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5 RESULTADOS

5.13 PESCA PROFISSIONAL

O Art. 26 do Código Nacional de Pesca diz que "Pescador profissional é aquele que matriculado na repartição competente (SEAP) segundo as leis e regulamentos em vigor faz da pesca sua profissão ou meio principal de vida”.

Para levantamento da pesca profissional, foram entrevistados pescadores na Área de Influência Direta (AID) do empreendimento. As coletas dos dados foram realizadas de maneira a contemplar as informações das comunidades de pesca ao longo de todo o trecho de estudo que estivessem na Área de Influência Direta do empreendimento.

Para as PCH’s Sumidouro e Bom Jesus do Galho, durante as vistorias realizadas, não foi constatada a presença de pescadores em nenhuma das estações de amostragem. A pesca profissional para a região de estudo não é muito comum, uma vez que estas águas são consideradas muito contaminadas, visto que recebem grande quantidade de efluentes da cidade de Bom Jesus do Galho. Nestas águas também é observado o acúmulo de uma grande quantidade de resíduos, contribuindo para a contaminação destas águas.

6 DISCUSSÃO

A transformação do ambiente lótico em lêntico é o primeiro impacto observado na construção de empreendimentos hidrelétricos ou de qualquer barramento de um rio. A hidrologia local é severamente alterada, significando que as condições químicas e físicas da água são modificadas (alteração limnológica) e, com isso há formação de um novo ambiente, com novos habitats e à perda de outros.

O principal objetivo do presente estudo foi realizar um levantamento e um monitoramento da composição ictiofaunística, além de avaliar possíveis impactos ambientais causados as populações de peixes na represa, na área de influência das PCH’s Sumidouro e Bom Jesus do Galho.

Durante o monitoramento realizado em 2011/2012, foram capturados 24 (vinte e quatro) indivíduos nas PCH’s Sumidouro e Bom Jesus do Galho, pertencentes a 03 (três) ordens (Characiformes, Siluriformes e Perciformes), e distribuídos em 03 (três) famílias e 07 (sete) espécies distintas.

Em agosto/2011, foram amostrados apenas 10 (dez) indivíduos, pertencentes a 03 (três) ordens (Characiformes, Siluriformes e Perciformes), e distribuídos em 04 (quatro) famílias e 05 (cinco) espécies distintas.

Já em fevereiro/2012, foram capturados 14 (quatorze) exemplares, distribuídos em 05 (cinco) espécies, enquanto que, em fevereiro/2012, foram coletados 10 (dez) indivíduos, e distribuídos em 05 (cinco) espécies distintas.

A restrita diversidade de espécies e reduzida quantidade de indivíduos, observado durante as amostragens, se dá pela presença do esgoto proveniente da cidade de Caratinga, o qual produz uma baixa qualidade ambiental, principalmente sobre o reservatório de Bom Jesus do Galho, visto que esta localidade recebe maior carga de efluentes.

Espécies mais sensíveis a alterações biológicas provavelmente não conseguiram se manter e mesmo aquelas presentes não encontram situações favoráveis para se expandir. Como relatado no trabalho de Araújo & Nunan (2005), o esgoto doméstico gera impactos sobre determinadas populações da ictiofauna devido à disponibilidade desequilibrada de alimentos, como nutrientes e matéria orgânica, aumento de indivíduos doentes e parasitados e a presença de substâncias tóxicas.

Comparando-se os resultados obtidos neste monitoramento, com aqueles encontrados em 2009/2010 e em 2010/2011, foram observados os resultados apresentados

Tabela 10: Composição ictiofaunística das PCH’s Sumidouro e Bom Jesus do Galho

ORDEM FAMÍLIA ESPÉCIE Nome comum 2009/20101 2010/20112 2011/2012

CHARACIFORMES

Characidae

Astyanax bimaculatus lambari-do-rabo-amarelo X - -

Astyanax sp. Lambari - - X

Astyanax sp.1 Lambari - X -

Astyanax scabripinnis Lambari - - X

Oligosarcus argentus lambari bocarra - - X

Crenuchidae Characidium sp.1 Canivete - X -

Erythrinidae Hoplias malabaricus Traíra X - -

PERCIFORMES Cichlidae Cichlasoma facetum cará X

Geophagus brasiliensis Acará X - X

SILURIFORMES

Heptapteridae Rhamdia quelen Bagre X - -

Trichomycteridae Trichomicterus sp.1 Bagrinho - X -

Loricariidae

Neoplecostomus sp. Cascudinho - X -

Neoplecostomus microps cascudo chinelo - - X

Neoplecostomus cf. franciscoensis Cascudinho - X -

Hypostomus sp. Cascudo X

Hypostomus affins Cascudo X - -

CYPRINODONTIFORMES Poeciliidae Poecilia reticulata Guppy - X -

Poecilia vivipara Guarú - X -

Em 2009/2010, foram capturados 29 (vinte e nove) indivíduos, distribuídos em 05 (cinco) espécies distintas, enquanto que, em 2010/2011, foram amostrados apenas 21 (vinte e um) exemplares, pertencentes a 07 (sete) espécies. Já em 2011/2012 foram coletados 24 (vinte e quatro) espécimes, distribuídos em 07 (sete) espécies distintas.

As PCH’s Sumidouro e Bom Jesus do Galho encontram-se em operação desde a década de 1950 e, por esse motivo, acredita-se que as alterações na composição ictiofaunística decorrentes da instalação dos mesmos tenham ocorrido quando de sua implantação. Para as variações observadas na composição ictiofaunística, atualmente, acredita-se que estas estejam relacionadas com as atividades desenvolvidas na bacia de drenagem e não com as atuais atividades realizadas no empreendimento.

A composição dos pontos amostrais encontra-se ainda indefinida, visto que algumas espécies tiveram um representante capturado em um único ponto ou campanha, enquanto que nenhuma das espécies foi comum a todas as estações monitoradas.

Para a abundância das ordens, verificou-se que, em agosto/2011, os Siluriformes foram mais representativos, correspondendo a 60% do total capturado, seguido pelos Characiformes, com 30%. Já em fevereiro/2012, Na segunda campanha, foi evidenciada a mesma proporção entre Characiformes e Siluriformes, perfazendo 43% cada.

Em relação à abundância das famílias, na primeira amostragem, verificou-se o predomínio de indivíduos pertencentes a família Loricariidae, representada exclusivamente pela espécie Neoplecostomus microps. Já em fevereiro/2012, verificou-se que Loricariidae e Characidae foram as famílias mais abundantes, sendo representadas principalmente pelas espécies Astyanax sp. e Hypostomus sp., respectivamente.

Quanto a abundância das espécies, em agosto/2011, Neoplecostomus microps mostrou-se como a mais representativa, enquanto que, em fevereiro/2012, Astyanax sp. foi mais abundante.

O gênero Neoplecostomus apresenta área de distribuição bastante restrita, sendo endêmico de uma determinada cabeceira. O comprometimento destes ambientes, através do desmatamento ou mesmo poluição, podem resultar na extinção destas espécies (UEPG, 2003). Devido à qualidade das águas do Ribeirão Sacramento, a sobrevivência destas espécies pode estar comprometida.

Em ambas as campanhas, os peixes capturados apresentaram exclusivamente um pequeno porte. Segundo Castro (1999), o número e a composição das espécies variam muito de acordo com o porte e porção do riacho, da região ou bacia. Já para Vazzoler (1996) incluem-se na categoria "pequeno porte" aquelas espécies com comprimento total máximo menor que 200 mm, "médio porte" aquelas entre 200 e 400 mm, e "grande porte"

um peixe de pequeno porte, pois Castro (1999) atribui o comprimento igual ou inferior a 150 mm como limite máximo.

Neste monitoramento não foi possível realizar a identificação do estágio de desenvolvimento gonadal, sexagem, índice gonadassomático e da dieta alimentar, visto que todos os indivíduos coletados apresentaram conteúdo bastante deteriorado, fato relacionado com a quantidade de espécimes de hábitos alimentares detritívoros/sedimentares capturados e com o tempo que permanecem na rede de espera.

Já para a atividade de pesca, devido à qualidade destas águas, a pesca não é considerada uma atividade de interesse para a região. Durante as coletas não foi observado a presença de nenhum pescador nos pontos monitorados.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

7.1 INTRODUÇÃO

A matriz energética brasileira é predominantemente hidrelétrica. A despeito dos avanços na produção de energia elétrica por fontes alternativas, elas não possuem escala para atender as crescentes necessidades do país, tornando imprescindível a implantação de novos empreendimentos hidrelétricos a curto e médio prazo (Carneiro-Junho 2008).

Apesar de seus incontestáveis benefícios energéticos a que os aproveitamentos hidrelétricos estão associados, associam-se também impactos ambientais com destaque para, a interferência nas populações de peixes, especialmente de espécies migratórias. Este fato assume importância ainda maior quando se leva em conta a alta diversidade de espécies de peixes nos rios brasileiros, e que os peixes migradores são componentes importantes da economia e cultura da pesca de subsistência das populações humanas e da água doce Neotropical (Carolsfeld & Harvey, 2003).

A implantação de barragens em rios pode causar a interrupção das rotas migratórias destes peixes, e atualmente os sistemas para transposição de peixes constituem solução clássica na tentativa de restaurar a conectividade longitudinal entre sítios de alimentação e desova em rios.

Atualmente os reservatórios constituem parte da paisagem na maioria das bacias do Brasil, resultado da opção de escolha do país por tal matriz energética. Para rios menores com quedas de pequeno ou médio porte, as Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) são as melhores opções de geração de energia, uma vez que, além do custo mais acessível, têm menor prazo de implementação e legislação mais acessível.

Usinas Hidrelétricas (UHEs) e Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) alteram o fluxo original do rio bloqueando a migração da ictiofauna. Como consequência importante disso, a redução da diversidade de peixes (Agostinho et al., 2003; Mérona et al., 1999) e até mesmo a extinção local (Godinho & Godinho, 1994), principalmente das espécies migratórias. Dentre as estratégias empregadas para atenuar os efeitos do bloqueio exercido por barramentos na migração dos peixes, está a construção de Mecanismos de Transposição de Peixes (MTPs) ou Sistemas de Transposição de Peixes (STPs), estruturas hidráulicas que têm como objetivo principal permitir à subida e/ou descida dos peixes. Algumas vezes, estes sistemas, ao invés de ajudar, são obstáculos à subida dos peixes, pois, se os peixes não reconhecem prontamente a entrada da escada, podem permanecer

das estratégias adotadas pelo setor elétrico como forma de diminuir os efeitos de barramentos sobre as comunidades de peixes.

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