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Pesquisa Federal: Ministério do Desenvolvimento Social e de Combate à Fome – 2.007/

GRAFICO 01 – Composição do índice de exclusão

1.4.1. Pesquisa Federal: Ministério do Desenvolvimento Social e de Combate à Fome – 2.007/

Algumas características merecem ser destacadas inicialmente para que possamos compreender com mais precisão os dados levantados por esta pesquisa dos moradores das ruas em nível federal. Nela foram abordadas apenas pessoas em situação de rua com 18 (dezoito) anos completos de idade ou mais, não foram contabilizadas crianças, e sua análise diz respeito aos dados coletados, especificamente, em 71 Municípios brasileiros - amostragem. Assim, a taxa de 06/1,0%, tomada como média nacional de existência de moradores em situação de rua, em sendo maior, poderia indicar uma quantidade de pessoas nestas condições ainda mais elevado. Para início desta nossa análise, segue abaixo, a relação de Municípios onde foi realizada a Pesquisa Nacional 2007-08142 em comento:

TABELA 04 – Relação de Municípios – Pesquisa MDS 2007/2008

1 Rio Branco AC 38 Campos dos Goytacazes RJ

2 Maceió AL 39 Belford Roxo RJ

3 Manaus AM 40 Nova Iguaçu RJ

142 Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua, Meta/MDS, 2008. Disponível em

[http://www.mds.gov.br/backup/arquivos/sumario_executivo_pop_rua.pdf] Acessado em 24/09/11. Apesar de realizador, o Instituto Meta não é citado na Política de Inclusão (Somente IPEA e IBGE).

4 Macapá AP 41 São João de Meriti RJ

5 Salvador BA 42 Natal RN

6 Feira de Santana BA 43 Porto Velho RO

7 Fortaleza CE 44 Boa Vista RR

8 Brasília DF 45 Canoas RS

9 Vitória ES 46 Caxias do Sul RS

10 Vila Velha ES 47 Pelotas RS

11 Serra ES 48 Florianópolis SC

12 Cariacica ES 49 Joinville SC

13 Goiânia GO 50 Aracaju SE

14 Aparecida de Goiânia GO 51 Guarulhos SP

15 Anápolis GO 52 Campinas SP

16 São Luís MA 53 Osasco SP

17 Contagem MG 54 Santo André SP

18 Uberlândia MG 55 São José dos Campos SP 19 Montes Claros MG 56 Sorocaba SP

20 Betim MG 57 Ribeirão Preto SP

21 Juiz de Fora MG 58 Moji das Cruzes SP 22 Campo Grande MS 59 Santos SP

23 Cuiabá MT 60 Mauá SP

24 Belém PA 61 São José do Rio Preto SP 25 Ananindeua PA 62 Diadema SP

26 João Pessoa PB 63 Carapicuíba SP 27 Campina Grande PB 64 Piracicaba SP 28 Jaboatão dos Guararapes PE 65 Bauru SP

29 Olinda PE 66 Jundiaí SP

30 Teresina PI 67 São Vicente SP

31 Curitiba PR 68 Franca SP

32 Londrina PR 69 Itaquaquecetuba SP

33 Maringá PR 70 São Bernardo do Campo SP 34 Rio de Janeiro RJ 71 Palmas TO

35 Niterói RJ

37 São Gonçalo RJ

Fonte: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. 2008

Como fator metodológico pontuaremos alguns quesitos comuns, existentes em todas as pesquisas, inclusive naquela realizada com base municipal, que será objeto de análise a seguir, no melhor intuito de se facilitar a comparação dos resultados obtidos. Os quesitos escolhidos para comparação são: (1) identidade, (2) saúde, (3) tempo de vivência nas ruas, (4) ocupação e (5) formação escolar.No que diz respeito a estes pontos a pesquisa realizada em 2007/08 obteve os seguintes resultados:

(1) Em relação à Identidade: População predominantemente masculina (82%) e dentre a faixa de pesquisas (pessoas com 18 anos completos ou mais) a maioria se encontra dentro da faixa etária dos 25 a 44 anos. Aproximadamente 40% do espaço amostral se declarou parda (brancos 29,5% e negros 27,9%);

(2) Em relação à saúde: 29,7% dos entrevistados afirmaram ter algum problema de saúde, dentre os mais apontados incluem-se transtornos mentais decorrentes de consumo de drogas e álcool, deficiências físicas e mentais causadas por doenças infecto-contagiosas e complicações físicas envolvendo violência. O fator alimentação encontra-se diretamente ligado ao fator saúde: a maioria (79,6%) faz ao menos uma refeição por dia, sendo que 27,4% compram comida com o dinheiro que conseguem nas ruas. Não conseguem se alimentar todos os dias 19% dos entrevistados. Os problemas de saúde mais citados são a hipertensão (10,1%), problema psiquiátrico/mental (6,1%), AIDS (5,1%) e problemas de visão/cegueira (4,6%). Do espaço amostral analisado 18,7% fazem uso de algum medicamento e os Postos de Saúde são as principais vias de acesso a eles (48,6% afirmaram consegui-los por esse meio) Quando doentes 43,8% dos entrevistados procuram em primeiro lugar o hospital/setor de emergência e em segundo lugar (27,4%) procuram os Postos de saúde;

(3) Em relação ao tempo de vivência nas ruas: Dos 31.922 entrevistados 48,4% estariam há mais de dois anos nas ruas (dormindo efetivamente na rua ou em albergues). Encontram-se entre 01 até 06 meses nestas mesmas condições 30,4% dos analisados. Entre seis meses e dois anos nas ruas encontra-se o percentual de 33,3 dos entrevistados, o restante do percentual diz respeito àqueles que já não sabem mais há quanto tempo residem nas ruas

ou não quiseram informar por motivos pessoais. De todo o espaço amostral estudado a maioria costuma dormir na rua (69,6%) a apenas um grupo relativamente menor (22,1%) costuma dormir em albergues ou outras instituições (apenas 8,3% costumam alternar, ora dormindo na rua, ora dormindo em albergues). Mais da metade dos entrevistados (51,9%) possui algum parente residente na cidade onde se encontra e 38,9% deles não mantêm qualquer contato com parentes, o restante optou por não informar (14,5% mantêm contato em períodos espaçados de dois em dois meses até um ano e os casos de contatos que são mais freqüentes (diários, semanais ou mensais) ocorrem em 34,3% dos entrevistados). Via de regra, os moradores em situação de rua encontram-se nos Municípios em que residiam antes das condições de exclusão social (45,8% dos entrevistados sempre viveram no Município em que “moram” atualmente). Do restante desta fatia analisada, ou seja, (54,2%) 56% vieram de outros Municípios, mas do mesmo Estado de moradia atual e 72% vieram de áreas urbanas destes Municípios;

(4) Em relação à ocupação: A população em situação de rua analisada é composta, em grande parte por trabalhadores esporádicos e informais: 70,9% exercem alguma atividade remunerada, mas os níveis de renda são bastante baixos. Dentre as atividades destacam-se: catador de materiais recicláveis (27,5%), flanelinha (14,1%), construção civil (6,3%), limpeza (4,2%) e carregador/estivador (3,1%). Apenas 15,7% das pessoas pedem dinheiro como principal meio para a sobrevivência143. Aqueles que pedem dinheiro para sobreviver constituem uma minoria. A maioria que exerce alguma atividade laboral (52,6%) recebe entre R$ 20,00 (vinte reais) e R$ 80,00 (oitenta reais) semanais;

(5) Em relação à formação escolar: Do espaço amostral abarcado pela pesquisa federal a grande maioria (74% dos entrevistados) sabe ler e escrever (17,1% não sabe escrever e 8,3% apenas assina o próprio nome). A imensa maioria não estuda atualmente (95%) e apenas 3,8% dos entrevistados afirmaram estar fazendo algum curso (ensino formal 2,1% e profissionalizante 1,7%).

143 Esses dados são importantes para desmistificar o fato de que a população em situação de rua seria

TABELA 05 – Pesquisa MDS 200708 - Escolaridade da população de rua ESCOLARIDADE % Nunca estudou 15,1 1º grau incompleto 48,4 1º grau completo 10,3 2º grau incompleto 3,8 2º grau completo 3,2 Superior incompleto 0,7 Superior completo 0,7

Não sabe / Não lembra 7,7

Não informado 10,1

Total 100

Do espaço amostral de 31.992 entrevistados

Fonte: Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de Rua, Meta/MDS. 2008.144

De uma maneira geral, em relação aos direitos de segunda geração, direitos políticos (caso tomemos os direitos civis como sendo de primeira geração) verificou-se que apenas a quarta parte dos entrevistados possui algum documento de identificação, o que dificulta, sobremaneira, a obtenção de emprego formal e o acesso aos serviços e programas

governamentais de exercício da cidadania. A grande maioria também não exerce o direito de

cidadania elementar através do sufrágio, vez que também não possuem Título de Eleitor. Esta pesquisa censitária realizada em nível federal vem comprovar que as transformações sociais modernas estão arraigadas à ordem econômica e aos mercados de trabalho, fortemente influenciados pela globalização. Assim, a criação de um novo ramo de estudos populacionais, dedicado a entender as consequências das desigualdades em termo de exclusão pela vivência nas ruas necessita, antes de mais nada, de uma abordagem

economicista dos estudos demográficos, o que é muito pouco efetuado hoje. A importância de

uma pesquisa qualitativa para desvendar as tendências da desigualdade social na nova ordem mundial e implementar políticas públicas efetivas não poderá se contentar com a mera análise da demografia quantitativa, necessitando entrelaçá-la à análise econômica e às teorias

sociopolíticas no debate sobre a ecologia das desigualdades145, somente assim poderão ser

desvendadas as causas estruturais e compreender-se o verdadeiro significado da exclusão brasileira.

Não podemos, pois, nos olvidar que a demografia da exclusão será sempre uma articulação econômica e do poder vigente no campo em que os dados estatísticos forem colhidos. Nos termos de Bourdieu estes dados representariam uma objetivação de uma certa

correlação de forças carregada de historicidade.146

Ao reconhecermos as características do povo das ruas em seus dados quantitativos, reativando dados históricos e políticos fixados em uma determinada conjuntura, poder-se-á encontrar informações das chamadas condições objetivas,147 que unidas às experiências vividas (subjetivas) darão caráter substancial aos atos dos sujeitos que relatam suas experiências. Portanto, somente com estas histórias, ao lado de um trabalho demográfico ético e político, se conseguirão verificar as verdadeiras necessidades do grupo analisado.

1.4.2. Pesquisas do Município de São Paulo: Secretaria Municipal de Assistência