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A pesquisa-ação é um processo participativo, que objetiva a elaboração de um diagnóstico para solucionar um problema como parte de um meio de pesquisa, gerando conhecimento em um domínio empírico particular. A geração de conhecimento ocorre em concomitância com as situações que requerem a modificação intencional de uma dada realidade, isto é, ação e reflexão, teoria e prática se complementam neste processo (OQUIST, 1978; BRYMAN, 1989; CHECKLAND; HOLWELL, 1998; TERENCE; FILHO, 2006; GUSTAVSEN, 2008; REASON; BRADBURY, 2007; THIOLLENT, 2011). Do exposto, nota-se que a pesquisa-ação depende de seus objetivos para ser configurada. Thiollent (2011) trata esses objetivos como:

• Objetivo prático: contribuir para o equacionamento do problema, com levantamento de so- luções e proposta de ações para auxiliar o agente (ou ator) na sua atividade transformadora

da situação;

• Objetivo de conhecimento: obter informações que seriam de difícil acesso por meio de outros procedimentos, buscando aumentar o conhecimento de determinadas situações.

Para se qualificar um trabalho como pesquisa-ação, e não apenas como pesquisa parti- cipante, é vital a realização de uma ação por parte dos elementos ou grupos envolvidos no problema sob observação. Em outras palavras, toda pesquisa-ação caracteriza-se como partici- pativa, tendo em vista a interatividade que promove entre pesquisador e elementos da situação investigada. Porém, a pesquisa participante não implica em ações planejadas, diferentemente da pesquisa-ação que foca neste tipo de intervenção (TERENCE; FILHO, 2006; THIOLLENT, 2011). Franco (2005) chama a atenção, ainda quanto à configuração, para tipos de pesquisa-ação que são encontrados no Brasil, conceituando-as como:

• pesquisa-ação colaborativa: ocorre quando a transformação é solicitada pelo grupo de referência aos pesquisadores. O pesquisador então tem como função, nesse processo participativo, prover de cientificidade a mudança anteriormente desencadeado pelo grupo;

• pesquisa-ação crítica: ocorre se, a partir dos trabalhos iniciais entre pesquisador e grupo, é notada a necessidade de transformação;

• pesquisa-ação estratégica: ocorre se, a transformação é anteriormente planejada, isto é, sem a participação dos sujeitos, e somente o pesquisador tratará os efeitos e avaliações dos resultados.

Além desses diferentes aspectos e conceitos que caracterizam uma pesquisa-ação, diversos atores organizam este processo em modelos de fases, que se desenvolvem ciclicamente (WEST- BROOK, 1995; COUGHLAN; COGHLAN, 2002; THIOLLENT, 2011; MELLO et al., 2012). Estes modelos, dependendo de sua origem, podem tomar um foco específico para uma área de estudo, como pode ser apresentado de forma genérica. Dado o caráter flexível da pesquisa-ação,

o desenvolvimento destas fases não é rígido, sendo passível de adaptações considerando-se o contexto (TERENCE; FILHO, 2006; KOERICH et al., 2009).

A fim de conduzir metodologicamente esta tese, optou-se por adaptar o modelo de fases proposto por Coughlan e Coghlan (2002). Este modelo foi desenvolvido com o propósito de orientar a pesquisa-ação em contexto de gestão de operações, focando, pois, num modelo organizacional. Sua estrutura compreende 3 tipos de fases (preliminar, principal e meta-fase ou fase de monitoramento), e pode ser melhor observado na Figura 11.

Figura 11 – Ciclo de pesquisa-ação

Fonte: Coughlan e Coghlan (2002)

• Fase preliminar: objetiva entender o contexto e o propósito da pesquisa sob os pontos de vista da ação e de pesquisa. Busca demonstrar, do ponto de vista de ação porque o projeto é necessário, e o que motiva a necessidade de ação. Do ponto de vista de pesquisa, busca demonstrar que contribuições são esperadas para a criação de conhecimento.

• Fase principal: é composto por um conjunto de seis etapas, compondo a estrutura cíclica da pesquisa-ação. Miguel (2005) apud Nomura (2008) proveu uma síntese dessas etapas,

com base em Coughlan e Coghlan (2002), conforme Figura 12.

• Meta-fase ou fase de monitoramento: a fase de monitoramento é considerada como uma meta-fase que se relaciona com todas as etapas do ciclo. As etapas não ocorrem necessariamente de forma rígida, podendo ser alteradas, e ainda ocorrer simultaneamente no processo de pesquisa-ação (TERENCE; FILHO, 2006). Isto é, alguns ciclos podem ocorrer dado um evento específico e em um tempo curto, enquanto outros podem acontecer com eventos paralelos e com duração mais longa. É possível considerar ainda o todo da pesquisa-ação como um ciclo maior, composto internamente por vários ciclos menores. Idealmente, esta meta-fase deve envolver todos os participantes do projeto, dotando todos com a responsabilidade de monitorar as etapas da fase principal. Contudo, a falta de tempo dos participantes focados na ação pode afasta-los desta incumbência. É, portanto, necessário que o pesquisador esteja atento a esta fase, monitorando também o processo de aprendizagem da pesquisa. Em suma, a fase de monitoramento é o foco de trabalhos acadêmicos. O pesquisador investiga como os ciclos da pesquisa-ação organizacional são promulgados (COUGHLAN; COGHLAN, 2002).

Figura 12 – Etapas da fase principal a partir de Coughlan e Coghlan (2002)

Fonte: Miguel (2005) apud Nomura (2008)

Tendo sido determinados os principais itens que compõem o ciclo proposto por Coughlan e Coghlan (2002), observou-se que algumas adaptações a este seriam importantes para o trabalho, valendo-se da capacidade de adaptação própria do método de pesquisa-ação (TERENCE; FILHO, 2006; KOERICH et al., 2009).

List (2006) retrata as dificuldades de desenvolver um método de forma prática em pesquisa social, especialmente dada a carência de abordagens metodológicas voltadas para tal fim. List (2006) trata essa situação como a necessidade de elaborar um “[...] método para desenvolver outro método.”. O autor citado realiza então uma adaptação com relação ao método de pesquisa-ação.

O intuito deste trabalho não será o de recriar o ciclo, ou propor uma nova abordagem em pesquisa-ação. Todavia, dado o objetivo da tese de propor uma sistemática, faz-se importante que as descobertas da pesquisa-ação sejam relacionadas à literatura e que suas etapas tenham escopo mais amplo, conforme demonstrado na próxima seção.