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2. CARACTERÍSTICAS PECULIARES DA ARQUEOLOGIA MARÍTIMA

3.2. Detalhe Especial para o Mar: a importância dos inventários para o Patrimônio Cultural

3.2.4. Pesquisa ativa – Busca estratégica

A presença potencial do PCS é um fator importante ao se estabelecer prioridades de exploração. Outro fator é a previsão de projetos políticos e territoriais marítimos como a construção da cais, marinas, modernização de portos, dentre outros, que podem comprometer a preservação e conservação em longo prazo do PCS na área.

Os campos de batalhas conhecidos, as evidências sobre a possível localização de cidades submersas e a documentação histórica dos eventos em portos ou locais de desembarque também podem ajudar a focar a pesquisa arqueológica. No nosso caso, a Baía de Todos os Santos constitui um cenário marítimo de importantes eventos históricos e batalhas navais, sendo uma área potencialmente importante em PCS, que pode vir a ser ameaçada por obras e projetos de desenvolvimento urbanístico, como a construção de marinas, píeres e pontes. Os acidentes geográficos daquela região, como o Banco de Santo Antônio e o Banco da Panela (Prancha 3), são importantes sítios arqueológicos com restos de embarcações naufragadas ou não de diversos períodos históricos. O glossário náutico da BTS destaca que o Banco da Panela constitui:

[...] um dos maiores sítios arqueológicos do Brasil. São dezenas de destroços de galeões do século XVII. Foi neste local que durante a invasão holandesa naufragaram cerca de oitenta navios numa só noite. O Padre Antônio Vieira, na sua Carta “Anua” ao prior da Ordem dos Jesuítas, em 1624, narrou assim o episódio: “A cidade foi iluminada pelo incêndio que os portugueses ateavam nas suas naus para não serem saqueados e, sendo noite, as labaredas pareciam tomar grandes proporções quando se espalhavam também pelos açúcares e o breu. As chamas subiam aos céus e a luz clareava o porto ocasionando, desta forma, o combate”. O Banco da Panela é uma área de preservação. Os mergulhos são permitidos, mas a retirada de qualquer peça do fundo do mar é proibida pela Marinha. Esta foi a maneira de preservar um dos mais importantes sítios arqueológicos marinhos de que se tem notícia e de deixar intacta a história da Bahia. Localizado na entrada do Porto de

Salvador, a profundidade média de 18 metros. As estruturas submersas vistas nesse sítio já se encontram totalmente coralizadas e ainda se podem avistar garrafas, louças, balas de canhão etc. (BAHIA, 2012, p. 33).

Dar prioridade ao inventário dessas áreas ajudará a tomar decisões e a incluir o PCS entre os objetivos principais dos estudos de impacto. O planejamento de grandes projetos industriais em áreas marítimas exige um estudo preliminar para avaliar o seu impacto. Esses estudos devem ser realizados antes de aprovar a implantação do projeto em questão, ou para determinar sua localização e extensão geográfica. Um dos objetivos desses estudos é mitigar os danos causados ao PCS. Alguns sítios arqueológicos importantes podem ser bem preservados, removendo-os das áreas das obras previstas; outros podem ser integrados no trabalho de uma forma significativa. Em ambos os casos, a solução para evitar uma escavação destrutiva é conservá-los in situ. Em outros locais, essa opção não é viável. Encontrar a melhor solução para esses sítios não é uma tarefa fácil. Consequentemente, trata-se de uma excelente oportunidade para uma escavação arqueológica, que apesar de impactar o patrimônio cultural subaquático, pode ser estrategicamente compensada pela produção de conhecimento e programas de educação patrimonial. Nesse sentido, é condição sine qua non um projeto de pesquisa abrangente e que abarque um cronograma condizente com o impacto gerado ao PCS (RAMBELLI, 2002; UNESCO, 2013).

A detecção de sítios arqueológicos enterrados a certa profundidade pode ser complicada. Essa dificuldade se aplica aos sítios terrestres e acentua-se ainda mais para os subaquáticos, em que os projetos de desenvolvimento industrial podem envolver grandes operações de dragagem. Se houver a necessidade de dragar camadas profundas de areia, argila e turfa, a avaliação preliminar deve incluir a possibilidade de existência de um patrimônio arqueológico enterrado nessas áreas, localizado anteriormente ou não. O patrimônio enterrado pode ser muito diverso. Fazem parte desse tipo de patrimônio os sítios terrestres de toda uma área que tenha sido submersa ou ainda destroços de navios afundados em um período de sedimentação abundante. A partir de tais previsões pode-se delinear um plano e se desenvolver um protocolo rígido para mitigar o impacto de um projeto de desenvolvimento industrial. Esses protocolos devem ser formulados de acordo com a categoria a que as potenciais descobertas possam pertencer. Pode contemplar, por exemplo, um resgate tempestivo dos grandes artefatos ou um tratamento cuidadoso de certos tipos de sítios. O acordo sobre estes protocolos deve constituir um plano de benefícios mútuos, permitindo que pesquisadores e gestores do patrimônio possam considerar de forma clara e otimista as

oportunidades e prioridades na área e permitindo também o planejamento de emergência, que continua a ser uma grande vantagem para o gerenciamento de um projeto complicado.

Deve-se notar que muitas das técnicas utilizadas no inventário arqueológico, incluindo o trabalho de documentação, reconhecimento in loco dos sítios arqueológicos e as entrevistas de campo são aplicadas da mesma forma a elementos que não são explicitamente identificados como o patrimônio. No caso de dejetos, materiais contaminados, recipientes de substâncias tóxicas ou explosivos perdidos, é essencial relatar a ocorrência às autoridades competentes. Para o inventário ativo, é fundamental buscar as sinergias e combinar os objetivos desde o momento de elaboração do plano de inventário (UNESCO, 2013).