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Relações construídas em cascos de madeira 95

4. Canto IV 42

9.6. Relações construídas em cascos de madeira 95

“A motivação primeira no ensino reside na interação entre professores e alunos e no coletivo dos alunos. De facto, a aceitação de exigências, de esclarecimentos, etc., depende essencialmente da aceitação da pessoa de quem emanam, isto é, da atmosfera de relações humanas reinastes na turma”

(Lompscher, 1976 cit. por Bento, 2003, pag. 50). Segundo Freire (1996, p. 77)“ toda prática educativa demanda a existência de sujeitos, um, que ensinando, aprende, outro, que aprendendo ensina”. Com a análise destes dois excertos facilmente percebemos que de haver interação entre o ensino e a aprendizagem e que, a educação provém da relação entre navegador e aprendiz.

Desde os primórdios da sociedade, desde os primeiros minutos de vida ao momento final da mesma, o ser humano evidencia uma necessidade espontânea de se relacionar quer com os outro seres, quer com o meio que o rodeia. As relações construem-se através da socialização e consequente comunicação

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entre os dois agentes relacionais, sendo através das mesmas que o ser humano se relaciona e se realiza pessoal e profissionalmente. (Brait et al. 2010, p. 2) Se o indivíduo na sua génese demonstra uma necessidade urgente de se relacionar, também o professor na sua profissão e ação tem a necessidade de se entrosar com os seus alunos/”alvos” educativos. A esta relação professor- aluno dá-se o nome de relação pedagógica.

Todo o navegador apresenta-se como uma referência para a formação dos seus alunos, sendo crucial o modo como se relaciona com eles. "Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador. A gente se faz educador, a gente se forma, como educador, permanentemente, na prática e na reflexão da prática" (Freire, 1991, p. 58). Não há como esperar que as pessoas ajam da mesma forma, e tenham a mesma atitude perante um mesmo facto, acontecimento ou conversa. A cada experiência vivida, a cada conhecimento aprendido encontramos o nosso papel como pessoas no mundo, dando novos significados a nossa presença, ao nosso motivo de existência, adquirindo uma nova consciência, ampliando a nossa esfera de presença de ser (T.Coelho, 2001). Na sua prática pedagógica o professor também aprende com o aluno. Para Freire (1996, p. 124), “a capacidade do educador de conhecer o objeto refaz-se, a cada vez, através da própria capacidade de conhecer dos alunos, do desenvolvimento de sua compreensão crítica”.

“Sinto que nesta última aula de voleibol, sei mais e melhor sobre a modalidade, teórica e tecnicamente. Parece que eu própria fui aluna da professora que sou, sinto-me um upgrade do meu conhecimento. Não só vejo a evolução dos meus alunos enquanto jogadores de voleibol, mas como corpos integrantes de uma equipa, onde há de facto interação, cooperação, inter ajuda. Ser professor vai assim para além das aulas, vai para além do pavilhão e da escola. Ser professor é marcar os alunos, fazer a diferença, transformar e edificar seres humanos, ensiná-los a cooperar, a ajudar, a viver com e para os outros, é ter paixão no que se faz e pô-la em tudo o que realiza, é ser entusiasta e transmitir esse mesmo entusiasmo aos alunos com quem temos o prazer de interagir. Ser professor é no fundo percorrer a utopia de transformar o mundo, através das nossas ações, e se não for o mundo inteiro, então que seja o mundo de cada um de nós.”

Reflexão da última aula de Voleibol, 24 de Novembro Pilão (1998, p. 20) remete-se à importância da participação do aprendiz em todo o processo, esclarecendo que o papel do aluno não pode ser passivo, com a

simples ação de ouvir, memorizar e reproduzir um conteúdo sem ser questionado sobre ele, sem confrontar os conhecimentos prévios com os novos. A autora supracita afirma ainda que o navegador não pode ser apenas mero expositor de conteúdos, que cobra a reprodução exata do saber transmitido, pede sim a participação ativa do praticante na sua aprendizagem, e interação e diálogo entre o preletor e o executante.

“A curiosidade dominou esta décima primeira aula de futsal. Porquê? Porque lhes disse que este seria o dia em que eles iriam ter acesso ao documento onde estava expressa a especiaria que os definia. Mal chegaram, com os 5 minutos de antecedência que lhes é característico, abordaram-me no sentido de saber quando seria O momento. É claro que a resposta seria: “esperem para ver!” E a curiosidade e o entusiasmo instalou-se. Questiono-me agora sobre tudo o que tenho em mãos, sobre tudo o que fiz até este

mesmo dia, sobre tudo o que foi feito por eles e o que para eles significa ou não. Percebo que é muito fácil e esperado entusiasmarmo-nos e apaixonarmo-nos quando sabemos que estas são AS pessoas. AS pessoas que irão influenciar o nosso futuro enquanto professores (ou não). AS (primeiras) pessoas a quem nós deixaremos uma marca, a quem vamos acrescentar uma vírgula, um ponto de interrogação ou preferencialmente um ponto de exclamação. E apesar de alguns receio a nível de conteúdo, de prática pedagógica propriamente dita, “nenhum jogo pode significar mais do que as pessoas com quem o jogamos”. “

Reflexão da aula 11 de Futsal, 12 de Janeiro Confesso que na fase inicial da viagem, por estratégia distanciei-me um pouco da caravela. Assumi uma postura autoritária e séria, de forma a proteger-me e a impor limites. Tendo em mãos vinte e um rapazes e três raparigas, o estabelecimento destes limites logo no início do ano, influenciou positivamente toda a viagem. Com o passar do tempo decidi que devia deixar esta máscara cair, e mostrar o que sou realmente. Este foi o ponto de viragem na construção de relação incrível e sincera entre mim e os meus aprendizes.

“Por ser algo anormal para mim e em mim, sinto ainda necessidade de me reportar à minha atitude reativa nesta aula. Esta disposição poderia ter sido interpretada pelos meus alunos e observadores como agressiva ou como assertiva, mas para mim, no instante da aula foi encarada como agressiva. Por este motivo dei por mim a querer acalmar o alarido que sentia em mim. Senti a necessidade de a um dado momento da aula, ausentar-me de mim e perceber como o alterar e usá-lo beneficamente na aula.

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Agora, passado uns dias, percebo que talvez as atitudes levadas a cabo não foram de todo agressivas, foram sim assertórias. Lompscher (1976 cit. por Bento,2003) diz que a motivação primeira no ensino reside na interação entre professor e alunos e no coletivo dos alunos, e que a aceitação das exigências, esclarecimentos, demandas etc., depende essencialmente da aceitação da pessoa de quem provêm, isto é, da atmosfera de relações dominantes na turma. Tendo em conta a turma que tenho em mãos, posso ser eu, sem ter de disfarçar ou camuflar algo. Consigo “tê-los nas minhas mãos” em qualquer situação, pois percebem que tudo o que faço e digo tem algum propósito, percetível a quem quiser fazer parte de algo maior do que são agora e menor do que serão quando todo este processo acabar. Sei ainda quando parar, percebo quando esta atitude pode ser prejudicial ao clima da aula e à disposição dos alunos, e por isso esta disposição apesar de não ser a “minha”, não foi fator prejudicial da aula, mas da minha perceção e sentimento acerca dela. ”

Reflexão da aula 25 de Voleibol, 10 de Novembro Percebo agora o porquê de alguns professores não medirem esforços para levar os seus alunos à ação, à reflexão crítica, à curiosidade, ao questionamento e à descoberta. Tal como Freire (1996, p. 96) afirma “O bom professor é o que

consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas”. A

minha missão foi ser uma boa professora. Julgo que a missão foi cumprida!

“Por fim, vejo em todas as aulas que cada vez mais vinco a minha posição enquanto professora, e aproximo-me dos meus alunos mantendo uma relação saudável, positiva, entusiasma e motivadora perante eles. Considero que os meus alunos são reflexo da minha pessoa enquanto professora e por isso não descuro a minha verdadeira presença na aula. E tal como Williams & Reilly (2000) afirmam, elevados níveis de motivação, empenhamento e trabalho árduo são requisitos essenciais para desempenhos de excelência, mas a importância de uma prática num ambiente de aprendizagem estimulante e de qualidade tornam-se ainda mais preponderantes.”