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5 RESULTADOS

7.3 TRANSPOSIÇÃO

Os sistemas de transposição de peixes em barramentos de rios constituem solução clássica para mitigação de impactos sobre espécies de peixes migradoras, do ponto de vista da conservação da ictiofauna, porque possibilitam a restauração da conectividade longitudinal entre os sítios de alimentação e reprodução, nas migrações ascendentes, complementados pela passagem por turbinas, vertedouros e sistemas de contorno a partir do reservatório, que permitem a restauração daquela conectividade nas migrações descendentes.

Sucessos na recuperação de estoques de espécies migradores em rios com barramentos têm sido obtidos com a implantação desses sistemas de transposição para montante, conforme Moffit et al. (1982), Moring (1993) & Clay (1995).

Os sistemas de transposição de peixes podem ser agrupados, de acordo com Clay (1995), em três categorias gerais: Eclusas, elevadores e escadas.

Eclusas de peixes

Eclusas são sistemas que possuem uma câmara, na qual os peixes entram ao nível da água a jusante, que se enche, periodicamente. Quando o nível de água do seu interior atinge o nível do reservatório, os peixes podem vencer o desnível da barragem e prosseguir para montante. As eclusas do tipo Borland são de uso mais disseminado principalmente na Europa, suas principais desvantagens é a sua capacidade seletiva para determinadas espécies de peixes migradores, principalmente as de grande porte.

Elevadores de peixes

Elevadores de peixes são sistemas mecânicos que transportem os peixes de forma passiva, através da utilização de compartimentos estanques. Os elevadores mais comuns são aqueles em que os peixes numa caçamba içada por cabo (captura e transporte aéreo) e liberados diretamente sobre um canal ao nível de reservatório e aqueles em que os peixes são transportados por caminhões (captura e transporte terrestre). Por captura entende-se a utilização de um escoamento de atração dos peixes ao interior de um canal onde serão capturados de forma eficiente e cuidadosa.

As principais vantagens dos elevadores sobre as eclusas são a maior eficiência, devido à maior capacidade de transposição de peixes por ciclo, e à pronta liberação dos peixes no reservatório.

Escadas de peixes

As escadas de peixes, de acordo com Kamula (2001), do ponto de vista biológico, são estruturas que permitem aos peixes vencerem os obstáculos em seus deslocamentos migratórios enquanto que do ponto de vista hidráulico, são estrutura de dissipação de energia. As escadas de peixes do tipo ranhura vertical são constituídas de uma série de tanques em desníveis, que são separados por defletores localizados junto a uma das paredes do canal ou mesmo às duas, que possuem uma abertura ou ranhura ao longo de

distribuição de velocidades e dissipação de energia praticamente independente da lâmina d água no interior dos tanques. Os peixes podem fazer a travessia dos defletores ao longo de toda a lâmina d água, na profundidade de sua preferência.

Apesar dessa discussão, é evidente a importância do conhecimento das características dos diversos sistemas de transposição de peixes, tanto nos aspectos de engenharia quanto biológico, particularmente para espécies de peixes neotropicais, para aqueles casos, cada vez mais freqüentes, em que sua implantação for necessária, seja por motivos de conservação e manejo, seja por exigências legais.

Outro aspecto a considerar é o comportamento reofílico dos peixes, ou seja, a orientação e o movimento contra o escoamento (Pavlov, 1989), mais acentuado em algumas espécies migradoras, que leva indivíduos a se concentrarem junto aos tubos de sucção das turbinas e à região de restituição do escoamento de vertedouros em aproveitamentos hidrelétricos.

Em decorrência desse comportamento reofílico, algumas operações e de manutenção de reversão do modo de operação das turbinas podem ocasionar, eventualmente, mortalidade de peixes. Isso também pode ocorrer naqueles aproveitamentos cuja região de restituição do escoamento vertido não possui água na maior parte do ano, ocasionando o aprisionamento de indivíduos em poços ali formados, após a operação de fechamento das comportas dos vertedouros. Estes aspectos, dificilmente encontrados na literatura, podem ocasionar impactos sobre populações de peixes a jusante, dependendo da sua magnitude.

De acordo com Kamula (2001), do ponto de vista biológico, as escadas de peixes são estruturas que permitem aos peixes vencerem os obstáculos em seus deslocamentos migratórios, enquanto que do ponto de vista hidráulico, são estruturas dissipadoras de energia.

Estudos de monitoramento e avaliação de aspectos de ictiofauna foram realizados, infelizmente, apenas para um pequeno número de escadas de peixes dentre as construídas no país (Godinho et al., 1991, Agostinho et al., 2002). Com base nos resultados desses poucos estudos, existe certa controvérsia com relação aos efeitos da implantação de sistemas para transposição de peixes sobre populações de espécies migradoras neotropicais (Pelicice & Agostinho, 2008; Godinho & Kynard, 2007).

O canal de entrada é, provavelmente, a parte mais importante dos sistemas de transposição. Caso a sua localização seja definida de forma inadequada e não seja encontrado facilmente pelos peixes, pode conduzir a operação ineficiente do sistema de transposição, por causar atraso na sua entrada na escada, ou mesmo impossibilitar sua

migração para montante (Clay, 1995; Von Gunten et al., 1956), ainda que o restante do sistema, como um todo, esteja tecnicamente correto e funcione adequadamente.

O canal de entrada é equipado, geralmente, com uma comporta, junto ao Canal de Fuga, que tem como objetivo criar um jato capaz de atrair os peixes para seu interior, onde deverão encontrar condições de escoamento com velocidades suficientes para fazê-los prosseguir em direção à escada.

Para imposição de velocidades de escoamento na entrada do canal superiores à do escoamento do canal de fuga, em toda faixa de variação de níveis d água para as quais o sistema deve funcionar, geralmente são utilizadas comportas na extremidade jusante do canal de entrada.

Sistemas de transposição de peixes podem fornecer, para indivíduos de diferentes espécies, um caminho seguro para o reservatório e trechos de rio a montante, onde poderão encontrar locais adequados para alimentação e desova. Ao mesmo tempo em que constituem alternativas viáveis para a redução da possível mortalidade de peixes naquelas regiões de perigo, pela redução do número de indivíduos a jusante.

Segundo Coutant & Whitney (2000), a transposição de peixes para jusante é um desafio a ser vencido em todo mundo.

Enquanto a entrada de sistemas de transposição de peixes para montante encontra- se, em geral, no canal de fuga ou junto à casa de força das usinas e PCH´s, uma região de escoamento confinado, onde as velocidades do escoamento provenientes das turbinas, da ordem de 1,0 a 2,0 m/s, facilitam a localização daquela entrada pelos peixes, a saída desses sistemas de transposição usualmente é posicionada no reservatório, em regiões relativamente distantes das estruturas de vertedouros e tomada d´água, para evitar que sejam eventualmente induzidos a retornar para a região de jusante, na hipótese de desorientação na saída daqueles sistemas.

Como as velocidades de escoamento em reservatórios são muito baixas e as vazões escoam pelas tomadas d´água, ao longo de todo o ano, e também pelos vertedouros, nos períodos de cheias, a saída dos sistemas de transposição de peixes para montante, com vazões comparativamente muito mais baixas, muito dificilmente é localizada por peixes em migrações descendentes. Essa dificuldade é ainda maior para ovos e larvas, que se deslocam de forma passiva.

Grandes esforços têm sido despendidos, em outros países, para se entender como os peixes negociam sua passagem para jusante em Usinas Hidrelétricas e Pequenas Centrais Hidrelétricas lhes fornecer vias seguras que minimizem a mortalidade provocada

Segundo Therrien & Bourgeois (2000), estudos nas turbinas Kaplan, por exemplo, indicam que as taxas de mortalidade variam de 0 a 20%.

Variações súbitas na pressão, choque e compressão contra as pás, desorientação devido à alta turbulência no tubo de sucção, e conseqüente susceptibilidade a predadores, segundo Cada (2001), são as principais causa de morte de peixes migradores que atravessam a barragem através das turbinas.

Sendo assim de forma geral, sistemas e mecanismos de transposição tem tido sua eficiência na manutenção da diversidade de peixes controlada com rigor no Brasil (Godinho

et al., 1991; Agostinho et al., 2002). Aspectos relevantes da manutenção de populações de

peixes em ambos os segmentos inferior e superior do rio criado artificialmente por barragens não podem mais ser negligenciados nos estudos de avaliação da conveniência de instalação de tais passagens (Clay 1995; Agostinho et al., 2002).

Não se sabe se existe procura pelos peixes às rotas alternativas (tributários ou outros rios próximos), ou se permanecem agregados perto da barragem. Outra questão importante refere-se ao comportamento daqueles que conseguem passar a represa, pois quando os peixes passam existem facilidades. No entanto, há dúvidas sobre a capacidade do peixe para continuar o seu movimento migratório. Embora Agostinho et al. (1999) apresentaram evidências que isso é possível, a evidência empírica é ainda escassa. Os poucos trabalhos para avaliar a eficácia dos mecanismos de transposição de peixes foram realizados em grandes usinas e não em PCH´s e, a partir destes, é possível verificar algumas conclusões, as quais mostram que os mecanismos de transposição são seletivos, ou seja, o conjunto de espécies que efetivamente ascende às escadas é dominado por poucas espécies, podendo incluir entre as dominantes ou aquelas que não necessitam ser transpostas.

A bacia hidrográfica do rio Doce drena aproximadamente 12% do território Mineiro, a sua fauna de peixes é pouco conhecida, mas estimativas atuais sugerem que existem 77 espécies, sendo 37 delas endêmicas e fortemente ameaçadas devido ao elevado grau de alterações antrópicas (Godinho & Vieira, 1998).

A PCH Bom Jesus do Galho está instalada Ribeirão Sacramento, afluente do rio Doce, no município de Bom Jesus do Galho, na região do rio Doce de Minas Gerais. A área em que se encontra instalada pertenceu ao município de Caratinga até a emancipação do município de Bom Jesus do Galho, em 1943.

Em 1956, os equipamentos originais foram substituídos PR gerador de 360 kW e turbina do tipo Francis, com eixo horizontal.

de um muro guia para direcionamento do fluxo vertido e de outras obras para sanar os problemas.

Em 1986, a hidrelétrica voltou a funcionar, sendo semi-automatizada em 1994 com proteção através de desligamento automático dos equipamentos. Entretanto, o assoreamento do reservatório por detritos e solo transportado provenientes das atividades urbanas ocasionou entupimentos frequentes da grade da tomada d’água. Em 1997, foi executado um projeto de complementação da barragem e do vertedouro em concreto armado, tornando mais prática e eficiente à operação da usina.

A hidrelétrica conta com barragem do tipo gravidade, formando um reservatório a fio d’água. A vazão afluente do ribeirão Sacramento é desviada para a tomada d’água na ombreira esquerda, ligada à casa de força por conduto adutor forçado em aço de 136 metros de comprimento e 1,3 metros de diâmetro, que abastece sua única unidade geradora.

As PCHs Bom Jesus do Galho e Sumidouro tem um acentuado cenário de degradação antrópica, provavelmente tem grande influência na qualidade da água dos empreendimentos em questão, podendo ser um fator determinante na estrutura de comunidades de peixes e manutenção do estoque pesqueiro.

De acordo com os dados obtidos no presente monitoramento, dentre as espécies capturadas nas áreas do empreendimento são: Neoplecostomus micros, Geophagus

Brasiliensis, Astyanax sp. Hypostomus sp. e Cichlasoma facetum. Nenhuma das espécies

capturadas apresenta comportamento ou grau de restrição migrador para sítios de reprodução. Aspecto corroborado também pelos aspectos reprodutivos das mesmas que se acontece pelo menos mais de uma vez durante o ano.

Apesar de no sudeste não termos uma sazonalidade bem marcada, a maioria das espécies de peixes executam suas migrações nos períodos em que os rios aumentam seu nível, nos meses em que chove mais. Durante o período reprodutivo, espécies movimentam- se rio acima em busca de ambientes adequados para desova, viajando longas ou médias distâncias em direção aos tributários de ordem inferior.

A reprodução é reconhecidamente um dos mais importantes aspectos estudados para avaliarem-se os efeitos do represamento de um rio sobre a comunidade de peixes, dada à importância desse processo na manutenção das populações. Portanto, a avaliação do sucesso reprodutivo de diferentes espécies parece ser uma medida adequada para detectar efeitos imediatos de perturbações de fluxo na comunidade (Poff & Ward, 1990).

7.4 ASPECTOS A SEREM CONSIDERADOS NA TOMADA DE DECISÃO EM SE

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