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A PESQUISA DE CAMPO: ANÁLISES E REFLEXÕES

3.2 A PESQUISA DE CAMPO

Considera-se como primeiro passo da realização da entrevista de campo, a busca pela autorização de entrada na unidade prisional escolhida. Para tanto, em meados do mês de Março de 2016 foi emitido um Ofício endereçado à Gerente Executiva de Ressocialização da SEAP, junto com a proposta do projeto de pesquisa e uma cópia do CPF e RG do orientador e orientanda. Cerca de 20 dias, após a documentação ter sido submetida à apreciação da Secretaria, adquiriu-se no mês de Abril um Termo Institucional viabilizando o acesso ao Maria Júlia, destacando ser de responsabilidade do pesquisador a escolha dos procedimentos metodológicos, bem como requerendo uma cópia final do trabalho realizado.

O segundo momento, por sua vez, ocorreu através da articulação de contatos para se chegar aos sujeitos pesquisados. A priori, foi realizada uma visita ao presídio, a fim de estabelecer uma proximidade direta com os profissionais, conversando acerca dos objetivos e motivações do estudo a ser realizado. Adentrar na instituição não foi tarefa difícil, tendo em vista que a pesquisadora já havia estabelecido um contato primário na unidade durante o cumprimento do componente curricular de Estágio Supervisionado do curso de Serviço Social em 2013. Com base nisso, salienta-se não ter havido nenhum tipo de desconforto e/ou restrições à liberdade de locomoção por parte da direção da unidade.

Alguns profissionais do módulo de saúde como Assistente Social, Enfermeira, ASB e Psicóloga mantém-se na unidade desde então, e este aspecto, de certo modo, ajudou a descontrair o ambiente e minorar os anseios da pesquisadora. Neste contexto, foi estabelecida proximidade junto à variável inclusiva dos profissionais a serem entrevistados.

Posteriormente, chegar à Gerente Executiva de Ressocialização da SEAP e à Coordenadora de Saúde Prisional da SES tornou-se possível através do intermédio da Assistente Social do Maria Júlia que, com bastante solicitude, realizou ligações diretas para a Coordenadora de Saúde e repassou o contato de uma pessoa que trabalha com a Gerente Executiva, a qual ajudou a chegar até ela. Por essa razão, destaca-se que o agendamento prévio das entrevistas com as representantes das Secretarias foi feito por intermédio de pessoas ligadas a elas.

Por fim, a pesquisa de campo, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFPB, passou a ser aplicada junto ao variável de Inclusão pré-definido. Destaca-se que não foi utilizado nenhum critério prévio quanto à ordem dos entrevistados, já que se considerou, apenas, a busca pela articulação de contato com os indivíduos, de acordo com suas agendas de disponibilidade. Assim sendo, por conta da adoção de roteiros preliminarmente elaborados com base nas leituras bibliográficas, descartou-se o estabelecimento de uma escala de prioridades quanto à obtenção dos discursos.

Com base nisso, a pesquisa inicialmente contou com a participação da atual Coordenadora de Saúde Prisional vinculada à Secretaria do Estado de Saúde, a qual recebeu a pesquisadora em uma sala reservada da Penitenciária de Psiquiatria Forense - PPF em João Pessoa/PB. Detalha-se que a entrevista foi firmada não apenas a partir da interlocução de ideias e resposta sumária às perguntas elencadas, mas também com a exposição de documentos organizacionais utilizados para estabelecer as estratégias de atuação da Coordenação de Saúde, a exemplo da tabela de “Programação Anual de Saúde (PAS)” que fixa as parcerias, ações e metas anuais com o objetivo de implantar e implementar a Política de Saúde Penitenciária na Paraíba. Desse modo, a entrevista foi bastante esclarecedora no que se refere ao entendimento da atuação da Secretaria do Estado de Saúde e suas metas de implantação de ações e serviços na esfera do planejamento e implementação.

A posteriori, a adesão à participação da pesquisa foi estabelecida por parte dos profissionais da equipe multidisciplinar no Centro de Reeducação Feminino Maria Júlia Maranhão, reconhecendo a nítida receptividade com a qual a pesquisadora foi tratada na instituição. Todos os profissionais do Programa de Saúde Penitenciária da unidade, com exceção da Técnica de Enfermagem, aceitaram contribuir com a realização do estudo.

Nesta etapa, algumas dificuldades, por outro lado, foram apresentadas no que concerne à indisponibilidade de tempo e a obtenção de um espaço favorável à aplicação dos roteiros. Esclarece-se que por se tratar de um local e horário de trabalho, dada a busca pela contenção de uma demanda massiva de atendimento e prestação dos serviços, em alguns dias não foi

possível realizar a pesquisa. Já em outros casos, mesmo com a disposição de tempo, foi inexeqüível conseguir um ambiente reservado para estabelecer um diálogo sem interrupções externas, já que as entrevistas foram realizadas nas salas de atendimento dos profissionais em jornada de trabalho.

Ainda assim, mesmo nos dias em que não foi possível realizar entrevistas, ressalta-se que a própria visita in loco, por si só, mostrou-se capaz de proporcionar a captação de alguns aspectos relacionados a discrepâncias, dificuldades e possibilidades apresentadas ao cotidiano de cada profissional – o que chegou a se concretizar verbalmente a partir das falas dos entrevistados. Nesse sentido, a importância desses momentos para a pesquisa pode ser descrita com base em Malinovski (apud. Lemgruber, 1983, p. 19):

Há uma série de fenômenos de grande importância que não podem ser registrados através de perguntas, ou em documentos quantitativos, mas devem ser observados em sua plena realidade. Denominemo-los os imponderáveis da vida real. Entre eles se incluem coisas como a rotina de um dia de trabalho [...] a existência de grandes amizades e hostilidades e de simpatias e antipatias passageiras entre as pessoas; a maneira sutil mas inquestionável em que as vaidades e as ambições pessoais se refletem no comportamento do indivíduo e nas reações emocionais dos que o rodeiam. Todos esses fatos podem e devem ser cientificamente formulados e registrados.

Já a partir desta etapa, a pesquisa ganhou consistência para a análise de conteúdo por possibilitar a articulação de discursos entre os níveis de implementação e execução da Política de Saúde.

Por fim, a coleta de dados foi feita junto à Coordenadora Geral da Gerência Executiva de Ressocialização – GER, a qual recebeu a pesquisadora cordialmente em sua sala, no quarto andar da Secretaria do Estado de Administração Penitenciária- SEAP. Esteve presente também a Coordenadora do eixo Saúde da Gerência, que também corroborou com a entrevista.

Ademais, destaca-se que todos os entrevistados autorizaram a utilização de equipamento de áudio, bem como se mostraram disponíveis a prestar quaisquer esclarecimentos após a realização das entrevistas, caso houvesse necessidade. As gravações, por sua vez, totalizaram cerca duas horas que, posteriormente, quando transcritas, somaram 44 páginas de dados brutos, os quais serviram de base para as análises expostas no tópico seguinte deste trabalho. Todavia, diante do intuito de que sejam preservadas as identidades pessoais dos profissionais, o material não constará nos apêndices, sendo feita a caracterização das falas a partir da profissão e do número de identificação da ficha de entrevista.

De modo geral, apreende-se que o momento da pesquisa de campo possibilitou consistência não apenas de cunho teórico, mas conforme sinaliza Zaluar (1986), também no sentido político-prático, tendo em vista que,

A pesquisa é prática, é ação, leve este nome ou não. E é política não só no sentido amplo de que é datada e se inclui nos movimentos políticos, nacionais e internacionais, nas discussões e lutas políticas mais amplas, sejam estas explicitadas num projeto restrito que inclui a participação dos grupos locais a serem estudados, sejam elas parte de projetos, que embora presentes e influentes em muitos discursos feitos na sociedade, não chegam nunca a ser articulados de modo explícito no projeto de pesquisa propriamente dito. Mas o texto final do antropólogo pode vir a ser manancial teórico e prático para as lutas específicas que os grupos estudados travam na sociedade sem que o antropólogo seja porta-voz ou líder, muito menos o representante do grupo que estuda. Quando muito, um aliado (p. 116).

Como é sabido, o presente estudo seguiu com o intuito de desvelar de forma analítica aspectos presentes numa realidade concreta a qual, neste caso, referiu-se ao curso da implementação de uma política de saúde penitenciária destinada à população interna feminina de João Pessoa. Por se tratar de um estudo de caso, as informações coletadas dizem respeito especificamente ao Centro de Reeducação Feminino Maria Julia Maranhão, num dado momento histórico e, portanto, passível de transformações institucionais, políticas e rotineiras, que podem ocorrer inclusive no decorrer do processo de tabulação, inferências e interpretação dos dados que foram coletados.