partilha mostrou ser, numa fase inicial, o aspeto mais evidente de evolução de todos os membros da tripulação, onde todos discutiam, comentavam e opinavam acerca das suas vivências. Observações e pontos de vistas, que auxiliaram a colmatar das lacunas de cada um. Com o decorrer da viagem, esta partilha manteve-se no seio de alguns membros da tripulação, que felizmente souberam sempre vê-la como uma mais- valia, fazendo-o de forma natural e espontânea todos os dias, nas aulas, depois delas, no bar, nos intervalos de almoço e fora da Nau. Se por um lado retirei benefício do olhar externo dos meus colegas de tripulação para melhoria da minha ação pedagógica, por outro, a observação das lições calendarizadas contribuiu para o aperfeiçoando da minha lente de análise, capacidade crítica, reflexiva e argumentativa. Com o decorrer da viagem a partilha de experiências e opiniões não se limitou ao aquário e estendeu-se a outros navegadores da Nau, pertencentes ao grupo de EF, mas também a docentes de outras disciplinas, com os quais convivi na sala de descanso, principalmente nas horas de almoço, e funcionários. O contacto estabelecido com os outros navegadores e funcionários possibilitou-me alargar horizontes, ter outras perspetivas, reformular conceções quer sobre a escola, quer sobre ensino e perceber o modo de funcionamento dos mais variados cargos e funções que não tive a oportunidade de ver, conhecer e vivenciar. Para Nóvoa (2009, p. 3) “é na escola

e no diálogo com os outros professores que se aprende a profissão”, ideia com

a qual concordo e que experienciei ao longo de toda a viagem.

Foi preponderante durante toda a viagem questionar, refletir e dar significados aos conhecimentos adquiridos. Segundo Matos (2014, p. 3) o objetivo desta viagem passa pela “formação de um professor profissional, promotor de um

ensino de qualidade”, “um professor reflexivo que analisa, reflete e sabe justificar o que faz em consonância com os critérios do profissionalismo docente e o conjunto das funções docentes”. Para (Alarcão, 1996) , através do ciclo reflexivo,

os navegadores estabelecem uma interação e relação entre a teoria e prática, entre o saber documental e o saber experiencial, que conduz ao desenvolvimento da competência profissional. A mesma autora considera que o pensamento reflexivo contribui, decisivamente, para a promoção do progresso. Para mim e para a minha prática, a reflexão exigiu ultrapassar a barreira da descrição, teve sim de partir da análise da praxis para interpretar ações, evidenciar problemas e encontrar soluções. A constante reflexão crítica sobre a atuação pedagógica tornou-se num catalisador de competência profissional, uma vez que a constante imergência na ação docente constitui o principal requisito para a identificação de falhas, vazios e problemas e colmatação dos mesmos.

A reflexão crítica é e foi assim uma introspeção minha, objetivando a otimização da minha intervenção futura, perspetivando novos desenrolares e reformulações de práticas. Segundo Alarcão (1996) o pensamento reflexivo abre a oportunidade de antecipar a ocorrência de fenómenos e ampliar a extensão do prognóstico das suas consequências, ou seja, permite evitar ou minimizar os inconvenientes ou prolongar a duração das vantagens. Posto isto o destaque atribuído à prática reflexiva foi o ponto-chave para o meu crescimento profissional, tornando-se indispensável ao longo desta viagem (e das que virão) não só pelo aprimoramento das práticas de lecionação, intervenção e resolução de situações imprevisíveis, como também pelo despertar da sensibilidade para pormenores encobertos, sobre os quais, talvez, nunca me teria debruçado se não assumisse uma atitude de introspeção e procura incessante de perceber o

porquê dos acontecimentos. No fundo, a “reflexão-ação constitui uma atitude docente indispensável e subjacente às práticas educativas, capaz de promover alterações fundamentadas das metodologias e estratégias conducentes a um ensino de qualidade” (Alarcão, 1996, pp. 57-58).

Relativamente ao desenvolvimento de competências de comunicação (orais e escritas) e de argumentação, este foi possível devido à realização de tarefas diversificadas. As reuniões em tripulação, a lecionação das lições e das quartas mágicas, a realização de reflexões de aula bem fundamentadas, a construção do Projeto de Formação Individual (PFI). Acredito que ao longo da realização dos documentos pedidos evidenciei uma escrita adequada e coerente na articulação das ideias e das normas estabelecidas.

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No que diz respeito às atividades, vivências e marcos importantes na construção da competência e pertença profissional, essas foram já relatadas e refletidas ao longo deste documento, no canto VII, e por essa razão, não serão aqui novamente mencionadas, numa tentativa de evitar a repetição e extensão das páginas do documento.

Recorrer à investigação como meio de entender e informar a prática e os problemas da mesma, por meio de um estudo de investigação realizado, contribuiu igualmente para o crescimento profissional. Assim, “(…) as inovações

não se fazem por decreto, requer dos professores espírito de pesque próprio de quem sabe e quer investigar e contribuir para o conhecimento da educação. Mas, ao mesmo tempo esta atitude de atividade de pesquisa contribui para o desenvolvimento profissional dos professores e desenvolvimento institucional das escolas em que estes se inserem…” (Alarcão, 1995, p. 2)“ Ser professor- investigador é, pois, primeiro que tudo ter uma atitude de estar na profissão como intelectual que criticamente questiona e se questiona (…) é ser capaz de se organizar para, perante uma situação problemática, se questionar intencional e sistematicamente com vista à sua compreensão e posterior solução” (p.6).

Todos os pontos anteriores contribuíram para o sentimento de competência e pertença na profissão, bem como para construção e complementaridade da minha identidade profissional e pessoal. Considero que este foi o primeiro tijolo da construção de um castelo, e enquanto profissional e pessoa anseio por mais viagens, por mais anos letivos e por mais aprendizagens. Considero-me mais competente, experiente e situada mas não satisfeita e saciada com a quantidade e qualidade de aprendizagens e conhecimentos que trago comigo. Um navegador com tamanha responsabilidade como a do professor deve estar sempre na vanguarda das tendências escolares e didáticas, deve por isso procurar formação e atualização, não deixando os seus conhecimentos e estratégias descontextualizadas com o público-alvo e o mundo em que vivemos. O navegador deve entrar num processo de vaivém constante, levando a transformações no seu conhecimento e consequentemente, a investigações futuras sobre as mais diversas problemáticas (Oliveira & Serrazina, 2012).

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