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Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Tecnológica na Mineração

A recente alta nos preços dos principais metais (gráficos 1 a 6, p. 6) e nos lucros das grandes mineradoras não tiveram grandes repercussões positivas no nível de investimento de pesquisa e desenvolvimento do setor mineral. Entre 2000 e 2003, houve até declínio nos gastos em P&D no setor, causado especialmente pela diminuição de firmas devido a várias fusões. Entretanto, essa característica de baixa taxa de investimento em P&D (razão entre o total investido em um ano e receitas brutas anuais), não é algo recente.

Para a década de 1990, dados de 14 países membros da OCDE, essa taxa de investimento ficou no patamar de 0,6% para a indústria de metais básicos e fabricantes de produtos de metais e 0,8% para indústria de produtos de minerais não metálicos. Mesmo estando em um nível tão baixo, os dados da OCDE indicam que esse patamar de investimento está diminuindo desde a década de 90. Isso ocorreu nos EUA, onde o nível de investimento em P&D no setor na referida década foi menor que na década de 70 e 80 (FILIPPOU, 2011, p. 1).

40 Esse declínio continuou nos anos 2000. Dentre as principais mineradoras de nível mundial (Alcoa, Anglo American, BHP Billiton e Rio Tinto), somente a Alcoa aumentou, entre 2000-2002, seu nível de investimentos. No Canadá, país com grandes potenciais e investimentos minerais, o gasto com P&D na indústria mineral diminuiu quase 70% entre 1995 e 2004 enquanto que na indústria farmacêutica, no mesmo período, os gastos aumentaram 10% com uma tendência crescente para os anos seguintes. Dentre os fatores que contribuíram para esse desempenho dos investimentos em P&D estão as fusões entre as firmas. Firmas inovadoras quando são compradas por firmas maiores e sem um padrão de investimento em pesquisa, acabam fechando seus laboratórios e centros. Isso ocorreu com a mineradora finlandesa Outokumpu e com a canadense Norandaand Falconbridge. Investimentos mal sucedidos, utilização de tecnologia duvidosa e altos custos de operação também contribuíram para esse padrão (FILIPPOU, 2011, p. 2). O gráfico 14 mostra como foi o padrão de investimento em P&D de 12 grandes mineradores de atuação mundial nos anos 2000 e percebe-se uma tendência decrescente na taxa de investimento até 2006 (em média 0,5% do total das rendas brutas) e aumento nos investimentos em 2007 e 2008. O aumento em 2009 se deveu à diminuição das receitas bruta das firmas.

Gráfico 14: Taxa de investimentos consolidada em P&D das seguintes mineradoras: Alcoa, Anglo American, Arcelor Mittal/Arcelor, BHP Billiton, Boliden, Cameco, Codelco, Eramet, Iluka, RioTinto, Sumitomo Metal Mining e Teck.

Fonte: (FILIPPOU, 2011, p. 2)

Esse padrão de gastos em P&D pode não refletir totalmente o esforço das mineradoras neste aspecto. Gasto indiretos como design de produtos, atividades de engenharia e testes em plantas de produção são ignorados. Produtores de minerais e metais dependem de equipamentos manufaturados de alta tecnologia e esse valor

41 contido dentro desses bens de capital adquiridos pela indústria extrativa é ignorado nas estatísticas. A pesquisa mineral, que utiliza insumos de alta tecnologia e é uma fração considerável dos orçamentos das mineradoras, também não entra na contagem das estatísticas. Além disso, o índice utilizado pode conter alguma distorção, por exemplo, pode ter havido aumento maior do que o indicado nos gastos de P&D&I, mas o aumento nas receitas brutas foi tão maior que nos gastos que a proporção acabou diminuindo. Mesmo assim, a indústria mineral e de metalurgia não são considerados setores pioneiros em P&D&I, mas sim seguidores (FILIPPOU, 2011, p. 3).

O comportamento das mineradoras em relação ao investimento em inovação tem ratificado os números apresentados no gráfico 14. As empresas que emergiram do processo de fusão reduziram ou eliminaram os departamentos de pesquisa interna. Entretanto, dez ou quinze anos atrás a maior parte das mineradoras mantinha um departamento interno especializado na área de pesquisa e desenvolvimento. Isso não mais ocorre. Logo, de que forma o setor de mineração produz suas inovações? A maior parte das mineradoras passou de um papel de promotora da inovação para consumidoras de inovações de outras empresas. Logo, o papel de produzir inovações para o setor passou das mineradoras para outras empresas, especialmente aquelas empresas especializadas em equipamentos utilizados na mineração como caminhões, dragas e outras tecnologias que podem ser adotadas em sua linha de produção. Apesar disso, mesmo essas empresas de equipamentos têm focados seus esforços em pesquisa para tecnologias incrementais. As pesquisas básicas, responsáveis por inovações revolucionárias, tiveram seus orçamentos fortemente reduzidos mesmo nas empresas de equipamento especializado (BARTOS, 2007, p. 156).

Algumas características do setor mineral impactam diretamente o padrão de investimentos de P&D. Dentre estas características, há a baixa taxa de difusão tecnológica. Tanto empresas de mineração quanto de metalurgia possuem pequena taxa de comércio de tecnologia (licenciamento). A mobilidade de trabalhadores neste setor é pequena quando comparada com outros setores. O fato de minas e plantas de beneficiamento estarem localizadas em lugares remotos dificulta a atratividade de novos profissionais. Apesar disso, não é clara a influência deste aspecto na difusão tecnológica, já que não há estatísticas confiáveis sobre o assunto (FILIPPOU, 2011, p. 4).

O perfil conservador do investimento do setor mineral vai de encontro aos gastos em P&D, que possuem o risco como fator intrínseco a esse tipo de investimento. Estes e

42 outros fatores como baixa lucratividade7 que não incentiva as minerados a correr o risco necessário para o investimento, pouca diferenciação do seu produto, grandes custos fixos e de start up, barreiras a entradas e pouco controle sobre o preço da commodity vão de encontro a características de setores que são grandes investidores em inovação como o farmacêutico, telecomunicações e tecnologia da informação (FILIPPOU, 2011, p. 5).

Dadas estas características de investimentos, as inovações na indústria extrativa mineral são, na sua maior parte, redutoras de custo e produzidas por firmas especializadas em equipamentos para mineração e raramente feito em centros mantidos pelas próprias mineradoras. Isso acabou gerando uma aliança entre essas empresas produtoras e as grandes mineradoras, porém, com foco em inovações incrementais e não revolucionárias (BARTOS, 2007, p. 155-156). Tecnologia neste setor está ligada a automação, baseada na inserção de computadores na produção, e utilização de equipamentos maiores e mais produtivos que aumentem a escala, diminuindo assim o custo. Os gastos em P&D têm a intenção de melhorar os processos já utilizados e não desenvolver tecnologias revolucionárias, que apareceram de forma errática no século XX (FILIPPOU, 2011, p. 5).

Para melhor exemplificar, segundo BARTOS, 2007, p. 151, vários segmentos/substâncias tiveram em torno de duas a três inovações revolucionárias no último século. Por exemplo, na mineração subterrânea, as inovações foram a utilização de explosivos de nitrato de amônia e de lâmpadas elétricas e de carbonetos. Já no cobre, a utilização do processo de extração utilizando solvente e a flotação foram considerados inovação revolucionárias. Além disso, não parece haver diferenças significativas entre os segmentos da mineração. Ou seja, a mineração de ouro é tão pouco inovadora quanto a de ferro ou a de cobre. Se adicionarmos a pesquisa mineral e o beneficiamento, o número de inovações revolucionárias no último século sobe para 12.

Uma outra vertente promissora para inovação na mineração é a mineração marinha. Esta não é um empreendimento novo, fora aqueles de mar profundo, vários depósitos minerários já são amplamente explorados em algumas zonas econômicas exclusivas ao redor do mundo, desde meados do século passado e mesmo antes, representando um potencial de bilhões de dólares, que utiliza avançadas tecnologias.

7 Entre 1977 e 2003 a taxa média de retorno anual da mineração foi de 9,7%, enquanto que o retorno

médio anual do título do governo americano foi de 8,2%. Isso deu uma baixa taxa de recompensa ao risco de 1,5%. Além disso, para algumas substâncias, como chumbo e zinco, o retorno do capital investido ficou menor que a taxa sem risco de 8,2%.

43 Podemos citar areias e cascalhos para construção civil na Europa, Ásia, América do Norte e do Sul; minerais pesados (ouro, terras raras, estanho, titânio, zircônio e outros) na Ásia, África, América do Norte, e Oceania e diamantes ao longo da costa atlântica da África a profundidades de até quinhentos metros (DNPM, 2011, p. 11).

Entre os recursos atualmente confirmados com potencial significativo de exploração estão a areia e o cascalho, utilizados principalmente na construção civil e como fonte para reconstrução de praias erodidas ao longo da costa brasileira. Esses depósitos localizam-se por toda a costa a brasileira (MARTINS & SOUZA, 2007).

Também foram localizados, sob águas marinhas brasileiras, depósitos de minerais de fosforita, amplamente utilizada como fertilizante e fonte de fósforo na indústria química de fertilizantes. Pesquisas desenvolvidas no Brasil indicam a ocorrência de rochas fosfáticas em zona marítima próxima ao Ceará, com conteúdo máximo de 18,4% de P2O5. Outra pesquisa descreveu, preliminarmente, a ocorrência de

nódulos fosfáticos na plataforma continental do Rio Grande do Sul (MARTINS & SOUZA, 2007).

Foram identificados em Sergipe e na bacia de Alagoas sais de potássio e de magnésio, apresentando de 15 a 50 metros de espessura e localizados a 3 mil metros de profundidade. A mesma pesquisa mostrou a ocorrência de domos salinos, com grande conteúdo de halita (cloreto de sódio), no domo de Barra Nova, sob as águas do Espírito Santo (MARTINS & SOUZA, 2007).

Minerais pesados estão presentes ao longo da costa brasileira, do Piauí ao Rio Grande do Sul. Atividades de extração de ilmenita (titânio), rutilo, monazita (terras raras) e zircônio são realizadas atualmente na Paraíba, Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro. Jazidas de ilmenita, zircão (zircônio) e monazita tem sido estudadas em diferentes localidades da plataforma continental interna do Brasil, para identificação de elementos de alto valor econômico tais como titânio, zircônio, césio, lantânio, neodímio, tório, ouro, diamante e fósforo. Somente o depósito de Cumuruxatiba, na Bahia, contem 171 mil toneladas de ilmenita (titânio), 4 mil toneladas de monazita (terras raras) e 365 mil toneladas de zircônio e rutilo. Na zona costeira do Rio Grande do Sul foram encontrados, na região de Bujuru, depósitos de minerais pesados cujo potencial estimado é de 40 milhões de toneladas (MARTINS & SOUZA, 2007).

Quanto ao carvão, as principais reservas marinhas estão localizadas na costa dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Projetos executados na zona costeira entre Ararandá (SC) e Tramandaí (RS) identificaram até dez camadas de carvão entre

44 profundidades de 700 a 800 metros, totalizando espessura de mais de nove metros (DNPM, 2011, p. 45).

A exploração mineral dos fundos oceânicos a profundidades que podem atingir 4.000 a 6.000 metros tem que considerar as condições ambientais bastante adversas de pressão, temperaturas muito baixas, alto grau de oxidação para os materiais que constituem os equipamentos, além das peculiaridades inerentes a cada depósito mineral, como a morfologia, natureza e profundidade do substrato, entre outras (DNPM, 2011, p. 76).

A mineração de metais em alto-mar é a mais estudada já tendo sido registradas centenas de patentes de equipamentos de mineração em mar profundo. Os métodos desenvolvidos são sistemas hidráulicos, que variam de dragas rebocadas até veículos com autopropulsão. Alguns tipos de sistemas de extração têm sido estudados em ensaios pré-industriais no mar com equipamentos em pequena escala, como por exemplo (DNPM, 2011, p. 76):

 Cadeia contínua de caçambas de dragagem conectadas a uma cabo dimensionado de acordo com a profundidade da lâmina de água e do porte do navio (figura XX);

 Veículo de curto percurso autônomo, que desce ao fundo, coleta os nódulos e sobe para a superfície com carga de material extraído para obter recarga de energia elétrica. Esse sistema, para uma capacidade de carga de 250 toneladas, requer um veículo de tamanho superior a 1.200 toneladas, levando ao gigantismo das instalações de superfície;

 Elevador hidráulico em que o minério é coletado por meio de um veículo semelhante a uma colheitadeira rebocada com autopropulsão, sendo o minério transportado para a superfície por meio de elevação hidráulica simples ou ar comprimido, sendo caracterizado por um tubo vertical que assegura um fluxo ascendente do minério.

As duas questões principais com relação à viabilidade da mineração marinha está na capacidade das fontes continentais serem suficientes para suprir a demanda dos mercados globais e se o preço internacional da substância é capaz de incentivar tal mineração marinha, sendo suficiente para pagar o custo da lavra mais os lucros. Embora a combinação de fatores preço de mercado relativamente baixo e custos de extração altos, os depósitos marinhos podem vir a oferecer uma alternativa futura, principalmente, quando da exaustão das reservas continentais (DNPM, 2011, p. 41).

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Figura 10: Distribuição dos recursos minerais na zona econômica exclusiva e extensão da plataforma continental do Brasil.

Fonte: DNPM, 2011, p. 20.

Figura 11: Diagrama ilustrativo de um sistema de mineração utilizando veículo de curto percurso autônomo e Diagrama ilustrativo do sistema de dragagem com elevador hidráulico e auto-propelido do GENOMOD: 1 – plataforma de superfície; 2 – tubulação rígida; 3 – bombas; 4 – conexão entre a tubulação rígida e o condutor flexível ; 5 – condutor flexível; 6 – máquina de dragagem.

46 Dessa forma, o setor de mineração não é considerado um setor com grandes padrões de inovação. É um setor que utiliza equipamentos de alta tecnologia e possui uma taxa de inovação compara com as outras indústrias de transformação, excetuando as tradicionalmente inovadoras como informática e farmacêuticos. Entretanto, o setor mineral terá que rever seu comportamento pouco inovador, dados os novos desafios que a indústria tem pela frente. Pressões de mercado causadas por aumento de demanda da China e da Índia necessitarão de tecnologias mais produtivas que recuperem mais metal do minério extraído das minas e ao mesmo tempo sejam mais baratas que as já existentes. Problemas ecológicos como grande concentração de ácido sulfúrico na região da mina que contamina os lençóis freáticos, assim como grande quantidade de rejeito da fase de beneficiamento e emissão de gás carbônico também deverão ser contornados com soluções eficazes e baratas. Por fim, o aumento no custo de energia e encontrar fontes alternativas de energia serão um problema não só da mineração, mas de todos os processos produtivos (FILIPPOU, 2011, p. 6).

Na próxima seção, entraremos no mercado de rocha fosfática, mostrando suas peculiaridades e aspectos gerais.

47 3 O Mercado de Rocha Fosfática

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