• Nenhum resultado encontrado

2. CARACTERÍSTICAS PECULIARES DA ARQUEOLOGIA MARÍTIMA

3.2. Detalhe Especial para o Mar: a importância dos inventários para o Patrimônio Cultural

3.2.3. Pesquisa ativa – Fases e técnicas de exploração

A verificação completa de um sítio arqueológico deve ser baseada no trabalho de documentação prévio e requer um trabalho de campo exaustivo que combine fases de exploração de superfície e exploração subaquática. Para obter o perfil estratigráfico do sítio arqueológico devem ser empregadas técnicas geológicas e geofísicas, como perfuração e sondagem sísmica ou de resistência, e, para mapear a topografia do leito marinho são utilizadas técnicas acústicas como o sonar de varredura lateral, a batimetria ou as ecossondas multifeixe (NAUTICAL ARCHAEOLOGY SOCIETY, 2009; RAMBELLI, 1998; 2002; UNESCO, 2013).

Trazendo um conjunto de informações pioneiras no Brasil para a Arqueologia praticada no ambiente aquático, Rambelli (1998; 2002) exemplifica os métodos e as técnicas de investigação aplicadas neste meio. Nos cursos práticos de Arqueologia Subaquática realizados junto ao Centro de Arqueologia Subaquática da Catalunha (CASC) nos anos de 2013 e 2014 e no Primeiro Curso UNESCO em Gestão do Patrimônio Cultural Subaquático para América do Sul em 2013 na Argentina, pude verificar na prática os procedimentos de pesquisa sob a água, que posteriormente puderam ser aplicados, em sua devida proporção, nas atividades de campo na BTS. Esses procedimentos serão resumidos a seguir.

3.2.3.1. As técnicas sísmicas

Em muitos casos, as técnicas sísmicas não são suficientemente precisas para identificar sítios arqueológicos. Entretanto, a combinação de dados sísmicos acumulados em explorações regionais podem fornecer imagens fascinantes extremamente informativas de paisagens paleográficas subaquáticas. Em pesquisas industriais de recursos minerais podem ser obtidos grandes quantidades de dados sísmicos de todas as regiões aquáticas do mundo. Embora sirvam também a outros propósitos, sua análise é muito útil para a pesquisa arqueológica, tanto no que diz respeito ao inventário como para avaliações de impactos. Daí também a importância do trabalho de gabinete e estudo das informações obtidas para outros fins.

3.2.3.2. As técnicas acústicas

Assim como as sísmicas, as técnicas acústicas, como o sonar de varredura lateral e o sonar multifeixe, têm muitas aplicações para o estudo do patrimônio. Esses sonares são usados regularmente para fins arqueológicos. O mesmo vale para os magnetômetros e os perfilhadores de subsolo. Todas estas técnicas funcionam com informação digital e podem ser combinadas com sistemas de posicionamento global (GPS) para produzir imagens de qualidade e detalhes excepcionais. O geofísico Luiz Antônio Pereira de Souza destaca que esse método:

[...] está baseado nos princípios de propagação e reflexão das ondas acústicas e constitui-se numa importante ferramenta de investigação indireta no estudo de áreas submersas. Permite, a partir da análise do padrão textural dos registros de campo, a caracterização da superfície de fundo, possibilitando o mapeamento dos contatos entre as diferentes fácies sedimentares da superfície de fundo, o contato entre os sedimentos e os afloramentos rochosos subaquáticos, localização de zonas de dragagens, além da identificação dos obstáculos de fundo em reservatórios e rios, tais como troncos, embarcações naufragadas, etc., com vistas à caracterização de vias navegáveis. O registro obtido através deste método lembra sob alguns aspectos, uma fotografia aérea que não pode ser obtida na investigação de áreas submersas tendo em vista a forte atenuação dos sinais luminosos na água. Vem daí a importância da Sonografia na investigação destas áreas, pois utilizando-se de sinais acústicos de alta frequência [...] permite a caracterização detalhada da superfície de fundo. (SOUZA, 2001, p . 9).

De aplicação simples, a técnica de sonografia apresentada abaixo (Figura 8) demonstra que um sinal sonoro é emitido em intervalos regulares de tempo por transdutores submersos, o “peixe”, e dirigido para ambos os lados da superfície de fundo. Os sinais

provindos da superfície de fundo são gravados à medida que chegam ao registrador, equipamento que se encontra a bordo da embarcação, compondo-se, dessa forma, uma imagem do fundo e/ou objeto da área a ser investiga (SOUZA, 1988). A Prancha 2 demonstra de maneira prática a aplicação dessa técnica, através de um exemplo ilustrativo realizado pela Marinha brasileira para verificação do estado atual de uma embarcação naufragada. Espera-se utilizar essa técnica em levantamentos de inventários regionais ativos, em projetos futuros de maior envergadura, para melhor conhecer o Patrimônio Cultural Subaquático.

Figura 8 – Princípio do método de sonografia.

Fonte: SOUZA, 1988, p. 1560.

O sonar de varredura lateral e o GPS estão disponíveis em uma ampla gama de preços e modelos que podem ser adaptados a navios de maior ou menor calado ou ainda a lanchas pneumáticas. Em todos os casos, esses equipamentos só serão úteis se bem utilizados por um especialista. Essa é uma das muitas razões pelas quais é válido um trabalho preliminar que combine diferentes objetivos em um único projeto de exploração e que tenha a colaboração de operadores tecnicamente qualificados e de arqueólogos especializados no campo. A empresa responsável por uma obra marítima precisa ter conhecimento sobre os tipos de obstáculos que podem ser encontrado na superfície do fundo do mar, verificando, consequentemente, a presença ou ausência de sítios arqueológicos. O sonar de varredura lateral pode ser empregado para diversos fins e, após esse levantamento preliminar, podem se utilizar uma câmera de vídeo ou uma sonda multifeixe para se formar imagens mais precisas.

Os magnetômetros servem para ser detectar alterações no campo magnético e, dessa forma, também podem ser empregados para localizar o PCS com componentes metálicos, além de minas à deriva e outras peças de munição perdidos ou descartadas.

Os perfilhadores de subsolo são usados da mesma forma que as técnicas sísmicas, porém em sedimentos em menores profundidades. Eles também são usados para explorações detalhadas de algumas partes que sobressaem parcialmente da superfície do fundo do mar. As ranhuras produzidas por erosão, por exemplo, podem revelar a existência de estruturas enterradas. O arqueólogo Leadro Duran enfatiza que “[...] esta tecnologia permite a penetração das ondas sonográficas no subsolo marinho, garantindo assim a mapeamento dos contatos entre as diferentes fácies sedimentares da superfície de fundo”. (DURAN, 2008, p. 130).

Além de depender de um operador técnico competente, o êxito das explorações também está sujeito à missão a que se destina. Portanto, é essencial aproveitar ao máximo as fases de seleção e especificação de qualquer avaliação do impacto de um projeto industrial. É possível, no entanto, que o grau de resolução necessário para um caso, não seja suficiente para outro. Por exemplo, é mais fácil localizar um gasoduto do que interpretar um detalhe impreciso de possível valor arqueológico. Assim, se as tarefas de estudo forem combinadas e coordenadas com antecedência e de forma organizada, uma segunda exploração ou ida a campo pode não ser necessária, o que resultará em uma considerável redução de custos. Os sítios arqueológicos que se encontram completamente enterrados em sedimentos são difíceis de localizar antes que seja feita alguma alteração no subsolo marinho. Portanto, monitoramentos em áreas potencialmente ricas em patrimônio arqueológico são úteis durante as fases críticas de dragagem e alteração do fundo, devendo se estabelecer um protocolo para a gestão do patrimônio que eventualmente possa a ser descobertos durante a execução de projetos (UNESCO, 2013).

3.2.3.3 As técnicas de prospecção

Atualmente, a pesquisa arqueológica subaquática realizada a partir de meios tecnológicos combina quatro técnicas:

Sonar de varredura lateral; Magnetômetro;

Verificação com mergulhadores (em águas rasas) ou veículos operados remotamente (ROV) com equipamento de vídeo (em águas profundas).

É essencial a formação e o treinamento do pessoal operacional. A duração do projeto deve depender do tamanho da área a ser pesquisada. A aquisição de dados deve ser integrada com sistema de posicionamento GPS. Nas pesquisas com sonar de varredura lateral, é aconselhável que se sobreponham e se cruzem trajetórias com ângulos transversais de varredura com uma suficiente redundância. Os magnetômetros não detectam os sítios submersos e são de pouca utilidade para detectar restos de madeira anteriores ao uso dos canhões de ferro. Já a exploração de uma área com sondas multifeixe (ou varredura batimétrica) pode ser muito útil, em alta resolução. No entanto, essa continua a ser uma técnica muito dispendiosa e exige um operador qualificado. Mesmo assim, além dos arqueólogos, as autoridades marítimas e portuárias estão usando cada vez mais essa técnica. Assim, é conveniente combinar objetivos e encontrar formas de cooperação. A exploração será útil para detectar objetos na superfície do fundo do mar, quando se conhece a profundidade do sedimento e seu potencial para sediar um patrimônio arqueológico subaquático, o que muitas vezes só é possível através da presença do arqueólogo mergulhador. Amplamente aceita pela comunidade de arqueólogos, essas técnicas são ferramentas necessárias para a pesquisa praticada em ambientes aquáticos (RAMBELLI, 1998; 2002; 2003; BAVA-DE-CAMARGO, 2002; 2009; DURAN, 2008; NAUTICAL ARCHAEOLOGY SOCIETY, 2009; UNESCO, 2013).

No entanto, a aplicação de métodos indiretos de prospecção também exige o emprego de técnicas diretas de investigação. Assim, se o levantamento geofísico mostra áreas com potencial de um sítio arqueológico, indicadas pela presença de anomalias no registro sonográfico, esses pontos precisam ser devidamente verificados por arqueólogos- mergulhadores para que se qualifique sua natureza arqueológica. Nesse sentido, uma das técnicas comumente empregada é o levantamento por círculos concêntricos (Figura 9).

Figura 9 - Levantamento Arqueológico Subaquático por círculos concêntricos.

Esse método consiste no reconhecimento de uma área a partir de um ponto de interesse, determinado pelo pesquisador e plotado em GPS. Esses pontos de interesse podem corresponder às áreas apontadas por um levantamento geofísico. Fixado o ponto por meio de uma trena, o pesquisador nadará em círculos e documentará com auxilio de uma bússola e de uma prancheta, a sequência de achados identificados pelo arqueólogo (RAMBELLI, 1998, 2002; NAUTICAL ARCHAEOLOGY SOCIETY, 2009). Cabe ressaltar que para o êxito do método, são de extrema relevância as condições locais dos pontos verificados, tais como tipo de fundo, visibilidade, corrente etc.