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2. Nas trilhas da Metodologia

2.3. A pesquisa de campo

Com o escopo de nos aproximarmos da compreensão do nosso objeto de estudo, levando em conta seu contexto e sua complexidade, bem como os nossos objetivos, decidimos centrar nossa pesquisa no projeto desenvolvido no município de Caruaru. Realizamos, desta forma, um estudo de caso de inspiração etnográfica.

O estudo de caso que desenvolvemos tem inspiração etnográfica por causa da intensa abordagem do fenômeno (por entrevistas, por análise de documentos, por observação não participante). Além de exigir uma aproximação da pesquisadora com o

contexto cultural em que o fenômeno está inserido, através da observação naturalística, do uso do diário de campo, e da descrição de crenças e práticas partilhadas pelo grupo.

Segundo Ludke e André (2005), o estudo de caso, se caracteriza não só por enfatizar o conhecimento do particular, mas também, por compreender o contexto e as suas relações como um todo orgânico e a sua dinâmica como um processo, considerando que há uma unidade em ação. Podemos, assim, retratar uma realidade singular de forma detalhada e profunda, uma vez que trabalhamos com a constituição de diferentes corpora– entrevistas, observações de sala de aula, documentos escritos. Essa opção metodológica, nos permitiu, dessa feita, ter uma aproximação do nosso objeto de estudo: o “Projeto Lei Maria da Penha vai à escola” em Caruaru.

Para Bauer e Aarts (2002) a “construção de um corpus” se dá através da seleção de um espectro de texto relacionado aos objetivos do estudo. Contudo, é necessário que cada corpus, enquanto significante da vida social e, portanto, uma interseção da história, atenda aos critérios de relevância, homogeneidade e sincronicidade.

Do ponto de vista do primeiro critério, sugere-se que os assuntos sejam teoricamente relevantes e que os materiais de um corpus se concentrem em torno de um tema específico, que tenham consonância estrita com o objetivo da investigação, como também tenha apenas um foco temático. O segundo critério, da homogeneidade, se refere a sua substância material, recomenda-se, por exemplo, que materiais textuais não devem ser misturados com imagens no mesmo corpus. Também, aconselha-se o respeito à sincronicidade na constituição do corpus, sendo então este o terceiro critério.

Visando contemplar os objetivos do nosso estudo, constituímos três corpora. O corpus I foi composto por documentos ligados ao “Projeto Lei Maria da Penha vai à escola” fornecidos pela Secretaria Especial da Mulher de Caruaru e por seus parceiros: o projeto de extensão “Educação e Gênero” e o projeto “LAPOS”, ambos da UNIFAVIP.O documento escrito, segundo Cellard (2010), constitui uma fonte extremamente preciosa para o pesquisador nas ciências sociais. Lüdke e André (1986) elencam uma série de vantagens do uso de documentos na pesquisa educacional, dentre eles: são uma fonte razoavelmente estável, que pode ser consultada várias vezes; são elaborados em determinado espaço e tempo e, por isso, fornecem informações sobre seu contexto de produção; são também fonte não-reativa, permitindo o acesso a informações, quando limitações de tempo e deslocamento impedem a interação direta com os informantes e têm custo baixo. As autoras consideram documentos todo material

escrito e dizem que os mesmos podem se apresentar em diversos tipos, podendo ser decreto, parecer, regulamentos, relatório, projetos, filmes, livros, revista, carta, diário, autobiografia.

O Corpus II foi constituído por transcrições de entrevistas do tipo semiestruturada com agentes institucionais envolvidos no projeto “Lei Maria da Penha vai à Escola” no município de Caruaru. Realizamos dez entrevistas:1) com a Coordenadora do Projeto “Lei Maria da Penha vai à escola” da Secretaria Especial da Mulher;2) com a Secretária de Educação Municipal;3) coma Gestora da Gerência Regional de Educação - Agreste Centro Norte (GRE-ACN), que representa a Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco; 4) com uma das gestoras das escolas estaduais contempladas pelo projeto; 5) com as duas coordenadoras dos projetos parceiros da FAVIP e 6) com os/as quatro monitores do projeto.

A entrevista semi-estruturada, segundo Manzini (1990/1991, p. 154), deve focar “um assunto sobre o qual confeccionamos um roteiro com perguntas principais, complementadas por outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista”. Dessa forma, realizamos entrevistas semi-estruturadas com vistas a ter acesso aos discursos e experiências dos sujeitos envolvidos na coordenação e na formação do projeto educativo, em Caruaru.

Para garantir a qualidade e a segurança no registro das entrevistas, usamos um gravador digital de voz e depois fizemos o seu armazenamento em nuvem, pelo aplicativo do Dropbox. As entrevistas foram transcritas, seguindo as orientações de Marcuschi (2003). Os/às entrevistados/as foram informados/as sobre os objetivos da pesquisa e os/as mesmos/as assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE), autorizando, assim, a sua participação no estudo e a gravação da entrevista (vide Apêndice B).

O Corpus III foi constituído por registros de observação de atividades pedagógicas do projeto “Lei Maria da Penha vai à escola”, em duas unidades de ensino público, da cidade de Caruaru. Estes registros foram efetuados através de gravação em áudio e de anotações em um diário de campo, onde foram registrados todos os momentos depois de voltar de cada observação, entrevista ou qualquer outra atividade da pesquisa de campo (BOGDAN; BIKLEN, 1994, p. 150).

As notas de diário campo nos ajudaram a acompanhar o desenvolvimento do projeto, além de ser, como ressalta Bogdan e Biklen(1994), uma excelente ferramenta para o estudo qualitativo, uma vez que permite à pesquisadora, relatar por meio da

escrita aquilo que ouve, vê, experiência e pensa no decurso da pesquisa de campo e, sobretudo, a reflexão sobre o corpus constituído, proporcionando, segundo Roese; Gerhard; Souza e Lopes (2006) tanto uma abordagem descritiva, em que a preocupação é a de captar uma imagem por palavras do local, pessoas, ações e conversas observadas, quanto a abordagem reflexiva, que se detém ao que é apreendido pelo ponto de vista do observador, assim como suas ideias e preocupações.

A observação realizada foi do tipo naturalista não-participante, uma vez que estive em contato direto com a comunidade observada (alunos e monitores) sem, contudo, participar diretamente das atividades. Essa técnica de pesquisa, possibilitou observar os fatos, falas, gestos, conversas, silêncios, olhares e movimentos com o propósito dirigido. Segundo Marconi e Lakatos (2010), por esse procedimento ter caráter sistemático é possível, também, apanhar uma riqueza desses detalhes e atribuir- lhes sentido – diante de cada contexto – por meio do diário de campo, enquanto ferramenta complementar para a coleta de dados e potencialização compreensiva dos elementos implicados na pesquisa, tanto nas entrevistas, quanto nas oficinas.

Os registros de observação, enquanto material empírico, também foram transcritos, seguindo as orientações de Marchuschi (2003), pois reproduzem conversações reais e considera detalhes não apenas verbais, mas entonacionais, paralinguísticos e outros.

3. O discurso de enfrentamento à violência