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“Hoje foi dia de lançar um desafio à turma. Desafiei-os a fazer uma alta definição da pessoa que são, dos gostos que os caracteriza, e do que não gostam. Tentei despertar neles curiosidade sobre o assunto para que mais tarde este desafio se torne significativo não só para mim, mas também para eles. Vamos lá ver o que estas cabecinhas pensadoras têm para me mostrar.”

Companheiro de viagem, 30 de Outubro Desde o dia um que ambicionei ter um conhecimento profundo sobre os aprendizes que ia ter a meu cargo. Desde o dia um que me preocupei em que eles me conhecessem, da forma mais pessoal e genuína possível. Desde o dia um que os incentivei a serem o mais transparentes e honestos possíveis. Assim, após um mês do primeiro contacto com a caravela, incentivei todos os aprendizes a apresentarem-se a mim como se eu não os conhecesse, como se eu nunca me tivesse relacionado com eles, pedindo que me dessem a conhecer coisas que eu não sabia.

“Caros engenheiros de obras feitas, um desafio: Cada um terá de criar um documento em que se definam enquanto pessoas. Nada de

muito extenso. A ideia é descreverem-se, falar sobre o que gostam e não gostam, as vossas ambições e sonhos de vida. Têm até dia 10 de Novembro.DEAL?”

Esta foi uma dinâmica desenvolvida ao longo da viagem que fortaleceu não só as relações entre mim e a caravela mas também intensificou o sentimento de curiosidade sobre o que eu achava de cada um deles. Após a receção das “ altas definições” de cada um, foi-lhes atribuída uma especiaria, de acordo com as características e opinião que tinha e tenho de cada um deles. (Anexo 11)

O segundo desafio associado a esta dinâmica foi descobrirem o porquê da especiaria atribuída e dissertarem sobre essas razões. Alguns dos alunos acertaram em cheio, outros passaram bem ao lado do alvo, mas todos demonstraram empenho e curiosidade em perceber o que eu penso deles (ao ponto de perguntarem ao professor de Português a história do gengibre) como é visível nos excertos seguintes:

“Salsa : Pesquisei sobre a “salsa” e foi a isto que cheguei. Além de ter ido ao encontro de promoções até 50% de desconto na Salsa e a ritmos latinos tais como mambo, rumba e cha cha cha, aos quais teria jeito para dançar se não tivesse “pés de chumbo” (risada da professora) … (outra risada por eu ter adivinhado que ia acontecer), estas foram as características que penso que associou à minha personalidade: -Antigamente os Romanos usavam esta planta não só para enfeitar pratos como também porque acreditavam que esta absorvia gases nocivos. Associo este tópico ao facto de ser uma pessoa que não se deixa afetar por comentários ou influências negativas e/ou para proteger os próximos de serem afetados pelos mesmos. -A salsa é também uma planta que tem propriedades nutritivas que ajudam a circulação do sangue e previnem acidentes cardiovasculares. Tal propriedade faço analogia ao facto de poder ajudar alguém que se sente em baixo e demonstrar a este(a) caminhos por onde não passar pelo mesmo. Nisto tudo concluo que a professora me vê como uma boa pessoa, pronta para ajudar, com sentido de humor e capacidade para ter melhor desempenho em composições de português (acabei de confirmar o terceiro tópico e a professora riu-se outra vez).” “Alcaparra: A alcaparra é uma especiaria que nunca ouvira falar. Como não sabia o que era, fui

investigar um bocado. Tentei também perceber a maneira de a professora nos relacionar a estas especiarias, e pensei que fosse pelos benefícios das mesmas. Se estiver então correto, a minha especiaria tinha (na antiga Grécia) e tem ainda hoje propriedades calmantes, é uma estimuladora de apetite e tem diversas características

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que promovem uma vida saudável. Como isto se relaciona a mim é que é a parte um pouco mais difícil, mas acho que consigo mais ao menos perceber. Estive a reler os meus “gostos/desgostos” que enviei a professora e percebi que lhe fiz passar uma imagem de uma pessoa que não se preocupa muito com o mal e gosta muito do bem, o que faz de mim uma pessoa muito calma nesse aspeto. Não gosto de ter grandes preocupações e também encaixa aí muito esse aspeto calmante da alcaparra. Em termos de estimulador de apetite, é um pouco difícil a relação a mim mas também tinha dito que gostava muito de promover bons climas e de estar em grupo, então talvez por ter uma postura super positiva e de conseguir mesmo com que hajam bons momentos de grupo, as outras pessoas queiram sempre voltar a estar comigo e experienciar mais momentos agradáveis. Também li que na antiguidade era uma especiaria só para classes altas então também poderia usar esse argumento para dizer que sou difícil de alcançar e tudo mais, mas não ache que isso se reflita em mim. Acho que é isto professora, não sei mais o que possa dizer.” “Salsa – B

-Planta -Molho picante -PEqueno vulcão -Homem presumido -Mascarado que tenta excitar o riso Planta que se reproduz num ambiente ensolarada com um melhor desenvolvimento entre março e agosto precisando de ser bem irrigada mas sem exageros, demorando algum tempo a germinar. É também resistente a oscilações de temperatura. Antigamente era uma planta usava para decoração e retirar o cheiro do ar repleto de álcool também ligada a força do mal pois algumas pessoas acreditavam que a semente possuía um poder maléfico porque as suas raízes e folhas podiam ser usadas em rituais de magia para a destruição do inimigo. A salsa era também utilizada nos funerais mas nesse caso, com a intenção de purificar

o ar e facilitar a passagem do corpo para o outro mundo. Caracterizo-me salsa por ser: -"pequeno vulcão": que raramente explode -planta que gosta de "ambientes ensolarados”: eu adoro temperaturas amenas e sol. -planta que "precisa de ser bem irrigada”: isto é, precisa de água, de um solo húmido. Identifico-me por gostar de piscina. -lenta a "germinar": como demora tempo a crescer, podemos considera-la preguiçosa o que também me caracteriza.

-"usada para purificar o ar”: quer isto dizer, que sou uma pessoa pacífica.”

Após receber a interpretação de todos, procedi à explicação do porquê da atribuição de cada uma das especiarias, a qual entreguei num envelope no último dia da vida escolar deles. O Baile de Finalistas.

“A missão do professor não é dar respostas prontas. As respostas estão nos livros, na internet. A missão do professor é provocar inteligência, é provocar o espanto, é provocar a curiosidade." Alves (2011) Foi isto que quis provocar nos

meus alunos, a curiosidade para o que eu acho de cada um deles, quais são as suas características mais visíveis, o que transmitem às pessoas. Esta foi uma das estratégias aplicadas para aproximar-me dos elementos da caravela e fortalecer a relação com eles estabelecida.

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